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Proteínas Alternativas em Dados

 

Conheça mais sobre o setor de proteínas alternativas acessando os dados mais atualizados dos mercados de produtos feitos de planta, cultivados a partir de células ou obtidos por fermentação. Além de pesquisas do GFI, também disponibilizamos uma seleção de estudos de outras fontes selecionadas por nossa equipe de especialistas. Navegue pelas sessões de investimentos, mercado, tendências, sustentabilidade e saúde. Se não encontrar a informação que você precisa, entre em contato com a nossa equipe.

  • Camila Lupetti
    Especialista de Dados em Engajamento Corporativo

    camilal@gfi.org

1. Investimentos em Proteínas Alternativas

2021 foi um ano de investimento recorde no setor de proteínas alternativas. Desde 2010, foram investidos quase USD$11,1 bilhão no setor, sendo USD$8 bilhões (73%) após o início da pandemia do coronavírus. A análise do Good Food Institute de atividades de investimento foi realizada utilizando a plataforma PitchBook Data e mostrou que empresas globais do setor receberam US$5 bilhões em investimentos em 2021. Este número é 60% maior que os US$3,1 bilhões registrados no ano anterior e cinco vezes mais que o US$1 bilhão investido no setor em 2019.

Fonte: Análise GFI de dados do PitchBook Data.

1.1. Investimentos por tecnologia

Carne cultivada

As empresas de carne e frutos do mar cultivados garantiram US$ 1,4 bilhão em investimentos em 2021 – o maior capital levantado em qualquer ano na história do setor e mais de três vezes os US$ 400 milhões arrecadados em 2020.

Fonte: Análise GFI de dados do PitchBook Data.

Fermentação

As empresas de fermentação garantiram US$ 1,7 bilhão em investimentos em 2021, quase três vezes os US$ 600 milhões arrecadados em 2020.

Fonte: Análise GFI de dados do PitchBook Data.

Feita de vegetais

As empresas de carne, frutos do mar, ovos e laticínios vegetais receberam US$ 1,9 bilhão em investimentos em 2021, o que é compatível com os US$ 2,1 bilhões arrecadados em 2020 e quase três vezes os US$ 693 milhões arrecadados em 2019. O amadurecimento do mercado de proteínas vegetais começa a ser refletido na estabilidade dos investimentos ano após ano, algumas empresas estão optando por passar por eventos de liquidez em vez de buscar grandes aumentos de capital privado. As empresas de proteínas alternativas vegetais viram US$ 2 bilhões em eventos de liquidez em 2021, em comparação com US$ 15 milhões em 2020. Um movimento esperado pelo setor.

Fonte: Análise GFI de dados do PitchBook Data.

Além desses números, vale destacar que, com o apoio do Good Food Institute Brasil (GFI Brasil), em 2021 a JBS anunciou a sua entrada no segmento de carne cultivada, destinando US$ 100 milhões nesta nova frente, o maior investimento já feito nessa área por uma empresa tradicional de carnes. A expectativa da empresa é de alcançar a produção comercial em meados de 2024. Já a BRF anunciou no mesmo ano investimento de US$ 2,5 milhões na startup israelense Aleph Farms, prometendo lançar os primeiros produtos feitos de carne cultivada em 2024.

Fonte: Canal Rural e The Good Food Institute Brasil – Saiba o que estamos fazendo para criar a comida que você ama de forma mais segura, justa e sustentável.

 

2. Mercado Global de Proteínas Alternativas

As vendas globais em dólares de carne à base de plantas cresceram 8% em 2022, para US$ 6,1 bilhões. Enquanto isso, as vendas em peso cresceram cinco por cento. As vendas globais em dólares de leite vegetal cresceram 6%, para US$ 19,1 bilhões. As vendas por litros cresceram a uma taxa ligeiramente menor de três por cento em relação a 2021.

