GFI Brasil participa da 8ª edição do Fórum Brasileiro de Feijões, Pulses e Colheitas Especiais

Evento acontece entre os dias 11 e 14 de abril, em Cuiabá. GFI participa da mesa “Plant-based, estamos só começando” no dia 13, das 15h40 às 17h

De 11 a 14 de abril, a cidade de Cuiabá (Mato Grosso) vai receber o maior evento do setor de Pulses do Brasil. A 8a edição do Fórum Brasileiro de Feijões, Pulses e Colheitas Especiais, promovida pelo IBRAFE (Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses), neste ano conta também com o 1º Encontro Latino-americano de Amendoim e Gergelim e, no formato híbrido, espera receber mil participantes presenciais de toda a América Latina e dez mil de todo o mundo online.

Com o objetivo de fomentar o mercado e compartilhar informações entre todos os players da cadeia (de pesquisadores, agrônomos e produtores à empacotadores, compradores e exportadores), os quatro dias de palestras e debates vão apresentar as novidades e tratar das melhores propostas e soluções para o setor de Feijões, Pulses e Colheitas Especiais. Os principais debates trazidos para o evento de 2022 incluem a importância da gestão da energia na agricultura irrigada, a revolução dos insumos biológicos, os desafios da logística internacional, a agricultura regenerativa e as oportunidades do mercado plant-based.

E, como uma organização que trabalha para tornar a cadeia de produção de alimentos mais sustentável, segura, justa e saudável através do desenvolvimento do setor de proteínas alternativas, o The Good Food Institute Brasil não poderia ficar de fora: no dia 13, das 15:40h às 17h, o GFI participa da mesa “Plant-based, estamos só começando”, junto do IBRAFE, MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e R&S BLUMOS.

O que são pulses?

Pulses são as sementes secas comestíveis de leguminosas. No Brasil, seus representantes mais consumidos são os feijões, a ervilha, a lentilha e o grão-de-bico. Pulse, do latim “Puls”, significa “sopa grossa”, que é a característica do caldo que esses grãos produzem quando cozidos.

Segundo a Embrapa, o Brasil é um dos maiores produtores globais de feijão (Phaseolus vulgaris) e a maior parte dessa produção é destinada ao consumo interno, nos tornando também um dos maiores consumidores mundiais do grão. De acordo com o IBRAFE, sete entre cada dez brasileiros comem feijão todos os dias e, apesar de existirem mais de 40 tipos de feijões no nosso país, o preto, o fradinho, o caupi, o vermelho, o mungo e o carioca dominam o mercado. O carioca, sozinho, ocupa 50% de toda a área de cultivo destinada para feijões no Brasil.

Os pulses são ricos em proteínas, fibras, vitaminas e aminoácidos e possuem uma produção que demanda menos água que outros grãos (como a soja), além de melhorarem a absorção de carbono e fixarem nitrogênio no solo. Em um mundo previsto para alcançar 10 bilhões de pessoas em 2050, onde uma transição no sistema alimentar é necessária para garantir a segurança alimentar e a saúde global da população do planeta, os pulses são matérias-primas promissoras para o segmento de proteínas alternativas – no Brasil e no mundo.

De acordo com Alysson Soares, Especialista em Políticas Públicas do GFI Brasil, há um grande potencial no uso de feijão como principal ingrediente na composição dos alimentos plant-based, e a ideia é incentivar e organizar a cadeia produtiva para que esteja preparada para atender a essa potencial demanda.

“Há anos o Brasil ostenta com orgulho o título de ‘celeiro do mundo’, dado seu vasto território repleto de terras férteis, diferentes zonas climáticas, abundância de recursos naturais e um consequente alto potencial agrícola. Porém, historicamente, tal título está diretamente atrelado à produção de commodities in natura, ou seja, sem valor agregado. Esse foi o caso do ciclo do Pau-Brasil, seguido pelo da cana-de-açúcar, café e, mais recentemente, soja e milho. Mas, desta vez, surge uma oportunidade para que o país de posicione na vanguarda internacional como principal fornecedor de insumos para uma das mais importantes mudanças no sistema alimentar na história da humanidade: o advento das proteínas alternativas”

O especialista também afirma que, apesar das primeiras iniciativas para produção de alimentos plant-based análogos à proteína animal terem surgido nos Estados Unidos e no Canadá, onde o cultivo de ervilhas e grão-de-bico é abundante, o Brasil e outros países da América do Sul (como Argentina e Paraguai), têm potencial de transformar os feijões, que são suas pulses predominantes, em fonte primária de uma crescente indústria global de alternativas proteínas.

“Eles podem, inclusive, substituir a ervilha, que demanda condições climáticas mais frias do que aquelas tipicamente encontradas no Hemisfério Sul. Além disso, os feijões podem ser processados localmente em compostos proteicos, agregando valor às cadeias produtivas regionais e levando tecnologia e conhecimento mercadológico para o campo, numa via de duas mãos”, completa Alysson.

Por que acreditamos que as proteínas alternativas devem compor as soluções para transformar o sistema de produção de alimentos e conter as mudanças climáticas?

por The Good Food Institute Brasil

O ano de 2030 é considerado crucial para a trajetória do nosso planeta. As metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são tão ambiciosas quanto necessárias para a manutenção da vida na terra. Faltando menos de 8 anos para a sua chegada, não há dúvidas de que medidas urgentes devem ser tomadas em escala global para conter as mudanças climáticas antes que sejam irreversíveis. Outro desafio que bate a nossa porta e que não pode mais esperar é o de  acabar com a fome global que já atinge pelo menos 811 milhões de pessoas no mundo. Entre as medidas necessárias para enfrentar essas questão está a de transformar o atual sistema alimentar, incorporando práticas mais sustentáveis e eficientes de produção de alimentos. 

Nesta quinta-feira (7), um estudo (Proteínas e Política: mitos e fatos sobre carne, peixe, proteínas alternativas e sustentabilidade) produzido pelo Painel Internacional de Especialistas em Sistemas Alimentares Sustentáveis (IPES-Food) foi divulgado trazendo importantes reflexões para este debate. O documento reconhece que o atual modelo de produção agropecuário precisa ser revisto e que é preciso promover discussões mais equilibradas sobre quais medidas devem ser adotadas para promover as mudanças necessárias em prol de um sistema alimentar mais sustentável.

Contudo, o estudo também questiona a adoção das proteínas alternativas como parte da solução. Dentre outros pontos, segundo o IPES-Food, há uma ênfase excessiva na necessidade de consumo de proteínas e na redução dos gases de efeito estufa (GEE). Embora seja verdade que não há deficiência protéica na dieta da população global, a produção de carne deve aumentar 14% e o consumo per capta deve chegar a 35,4 kg até 2030, impulsionada pela crescente demanda global por carne. Não se trata de uma deficiência nutricional, mas de uma tendência de consumo guiada pelos hábitos e tradições alimentares, que colocam a carne no centro das refeições. Então a grande questão é, como faremos essa entrega para o consumidor de maneira a não impactar negativamente as mudanças climáticas?

“Assim como o IPES-Food, também acreditamos que a agroecologia e a agricultura regenerativa devem compor as estratégias para transformar o sistema alimentar. Da mesma forma, temos certeza de que a cultura alimentar é parte fundamental dessa equação. Nesse sentido, as proteínas alternativas têm um papel importante. Nenhuma dessas atividades, sozinha, será capaz de alimentar toda a população nem frear as mudanças climáticas na rapidez que se espera. Também não conseguiremos garantir a soberania e a cultura alimentar se não encontrarmos novas formas de se produzir a comida que as pessoas já consomem e vão continuar a consumir”, comenta o presidente do The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil), Gustavo Guadagnini.

A adoção das proteínas alternativas na dieta também não serve exclusivamente aos propósitos da grande indústria, como alega a pesquisa. Esse é um debate em que não podemos excluir nenhum elo da cadeia de produção de alimentos. Do produtor rural à grande indústria, todos têm um papel a cumprir. Acreditamos que é fundamental plantar a ideia da diversificação das fontes de proteína, da mesma forma, defendemos a diversificação das indústrias de carne, leite e ovos, que podem diminuir sua pegada ambiental (uso de terra, água e emissões) ao incorporar em seus portfólios análogos vegetais e cultivados dos produtos de origem animal que já produzem. É impossível garantir comida para toda a população sem esses elos que garantem escala e acesso. Além disso, a Organização Internacional do Trabalho, em parceria com o Banco de Desenvolvimento Interamericano, afirma que a adoção de alimentos vegetais cultivados com métodos agrícolas sustentáveis pode gerar 19 milhões de novas oportunidades de emprego.

O problema de concentração não é exclusivo do setor de proteínas alternativas. Ao contrário: é uma característica da indústria de alimentos mundial, que acaba impactando também o mundo das proteínas alternativas. “Atualmente, a indústria de alimentos já é concentrada em grandes empresas – mudar a origem do ingrediente de origem animal para vegetal não vai automaticamente mudar a lógica de todo o sistema produtivo que já existe. Porém, existe um ponto que está sendo ignorado pela discussão do IPES: a monocultura é um sistema que atende diretamente a produção de animais. Hoje produzimos grãos para alimentar animais que geram comida para humanos numa proporção muito ineficiente”, aponta a diretora de engajamento corporativo do GFI Brasil, Raquel Casselli.

Para se ter uma ideia, o gado leiteiro precisa de cerca de 12kg de ração ou grãos para produzir 1kg de produtos lácteos. Com relação ao gado de corte, são necessários em torno de 6kg de ração ou grãos para produzir 1kg de peso vivo. Vale dizer que 64% do peso vivo do animal corresponde a ossos, sangue e subprodutos (comestíveis ou não). Ou seja, apenas 36% do peso vivo do gado de corte é carne. Para cada 9 calorias (aproximadamente) produzidas para alimentar o frango, apenas 1 é convertida para consumo humano. É importante mencionar que os valores de taxa de conversão alimentar podem variar dependendo da raça do animal, tipo de alimentação e do sistema produtivo utilizado.

“Um sistema produtivo que não dependa tanto de animais libera para o uso humano as imensas áreas em que hoje são plantadas soja e milho para ração. Então, por mais que a indústria que vende a carne vegetal seja concentrada, o uso de proteínas alternativas muda a cadeia de produção como um todo e libera terras para plantio de comida vegetal de qualidade para todas as pessoas. Se queremos ver mais arroz, feijão, cenoura, tomate na refeição brasileira, é preciso mudar a equação de uso de terras da produção animal para a produção vegetal”, completa Gustavo Guadagnini.

