O que a nossa comida tem a ver com a crise climática?

No Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, celebrado hoje (16/3), o GFI Brasil aponta algumas correlações importantes.

Desde a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, países do mundo todo têm se dedicado a enfrentar a crise climática. Na ocasião, foi criada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), que entrou em vigor em 1994. Desde então, 27 Conferências das Partes (ou COP) foram realizadas em diferentes países, resultando em compromissos globais como o Protocolo de Quioto, o Acordo de Paris, o Acordo de Copenhague, entre outros. Dois pontos principais definem o foco das iniciativas: financiar projetos climáticos em países em desenvolvimento e limitar o aquecimento da temperatura global para abaixo de 2ºC. 

Hoje (16/3), no Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, te convidamos a refletir sobre o impacto dos sistemas alimentares no agravamento da crise climática. O tema surgiu pela primeira vez na COP 27, realizada em 2022 no Egito, e deve seguir como ponto-chave para garantir que as metas sejam alcançadas antes do colapso planetário.

Sistema alimentar sustentável é a chave para frear a crise climática

Nos últimos anos, vários eventos extremos (desastres naturais, desmatamento recorde da Amazônia e do Cerrado, pandemia da Covid-19, guerra na Ucrânia, peste suína africana, doença da vaca louca…) evidenciaram a fragilidade dos nossos sistemas, principalmente o alimentar. Sabemos que ele já não é capaz de alimentar toda a população global, não garante plenamente a segurança dos alimentos, facilita a transmissão de doenças, explora cada vez mais animais para consumo humano, demanda recursos naturais como nunca e é o setor econômico que mais emite gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera.  

Mesmo assim, a transição energética sempre foi o foco do debate sobre as mudanças climáticas. Só agora a discussão começa a se voltar também para a transição alimentar, porque fica cada vez mais claro que uma mudança na forma de produzir alimentos (sobretudo de origem animal, como carne, leite, ovos) poderia atenuar e até reverter a trajetória da crise climática. Veja nos dados abaixo como a produção de proteína animal desloca recursos naturais de humanos para animais de consumo:

  1. Atualmente, cerca de 88 bilhões de animais são abatidos para consumo humano todos os anos no mundo todo, dos quais mais de 6 bilhões são feitos no Brasil. Se somos 8 bilhões de pessoas, é como se cada um de nós consumisse 11 animais por ano.
  2. Obviamente, antes de se tornarem alimentos para humanos, esses animais precisam de um lugar para viver, comida e água para se alimentarem. Com isso, mais de 70% de todas as terras agrícolas do mundo são destinadas à produção de alimentos para animais e um terço (30%) de toda a terra existente no planeta é usada para abrigar e/ou alimentar animais. O setor agropecuário é responsável por mais de 90% do consumo global de água, e um terço disso se destina à irrigação e crescimento de ração e pasto para bois, porcos e galinhas.
  3. Enquanto isso, o Brasil voltou ao mapa da fome em 2022. Atualmente, mais de 33 milhões de pessoas vivem em situação de insegurança alimentar. No mundo todo, 2,3 bilhões de pessoas (29,3%) enfrentam insegurança alimentar moderada ou grave e 9,8% passam fome. Hoje, 25% da população global não têm acesso à água potável e até 2025 esse problema deverá afetar 3,5 bilhões de pessoas (43%).
  4. O sistema alimentar atual é responsável por 34% de todas as emissões de GEE e a produção de proteína animal, sozinha, gera mais da metade (ou 15%) desse valor.
  5. Práticas como expansão agrícola, construção de estradas, hidrelétricas e mineração fizeram o Brasil perder 513 mil km² (6%) de áreas verdes nos últimos 20 anos. O país é o que mais perdeu área verde em 2021 (1,548.657 hectares). No mesmo ano, a perda de florestas nativas tropicais provocou a emissão de 2,5 Gt de dióxido de carbono no mundo.

COP 28: Proteínas alternativas devem ser incorporadas ao setor de alimentos como uma das soluções para a crise do clima

Como já dissemos, a COP 27, que aconteceu ano passado no Egito, foi a primeira edição que teve um espaço inteiramente dedicado a discutir o papel do sistema de produção de alimentos no enfrentamento da crise climática. O Food System Pavilion foi resultado de um trabalho articulado de uma coalizão de 9 organizações, entre elas o GFI, com o objetivo de levantar essa pauta no lugar mais importante de negociações internacionais sobre o clima, além de apresentar soluções e firmar compromissos para cumprir as metas do Acordo de Paris.

Na COP 28, que acontece em novembro de 2023 em Dubai, o GFI estará presente novamente e com objetivos ainda mais ambiciosos, focado em ampliar a exposição do setor de proteínas alternativas. Entenda porque os alimentos feitos de planta e cultivados são cruciais para conter a emissão de GEE e outros poluentes, liberar terras para produção de alimentos diretamente para as pessoas e reduzir o uso de recursos naturais.

  1. A carne cultivada produzida com energia renovável reduz os impactos do aquecimento global em 17%, 52% e 85% a 92% em comparação à produção convencional de frango, porco e boi, respectivamente. 
  2. A carne cultivada é 3,5 vezes mais eficiente do que o frango convencional (a forma mais eficiente de produção de carne convencional) na conversão de ração em carne.
  3. Como consequência, a produção de carne cultivada reduz o uso da terra entre 63% a 95% em comparação com a carne convencional.
  4. A carne cultivada também deve ser menos poluente (redução de 29% a 93%) em comparação com todas as formas de carne convencional e usar significativamente menos água azul (redução de 51% a 78%), encontrada em reservatórios de água superficial e subterrânea, do que a produção convencional de carne bovina (quase o mesmo que frango e porco).
  5. Para sustentar um sistema alimentar baseado em vegetais, seria necessário usar apenas 7% das terras do nosso planeta.
  6. Uma alimentação vegetal pode reduzir a emissão de gases de efeito estufa em até 80%.
  7. Substituir a proteína animal por outras formas de proteína é capaz de fornecer de 14 a 20% da mitigação de emissões que o mundo precisa até 2050 para não ultrapassar o aquecimento de 1,5°C.
  8. A alta eficiência de proteínas alternativas vegetais e cultivadas precisam de até 99% e 95% menos solo para serem produzidas, respectivamente, em relação à carne bovina.
  9. As proteínas alternativas reduzem em até 91% a poluição dos oceanos (causada pelo escoamento agrícola) e também poupam todos os outros recursos aquáticos, uma vez que precisam de até 99% menos água para serem produzidas do que a carne animal).

As proteínas alterantivas devem ser incorporadas ao setor de alimentos para garantir maior resiliência ao sistema alimentar e para ajudar a solucionar a crise do clima. E, no Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, nós reforçamos nosso compromisso de trabalhar para tornar a cadeia de produção de alimentos mais sustentável, segura, justa, saudável e acessível para todos.

Muitas vezes esquecemos disso no dia a dia, mas nossa comida está intimamente ligada com a crise do clima e o que colocamos no prato é crucial para definir nosso futuro! As discussões voltadas para apontar soluções para a forma como produzimos e distribuímos alimentos só vai se intensificar e o GFI irá contribuir em todas essas frentes, ajudando a apresentar, viabilizar e implementar essas soluções. Neste ano, na COP 28, também vamos mostrar o papel crucial do Brasil, que será palco da COP 30 em 2025, no cenário ambiental. 

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