Apresentado pela primeira vez nos dados do Euromonitor, o iogurte vegetal cresceu 11%, para US$ 1,7 bilhão. As vendas em peso cresceram 6% em 2022. Também rastreado pela primeira vez, o queijo vegetal cresceu 22%, para US$ 869 milhões. As vendas em peso cresceram 11 por cento.

Na América Latina, o crescimento das vendas foi de 36% para carnes feitas de plantas e de 17% para leites vegetais, o que representa, respectivamente, US$ 271 milhões e US$ 980 milhões em vendas no varejo. Veja a análise completa feita pelo GFI sobre o mercado plant-based no relatório State of The Industry 2022.

  • Estimativa do mercado global de carne vegetal no varejo

    Fonte: The Good Food Institute, 2022 State of The Industry Report. Plant-based meat, seafood, eggs, and dairy. Euromonitor International Limited, Fresh Food 2023.

  • Estimativa do mercado global de leite vegetal no varejo

    Fonte: The Good Food Institute, 2022 State of The Industry Report. Plant-based meat, seafood, eggs, and dairy. Euromonitor International Limited, Fresh Food 2023

  • Estimativa das vendas de carne vegetal no varejo e crescimento das vendas, por região, em dólares

    Fonte: The Good Food Institute, 2022 State of The Industry Report. Plant-based meat, seafood, eggs, and dairy. Euromonitor International Limited, Fresh Food 2023.

  • Estimativa das vendas de leite vegetal no varejo e crescimento das vendas, por região, em dólares

    Fonte: The Good Food Institute, 2022 State of The Industry Report. Plant-based meat, seafood, eggs, and dairy. Euromonitor International Limited, Fresh Food 2023.

2.1. Estimativa de crescimento da Indústria de Proteínas Alternativas

Estima-se que o mercado global de proteinas alternativas alcance US$ 1 trilhão até 2050

O crescimento a indústria de proteínas alternativas é estimulado pelos flexitarianos, pessoas que diminuem o consumo de produtos animais sem interrompê-lo completamente. Atualmente, os flexitarianos são quase um quarto da população mundial – 23% em 2021, um crescimento de 2% desde o ano passado. A maior motivação por trás da mudança nos hábitos alimentares é a saúde, apontada por 37% dos flexitarianos. O gráfico abaixo traz projeções sobre a participação das proteínas alternativas no mercado global de carne, segundo algumas das mais relevantes consultorias do mercado:

Fonte: dados compilados por The Good Food Institute.Originais: GFI, Cargil, Barclays, McKinsey, BCG, Jefferies.

2.2. As 7 principais tendências globais no mercado de proteínas alternativas em 2023

  • 1 https://gfi.org.br/wp-content/uploads/2023/05/Icone-Tendencia-01.png

    A revisão do FDA sobre a carne cultivada remove os obstáculos regulatórios.

  • 2 https://gfi.org.br/wp-content/uploads/2023/05/Icone-Tendencia-02.png

    Fusões e aquisições estão em alta.

  • 3 https://gfi.org.br/wp-content/uploads/2023/05/Icone-Tendencia-03.png

    Alinhamento entre investimento ESG e proteínas alternativas.

  • 4 https://gfi.org.br/wp-content/uploads/2023/05/Icone-Tendencia-04.png

    Grandes empresas estabelecidas fazem parceria com empresas de proteínas alternativas.

  • 5 https://gfi.org.br/wp-content/uploads/2023/05/Icone-Tendencia-05.png

    A capacidade de produção é o centro das atenções.

  • 6 https://gfi.org.br/wp-content/uploads/2023/05/Icone-Tendencia-06.png

    Os insights do consumidor tornam-se cada vez mais valiosos.

  • 7 https://gfi.org.br/wp-content/uploads/2023/05/Icone-Tendencia-07.png

    Uma exigência maior de redução de riscos estabelecerá as bases para startups ágeis e produtos otimizados.

  • Quer saber mais detalhes sobre cada tendência?