O Programa Biomas, financiado pelo GFI Brasil, estuda como espécies da nossa biodiversidade, podem se tornar ingredientes de produtos feitos de plantas, como as carnes vegetais. A iniciativa tem o potencial de criar novas cadeias de suprimentos, fortalecer comunidades locais e trazer mais diversidade para a mesa dos brasileiros. Além disso, pesquisas também apoiadas pela instituição com organizações como a Unicamp e a Embrapa buscam encontrar novas fontes de proteínas capazes de abastecer o mercado, como o feijão e a folha de mandioca. “A maneira como o mercado de proteínas alternativas vai avançar nos próximos anos passa por enfrentar os desafios do sistema de produção de alimentos com foco na solução. Investir em pesquisas, incluir o produtor rural nessa equação, apoiar às empresas e trabalhar com os atores públicos para acelerar as mudanças que precisam acontecer. O desafio só será superado se todos os elos dessa cadeia trabalharem juntos”, afirma Katherine de Matos, vice-presidente de ciência e tecnologia do GFI Brasil.

Feijoada completa da Green Kitchen

Por que devemos investir, também, em proteínas alternativas? O que os dados nos dizem?

Mudanças climáticas

O último relatório sobre as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) publicado antes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), revela um aumento de 16% nas emissões globais de gases de efeito estufa até 2030, em comparação com 2010. Isso significa um aumento de 2,7ºC na temperatura terrestre até o fim do século, valor bem acima da meta de 1,5ºC estipulada pelo Acordo de Paris.

Segundo o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), será necessário reduzir em 45% as emissões de CO2 até 2030 para alcançar a meta de 1,5°C, e em 25% para limitar o aumento da temperatura a 2°C. Contudo, 113 dod 191 países que fazem parte do Acordo de Paris, estimam diminuir suas emissões em apenas 12% até 2030.

Mas o que seria necessário fazer para reduzir as emissões? O sistema alimentar vigente é responsável por 34% de todas as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e a produção de proteína animal, sozinha, gera mais da metade (ou 15%) desse valor. Essas emissões vêm de várias fontes, mas principalmente da fermentação entérica e do esterco dos ruminantes (que juntos também são responsáveis por 32% das emissões de metano no mundo), da queima de combustíveis fósseis na cadeia de produção e abastecimento dos alimentos e do desmatamento intensivo e extensivo (para abrir pastagens e para plantar os grãos que viram ração para os animais de abate).

Uma pesquisa publicada na revista Science mostrou que, mesmo se todas as emissões de combustíveis fósseis fossem imediatamente zeradas, seria impossível cumprir a meta por conta das emissões geradas pelo sistema alimentar global sozinho. Da mesma forma, um estudo publicado pela PLOS Climate mostra que se a produção global de carne e laticínios for gradualmente reduzida até zerar durante os próximos 15 anos, será o mesmo que “cancelar” as emissões de GEE geradas por todos os outros setores econômicos por 30 a 50 anos.

É claro que não acreditamos em extinguir a produção de carne e laticínios de origem animal, mas o número mostra que uma transição progressiva para um sistema alimentar global baseado em vegetais e proteínas alternativas tem a capacidade de, em pouco mais de uma década, zerar a quantidade de GEE que todas as indústrias, transportes e o setor energético, combinados, levariam até mais de meio século para emitir na atmosfera. 

O IPCC, inclusive, afirma em seu último relatório que a carne feita de plantas e cultivada a partir de células são soluções transformadoras que, juntamente com as transições nos setores de energia e transporte, pode reduzir pela metade as emissões globais de GEE até 2030. Embora o relatório tenha descoberto que “o maior potencial de mudança (para mitigar as mudanças climáticas) viria da mudança para dietas baseadas em vegetais”, ele também observa que a crescente demanda por carne deve gerar um aumento de 14% na produção convencional de carne até 2030, como citado anteriormente.

Vale ressaltar, ainda, que, a partir do compromisso em garantir a segurança dos alimentos a base de proteínas alternativas, o GFI participa como Observador da Comissão do Codex Alimentarius, um programa conjunto da FAO e OMS, criado em 1963, dedicado ao desenvolvimento de padrões globais para proteger a saúde dos consumidores e garantir práticas leais no comércio internacional de alimentos

Recursos naturais finitos, fome global e proteínas

Segundo relatório da ONU sobre Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo publicado em 2021, atualmente cerca de 811 milhões de pessoas passam fome ou estão subnutridas em todo o mundo. Com a expectativa de um aumento populacional que chegará a 10 bilhões de pessoas, a ONU estima que será necessário aumentar em 70% a produção de alimentos. Não seremos capazes de alcançar essa meta se dependermos do atual sistema alimentar, sobretudo porque as práticas da agropecuária consomem a maior parte dos recursos naturais disponíveis.

Mais de 70% de todas as terras agrícolas do mundo são focadas na produção de alimentos para animais e 30% da superfície terrestre são ocupadas pela pecuária. Isso significa que um terço de toda a terra existente no planeta é usada para abrigar e/ou alimentar animais que são criados e/ou abatidos e chegam até nós como carne, ovos, leite e derivados. Segundo estudo da PLOS Climate, para sustentar um sistema alimentar baseado em vegetais, seria necessário usar apenas 7% das terras do nosso planeta.

Quando se trata da contribuição da pecuária para o aquecimento global, a maioria das análises tende a olhar diretamente para as emissões do setor e deixam de lado a questão do uso da terra, que é extremamente relevante. Isso porque, ao interromper a prática da pecuária e restaurar ou “renaturalizar” essas terras, todo o carbono que seria emitido passa a ser capturado e armazenado. O setor agropecuário é responsável, ainda, por mais de 90%  do consumo global de água, e um terço disso se  destina à irrigação e crescimento de ração e pasto  para bois, porcos e galinhas. Segundo a ONU, a pecuária é o setor que mais polui  mananciais e corpos d’água.

Enquanto isso, se se a energia renovável for usada em sua produção, a carne cultivada, por exemplo, provavelmente terá uma pegada ambiental menor em comparação com a produção de carne convencional em menos de 10 anos. A carne cultivada também deve ser menos poluente (redução de 29% a 93%) em comparação com todas as formas de carne convencional e usar significativamente menos  água azul (redução de 51% a 78%) do que a produção convencional de carne bovina (quase o mesmo que frango e porco). Mudar para carne cultivada pode trazer outros benefícios positivos, incluindo a restauração de habitats terrestres e marinhos e uma diminuição da taxa de perda de biodiversidade.

Além disso, a carne cultivada é 3,5 vezes mais eficiente do que o frango convencional (a forma mais eficiente de produção de carne convencional) na conversão de ração em carne. Como consequência, a produção de carne cultivada reduz o uso da terra em 63% a 95% em comparação com a carne convencional. Se esta terra for cuidadosamente reaproveitada para reconstruir ecossistemas e sequestrar carbono ou simplesmente cultivar mais alimentos comestíveis para humanos, podemos compensar significativamente as emissões de carbono (um benefício não incorporado à LCA) e enfrentar os desafios globais de segurança alimentar.  

Já com relação aos produtos plant-based ou feitos de planta, um estudo realizado pela Beyond Meat em parceria com a Universidade de Michigan afirmou que, em comparação com a produção de um bife animal, a carne vegetal emite 90% menos gases de efeito estufa, 99% menos água, 93% menos terra e 46% menos energia.

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Licuri, o ouro do sertão, também pode ser a nova aposta do mercado de proteínas alternativas

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) realizou o I Simpósio da Cadeia Produtiva do Licuri para aproximar empresas, universidades e comunidades locais do bioma Caatinga e apresentar aos participantes novas moléculas bioativas com potencial econômico para a indústria cosmética e farmacêutica. Além disso, os painéis e discussões mostraram os avanços científicos por trás dessas descobertas e também as oportunidades de negócio geradas a partir dos novos usos do licuri.

O evento foi viabilizado em parceria com  o Núcleo de Bioprospeção da Caatinga e a  Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (COOPES) e aconteceu em Capim Grosso, cidade do interior da Bahia onde será instalada uma usina de processamento da Coopes com o apoio do projeto Cadeia Produtiva do Licuri.

O licuri e seus usos

O Licuri é o fruto de uma palmeira nativa da Caatinga, a Syagrus coronata, que já há algum tempo, compõe a economia e a sobrevivência de famílias do sertão da Bahia. Geralmente são as mulheres que coletam o coquinho para serem vendidos em feiras ou consumidos de diversas formas. Da amêndoa, são feitos leite, cocada, farofa, licor e também podem ser consumidas in natura. Estudos comprovaram que o óleo de sua amêndoa possui ação antibacteriana, antifúngica, antiparasitária e anti-inflamatória, sendo utilizado pelas comunidades locais como cicatrizante, para controle da pressão alta e para diabetes.

O objetivo agora é continuar a pesquisar o potencial nutricional do resíduo do seu processamento, que pode ser utilizado para produzir farinhas e concentrados proteicos. “Estamos estudando o potencial do licuri para gerar farinhas e ingredientes para a produção de proteínas alternativas”, explicou Bruno Nunes,  coordenador-Geral de Ciência para Bioeconomia do MCTI, também à frente do Programa Cadeias Produtivas da Bioeconomia MCTI.

Potencial para o setor de proteínas alternativas 

O GFI Brasil tambpem esteve presente e contribuiu com o painel “Experiências Empresariais”. Gus Guadagnini, diretor executivo do GFI Brasil, falou sobre o potencial dos biomas brasileiros dentro do setor de proteínas alternativas, sendo peça importante na criação da cadeia de produção de alimentos do futuro. Neste contexto, o licuri pode ter grande relevância. “A torta desengordurada que se forma após a extração do óleo do licuri possui um teor interessante de proteínas de ótima qualidade que pode se transformar em ingredientes importantes para o mercado de proteínas alternativas”, explica Luciana Fontinelle, especialista de ciência e tecnologia do GFI Brasil.

Iniciativas que apoiam a exploração sustentável da biodiversidade brasileira são de extrema importância em diversos sentidos, uma vez que contribuem para a preservação ambiental, gera fontes de renda para comunidades locais, fortalece a economia nacional e ainda promovem o avanço científico. “Nós do GFI acreditamos que a biodiversidade brasileira pode oferecer diversos ingredientes para o mercado nacional e internacional de proteínas alternativas. O bioma Caatinga, com certeza, é uma parte importante desta construção, contribuindo com a riqueza das suas espécies nativas, principalmente o Licuri, o ouro do sertão”, conclui Luciana.

O Simpósio está disponível na íntegra online e você pode assisti-lo clicando aqui.

MAPA vai regular mercado de alimentos feitos de planta e quer que o país seja referência global para o segmento

Afirmação foi feita durante painel sobre inovações na Expomeat, III Feira Internacional da Indústria de Processamento de Proteína Animal e Vegetal, em São Paulo.

por Vinícius Gallon

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) deu mais um importante passo em direção à consolidação do setor de proteínas alternativas brasileiro. Glauco Bertoldo, diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov) da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa, anunciou que o órgão vai regular o mercado de produtos feitos de plantas. O objetivo é garantir as condições necessárias para a concorrência justa entre os alimentos de origem vegetal e seus análogos animais.

