White Paper Carne Cultivada: Perspectivas e Oportunidades para o Brasil – Inglês

A ideia de produzir carne cultivada tem pelo menos quase um século, desde que o então primeiroministro britânico Winston Churchill1 declarou em 1931 que “devemos nos livrar da ideia absurda de criar um frango inteiro para comer apenas o peito ou a asa, cultivar essas partes separadamente em um meio de cultura adequado”, em seu ensaio intitulado “Fifty Years Hence” (Churchill, 2022). Certamente, Churchill estava à frente de seu tempo, mas o que ele disse não é mais ficção científica. Nos últimos anos, essa ideia saiu do plano imaginário para se tornar uma alternativa promissora à produção de carne proveniente do abate de animais. Os desafios tecnológicos e econômicos são enormes, mas o aprofundamento científico e tecnológico, potenciais ganhos de escala e automação de processos industriais podem acelerar o desenvolvimento, o amadurecimento e a sustentabilidade de tecnologias tão disruptivas como esta. 

 

Neste contexto, é necessário avaliar cuidadosamente as alternativas existentes no mercado, os principais players e stakeholders, potenciais parceiros, concorrentes, lacunas e gargalos científicos e tecnológicos existentes no país. 

 

Embora prever o ritmo de crescimento de uma indústria em estágio inicial, como a da carne cultivada, seja um desafio, diferentes projeções realizadas até o momento indicam cenários extremamente promissores para o futuro.


No relatório da McKinsey, por exemplo, estimase que em 2030, a carne cultivada poderá responder por até 2,1 milhões de toneladas métricas de produção anual de carne e se tornará uma indústria de 25 bilhões de dólares (Brennan et al., 2021). Já as estimativas do relatório da A.T. Kearney para 2040, indicam que a carne cultivada deverá ocupar por volta de 35% do mercado global de carnes e valerá cerca de 630 bilhões de dólares (AT Kearney, 2019). 

 

O crescimento deste mercado não se baseia apenas no aumento da demanda devido ao crescimento da população, mas também devido à percepção geral e à preocupação de que algo deve ser feito com urgência em relação aos direitos dos animais, consumo de energia e água, recursos terrestres agrícolas e impactos ambientais associados a fontes convencionais de proteína animal. 

 

O senso de oportunidade já está em vigor quando vemos que empresas como a Cargill (“Protein innovation”, 2022) e Mitsubishi já estão investindo em startups promissoras e agindo para fazer parte deste enorme mercado.


Já é consenso que proteínas alternativas, inclusive carnes cultivadas, são parte importante da solução para a cadeia de abastecimento. Esse segmento promove outras formas de alimentos derivados de proteínas com maior sustentabilidade, capazes de alimentar uma população cada vez mais alerta, e que exige uma produção de carne segura, nutritiva e saborosa.

O Brasil deve continuar mantendo sua posição de destaque no mercado global de proteína animal, e não há razão para que não seja também um líder na nova economia proteica. Entretanto, devido ao avanço da tecnologia de carne cultivada ao redor do mundo e ao pequeno destaque que esta área tem recebido até o momento no país, podemos estar perdendo oportunidades importantes neste mercado. Até o momento, os principais participantes do setor não têm se posicionado com proeminência, o que inclui pesquisadores acadêmicos e da indústria, grandes produtores/ exportadores de alimentos/ produtores de carnes/ proteínas, empreendedores e investidores de capital de risco, agroindústrias locais, agências governamentais e formuladores de políticas públicas.

Os agentes reguladores nos Poderes Executivo e Legislativo podem ser facilitadores desse processo de integração entre os diversos atores. As consequências de entrar tarde demais no setor de carne cultivada podem resultar em prejuízos econômicos e sociais que vão além das margens de lucro e perdas de participação de mercado, afetando também metas gerais relacionadas à agenda de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas e criando dependências relacionadas ao desenvolvimento dessa tecnologia emergente.  

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