Fonte: The Good Food Institute, 2022.

2.3. Estimativa de aumento do consumo de carne vegetal: como a indústria deve se preparar?

De acordo com o relatório “Plant-based Meat: Anticipating 2030 Production Requirements”, publicado pelo Good Food Institute em 2022, para atender à demanda crescente de carne vegetal em 2030, a indústria vai precisar se preparar melhor.

Em relação ao volume global de ingredientes, o relatório calcula que a indústria precisará produzir no mínimo 25 milhões de toneladas métricas (MMT) de carne à base de plantas para conseguir atender ao mercado anual.

Com base em instalações de produção hipotéticas usadas para produzir proteínas vegetais estruturadas, estima-se que pelo menos 810 fábricas devam entrar em operação até 2030 para suprir a demanda, o que deve custar aproximadamente US$27 bilhões em despesas de capital global (CapEx) e pelo menos US$17 bilhões de custos operacionais por ano.

Fonte: The Good Food Institute, 2022. Plant-based Meat: Antecipating 2030 Production Requirements.

3. Mercado Brasileiro de Proteínas Alternativas Análogas

O nosso mercado de proteínas alternativas análogas conta atualmente com cerca de 100 empresas e exportamos produtos para cerca de 30 países. O primeiro hambúrguer vegetal análogo do Brasil foi lançado pela startup Fazenda Futuro, que iniciou suas atividades em maio de 2019. Rapidamente o setor também acolheu os grandes players, como as gigantes da alimentação nacional Marfrig (Plant Plus, em joint venture com a ADM), a JBS (Incrível) e a BRF (Sadia Veg & Tal). O grupo Mantiqueira lançou em 2019 o N.OVO, substituto vegetal para receitas e atualmente já conta com omelete, molhos e frango vegetal.

Fonte: The Good Food Institute Brasil, 2022.

De acordo com dados da plataforma Passport da Euromonitor (Food and Nutrition-Staple Foods – 2021), o mercado de substitutos vegetais para carne e frutos do mar no Brasil alcançou em 2021 US$ 107 milhões em vendas no varejo (cerca de R$ 573 milhões), o que representa um crescimento de 30% comparado a 2020, quando as vendas foram de US$ 82 milhões. A previsão é que até 2026 este setor ultrapasse os US$ 425,3 milhões em vendas no mercado brasileiro.

Fonte: Passport da Euromonitor, 2021. Food and Nutrition-Staple Foods.

3.1. Desafios para o crescimento do mercado brasileiro

Em uma pesquisa feita em 2021 pelo GFI Brasil com 21 empresas do setor de alimentos feitos de plantas, foram apontados 7 temas cruciais para o desenvolvimento do setor.

Fonte: The Good Food Institute Brasil, 2021. Oportunidades e Desafios na Produção de Produtos Feitos de Plantas Análogos aos Produtos Animais.

3.2. O Consumidor Brasileiro e o Mercado Plant-Based

De acordo com pesquisa do The Good Food Institute de 2020, 50% da população afirma já ter diminuído o consumo de carne, um crescimento de 73% em relação a 2018, quando a população de flexitarianos era de 29%. A saúde também era o principal motivador para esta mudança de hábito entre os brasileiros: cerca de 59% dos brasileiros afirmam ter diminuído o consumo de produtos de origem animal por questões de saúde. Esse número chega a 70% se considerarmos também as restrições médicas, apontadas por 11% dos entrevistados.

A preocupação com a saúde se traduz também no que os flexitarianos buscam na hora de se alimentar, mas a experiência sensorial também é muito importante na escolha de alternativas vegetais. Possuir sabor, aroma e textura igual ou melhor foi apontado por 62% dos respondentes entre os 3 fatores mais importantes na hora de escolher uma alternativa vegetal parecida com a de origem animal. Ser o mais natural possível foi apontado por 60% deles, e o valor nutricional igual ou maior ao produto animal, por 59%.