A notícia chega pouco tempo depois da divulgação dos resultados da Tomada Pública de Subsídios, que recebeu entre os meses de junho e setembro do ano passado, contribuições da sociedade sobre diversos aspectos relacionados à regulação desse mercado. No total, foram recebidas 332 respostas, indicando, entre outros pontos, que consumidores e entidades do setor de alimentos enxergam benefícios na medida. “Temos plena convicção da coexistência das duas fontes (vegetal e animal). Ambas vão crescer e há espaço para ordenar esse mercado enquanto ele está crescendo”, disse. 

Para Alexandre Cabral, diretor de políticas públicas do The Good Food Institute Brasil, um marco regulatório adequado pode representar uma enorme vantagem para o surgimento de novos empreendimentos nacionais e atrair investimentos estrangeiros. “Um grande volume de investimento vem sendo destinado a empresas deste mercado no exterior e também no Brasil. O cenário é promissor e o momento é oportuno para políticas públicas pró-investimento. O Brasil pode sair na frente como um dos primeiros países a regular esses mercados, desenhando instrumentos que integrem suas políticas agrícola, científica, tecnológica e industrial.”, comenta. 

O GFI Brasil, em parceria com o Ital, desenvolveu um estudo regulatório com orientações sobre como o mercado de produtos feitos de planta pode ser normalizado. O documento ainda é confidencial, mas será lançado ao público ainda no primeiro semestre de 2022.

Faça parte do Projeto Proteínas Alternativas

Estudantes são parte fundamental na construção do ecossistema de proteínas alternativas. Explicamos aqui como você pode começar um grupo de estudos em sua universidade e contribuir para a transição global em direção ao futuro da alimentação.

por Bruna Corsato

Conheça o projeto

O Projeto Proteínas Alternativas é um movimento estudantil global dedicado a tornar universidades em catalisadoras da educação, pesquisa e inovação em proteínas alternativas. Os estudantes são a força motriz neste projeto que está ganhando força em universidades no mundo todo.

Com o enorme crescimento do setor na última década, uma onda cada vez maior de estudantes passou a se interessar pela área de proteínas alternativas. Entretando, nem todos se dão conta do enorme potencial transformador que vem junto com essa escolha: influenciar a trajetória do nosso sistema de alimentos a partir  de ações dentro das universidades.

Estudantes têm nas mãos o poder de definir as prioridades das instituições de ensino; de realizar pesquisas que melhoram as qualidades sensoriais e funcionais de novos produtos proteicos; e de criar programas educacionais para estabelecer uma linha de profissionais capacitados para uma indústria em crescimento. 

No GFI, acreditamos que as universidades consistem em um elemento fundamental capaz de promover um ecossistema de proteínas alternativas. Por esse motivo, criamos o Projeto Proteína Alternativa, para que estudantes visionários possam liderar instituições de ensino a transformar como produzimos alimentos, criando assim um sistema mais sustentável, seguro e justo.

Empoderando estudantes através de conexões

O Projeto Proteínas Alternativas visa ser um ponto de articulação para iniciativas acadêmicas fundamentais para a construção do movimento de transição para proteínas alternativas. Nosso objetivo é criar pontes e conectar engenheiros de tecido a cientistas de alimentos, estudantes de administração a inovadores técnicos, pesquisadores à próxima geração de talentos em pesquisa de ponta.

Como funcionam os grupos

Nossa visão é criar comunidades interdisciplinares que fomentam a exploração de novas aplicações do conhecimento e expertise em proteínas alternativas. Em cada instituição anfitriã, os líderes estudantis trabalham com especialistas do GFI para criar iniciativas que terão o maior impacto no crescimento do ecossistema de proteínas alternativas de sua própria universidade.

Alguns grupos optaram por criar materiais de estudo e defender o desenvolvimento de currículos sobre proteínas alternativas, outros por reunir-se com os principais pesquisadores e cientistas para viabilizar pesquisas em tecnologias relevantes para o setor,   alguns grupos criaram startups de proteínas alternativas, e muito mais. 

[leia mais sobre os cinco principais objetivos do projeto]

Está interessado? Junte-se ao projeto!

Como estudante, você tem um grande poder para impulsionar mudanças dentro de sua universidade. A criação de um capítulo do Projeto Proteínas Alternativas em sua instituição de ensino permite que você construa uma rede interdisciplinar de colegas com visões semelhantes, articulando o grupo em direção às atividades com maior impacto para o avanço de proteínas alternativas.

Estamos procurando líderes estudantis em universidades de pesquisa que tenham as bases para um ecossistema de proteínas alternativas duradouro:

Novos grupos de alunos devem ter pelo menos dois co-organizadores, onde:

Essa descrição se encaixa no seu perfil? Então se aprofunde em nossos recursos de suporte para orientações sobre as responsabilidades e oportunidades associadas à administração de um grupo de estudantes. Vamos adorar ouvir de você!

Quero participar!

Características de um time de cofundadores forte

Grupos com pelo menos dois fundadores quase sempre são mais bem-sucedidos do que aqueles com apenas um. Comparado a um fundador solo, você e seu(s) parceiro(s) terão mais tempo livre para se reunir com administradores, manter redes acadêmicas maiores para recrutar membros, ter mais energia para sediar reuniões e eventos e trazer perspectivas diversas  para as discussões em grupo. Além disso, à medida que o ano acadêmico se desenvolve, os cofundadores podem apoiar uns aos outros em períodos difíceis de exames. Consideramos isso tão importante que tornamos a cofundação um pré-requisito para se inscrever no Projeto Proteínas Alternativas.

As responsabilidades dos cofundadores podem incluir:

Recomendamos analisar as responsabilidades envolvidas na gestão de um grupo de estudantes e escolher um cofundador que tenha habilidades complementares as suas.

O suporte do GFI

O GFI conecta cientistas, empreendedores e outros inovadores em proteínas alternativas do todo o mundo. Além de acesso a essa rede de contatos, o GFI trabalha em colaboração próxima com os membros do projeto para fornecer orientação estratégica, mentoria e suporte ad hoc. Membros também têm acesso a um canal do Slack onde a equipe do GFI responde a perguntas e estimula discussões inovadoras. E, claro, os líderes estudantis no espaço de trabalho apoiam uns aos outros e celebram os sucessos conquistados!

Uma vez por mês, o GFI organiza uma reunião online com os líderes estudantis que serve como um fórum para conectar nossa comunidade global. Essas reuniões incluem mesas redondas, treinamento de especialistas em proteínas alternativas, sessões colaborativas de resolução de problemas e atividades de networking. Cada grupo de alunos ativo também é elegível a uma bolsa de financiamento simbólico para viabilizar projetos e atividades em grupo, como forma complementar os fundos que os grupos podem levantar de forma independente. Além disso, trabalharemos junto aos líderes estudantis para ajudar a divulgar notícias sobre eventos dos grupos, campanhas e outros projetos voltados ao público em nossa rede.

Junte-se ao projeto fazendo sua inscrição aqui

Alimentação à base de vegetais pode reverter a trajetória das mudanças climáticas

por Victoria Gadelha para o GFI Brasil

No final de 2020, uma pesquisa publicada na revista Science mostrou que, mesmo se todas as emissões de combustíveis fósseis fossem imediatamente zeradas, seria impossível cumprir a meta estabelecida pelo Acordo de Paris (de limitar o aumento da temperatura terrestre a 1,5°C ou até 2°C acima dos níveis pré-industriais) por conta das emissões geradas pelo sistema alimentar global sozinho.

Um artigo publicado na Nature Food indicou que se as 54 nações mais ricas do planeta (17% da população mundial) adotassem a dieta EAT-Lancet, que é baseada majoritariamente em vegetais, elas poderiam reduzir suas emissões de CO2 em dois terços ou 61%.

Em fevereiro de 2022, um novo estudo publicado pela PLOS Climate mostra que, se a produção global de carne e laticínios for gradualmente reduzida até zerar durante os próximos 15 anos, será o mesmo que “cancelar” as emissões de gases de efeito estufa (GEE) geradas por todos os outros setores econômicos por 30 a 50 anos. Ou seja: uma transição progressiva para um sistema alimentar global baseado em vegetais tem a capacidade de, em pouco mais de uma década, zerar a quantidade de GEE que todas as indústrias, transportes e o setor energético, combinados, levariam até mais de meio século para emitir na atmosfera.

O sistema alimentar vigente é responsável por 34% de todas as emissões de GEE e a produção de proteína animal, sozinha, gera mais da metade (ou 15%) desse valor. Essas emissões vêm de várias fontes, mas principalmente da fermentação entérica (processo digestivo que ocorre em animais ruminantes) e do esterco dos ruminantes (que, juntos, também são responsáveis por 32% das emissões de metano no mundo), da queima de combustíveis fósseis na cadeia de produção e abastecimento dos alimentos, e do desmatamento intensivo e extensivo (para abrir pastagens e para plantar os grãos que viram ração para os animais de abate).

Mais de 70% de todas as terras agrícolas do mundo são focadas na produção de alimentos para animais e 30% da superfície terrestre são ocupadas pela pecuária. Isso significa que um terço de toda a terra existente no planeta é usada para abrigar e/ou alimentar animais que, dentro de muito pouco tempo – e em escala industrial – são abatidos e chegam até nós como hambúrguer, bife, filé, coxa, linguiça e inúmeros outros tipos de formatos e cortes. Segundo o estudo, para sustentar um sistema alimentar baseado em vegetais, seria necessário usar apenas 7% das terras do nosso planeta.

Quando se trata da contribuição da pecuária para o aquecimento global, a maioria das análises tende a olhar diretamente para as emissões do setor e deixam de lado a questão do uso da terra, que é extremamente relevante. Isso porque, ao interromper a prática da pecuária e restaurar ou “renaturalizar” (rewild, em inglês) essas terras, todo o carbono que seria emitido passa a ser capturado e armazenado.

O estudo publicado no início deste mês na PLOS Climate é uma colaboração entre o professor de biologia molecular e celular da Universidade da Califórnia, Michael Eisen, e o professor de bioquímica da Universidade de Stanford e CEO da Impossible Foods Inc, Patrick Brown. Importante mencionar que a Impossible Foods é uma das grandes fabricantes de produtos vegetais substitutos de carne dos Estados Unidos, avaliada em US$4 bilhões em 2020. Os autores expõem esse conflito de interesse no início do artigo, mas garantem que a ciência é sólida.

Mas a diminuição gradual na produção de carnes e laticínios é viável?

Para Brown, as mudanças necessárias devem ser orientadas pelo mercado, que segundo ele, é a instituição de ação mais rápida na Terra. “Esse movimento será impulsionado pela escolha do consumidor do lado da demanda. Se existem produtos que fazem um trabalho melhor em entregar o que eles desejam, nada pode impedir isso”.

