Se a energia renovável for usada em sua produção, a carne cultivada provavelmente competirá em custos e terá uma pegada ambiental menor em comparação com a produção de carne convencional em menos de 10 anos.
Parece bom demais para ser verdade? Dois novos estudos que analisam o ciclo de vida e a tecno-economia da produção de carne cultivada em escala comercial apóia a afirmação.
Esses relatórios recém-lançados, uma avaliação do ciclo de vida (LCA) e uma avaliação técnico-econômica (TEA), são os primeiros relatórios a serem informados por dados fornecidos por empresas envolvidas na cadeia de abastecimento de carne cultivada. Mais de 15 empresas e um órgão científico do governo (de Cingapura) participaram, incluindo cinco fabricantes de carne cultivada. Os estudos usaram dados da indústria para modelar como a carne cultivada pode ser produzida até o ano de 2030 e avaliaram os custos e impactos ambientais de uma instalação em escala comercial que produz 10.000 toneladas métricas de um produto de carne cultivada no solo por ano.
Leia o relatório TEA Leia o relatório LCA
A energia renovável é crítica para realizar todo o potencial da carne cultivada
O LCA foi o primeiro estudo a analisar cenários de produção de carne cultivada alimentada por uma matriz energética convencional média versus uma matriz energética renovável. Se as energias renováveis forem usadas, a pegada de carbono da produção de carne cultivada cai em 80%. Mesmo quando comparado a um cenário extremamente otimista projetando impactos ambientais reduzidos da agricultura animal convencional (incluindo energia renovável em fazendas e operações de ração), a carne cultivada produzida com energia renovável reduz os impactos do aquecimento global em 17%, 52% e 85% a 92% em comparação à produção convencional de frango, porco e boi, respectivamente. Espera-se que essas conclusões sejam altamente robustas, já que o estudo também considera a incerteza na produção de carne cultivada, assumindo de forma conservadora o alto uso de energia na instalação, o que é representativo de uma estimativa superior.
Comparação do impacto ambiental da carne cultivada (quando produzida por meio de energia renovável)
Ganhos semelhantes não são esperados na indústria de carne convencional, onde os combustíveis fósseis são responsáveis por aproximadamente 20% das emissões de carbono em toda a cadeia de abastecimento. Os países que visam reduzir sua pegada de carbono podem, portanto, alcançar uma taxa maior de redução de emissões se substituírem cada vez mais sua produção de carne por carne cultivada.
Os benefícios vão além das emissões de carbono
A LCA mostra que a carne cultivada é 3,5 vezes mais eficiente do que o frango convencional (a forma mais eficiente de produção de carne convencional) na conversão de ração em carne. Como consequência, a produção de carne cultivada reduz o uso da terra em 63% a 95% em comparação com a carne convencional. Se esta terra for cuidadosamente reaproveitada para reconstruir ecossistemas e sequestrar carbono ou simplesmente cultivar mais alimentos comestíveis para humanos, podemos compensar significativamente as emissões de carbono (um benefício não incorporado à LCA) e enfrentar os desafios globais de segurança alimentar.
Reproduzido da Tabela 6 do relatório LCA. * A taxa de conversão de alimentação é <1 devido à diferença no conteúdo de água entre entradas e saídas. ** Não inclui gramíneas não comestíveis humanas no cálculo.
Em alinhamento com estudos anteriores, a carne cultivada também deve ser menos poluente (redução de 29% a 93%) em comparação com todas as formas de carne convencional e usar significativamente menos água azul (redução de 51% a 78%), encontrada em reservatórios de água superficial e subterrânea, do que a produção convencional de carne bovina (quase o mesmo que frango e porco). Mudar para carne cultivada pode trazer outros benefícios positivos, incluindo mitigação de resistência a antibióticos, doenças transmitidas por alimentos e risco de doenças zoonóticas associadas à agricultura animal convencional, restauração de habitats terrestres e marinhos e uma diminuição da taxa de perda de biodiversidade.
Um roteiro para o sucesso
Esses estudos apresentam o quadro mais completo dos custos e impactos ambientais da produção de carne cultivada em grande escala até o momento. No entanto, existem lacunas de dados e as suposições podem mudar à medida que a nascente indústria de carne cultivada amadurece. As descobertas não devem ser tomadas como verdades imutáveis ou como limites inferiores absolutos de custos e impactos ambientais da carne cultivada. Em vez disso, os insights dos relatórios podem ser usados para abordar gargalos técnicos e econômicos e servir como orientação para as partes interessadas para promover o desenvolvimento e a implantação de carne cultivada.