Quando substituem os produtos de origem animal, as 3 características nutricionais mais importantes consideradas na compra de alternativas vegetais análogas são:

Alternativas vegetais para carne:
1. ter menos gordura (43%)
2. ter somente ingredientes naturais (38%)
3. quantidade de proteína (37%)

Alternativas vegetais para leite, queijos e derivados de leite:
1. ter menos gordura (40%)/ ter vitaminas, cálcio e zinco (40%)
2. ter somente ingredientes naturais (31%)/ ter menos sódio (31%)
3. quantidade de proteínas (27%)

Alternativas vegetais para ovos:
1. quantidade de proteína (39%)
2. ter vitamínas, cálcio, zinco (32%)
3. ter menos gordura (30%)/ ter somente ingredientes naturais (30%)

Fonte: The Good Food Institute Brasil, 2020. O Consumidor Brasileiro e o Mercado Plant-based.

A pesquisa também revelou a disposição dos consumidores em pagar a mais por produtos vegetais. 30% dos entrevistados afirmou que pagaria caso o produto tivesse aditivos naturais ao invés de artificiais, e outros 30% caso não tivesse gorduras saturadas

Segundo pesquisa da EscolhaVeg (programa operado pela ONG Mercy For Animals) realizada em 2021, 77% das pessoas entrevistadas concordaram fortemente ou concordaram que têm familiaridade com a categoria de produtos de alternativas vegetais; 81% concordam que experimentaram um produto à base de plantas nos últimos seis meses; e 63% disseram que compram produtos à base de plantas regularmente. Entre os 3 principais obstáculos para consumir estes produtos estão: preço (85%), disponibilidade (78%) e sabor (55%).

Fonte: Mercy For Animals, 2021. EscolhaVeg

3.3. Nomenclatura de Carnes Vegetais (ou feitas de plantas) no Brasil

Outro estudo também realizado pelo GFI Brasil em 2020 apontou que o uso dos nomes “carne feita de plantas” e “carne vegetal“ demonstraram ser os nomes mais apropriados para uso comercial, enquanto o uso do termo “vegano” tem mais associações negativas que as demais opções testadas e pode afastar potenciais consumidores. A pesquisa mostrou também que 85% dos entrevistados provariam uma carne vegetal, 72% comprariam o produto e mais de 52% substituiriam carnes convencionais por carnes feitas de plantas com as mesmas características sensoriais (como sabor e textura). No entanto, somente 36% das pessoas pagariam mais por carnes vegetais, o que mostra que preços mais competitivos são essenciais para o desenvolvimento do mercado.

Com relação à carne cultivada, a aceitação do brasileiro é alta: 76% experimentariam, 65% comprariam, 54% substituiriam a carne convencional pela cultivada e 37% pagariam mais pela carne cultivada. Os motivos que mais aumentaram a intenção de compra dos respondentes foram a percepção de saudabilidade e nutrição desses produtos. No geral, o nome carne cultivada é recomendado para fins estratégicos.

Fonte: The Good Food Institute Brasil, 2020. Proteínas alternativas no Brasil: um estudo de nomenclatura sobre carnes vegetais e cultivadas

4. Impactos ambientais e sociais da produção de alimentos

4.1. Mudanças climáticas

O último relatório¹ sobre as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) publicado antes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), revela um aumento de 16% nas emissões globais de gases de efeito estufa até 2030, em comparação com 2010. Isso significa um aumento de 2,7ºC na temperatura terrestre até o fim do século, valor bem acima da meta de 1,5ºC estipulada pelo Acordo de Paris.

Segundo o último relatório² do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), será necessário reduzir em 45% as emissões de CO2 até 2030 para alcançar a meta de 1,5ºC, e em 25% para limitar o aumento da temperatura a 2ºC. Contudo, 113 dos 191 países que fazem parte do Acordo de Paris, estimam diminuir suas emissões em apenas 12% até 2030.