Comprovando o que Brown diz, de acordo com o relatório da Research and Markets, o mercado global de carne e laticínios à base de plantas pode alcançar US$68,7 bilhões até 2025, com um crescimento anual (CAGR) de 17,42%. O mercado de proteína animal também deve crescer, mas numa taxa menor do que 4% ao ano. AT Kearney, empresa líder em consultoria de gestão, projeta que as carnes à base de plantas representarão 10% do mercado de carnes já em 2025.

Os desafios já começam a aparecer. Um novo relatório do The Good Food Institute aponta que o setor de alternativas vegetais pode ter problemas para suprir a demanda projetada para 2030. A pesquisa identificou entraves sobre a disponibilidade de volume para o fornecimento global de ingredientes essenciais para a indústria (como óleos, gorduras e proteínas). O estudo concluiu ainda a necessidade de investimento em infraestrutura, modernização das instalações de processamento existentes e colaboração entre os stakeholders do setor para que esse mercado prospere.

O CEO da Impossible Foods admite no estudo que uma transição completa para um sistema alimentar à base de plantas enfrentará, sim, vários obstáculos e desafios porque carne, laticínios e ovos são um componente importante da dieta humana e a criação de gado é parte integrante das economias rurais em todo o planeta. Quase 2 bilhões de pessoas, a maioria no Sul Global, criam seus próprios animais para alimentação e renda – embora comam muito menos carne do que os consumidores de nações ricas. Essas pequenas fazendas produzem cerca de 80% dos alimentos consumidos na Ásia e na África Suubsaariana, mas estas regiões apresentam os menores índices de consumo per capita por ano de carne do globo (Ásia: 26.6kg e África (toda): 13kg).

Por esses motivos, Brown e Eisel apontam o Ocidente como o principal responsável pelas altas emissões do setor de alimentos e, assim como o estudo da Nature Food, concluem que o foco da transição alimentar deve estar nesses países que, representando 68% do PIB global, é onde a mudança causaria o maior impacto positivo para o clima. Contudo, é importante dividir a responsabilidade dessa transição alimentar globalmente. Essa é uma mudança que, para ser efetiva, precisa acontecer do lado de quem produz e de quem consome.

Mas, por mais que os consumidores estejam demonstrando entusiasmo com os alimentos feitos de plantas, que replicam cada vez melhor sabor, textura e nutrição das versões convencionais e com preços cada vez mais competitivos, será que basta contar com a tomada de consciência do consumidor? As abordagens orientadas para o mercado podem fazer muito, mas serão suficientes para garantir o cumprimento de metas climáticas?

É inevitável pensar que os governos precisarão agir e elaborar, por exemplo, políticas para ajustar a pecuária a um modelo de produção mais sustentável. Isso foi feito – de forma intensiva – com o setor de energia e de transportes nos últimos anos. E enquanto outras tecnologias “amigas do clima” (como baterias e energias renováveis) já são discutidas regularmente em fóruns globais, como no Clean Energy Ministerial (CEM), onde as principais economias do mundo, em parceria única, trabalham em conjunto para acelerar a transição global de energia limpa, isso parece ainda ser um desafio para o setor de alimentos.

Uma das explicações pode estar no fato de que o potencial da contribuição das proteínas alternativas para cumprir as metas do Acordo de Paris tenha permanecido incompreendido até pouco tempo mas, com toda a ciência revelada nos estudos recentes, esse potencial não pode mais ser subestimado. Há muito a ser feito em nível internacional e, de acordo com um relatório do GFI com o Climate Advisers, as prioridades dos líderes políticos deveriam ser financiar a ciência de acesso aberto, incentivar a Pesquisa e o Desenvolvimento (P&D) do setor privado e apoiar a infraestrutura para fabricação de carnes cultivadas e feitas de plantas.

Enquanto isso não acontece, o mercado tem investido em soluções de curto prazo para incentivar a alimentação à base de plantas. São incontáveis os grandes e pequenos varejos, além de restaurantes e comércios locais, que têm colocado produtos vegetais em suas lojas ao redor do mundo. São inúmeras as empresas que estão desenvolvendo produtos híbridos e são enormes os avanços pelos quais o setor de carne cultivada tem passado recentemente.

As gigantes do fast food e do varejo também não estão ficando para trás – porque já entenderam que esses produtos vendem. O Panera Bread pretende tornar 50% do seu cardápio plant-based até 2025. O mesmo vale para o Burger King do Reino Unido, que até 2030 vai ter metade do menu com produtos feitos de planta para reduzir em 41% suas emissões de GEE. No final de 20, a rede Burger King também abriu sua primeira loja 100% vegetal em Madri. No Brasil, a rede conta com um sanduíche feito de plantas em seu menu. O McPlant, hambúrguer de carne à base de plantas do McDonald´s, já é vendido em 600 estabelecimentos. Já a Tesco, uma gigante do varejo europeu, está no processo de aumentar suas vendas de alimentos à base de plantas (como hambúrgueres, salsichas, quiches, tortas e comidas prontas) em 300% até 2025 para acompanhar as medidas que desenvolveu em parceria com a ONG WWF. No início deste ano, a KFC lançou o “frango frito vegetal” em todos os pontos dos Estados Unidos – depois do teste feito em Atlanta, em 2019, ter esgotado todo o produto em 5 horas. Ainda no Brasil, a rede Bob´s também conta com um lanche feito à base de plantas mimetizando o sabor de carne e frango.

Todas essas ações mercadológicas são importantíssimas para impulsionar uma transição alimentar porque tempo é um luxo que não temos de sobra. Para Brown, “a rapidez é tão importante quanto a magnitude. Todos os dias que não estamos fazendo algo a respeito, estamos avançando mais no caminho para danos irreversíveis.

E a questão da pressa toca em outro ponto extremamente importante: o respeito aos animais. Mais de 70 bilhões de animais terrestres são consumidos todos os anos e os consumidores estão cada vez mais atentos e preocupados com a maneira que isso está sendo feito. A Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou no começo de março de 2022, durante assembleia em Nairóbi, no Quênia, uma resolução que inclui o bem-estar animal como política essencial no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). A proposta foi aprovada pelos 193 países membros. Antes da assembleia, um grupo de 27 organizações, que juntas representam mais de 1 milhão de membros, enviaram uma carta ao Ministério do Meio Ambiente solicitando que o país votasse a favor da resolução. O The Good Food Institute Brasil foi um dos signatários da carta.

A carta solicitou que “os Estados-membros protejam a vida selvagem e outros animais não-humanos, considerando o crescente consenso de que o bem-estar animal e a proteção dos ecossistemas estão intrinsecamente relacionados com alguns dos mais significativos desafios enfrentados pela comunidade global atualmente – incluindo a redução do risco de novas e emergentes infecções por doenças zoonóticas, a mitigação das mudanças climáticas e de outras ameaças ambientais – e assegurando sistemas alimentares seguros e sustentáveis”.

O texto ainda menciona que o bem-estar animal é uma importante preocupação para os cidadãos do Brasil e ao redor do mundo. De acordo com uma pesquisa de setembro de 2021 do instituto Datafolha, 88% dos brasileiros se importam em maior ou menor grau com o sofrimento dos animais nas fazendas, o que representa 9 em cada 10 brasileiros acima de 16 anos, ou aproximadamente 148 milhões de pessoas. Além disso, também foi apontado que 84% dos consumidores comprariam em outro lugar caso soubessem que o estabelecimento vende produtos de fazendas originados de práticas cruéis. Em 2020, 50% dos brasileiros já haviam reduzido o consumo de carne, segundo pesquisa do GFI Brasil com o IBOPE.

Seja pela compaixão, pela empatia, pela consciência ambiental, pela preocupação social, pelo sabor, pela saúde ou por todas as alternativas anteriores, o que importa é que mais e mais pessoas estão mudando suas dietas e descobrindo que essa transição pode ser, além de necessária, incrível e deliciosa, ao mesmo tempo em que começam a perceber que o garfo é uma importante ferramenta política e que os alimentos que botamos no prato são um voto pelo mundo que queremos.

Setor de proteínas alternativas recebeu investimento recorde de $5 bilhões em 2021, 60% a mais do que em 2020

Interesse de investidores segue crescendo como solução sustentável em meio a crises de saúde pública e ambientais

por Bruna Corsato e Vinícius Gallon para o GFI Brasil

O The Good Food Institute acaba de divulgar dados comprovando que 2021 foi um ano de investimento recorde no ecossistema de empresas de alternativas aos produtos de origem animal. Neste setor estão incluídas não apenas empresas de proteína vegetal, mas também as de carne cultivada e de fermentação. Desde 2010, foram investidos quase US$11,1 bilhão no setor, sendo US$8 bilhões (73%) após o início da pandemia do coronavírus e a consequente disrupção dos mercados globais.

Em um contexto onde o mundo está voltado a buscar soluções para mitigar a crise climática, lidar com questões de uso de terra e água, e prevenir a próxima pandemia, as proteínas alternativas despontam como um investimento que vai além de retornos rápidos, sendo sustentável para o planeta a longo prazo.

A análise dos investimentos foi realizada utilizando a plataforma PitchBook Data, e mostrou que 740 empresas globais do setor, incluindo três brasileiras, receberam US$5 bilhões em investimentos em 2021. Este número é 60% maior que os US$3,1 bilhões registrados no ano anterior e cinco vezes mais que o US$1 bilhão investido no setor em 2019. “A metodologia utiliza como base anúncios públicos de investimentos, porém, há muitos outros acordos que figuram ainda em carater privado ou de confidencialidade. Por isso, o estudo não é suficiente para definirmos como os investimentos performaram no Brasil no último ano. No entanto, esses números são uma importante sinalização sobre o otimismo dos investidores sobre esse mercado globalmente que, sem dúvida, está se refletindo por aqui”, afirma Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo do GFI Brasil.

Vale ressaltar que em 2021 a JBS anunciou investimento de US$ 100 milhões nesta nova frente, consolidando um trabalho de análise mercadológica iniciado há três anos, com apoio do GFI Brasil. Com esse recurso, a JBS firmou acordo para aquisição do controle da empresa espanhola BioTech Foods, prevendo o investimento na construção de uma nova unidade fabril na Espanha, além da implantação do primeiro Centro de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) em Biotecnologia e Proteína Cultivada no Brasil. Por não ter sido registrado no PitchBool Data Inc., esse investimento não foi contabilizado pelo estudo.

A confiança dos investidores em empresas de proteínas alternativas é impulsionada por vários fatores de mercado, e as crises de saúde pública e ambientais que dominaram o mundo ao longo de 2020 e 2021 tornaram claros os riscos associados a portfólios e práticas de negócios habituais. Nesse contexto, tem relevância ainda maior a perspectiva de carne produzida sem risco de contribuição para a transmissão de doenças zoonóticas e emissões dramaticamente menores do que a carne convencional.