Leia os resumos dos relatórios do GFI para públicos técnicos e principais interessados.
Resumo técnico do público Recomendações para stakeholders
Sobre os parceiros e funções do estudo: O estudo LCA foi encomendado pelo GFI e GAIA, que emprestaram sua experiência para auxiliar no processo de pesquisa e se conectar aos parceiros de dados. CE Delft foi independente na realização da análise e redação dos relatórios. Dados brutos de empresas não foram compartilhados com GFI ou GAIA. O estudo TEA foi encomendado pelo GFI. Todas as outras funções do projeto foram as mesmas mencionadas acima. Esses relatórios foram possíveis graças ao apoio da família de doadores da GFI.
O The Good Food Institute Brasil celebrou esta semana a parceria firmada entre a multinacional BRF e a foodtech israelense Aleph Farms para o desenvolvimento da carne cultivada brasileira. A colaboração entre as empresas, que conta com o apoio e expertise do GFI Brasil, visa produzir em larga escala, preço acessível e competitividade a carne feita através de células animais para complementar o mercado de proteínas animais. A BRF, que é a segunda maior produtora de aves do mundo, quer oferecer o produto nos supermercados em 2024.
“Esse é um dia importante, não só para o mercado de carnes e de proteínas alternativas, mas também para o agronegócio e o Brasil de maneira mais ampla. É mais um passo que nós damos em direção a uma produção cada vez mais sustentável de carne. A parceria anunciada pela BRF e Aleph Farms para produção e comercialização de carne cultivada no país só reforça o potencial desse setor, que vem crescendo muito nos últimos anos.”, analisa a gerente de engajamento corporativo do GFI Brasil, Raquel Casselli.
Inicialmente, as empresas deverão adaptar a tecnologia de carne cultivada desenvolvida pela Aleph Farms ao gosto dos consumidores brasileiros. Assim que for encontrada uma produção viável, as empresas passarão para a próxima etapa que é construir uma unidade no Brasil. Um dos principais desafios do projeto será criar um produto acessível ao consumidor. O CEO da Aleph, Didier Toubia, disse em entrevista à Bloomberg que espera que a carne cultivada encontre paridade de custo com a carne tradicional mais rapidamente do que a primeira geração de carne feita à base de plantas.
Uma produção comercial a custo competitivo incluiria biorreatores capazes de produzir carne equivalente a 40.000 cabeças de gado em menos de 2 semanas. Isso também permitiria à BRF aumentar a produção rapidamente, caso a demanda cresça depressa.
A parceria com a Aleph Farms faz parte de um plano de expansão mais amplo da BRF que visa melhorar os ganhos da empresa por meio da fabricação de produtos de maior valor agregado. A meta do grupo é mais do que dobrar suas vendas atuais de R$39 bilhões para R$100 bilhões em dez anos.
Como os rivais globais JBS e Tysson Foods, a BRF montou suas próprias marcas de carnes vegetais, enquanto a entrada no mercado de carne cultivada significa um aumento da aposta da empresa em um mercado alternativo promissor. “ A AT Kurney tem uma projeção de que a carne cultivada deve ocupar 35% do mercado global de carnes até 2040, algo em torno de US $630 bilhões, e o Brasil está olhando para essa oportunidade a fim de se tornar líder desse setor. É um dia para celebrar.”, conclui Raquel.
Para apoiar o setor de proteínas alternativas em escala global, precisamos de uma estrutura regulatória internacional forte. Em um esforço para apoiar esse movimento, o GFI solicitou e acaba de obter o status de observador oficial na Comissão do Codex Alimentarius, uma comissão conjunta da FAO-OMS dedicada ao desenvolvimento de padrões globais para segurança alimentar e comércio exterior para consumidores, produtores, processadores e agências reguladoras. O status de observador permite que o GFI participe do desenvolvimento de padrões para o setor de proteínas e participe de reuniões de comitês individuais do Codex relevantes para o nosso trabalho.
A proteína alternativa está se expandindo, mas os desafios permanecem
O setor de proteínas alternativas se expandiu rapidamente nos últimos cinco anos. À medida que a oferta de produtos feitos de plantas aumenta, com o desafio de fornecer uma experiência sensorial semelhante à de seus equivalentes de origem animal, os consumidores os aceitam cada vez mais. Espera-se que esta indústria continue crescendo, atraindo mais players para o setor, investimentos em produtos existentes e na criação de novos.