Mas, o que seria necessário fazer para reduzir as emissões? O sistema alimentar vigente é responsável por 34%³ de todas as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e a produção de proteína animal, sozinha, gera metade⁴ desse valor. Essas emissões vêm de várias fontes, mas principalmente da fermentação entérica e do esterco dos ruminantes (que juntos, também são responsáveis por 32%⁵ das emissões de metano no mundo), da queima de combustíveis fósseis na cadeia de produção e abastecimento dos alimentos, e do desmatamento intensivo e extensivo (para abrir pastagens e para plantar os grãos que viram ração para os animais de abate).

Uma pesquisa⁶ publicada na revista Science mostrou que, mesmo se todas as emissões de combustíveis fósseis fossem imediatamente zeradas, seria impossível cumprir a meta por conta das emissões geradas pelo sistema alimentar global sozinho. Da mesma forma, um estudo⁷ publicado pela PLOS Climate mostra que se a produção global de carne e laticínios for gradualmente reduzida até zerar durante os próximos 15 anos, será o mesmo que “cancelar” as emissões de GEE geradas por todos os outros setores econômicos por 30 a 50 anos.

Segundo o IBGE⁸, em todo o ano de 2021, foram abatidas 27,54 milhões de cabeças de bovinos no Brasil (redução de 7,8% em relação ao ano anterior), 52,97 milhões de suínos (aumento de 7,3% em relação a 2020) e 6,18 bilhões de cabeças de frango (aumento de 2,8% em relação ao ano de 2020), alcançando recorde da série histórica iniciada em 1997. Considerando que, de acordo com a ONU⁹, três quartos de todas as doenças infecciosas no mundo são de origem animal, ao analisar a magnitude dos números de animais abatidos torna-se imprescindível incluir a revisão do atual sistema de produção de alimentos nas discussões sobre saúde pública e prevenção de novas pandemias, como a do Coronavírus.

A questão do uso de solo também é um desafio. De toda a proteína produzida no Brasil, somente 16% é usada na alimentação humana, 80% é usada como ração, principalmente para porcos e galinhas [1]. No Brasil, a produção de apenas 1Kg de carne bovina ainda exige mais de 165m2 de pasto. Isto equivale a mais de 6.500m2 de terras por ano por brasileiro[2].

(Fontes: [1] Cassidy ES et al 2013 Redefining agricultural yields: from tonnes to people nourished per hectare. Environmental Research Letters 8; 034015; [2] Associação Brasileira das Indústrias Exportadores de Carne (ABIEC). Partes do material “Impactos da Pecuária no Brasil e no Mundo”, organizado pela pesquisadora Dra Cynthua Schuck para a SVB em 2017.

Amazônia

Na Amazônia, nos últimos 30 anos, houve aumento de 74% nas áreas de pasto; 80% das áreas desmatadas são usadas para esse fim.

(Fontes: Centro de Energia Nuclear na Agricultura, da Universidade de São Paulo (USP), Parte do material “Impactos sócio-climático-ambientais da produção de alimentos derivados de animais”, elaborado pela Akuanduba Consultoria”).

Terras agrícolas

Mais de 70% de todas as terras agrícolas do mundo são voltadas para a produção de alimentos para animais. Do total da superfície terrestre, 30% é ocupada pela pecuária. Para sustentar um sistema alimentar baseado em vegetais, seria necessário usar apenas 7% das terras do nosso planeta.

(Fontes: In World Data; Livestock long shadow: environmental issues and options; PLOS Climate, Partes do material “Impactos sócio-climático-ambientais da produção de alimentos derivados de animais, elaborado pela Akuanduba Consultoria”).

Soja

Segundo dados de 2018¹⁰ provenientes de uma análise publicada pela Food Climate Research Network (FCRN) da Universidade de Oxford, mais de um terço (37%) da soja global é fornecida a galinhas e outras aves; um quinto aos porcos; e 6% para aquicultura. Apenas 2% da soja é usada para a produção de carne e de laticínios vegetais. Questões como essa estão intimamente ligadas a graves problemas ambientais, como o desmatamento.