Embora os investimentos em proteínas alternativas tenham crescido a uma taxa impressionante, eles continuam sendo uma fração minúscula dos trilhões de dólares que foram investidos globalmente em empresas de tecnologia climática como um todo. Somente em 2021, o capital privado em empresas de tecnologia climática em estágio inicial totalizou US$ 47 bilhões. ”Com cada vez mais investidores reconhecendo que o risco climático é um risco de investimento, as proteínas alternativas oferecem uma solução escalável que aproxima o mundo de um sistema alimentar mais seguro e neutro em emissões de carbono. Gerenciar os riscos climáticos é impossível sem abordar os alimentos, e a agricultura e as proteínas alternativas nos oferecem uma ferramenta para fazer isso”, explica Sharyn Murray, especialista de engajamento corporativo do GFI-EUA.

Apesar do bom momento, o processo de diversificação de tipos e fontes de investimento no setor está apenas no começo uma vez que as proteínas alternativas ainda não são vistas como solução fundamental na equação da sustentabilidade. “Considerando a escala de reduções de emissões que ocorreriam com uma mudança para proteínas alternativas, este é um momento crítico para investir em tecnologias e inovações que podem levar nosso sistema alimentar a zero líquido e rápido”, pondera a vice-presidente de engajamento corporativo do GFI-EUA Caroline Bushnell. Os investimentos no setor são consideravelmente menores em comparção com outras indústrias como energia renovável e carros elétricos, por exemplo. “Aumentar os investimentos em proteínas alternativas sustentáveis permitirá que as empresas financiem P&D, produção em escala e reduzam custos para competir efetivamente com a proteína animal produzida convencionalmente e, finalmente, levar proteínas alternativas para mais pratos.”, conclui.

Metodologia

Para quantificar essa atividade de investimento, o GFI utilizou a sua própria ferramenta company database para criar uma lista global customizada de empresas de carnes, ovos, pescados, leites e produtos lácteos vegetais, carne cultivada e alimentos obtidos por fermentação rastreadas pelo PitchBook Data Inc. Isso gerou uma lista de mais de 740 empresas, incluindo 3 brasileiras: Fazenda Futuro, The New e Vida Veg. Os números publicados nesta versão podem diferir dos números anteriores publicados pelo GFI à medida que aprimoramos continuamente nosso conjunto de dados. Para os fins deste comunicado, “investimento”, “capital de investimento” e “capital investido” são usados alternadamente para se referir a negócios que incluem financiamento de acelerador ou incubadora, financiamento anjo, financiamento inicial, financiamento coletivo de capital ou produto, capital de risco em estágio inicial, capital de risco em estágio avançado, crescimento/expansão de private equity, capitalização, empreendimento corporativo, joint venture, dívida conversível e dívida geral (mas exclui fusões, aquisições, fusões reversas, aquisições alavancadas, IPOs, ofertas de ações subsequentes e investimento privado em capital público). Os dados de 2021 pertencem ao período de 52 semanas que termina em 31 de dezembro de 2021. Esses dados não foram revisados pelos analistas do PitchBook.

Neste Dia Internacional das Mulheres, GFI Brasil destaca o protagonismo feminino em iniciativas que devem acelerar inovações no setor de proteínas alternativas

por Vinícius Gallon

Em um campo emergente como as proteínas alternativas, o financiamento de pesquisa tem um papel crucial. Estudos sobre carne cultivada, alimentos feitos de plantas e obtidos por fermentação geram avanços na oferta de produtos saborosos, acessíveis e seguros, além de impactar positivamente o clima, a saúde global, a oferta de alimentos para toda a população e o respeito aos animais. Identificar lacunas de conhecimento e articular soluções tecnológicas requer uma compreensão profunda da ciência em proteínas alternativas e em campos relacionados. E no Brasil, quem tem assumido esse desafio, em grande número, são as mulheres.

Como uma organização sem fins lucrativo, o GFI se dedica ao avanço da pesquisa de acesso aberto em proteínas alternativas e à criação de um ecossistema de pesquisa e formação. O Programa de Incentivo à Pesquisa distribui recursos para apoiar cientistas a fim de garantir a viabilidade comercial de seu trabalhos. Na chamada de 2021, o objetivo foi o de produzir conhecimento e tecnologia para replicar cortes inteiros de carne, como bife, peito de frango, costeleta de porco, filé de salmão e frutos do mar. Foram selecionados 22 projetos, dos quais 5 são brasileiros e, desses, 3 liderados por mulheres.

Conheça as pesquisadoras brasileiras contempladas pelo Programa de Incentivo à Pesquisa

No campo de alimentos híbridos, a Dra. Aline Bruna da Silva, professora no departamento de engenharia de materiais do CEFET-MG, lidera uma pesquisa para produzir cortes inteiros de carne de frango através da combinação de tecnologias de cultivo celular e plant-based. O produto final deverá ter textura e sabor de frango convencional, mas com gordura mais saudável do que a de origem animal. 

Já a pesquisa da Dra. Olga Lúcia Mondragón-Bernal, pesquisadora da Universidade Federal de Lavras, vai desenvolver protótipos de análogos de peixe (semelhantes a salmão, truta e tilápia) utilizando proteína texturizada de cogumelo ostra. A equipe da cientista vai utilizar como matéria-prima cogumelos de agricultura orgânica e familiar da própria região de Lavras (MG) e pretende estabelecer parcerias para transferir parte da tecnologia para esses pequenos produtores. 

A Dra. Vivian Feddern, pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, lidera uma pesquisa para produzir pedaços inteiros de carne cultivada de frango (similar ao filé de peito desossado) a partir de céulas musculares de frango cultivadas em scaffold, além de estabelecer uma linha de células-tronco de frango que poderão ser expandidas, semeadas e diferenciadas em novos tipos de scaffolds para produção de cortes inteiros de carne.

Neste mesmo Programa, mas na edição de 2019, o Brasil foi contemplado com três financiamentos, todas para pesquisadoras mulheres: Dra. Ana Carla Sato, da Unicamp (folha de mandioca), Dra. Ana Paula Dionísio, da Embrapa (fibra de caju), e Dra. Caroline Mellinger, da Embrapa (feijão carioca). As três pesquisas estão avançando para a fase final e já colhem excelentes resultados. 

Em outra iniciativa, desta vez do GFI Brasil, o fomento visa financiar estudos sobre o uso de espécies nativas que podem ser base para análogos vegetais de produtos de origem animal. A expectativa é que espécies da Amazônia e do Cerrado – babaçu, baru, castanha do Brasil, cupuaçu, guaraná, macaúba e pequi – sejam fonte de proteínas, pigmentos e fibras que integrem outras matrizes já usadas na indústria. Das 14 pesquisas contempladas pelo Programa Biomas, 7 são lideradas por mulheres. 

Conheça as pesquisadoras contempladas pelo Programa Biomas

Focando suas pesquisas no baru, tanto a Dra. Ana Paula Rebellato, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), quanto a Dra. Mariana Egea, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IFGoiano), visam obter ingredientes para a produção de alimentos feitos de planta. Enquanto a primeira pretende obter ingrediente extrusado com elevado teor proteico e rico em fibras a partir do subproduto da extração do óleo da amêndoa do baru, a segunda quer obter ingredientes a partir de resíduos do produto nativo.

A Dra. Luiza Helena Meller da Silva, da Universidade Federal do Pará, vai desenvolver ingredientes a partir dos resíduos do processamento do cupuaçu e do guaraná para aplicação em produtos plant-based. Já a Dra. Fabiana Queiroz, da Universidade Federal de Lavras – MG, pretende obter ingredientes a partir da extração integral da polpa, amêndoa e casca do pequi para aplicação em produtos vegetais análogos. Para conhecer as outras três pesquisadoras e seus temas de pesquisa, acesse o site.

Proteínas Alternativas: um campo com protagonismo feminino

Para além dos programas de incentivo do GFI, que financiam pesquisas em carne cultivada lideradas por mulheres, também há protagonismo feminino em outras iniciativas. A começar por nossa própria equipe de ciência e tecnologia, formada 100% por mulheres. Liderada pela Dra. Katherine de Matos, a equipe conta, ainda, com Ma. Cristiana Ambiel, Dra. Amanda Leitolis, Dra. Luciana Fontinelle, Dra. Lorena Silva Pinho, e a doutoranda Mariana Demarco. 

Também contribuindo com a produção de conhecimento e formação, a Universidade Federal do Paraná lançou, em 2020, a primeira disciplina brasileira sobre carne cultivada ofertada em um programa de pós-graduação. Coordenado pela professora Dra. Carla Molento, a disciplina  Introdução à Zootecnia Celular foi criada com o objetivo de colaborar na formação de novos profissionais para atuarem no mercado de carne cultivada. Graduada em medicina veterinária pela UFPR, a Dra. Carla tem se dedicado especialmente a iniciativas que promovem o bem-estar animal, coordenando, ainda, o LABEA – Laboratório de Bem-Estar Animal da mesma universidade.

Outro nome que vem despontando no setor é o da pesquisadora Dra. Bibiana Matte, diretora científica da Núcleo Vitro, que está desenvolvendo a primeira carne cultivada brasileira, com investimento de R$ 5 milhões disponibilizados pelo edital da Fapergs (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul). Dra. Bibiana é, ainda, fundadora da primeira startup de carne cultivada do país, a Ambi Real Food.

No final de 2021, a JBS anunciou um investimento recorde de US$ 100 milhões no mercado de carne cultivada. Com o valor, a empresa firmou acordo para aquisição do controle da empresa espanhola BioTech Foods, investimento na construção de uma nova unidade fabril na Espanha, além da implantação do primeiro Centro de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) em Proteína Cultivada do Brasil, que será co-liderado pela Dra. Fernanda Berti, que tem passagem pelo Research Institute I3Bs, e criou uma startup incubada no Vale do Silício (EUA) que desenvolve produtos baseados em medicina regenerativa e células-tronco para o tratamento de animais na Europa. Também na JBS, a Dra. Roberta Ferreira é cientista sênior, atuando também com carne cultivada.

Quando o assunto é empreendedorismo, elas também não ficam para trás

Eleita pelo MIT como uma das jovens mais inovadoras da América Latina, Amanda Scarpa é fundadora da N.Ovo Plant-Based, primeira startup brasileira a criar produtos para substituir ovos em receita, omelete e molhos. Co-fundadora do Grupo Planta, hub da indústria plant-based que promove a alimentação e o empreendedorismo consciente, Daniele Zuckerman, que também é embaixadora do GFI Brasil, é uma das maiores promotoras de uma alimentação a base de plantas. 

Uma das principais vozes do veganismo no Brasil, a autora, apresentadora, cantora e ativista Alana Rox, também é proprietária do restaurante Purana, um dos mais badalados de São Paulo, além de grande entusiasta do mercado de proteínas alternativas. Coordenadora do departamento de saúde e nutrição da Sociedade vegetariana Brasileira, com vasta experiência em alimentação vegetariana e sustentabilidade, Alessandra Luglio também é consultora para o desenvolvimento de produtos feitos de planta para diversas marcas brasileiras. 