No entanto, esses avanços não vêm sem desafios. As regulamentações atuais sobre proteínas alternativas estão aquém do estado atual do setor e do ritmo de seu desenvolvimento. Por ser um segmento relativamente novo, as discussões sobre a padronização de boas práticas e recomendações técnicas para uma regulamentação consistente ainda são incipientes.
Para avançar a indústria de proteínas alternativas, precisamos de uma estrutura regulatória global.
Uma forte estrutura regulatória é fundamental para o avanço do setor de proteínas alternativas, uma vez que emprega tecnologias específicas para criar e produzir seus produtos alimentícios. O apoio ao crescimento desse setor pode ter impactos diretos e positivos sobre os problemas globais relacionados à saúde humana, degradação ambiental e pobreza global.Em um mundo atingido por uma pandemia, essas questões se tornaram ainda mais urgentes. E o consumo de proteína alternativa está em um ponto mais alto.
Um conjunto robusto de códigos e regulamentações permitirá que a indústria atenda a essa demanda crescente, fornecendo alimentos seguros e nutritivos. Com padrões que podem ser aplicados da fazenda à mesa, a indústria de proteína alternativa pode garantir aos varejistas, importadores e consumidores que seus alimentos são seguros para o consumo.
Estamos colaborando com o Codex para apoiar o futuro dos alimentos.
A compreensão de regulamentações abrangentes só pode ser construída por meio da colaboração diversificada de conhecimento científico sólido. O Codex dá as boas-vindas aos ouvintes para que contribuam com sua experiência no setor para o processo de definição de padrões internacionais. Como observador, a GFI agora é uma das organizações que pode opinar sobre essas discussões críticas. Através desta oportunidade, nossas equipes comprometidas de cientistas, empresários e especialistas em políticas estão prontas para trabalhar com a comissão para construir uma estrutura regulatória de padrões internacionais de segurança alimentar que apóie um sistema alimentar global mais sustentável, saudável e justo.
Para saber mais sobre o trabalho da GFI para garantir um cenário regulatório justo para proteínas alternativas, verifique nossos recursos para legisladores.
A História já presenciou e validou a relevância do papel das mulheres nas conquistas científicas. Da descoberta da radioatividade à dupla estrutura do DNA, passando pela matéria escura que sustenta o universo, meninas e mulheres cumprem respeitável e significativo papel na Ciência. Em contrapartida, é notória que a participação feminina nas áreas conhecidas como STEM (expressão que, em tradução literal, significa Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) é significativamente menor do que seus pares homens. Segundo dados do Panorama Mulher 2018 da Talenses em parceria com o Insper, 44% da mão de obra brasileira é feminina e apenas 18% destas mulheres ocupam posições de chefia. Em âmbito acadêmico, dados da ONU confirmam que menos de 30% dos pesquisadores do mundo são mulheres. No Brasil, 49% dos artigos científicos publicados são de autoria feminina, segundo informações levantadas pela maior editora científica do mundo, a Elsevier. Inspirados pelo 11 de fevereiro, data que as Nações Unidas estipulou como o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, o The Good Food Institute quer trazer luz para essa questão, contribuir para diminuir esse desequilíbrio e refletir sobre potenciais soluções para o futuro.
“Incluir um número maior de mulheres não se limita a equiparar o número delas ao de homens, mas também assegurar acesso às mesmas oportunidades e às condições necessárias para que elas se mantenham e prosperem na carreira científica”, afirma a Dra. Katherine de Matos, diretora de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil. A área de pesquisa de proteínas alternativas tem revelado ser uma excelente oportunidade com resultados promissores. Tanto no Brasil quanto em outros países, as mulheres lideram as pesquisas nessa área. O GFI fomenta ainda mais esse avanço com seu Programa Anual de Incentivo à Pesquisa (Annual Competititve Research Grant Program) que financia em até US $ 250 mil estudos pioneiros capazes de elucidar os principais desafios tecnológicos da indústria de proteínas alternativas. Na edição de 2019, 56% dos projetos contemplados pelas bolsas do instituto foram propostos por mulheres, sendo três de pesquisadoras brasileiras.