Sustentabilidade

Uma avaliação do ciclo de vida¹¹ e análise técnico-econômica publicada recentemente (2021), conduzida pela empresa de pesquisa independente CE Delft, modelou os impactos de uma planta de produção de carne cultivada em 2030. Com a produção concentrada em um único espaço gerenciável alimentado com fonte de energia elétrica limpa, a pegada de produção da carne muda drasticamente. Os estudos mostram que, em comparação com a carne convencional também feita com energia renovável, a carne cultivada diretamente a partir de células pode causar até 92% menos aquecimento global e 93% menos poluição e usar até 95% menos terra e 83% menos água.

Água

O setor agropecuário é responsável por mais de 70% do consumo global de água, e um terço disso se destina à irrigação e crescimento de ração e pasto para bois, porcos e galinhas.

(Fonte: Ceres, Managing Global Water Risks, Parte do material “Impactos sócio-climático-ambientais da produção de alimentos derivados de animais, elaborado pela Akuanduba Consultoria”).

De acordo com o Instituto Escolhas¹², só a produção de carne bovina no Brasil consome mais de 21.800 litros de água por quilo de carne. Há ainda outro ponto a ser analisado. Segundo a ONU¹³, a pecuária é o setor que mais polui mananciais e corpos d’água, pois gera muito mais excrementos do que os humanos e, em muitos países, a produção pecuária se expandiu e se intensificou ainda mais rapidamente do que a produção agrícola, introduzindo novos tipos de poluentes, como antibióticos e hormônios de crescimento animal, que apresentam riscos à saúde humana a medida que se deslocam pelos ecossistemas aquáticos e corpos d’água .

¹Fonte: United Nation, 2021. Nationally determined contributions under the Paris Agreement. 
²Fonte: United Nation, 2021. Climate Change 2021: The Physical Science Basis
³Fonte: Nature Food, 2021. Food systems are responsible for a third of global anthropogenic GHG emissions.
⁴Fonte: The Good Food Institute, 2021. Global Food System Transition is Necessary to Keep Warming Below 1.5°C
⁵Fonte: United Nation, 2021. Methane emissions are driving climate change. Here’s how to reduce them.
⁶Fonte: Science, 2020. Global food system emissions could preclude achieving the 1.5° and 2°C climate change targets.
⁷Fonte: PLOS Climate, 2022. Rapid global phaseout of animal agriculture has the potential to stabilize greenhouse gas levels for 30 years and offset 68 percent of CO2 emissions this century
⁸Fonte: IBGE, 2022. Em 2021, abate de bovinos cai pelo segundo ano seguido e o de frangos e de suínos batem recordes.
⁹Fonte: United Nation, 2013. The World Livestock 2013: Changing disease landscapes.
¹⁰Fonte: Our World in Data, More than three-quarters of global soy is fed to animals. Soy.
¹¹Fonte: CE Delft e The Good Food Institute, 2021. LCA of cultivated meat:Future projections for different scenarios
¹²Fonte: Instituto Escolha, 2020. Do pasto ao prato: subsídios e pegada ambiental da carne bovina.
¹³Fonte: Food and Agriculture Organization of the United Nation, 2018. More people, more food, worse water? a global review of water pollution from agriculture LED BY More people, more food, worse water? a global review of water pollution from agricult

4.2. Consumo de carne

Segundo a OCDE, a produção de carne deve aumentar 14% e o consumo per capta deve chegar a 35,4 kg até 2030. Não se trata de uma deficiência nutricional, mas de uma tendência de consumo guiada pelos hábitos e tradições alimentares, que colocam a carne no centro das refeições. No artigo “Por que acreditamos que as proteínas alternativas devem compor as soluções para transformar o sistema de produção de alimentos e conter as mudanças climáticas?”, o The Good Food Institute Brasil aborda estratégias de como faremos essa entrega para o consumidor de maneira a não impactar negativamente as mudanças climáticas.