Outro restaurante também muito conhecido dos paulistanos, o Pop Vegan Food, é co-liderado pelas empreendedoras Carol Caliman e Monica Buava. À frente da diretoria de Marketing da Incrível Seara, uma das maiores linhas de produtos plant-based do Brasil, está Camille Lau, que também atuou em função semelhante na The Vegetarian Butcher, linha de produtos feitos de planta da Unilever. Mari Dalla Vecchia é fundadora da Mr. Veggy, 1ª marca brasileira a oferecer um hambúrguer plant-based custando menos de dois reais. Nathália Pires é co-fundadora da NoMoo, startup com mais de dez produtos lácteos vegetais que recebeu sua primeira rodada de investimentos (R$10 milhões) da DXA no ano passado. Também no mercado de laticínios vegetais, Cintia Lombardi é co-fundadora da BasiCo, que já conta com oito produtos no portfólio e alimenta diversas marcas do food service. 

Também não poderíamos deixar de citar outras mulheres que têm apoiado em suas áreas de atuação o desenvolvimento estruturado do setor de proteínas alternativas: Eloisa Garcia, Diretora Geral do Ital, eleita pela Forbes como uma das mulheres mais poderosas no campo, Ana Lúcia de Paula Viana, Diretora do Dipoa-MAPA, Thalita Antony de Souza Lima, Gerente-Geral de Regulamentação e Boas Práticas Regulatórias da Anvisa, Tatiana Schor, Secretária-executiva de Ciência, Tecnologia e Inovação do Amazonas, além de Raquel Casselli, Ana Carolina Rossetini, Camila Lupetti, Karine Seibel, Jaqueline Gusmão e Mariana Bernal, que integram, áreas do GFI Brasil.

Neste Dia Internacional das Mulheres, queremos celebrar e agradecer à todas as profissionais que tem promovido as principais transformações no setor de proteínas alternativas. Além de serem presença significativa na liderança de empresas, startups e no governo, também são elas que empreendem a maior parte das pesquisas em carne cultivada, alimentos feitos de plantas e obtidos por fermentação no Brasil.

Das 22 pesquisas apoiadas pelo GFI, 16 são lideradas por mulheres. Das 17 pessoas que atuam no GFI Brasil, 12 são mulheres, 70% em cargos de liderança. Sabemos que a equidade de gênero ainda tem um longo percurso para deixar de ser utopia, para se tornar realidade. Mas, em nosso setor, temos bons motivos para acreditar que um cenário mais diverso e equitativo é possível. À todas as mulheres, desejamos mais conquistas de direitos, espaços e reconhecimento. Contem sempre com o GFI Brasil.

Cientistas estudam aplicação de espécies nativas do Cerrado e da Amazônia no mercado de proteínas alternativas. Conheça os projetos

Fomentado pelo The Good Food Institute Brasil, Programa Biomas tem início com estudos de sete espécies nativas que podem substituir produtos de origem animal

A diversidade dos Biomas brasileiros pode colocar o país no centro da produção sustentável de matérias-primas do setor de proteínas alternativas. Com o crescimento do mercado interno de produtos feitos de plantas, 14 pesquisadores iniciam neste ano estudos sobre o uso de espécies nativas que podem ser base para análogos de produtos de origem  animal. A expectativa é que espécies da Amazônia e do Cerrado – Babaçu, Castanha do Brasil, Cupuaçu, Guaraná, Baru, Macaúba e Pequi – sejam fonte de proteínas, pigmentos e fibras que integrem outras matrizes já usadas na indústria. 

As pesquisas ocorrem no âmbito do Programa Biomas, criado pelo The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil). As espécies foram selecionadas a partir de seu potencial econômico e técnico. Mais do que apenas encontrar alternativas às fontes protéicas, o programa selecionou investigações que pensam todo o ciclo econômico da produção do ingrediente, passando pelo uso de resíduos normalmente descartados, aplicação de tecnologias limpas, e fomento às comunidades locais.

Nesta edição do programa, mais de 80 propostas de pesquisa foram recebidas de cerca de 34 instituições de 14 estados brasileiros. O número mostra o avanço da pesquisa brasileira na área. Desses, o GFI Brasil selecionou 14 pesquisas. Os resultados das investigações que duram um ano serão divulgados abertamente a fim de tornar possível a aplicação e escalonamento das tecnologias desenvolvidas. 

As pesquisas contribuem para consolidar a tendência de consumo de proteínas alternativas à carne, peixes e frutos do mar, leite e laticínios e ovos no Brasil, cuja demanda cresce a cada ano. O objetivo é encontrar o potencial real de aplicação desses ingredientes na indústria, desenvolvendo o mercado nacional, agregando valor às espécies nativas e promovendo o uso sustentável dos recursos naturais – caminho que leva à conservação da floresta. 

Além disso, os pesquisadores buscarão identificar as características de sabor, textura, experiência de consumo, custo e nutrição de seus produtos, com foco em criar possibilidades reais de uso e consumo. “Nada melhor para a valorização do produto do que colocá-los no nosso prato e transformá-los em produtos do nosso dia a dia. Que o brasileiro possa se apropriar da riqueza que temos, que poucos têm acesso”, defende a gerente de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil, Cristiana Ambiel.  

Segundo estudo do GFI Brasil, 84% das empresas querem mais ingredientes nacionais. Na prática, os resultados podem apresentar alternativas às matrizes importadas para produtos à base de plantas, como a ervilha, que assim como a soja, domina a produção plant-based no Brasil. No cerrado, por exemplo, se estuda a possibilidade de produção de um hambúrguer totalmente feito com base no Baru. Na Amazônia, a castanha do Brasil pode ser uma fonte de proteína com maior diversidade de aminoácidos que os concorrentes estrangeiros.

“A gente vê o quanto o Brasil pode ser referência em proteínas alternativas para o mundo. Lançando tendências de proteínas. Temos como desenvolver alternativas nacionais, que sejam mais competitivas, levar isso para fora do país e servir como modelo e referência no mercado”, completa a especialista em ciência e tecnologia do GFI Brasil, Luciana Fontinelle.

Cristiana Ambiel também destaca que uma diversidade maior de ingredientes pode equilibrar a sustentabilidade de produtos plant-based. “O GFI já tem esse propósito da sustentabilidade, tanto é que fomenta produtos vegetais por serem mais sustentáveis que a produção animal. Mas conseguimos uma sustentabilidade ainda maior quando olhamos para a obtenção de ingredientes da nossa biodiversidade, em especial, quando visamos o aproveitamento completo das espécies nativas agregando valor às partes que são subaproveitadas como cascas, sementes e resíduos de processo”.

No contexto brasileiro, desenvolver o setor de proteínas alternativas significa gerar mais empregos com a diversificação da matriz econômica. É também um passo em direção a processos economicamente viáveis ​​de produtos protéicos alternativos inovadores, que podem ser compartilhados com os atuais processos de produção de proteína animal para superar o desafio de alimentar de forma sustentável 10 bilhões de pessoas em 2050.

Fabiana Queiroz, pesquisadora da Universidade Federal de Lavras, uma das contempladas pelo edital, ressalta que o Programa é fundamental para o país e que também leva à preservação dos biomas. “A preservação desses frutos depende que a gente tenha a tecnologia de processamento para que seja interessante continuar a produção deles e impedir o desmatamento”, lembra.

Em qualquer cenário, é consenso entre os pesquisadores que as pesquisas devem deixar um legado de viabilidade ambiental, técnica, econômica e social para cada ingrediente, produto e processo desenvolvido.

Conheça algumas das pesquisas aprovadas:

PEQUI

Fabiana Queiroz,  Universidade Federal de Lavras – MG

Tema da pesquisa: Obtenção de ingredientes a partir da extração integral da polpa, amêndoa e casca do Pequi para aplicação em produtos plant-based

Apesar de estar presente em muitos estados do Brasil, o pequi, fruto chamado de “ouro do cerrado”, pode passar despercebido e não ter suas potencialidades aproveitadas se não for resgatado na pesquisa. É o que lembra a pesquisadora Fabiana Queiroz, professora do departamento de ciência de alimentos da Universidade Federal de Lavras, que propõe extrair diferentes compostos do pequi e usá-los na produção de um hambúrguer vegetal. 

Considerado carro-chefe do bioma, o pequi é rico nutricionalmente: a casca é fonte de fibras e a polpa é rica em carotenóides, com porcentagem grande de carboidratos. Na amêndoa, a abundância de óleo é acompanhada de um complexo protéico, cuja farinha desengordurada pode ser usada na produção de produtos vegetais. 

Essas propriedades tecnológicas serão estudadas pela pesquisadora e avaliadas para a fabricação de produtos alimentícios. “O pequi já é explorado por cooperativas, em termos de conservas e farinhas. Estamos entrando mais na possibilidade de processamento em grande escala”, explica Fabiana. Um dos focos da equipe é também contribuir com uma produção limpa, de aproveitamento integral do fruto e capaz de atingir escala sem afetar o meio ambiente. 

“Essa exploração ao máximo de todo o potencial do fruto de uma maneira ambientalmente correta é o diferencial”, afirma Fabiana.  “Não é extrair por extrair. É aproveitar ao máximo o produto. É um projeto que tem aplicação muito direta. A ideia é levar para a mesa de todos, em grande escala.”. O desafio, diz Fabiana, será contornar o cheiro e sabor do pequi, forte e exótico. 

CUPUAÇU E GUARANÁ

Luiza Helena Meller da Silva, Universidade Federal do Pará

Tema da pesquisa: Desenvolvimento de ingredientes a partir dos resíduos do processamento do cupuaçu e do guaraná para aplicação em produtos plant-based

Parente próximo do cacau, o cupuaçu é uma potência energética – sua árvore produz até 16 kg de frutos. Já o guaraná é um fruto que ganhou importância cultural ao longo do tempo em diversas regiões do país. Ambos encontrados na região amazônica, já são conhecidos na culinária, mas seu consumo gera um desafio: a quantidade de resíduos que “sobram” e são descartados. 

Gerar valor agregado e diminuir a produção dessas sobras se tornou a prioridade de Luiza Meller da Silva, professora titular da Universidade Federal do Pará, que coordenará estudo sobre os frutos com objetivo de produzir análogos cárneos. 

“Quando vimos um edital que trabalhava biodiversidade aliado ao desenvolvimento de produtos baseados em plantas, a gente pensou em usar algum tipo de resíduo que pudesse ter essa função de ser utilizada para desenvolver algum alimento que pudesse estar presente no mercado”, conta. 

No caso do cupuaçu, a equipe de Luiza optou por trabalhar com a casca, que tem aplicações menos nobres – a polpa do fruto já é bastante conhecida e explorada comercialmente. Já o xarope de guaraná, usado em diversos alimentos, também gera um resíduo que será aproveitado. Uma das buscas é capacitar as fibras desses produtos para uso em produtos vegetais.