Fonte: OECD, 2021

4.3. Conversão alimentar

Um parâmetro importante para estimar a eficiência de um determinado sistema de produção de alimentos é a taxa de conversão alimentar. A taxa de conversão alimentar basicamente calcula o quanto de recursos como ração, capim, silagem, um animal precisa ingerir para produzir 1 kg de peso vivo (kg de entrada/kg de saída). Dados obtidos pela LCA de 2021 (Tabela 6) mostram que a taxa de conversão alimentar para carne cultivada pode ser próxima a 1, isso equivale a dizer que é necessário aproximadamente 1 kg de recursos para produzir 1 kg de carne cultivada.

Neste mesmo estudo é possível observar que a taxa de conversão alimentar para o frango é cerca de 2,8 enquanto que para o gado de corte é 5,7. Mesmo que a eficiência da conversão alimentar varie entre as espécies e venha sendo aprimorada ao longo de muitos anos no sistema convencional, a utilização de um método de produção baseado em cultivo celular é provavelmente muito mais eficiente.

Fonte: CE Delft e The Good Food Institute, 2021. LCA of cultivated meat:Future projections for different scenarios.

Vale dizer que 64% do peso vivo do animal corresponde a ossos, sangue e subprodutos (comestíveis e não comestíveis): apenas 36% do peso vivo do gado de corte é carne.

Fonte: Rendimento integral de bovinos após abate por Ivan Luz Ledic, Médico Veterinário e D.Sc. Melhoramento Animal, Parte do material Impactos sócio-climático-ambientais da produção de alimentos derivados de animais, elaborado pela Akuanduba Consultoria.

Já o gado leiteiro precisa de cerca de 12kg de ração ou grãos para produzir 1kg de produtos lácteos.

4.4. Emprego

A Organização Internacional do Trabalho em parceria com o Banco de Desenvolvimento Inter-Americano afirmam que a adoção de alimentos vegetais cultivados com métodos agrícolas sustentáveis ​​pode gerar 19 milhões de novas oportunidades de emprego.

Empregos: até 2050, as proteínas alternativas devem sustentar 9,5-9,8 milhões de empregos segundo Relatório do Reino Unido de 2021. Outros apontamentos do relatório:

  • Espera-se que a rápida implantação de proteínas alternativas para consumo humano aumente o valor agregado bruto (VAB) do setor em 10,9% ao ano, atingindo US$ 1,1 trilhão em 2050.

  • Com suporte robusto à inovação, incluindo preços de emissões apropriados e investimento do setor público, o mercado de proteínas alternativas representará a maior parte do mercado global de proteínas até 2050.

  • Em termos de setores envolvidos na cadeia de valor, um terço pode estar associado ao fornecimento de materiais-chave (células proteicas/proteicas à base de plantas) e dois terços à operação e manutenção de equipamentos de processamento e laboratórios de fermentação.

5 . Saúde

O uso generalizado de antibióticos está levando a cada vez mais superbactérias resistentes a antibióticos e estima-se que a resistência antimicrobiana (RAM) foi diretamente responsável por cerca de 1,27 milhão de mortes em 2019, de acordo com pesquisa global publicada na Lancet. A grande maioria de todos os antibióticos produzidos hoje nos Estados Unidos e no mundo são usados para a agricultura animal convencional e em 2050, estima-se que essas superbactérias podem matar 10 milhões de pessoas/ano e custar à economia global US$ 100 trilhões.

As proteínas alternativas são capazes de fornecer quantidades semelhantes de proteínas e nutrientes aos da carne convencional, sem contribuição para o risco de pandemia ou resistência a antibióticos e uma fração do impacto climático adverso, logo representam uma mudança saudável na forma como cultivamos o que comemos.