O estudo vai usar tecnologias que possam ser aplicadas em pequenas comunidades, sem a necessidade de técnicas sofisticadas ou processos agressivos. “O projeto visa o repasse não só do produto, mas do treinamento para que as pessoas também tenham esse conhecimento básico”, afirma. Na proposta exploratória, a equipe buscará agregados menos “óbvios” na indústria. No caso da matriz do produto final, é possível o uso da jaca, por exemplo, no lugar do grão de bico. “A ideia é fechar o ciclo e que as empresas que produzem tenham essa alternativa, ou de desenvolver na própria indústria ou de repassar o resíduo”, conclui a pesquisadora.

CASTANHA-DO-BRASIL

Raul Nunes de Carvalho Júnior, Universidade Federal do Pará

Tema da pesquisa: Estudo e Aplicação da Extração Supercrítica da Castanha-do-Brasil em Formulações Proteicas de Hambúrgueres e Nuggets Vegetais

Encontrada na região amazônica, a castanha do Brasil tem motivos para ser considerada um tesouro nacional. Além da versatilidade da semente do fruto, o produto amazônico é essencial para a manutenção da renda de comunidades extrativistas e é tomada como peça-chave para a manutenção da biodiversidade da região. 

Da castanha, o pesquisador da UFPA pretende obter diversos produtos como óleo e farinha desengordurada com perfil de ácidos graxos mais insaturado e elevada atividade antioxidante; extrato aquoso da farinha desengordurada com maior teor de carboidratos, de compostos bioativos como polifenóis e atividade antioxidante; e concentrado fibroso proteico em pó da castanha-do-Brasil. Ao final da pesquisa, espera-se elaborar um hambúrguer e um nugget vegetais com os ingredientes obtidos nos processos de extração supercrítica da castanha-do-Brasil.

Um dos principais motivos que levou projeto a ser selecionado foi a aplicação da tecnologia supercrítica, utilizando o dióxido de carbono (CO2) como solvente para obtenção dos ingredientes. Esta tecnologia é reconhecida como uma técnica 100% verde e sustentável, se encontrando em destaque no cenário atual da bioeconomia. Além disso, o projeto beneficiará as cooperativas extrativistas locais por meio de visitas técnicas e treinamentos para o beneficiamento da castanha-do-Brasil.

MACAÚBA

Acácio Antonio Ferreira Zielinski, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Tema da pesquisa: Obtenção de ingredientes a partir de subprodutos da extração do óleo da Macaúba para aplicação em produtos plant-based

A macaúba é uma palmeira com intensa distribuição geográfica no Brasil, mas que tem maior concentração no Cerrado. Seu fruto tem importância na indústria por ser uma base promissora na fabricação de biocombustíveis. Assim como outros frutos da região, porém, a extração de seus subprodutos peca na produção e descarte de resíduos. “Eu estou vindo da perspectiva do aproveitamento completo da matéria-prima”, diz Acácio Zielinski do departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos da Universidade Federal de Santa Catarina. 

“O caso da macaúba nós sabemos que, desse resíduo, uma fração vai ser proteína, a segunda fração vai ser polissacarídeo. Uma fração vai ser gordura, outra fenólico e outra carotenóide. E a gente vai fracionando”, explica o pesquisador, remetendo ao processo de biorrefinaria, usado para “desmontar” o fruto em subprodutos.

O projeto usará um processo hidrotérmico, tendo a água como solvente, para obtenção de ingredientes subutilizados da macaúba. Entre os destacados pela pesquisa, estão compostos bioativos, polissacarídeos, proteína e o pigmento amarelo, todos com potencial de fomentar a produção de um análogo ao empanado de frango. 

A macaúba foi resgatada na pesquisa em especial pelo seu potencial de uso e cultivo por meio de pequenos produtores. “Nós estamos acostumados a uma economia linear, que vem o produto, usamos e jogamos fora”, afirma Acácio. A pesquisa pretende inverter esse processo, focando em uma economia circular, com redução do descarte. 

BABAÇU

Nedio Jair Wurlitzer, Embrapa Fortaleza (CE)

Tema da pesquisa: Obtenção de ingrediente rico em fibras a partir de resíduo do babaçu para aplicação em produtos plant-based

Original da região amazônica, o coco babaçu compete em importância ao bioma com a castanha-do-Brasil, dada a sua relevância para as comunidades extrativistas locais. A extração de sua amêndoa é feita de forma bastante artesanal, e impulsiona uma atividade econômica fundamental para a manutenção de renda e conservação da floresta. Agora, o estudo liderado pela Embrapa quer aproveitar os resíduos do babaçu, normalmente subutilizados, como forma de dar sustentabilidade ao sistema e condição de vida aos pequenos produtores.

A experiência da unidade de Fortaleza da Embrapa com o babaçu já vinha de iniciativas de produção de análogos do leite e queijo. Observando os primeiros resultados deste estudo, os pesquisadores perceberam condições positivas de trabalho com o resíduo da extração do óleo da amêndoa de babaçu. A expectativa é que ele possa ser usado na produção de um ingrediente rico em fibras para compor análogos cárneos. 

Além da amêndoa, a casca pode ser usada para obtenção de carvão e farinha. “São aplicações diversas que o pessoal de comunidades espalhadas na amazônia já utilizam”, aponta Nedio. “Não é uma produção concentrada, é uma produção bastante espalhada, com muito extrativismo”. 

O resíduo compõe cerca de 40% da amêndoa, explica Nedio. O objetivo, então, é recuperá-lo para obter um ingrediente fibroso. O projeto também quer identificar as condições de armazenamento do produto, aferir a digestibilidade e o comportamento do material. 

BARU

Mariana Egea, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IFGoiano)

Tema da pesquisa: Obtenção de ingredientes a partir de resíduos do baru para aplicação em produtos plant-based 

Presente no Cerrado, o baru é uma oleaginosa que, apesar de pouco conhecida em comparação à castanha-do-Brasil, está ameaçada dada a extração predatória de sua madeira. No escopo do Programa Biomas, a ideia da pesquisadora Mariana Egea, do IFGoiano, é aproveitar várias partes da cadeia de processamento do fruto, inclusive como forma de manter a floresta em pé. 

Segundo a pesquisadora, é comum o consumo da amêndoa do baru, que corresponde a apenas 5% de todo o fruto. Quase 95% da matéria-prima é destinada à alimentação animal e adubação. “A ideia é aproveitar esses outros subprodutos”, diz Mariana. Por ser sazonal, o aproveitamento dos resíduos pode, por exemplo, contribuir para que produtores tenham renda por mais tempo durante o ano e se sintam conscientes de trabalhar pelo bioma, explica a pesquisadora. 

O projeto quer constituir um hambúrguer aproveitando todas as propriedades do baru. Os elementos do fruto são extraídos e depois reincorporados em uma técnica de produção do hambúrguer que valoriza, por exemplo, a obtenção da textura ideal. Um dos resíduos que envolve a amêndoa pode ser fermentado para a produção de um fungo, base de um pigmento vermelho.  A amêndoa, além do potencial lipídico, pode contribuir com a obtenção de proteínas e fibras. “O que a gente faz é a separação dos resíduos, uma modificação de forma biológica e uma reincorporação”, explica a pesquisadora. 

Ana Paula Rebellato, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Tema da pesquisa: Obtenção de ingrediente extrusado com elevado teor proteico e rico em fibras a partir do subproduto oriundo da extração do óleo da amêndoa do Baru para aplicação em produto plant-based

O alto índice de proteínas e fibras do baru chamou a atenção da pesquisadora Ana Rebellato, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). No estudo de sua equipe, o diferencial será o uso da técnica de extrusão – processo mecânico, considerado limpo, que usa energia térmica.  “A ideia é chegar em um produto extrusado, com teor de proteína elevado, que também tenha fibras”, diz a pesquisadora. O grupo pretende fazer testes com diversas misturas para avaliar as diferentes proporções de proteína e misturar a soja com o resíduo do baru. 

Esse resíduo é obtido a partir do óleo do baru. Se aproveitado, agrega valor ao produto e contribui com a renda de pequenos produtores. Como resultado, se espera uma proteína texturizada que pode ser usada para elaborar um hambúrguer, que terá suas qualidades tecnológicas, microbiológicas e sensoriais avaliadas. 

Para conhecer todas as pesquisas aprovadas acesse a lista completa aqui. 

Consumo de carne vegetal vai continuar crescendo nos próximos anos, mas a indústria precisa se preparar para atender a demanda

Estudo do The Good Food Institute revela requisitos globais para atingir as metas de 2030 relativos à colheita, infraestrutura e investimentos para a indústria. 

No ano de 2020, as vendas de alternativas vegetais cresceram duas vezes mais rápido do que as vendas gerais de alimentos nos EUA. Em 2019, o mercado de alimentos à base de plantas valia US$ 5 bilhões. Hoje, já vale mais de US$7 bilhões. A categoria de leites vegetais continua como a mais desenvolvida do setor, representando 35% do mercado de alimentos à base de plantas e 15% do mercado de leite em geral. Mas, quando falamos de carnes vegetais, o aumento das vendas dessa categoria supera o de todas as outras: enquanto a procura por leites vegetais cresceu 27% nos últimos dois anos, por exemplo, as vendas de carnes vegetais aumentaram 72% no mesmo período.

O boom na procura por essas alternativas está influenciando e remodelando todo o setor alimentício. Dados os aumentos previstos na demanda global por proteína e nas mudanças nos hábitos dos consumidores nas próximas décadas, a indústria de proteínas à base de plantas precisará de grandes investimentos – em todas as áreas – para que a cadeia de suprimentos e a capacidade de fabricação consiga saciar a demanda.

Pensando nisso, o The Good Food Institute lançou o relatório “Plant-based Meat: Anticipating 2030 Production Requirements”. A partir de levantamentos de dados e análises da utilização atual de ingredientes, o estudo prevê os requisitos globais de volume de produção para atingir as metas de 2030 relativos à colheita, infraestrutura e investimentos para a indústria. Com estimativas de abrangência global, o estudo traz orientações para investidores, processadores de ingredientes, fornecedores de equipamentos e fabricantes de carne vegetal quanto às urgências, oportunidades, obstáculos e níveis de investimentos necessários para suprir a demanda prevista para 2030.

Em relação ao volume global de ingredientes, o relatório calcula que a indústria precisará produzir no mínimo 25 milhões de toneladas métricas (MMT) de carne à base de plantas para conseguir atender ao mercado anual. O estudo também examina outros pontos como, por exemplo, a futura pegada de fabricação do setor. Com base em instalações de produção hipotéticas usadas para produzir proteínas vegetais estruturadas (SPP), o material base da carne vegetal, estima-se que pelo menos 810 fábricas devam entrar em operação até 2030 para suprir a demanda, o que deve custar aproximadamente US $27 bilhões em despesas de capital global (CapEx) e pelo menos US $17 bilhões de custos operacionais por ano.

A pesquisa identificou potenciais entraves sobre o fornecimento global de ingredientes fundamentais (como óleo de coco e proteína de ervilha) nos próximos anos. No entanto, demonstrou que a capacidade de fabricação, e não a disponibilidade de volume suficiente de ingredientes, é que provavelmente será o elo limitante da cadeia de suprimentos de carne vegetal a nível global. 

A análise do GFI indica que a modernização de instalações de processamento de alimentos existentes, a formação de parcerias, a estreita colaboração entre os stakeholders do setor e, principalmente, o investimento inicial em infraestrutura são as medidas necessárias para evitar um cenário de escassez e conseguir expandir o aporte de produção com mais eficiência na próxima década.

Cenário Brasileiro

Apesar da previsão ser de abrangência mundial, a nível regional ela também se confirma. Cristiana Ambiel, gerente de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil, enxerga que essa questão é também um gargalo no país. “Nós precisamos desenvolver empresas interessadas em processar ingredientes (proteína concentrada, texturizada e isolada) para podermos atender a futura demanda”, afirma.

Inclusive, a pesquisa “Oportunidades e Desafios na Produção de Produtos Feitos de Plantas Análogos aos Produtos Animais”, lançada pelo The Good Food Institute Brasil no final de 2021, possui muitos pontos de contato com o relatório “Anticipating 2030 Production Requirements”. Pensando em acelerar a inovação na indústria de proteínas alternativas, o GFI Brasil ouviu profissionais das indústrias de ingredientes e processamento de produtos vegetais no país, identificou os maiores desafios no desenvolvimento de alternativas à base de plantas (com a qualidade, preço e características buscadas pelos consumidores) e definiu sete linhas de pesquisa prioritárias para o avanço desse mercado no Brasil.

O desenvolvimento de matérias-primas e ingredientes nacionais foi apontado como a principal demanda por 84% das empresas que participaram da pesquisa. Por causa da pouca oferta de opções nacionais no mercado, onde a soja ainda predomina, a busca por ingredientes importados é alta. Essa dependência na importação (vulnerável à volatilidade da cotação de moedas estrangeiras e ao tempo de espera pela entrega, por exemplo) eleva os custos de produção e, consequentemente, o preço final do produto, que acaba se tornando inacessível para muitos brasileiros.

Tal realidade parece incompatível com o Brasil, berço de 20% de toda a biodiversidade do planeta. O país possui, de fato, inúmeras espécies nativas que podem agregar características sensoriais e nutricionais únicas a um produto, além de ser um grande produtor de matérias-primas vegetais (como feijões, arroz, aveia, gergelim, trigo, centeio, milho, cevada, sorgo e amendoim) com potencial de se tornar fonte de proteína para a indústria plant-based.

O elo que falta para começar a transformar esse potencial em realidade é a pesquisa científica: tempo e investimentos são necessários para definir os processos de extração mais adequados de cada proteína, caracterizar e melhorar suas funcionalidades proteicas, aprimorar as características sensoriais e reduzir custos finais. O GFI Brasil trabalha para preencher essa lacuna com o Programa Biomas, voltado a universidades, instituições de pesquisa e empresas privadas que financia pesquisas com potencial para transformar produtos nativos da Amazônia e Cerrado em ingredientes alimentícios demandados pela indústria de proteínas alternativas, agregando valor às espécies brasileiras, gerando oportunidades de renda para as comunidades locais e promovendo a preservação da biodiversidade.

O relatório “Anticipating 2030 Production Requirements” corrobora que a pesquisa de ingredientes alternativos é uma frente importante – e especialmente interessante –  para o Brasil. Isso por que, apesar da capacidade de fabricação e processamento ter sido identificada pela análise como a principal barreira a ser enfrentada pela indústria, a pressão sobre o fornecimento global de ingredientes fundamentais também pode se tornar um entrave nos próximos anos.

Por exemplo: é esperado que a indústria de carne à base de plantas exija pelo menos 16% da oferta global do óleo de coco até 2030. Graças ao seu alto teor de gordura saturada e propriedades funcionais, ele se tornou um componente essencial em grande parte dos produtos plant-based. Mas, com mais de 70% da produção concentrada na Indonésia e nas Filipinas, o óleo de coco também se tornou uma commodity volátil e fortemente dependente de exportação. Por isso, além de desenvolver meios de produção alternativos, a indústria deve trabalhar – com urgência – na diversificação de ingredientes e criar novos métodos de fabricação para produzir gorduras vegetais semelhantes. O mesmo cenário vale para outros produtos fundamentais, como proteína de soja e de ervilha, uma vez que a indústria de carne à base de plantas vai passar a exigir, respectivamente, 3 vezes e 10 vezes a oferta global projetada desses produtos até o ano de 2030.

Muito além da indústria de alimentos

O relatório do GFI é uma primeira análise em macroescala de um modelo que deve ser frequentemente atualizado e que aumentará em complexidade, robustez e precisão conforme novos dados forem se tornando disponíveis. Enquanto a análise indica que a indústria plant-based não deve subestimar os desafios na expansão da cadeia de fornecimento de carne à base de plantas para uma escala que rivalize com a da carne convencional, ela garante que existe um amplo precedente para fundamentar esse nível de expansão de investimento em infraestrutura: o setor de energia renovável. 

Os investimentos globais em capacidade de energia limpa cresceram de US $40 bilhões em 2004 para US $282 bilhões em 2019 e, assim como as proteínas vegetais, a energia limpa é uma alternativa mais econômica e sustentável para uma indústria em larga escala latente, com altos custos iniciais de P&D e CapEx, mas baixo custo para financiamento de infraestrutura. E, quando se fala de carne à base de plantas, as cadeias e os processos de produção apresentam ainda várias vantagens de eficiência estrutural e flexibilidade sobre a carne convencional que podem melhorar a resiliência do setor, garantindo vantagem competitiva a longe prazo e, claro, benefícios profundos para o meio ambiente, saúde pública e segurança alimentar.

Israel e Argentina anunciam colaboração em edital de pesquisa científica sobre proteínas alternativas

Edital visa estreitar a colaboração entre os dois países através do financiamento de cinco projetos bilaterais em proteínas alternativas

Os Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação da Argentina e de Israel se uniram para avançar o desenvolvimento técnico-científico de ambos os países, por meio de um edital de pesquisa em proteínas alternativas. A cooperação visa também estreitar as relações entre os países, em especial entre a comunidade científica. Para tanto, foi estabelecido um edital bilateral com foco em promover a troca de conhecimento e estreitar a rede de conexões entre pesquisadores argentinos e israelenses.

Equipes de cientistas são convidadas a enviar propostas de projetos que se encaixem em uma das frentes programáticas designadas para receber apoio financeiro em sua execução. Uma das áreas de interesse é a Pesquisa em Medicina e Saúde, onde proteínas alternativas são contempladas ao lado de bem-estar, envelhecimento saudável e tecnologia médica. O segundo foco é Transição para Energias Renováveis, abarcando mudança climática, energia limpa e pesquisa em desertificação.

O acordo prevê o financiamento de até cinco projetos com duração de dois anos, dando suporte a equipes formadas por pesquisadores argentinos e israelenses. Além do suporte financeiro, o edital também prevê visitas mútuas a instituições complementares.

As propostas devem ser submetidas até o dia 31 de março para ambos os Ministérios, acessando esse link, no caso de projetos argentinos, e este outro link, no caso de projetos israelenses. Interessados devem acessar o edital para mais informações.

GFI renova acordo de cooperação técnica com o estado do Amazonas

A colaboração visa fortalecer a indústria de proteínas vegetais no bioma Amazônico através de princípios de economia sustentável

Texto: Mariana Bernal

Revisão: Bruna Corsato

Grande parte da biodiversidade de nosso país se encontra no estado do Amazonas. Sua biodiversidade tem papel fundamental no equilíbrio ambiental brasileiro, sendo também fonte de recursos naturais capazes de abastecer e fortalecer diversos setores da nossa economia se explorados de forma sustentável. O The Good Food Institute Brasil acredita que na riqueza do bioma Amazônico esta parte da solução para uma das grandes questões do nosso tempo, o de alimentar de forma segura, sustentável e justa quase 10 bilhões de pessoas até 2050. Diversificando sua matriz econômica para incluir pesquisa e produção de matérias-primas e produtos para a indústria de proteínas alternativas é possível que a região contribua para que o Brasil avance na transição de celeiro a supermercado do mundo.

Neste contexto, o GFI Brasil renovou o Acordo de Cooperação Técnica com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (SEDECTI) do Amazonas. “Pensar em fontes e insumos para a indústria plant-based permite vislumbrar a possibilidade de transformação da matriz econômica do estado do Amazonas em uma onde  possamos trazer proteínas alternativas, alta tecnologia e ciência de ponta para dentro do debate da sustentabilidade, da biodiversidade, da conservação do  bioma amazônico.”, acredita Tatiana Schor, secretária da SEDECTI.

A colaboração teve início em 2020 e, ainda que em meio à pandemia de COVID-19, obteve excelentes resultados. Grande impacto foi gerado sobre o ecossistema de pesquisa e desenvolvimento da região por meio do edital do Programa Biomas, além de contribuir na dinamização do ambiente de empreendedorismo através de contatos e palestras com diferentes atores do circuito estadual de inovação. 

Ao longo da primeira edição do acordo, o GFI Brasil lançou um edital com apoio institucional da SEDECTI e financiamento da Climate and Land Use Alliance, em busca de projetos de pesquisa para desenvolver produtos e ingredientes a partir de espécies nativas dos biomas Amazônia e Cerrado. Na segunda edição do Acordo, pretende-se que mais projetos do estado do Amazonas sejam contemplados por uma nova fonte de financiamento. 

Ainda na primeira edição, foram realizadas entrevistas preparatórias com pesquisadores e investidores como parte de um estudo preliminar de fomento a um empreendimento de base tecnológica voltado a produzir linhagens celulares de espécies nativas, tendo o peixe-boi como primeiro estudo de caso. “Temos projetos em desenvolvimento que visam fortalecer a pesquisa em proteínas alternativas e carnes cultivadas, com estratégias que visam trazer novidades desse setor para o Amazonas”, explica Tatiana. Ao longo da segunda edição, as entrevistas para construir uma narrativa que sustente a mobilização necessária do ecossistema de inovação local para este empreendimento serão continuadas.

“O desenvolvimento da bioeconomia a partir da biodiversidade e mantendo a floresta em pé é uma atividade mandatória para o futuro sustentável da Amazônia, do Brasil e do mundo.  Articular um ambiente integrado de pesquisa e negócios da floresta, na floresta e para a floresta é fundamental  nesse sentido. O GFI Brasil, em parceria com a SEDECTI/AM vem trabalhando nesse sentido.”, comentou Alexandre Cabral, diretor de políticas públicas do GFI Brasil.