Menos desperdício e em defesa do aproveitamento integral dos alimentos
O GFI apoia duas pesquisadoras que têm se destacado em pesquisas que buscam reduzir o efeito do descarte de alimentos e aproveitar a integralidade de ingredientes tipicamente brasileiros como a mandioca e o caju. A engenheira de alimentos, Dra. Ana Carla Kawazoe Sato, desenvolve um estudo na UNICAMP sobre extração e aplicação de proteínas vegetais obtidas principalmente por subprodutos agroindustriais como folhas de mandioca. A pesquisa em questão poderá atender uma crescente demanda de consumidores que querem reduzir ou deixar de consumir produtos de origens animais.
Outra cientista contemplada pelo Programa de de Incentivo à Pesquisa do GFI é a Dra. Ana Paula Dionisio. Pesquisadora da EMBRAPA, Ana Paula coordena um estudo sobre o uso da fibra de caju como ingrediente para produtos feitos de plantas. O objetivo é simular a textura e a aparência de produtos de origem animal.
Assim como na pesquisa desenvolvida pela Dra. Ana Carla, um dos principais benefícios deste trabalho é a utilização de um subproduto, geralmente descartado pela indústria. “A fibra do caju é um subproduto do processamento de suco, sendo normalmente descartado ou utilizado para ração animal. Através de tratamento adequado, esse material já se mostrou muito interessante para desenvolvimento de diversos alimentos feitos de planta, como hambúrgueres vegetais, por exemplo. Isso abre uma excelente perspectiva de uso desse produto, tanto nacionalmente como fora do país”, conta a pesquisadora.
O feijão carioca que promete revolucionar a produção de alimentos
Motivado pelo Dia Mundial dos Pulses, data comemorada em 10 de fevereiro que visa destacar a importância das leguminosas secas (pulses) como feijão, ervilha e grão-de-bico, o GFI enfatiza o trabalho da Dra. Caroline Mellinger Silva. A pesquisadora da EMBRAPA foca no desenvolvimento de ingredientes com alta concentração de proteínas a partir do feijão carioca. A finalidade é aproveitar o brasileiríssimo ingrediente e transformá-lo em uma nova opção de fonte proteica para a produção de hambúrgueres, almôndegas e outros produtos vegetais.
Atualmente, a soja é um dos ingredientes mais presentes na produção e comercialização de produtos vegetais e o Brasil é o maior produtor do mundo de proteína de soja, com uma produção estimada em 286,7 milhões de toneladas para a primeira safra 2020/21, segundo dados da CONAB. Em busca de uma maior diversidade de fontes proteicas nacionais acessíveia, a pesquisa de Caroline quer explorar a vasta capacidade agrícola nacional em produzir feijão e assegurar um melhor aproveitamento das propriedades desse ingrediente já tão presente na mesa do brasileiro. “Atualmente, o Brasil utiliza a proteína de soja e da ervilha para produzir proteínas vegetais. A ervilha é importada e é um ingrediente caro para a indústria nacional. Ter uma nova opção de fonte proteica plantada nacionalmente é excelente! Gera emprego e renda, além de prover ingredientes de menor custo para a indústria de alimentos, que poderá desenvolver produtos mais acessíveis ao consumidor final”, explica a pesquisadora.
Estima-se que as pesquisas financiadas pelo GFI sejam concluídas no fim de 2021, contribuindo com a inovação da cadeia de produção de alimentos nacional e mostrando a importância do envolvimento feminino na produção de conhecimento. “Acredito que os resultados das três pesquisas poderão inspirar outras pesquisadoras a pensarem sobre as possibilidades trazidas pelas proteínas alternativas”, comenta Dra. Katherine de Matos.
Nova edição do Programa Anual de Incentivo à Pesquisa aberta
O Programa de Incentivo à Pesquisa do GFI que financiou as pesquisas citadas acima está com as inscrições abertas para o edital de 2021 e promete conceder subsídios para as pesquisas selecionadas no valor de até US$250 mil. Este ano, a seleção do GFI terá como foco projetos que desenvolvam novos ingredientes, métodos, ferramentas e tecnologias para viabilizar a produção de cortes de carnes inteiros e frutos do mar feitos de proteínas alternativas. O Programa está na primeira fase de seleção e os interessados devem enviar sua proposta em formato PDF até o dia 10 de março de 2021 para este formulário.
Uma em cada nove pessoas passa fome todos os dias no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas. Apesar de o Brasil ser considerado o “celeiro do mundo”, com uma expectativa de atingir 264,8 milhões de toneladas de grãos em 2021, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), estamos longe de atingir um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no mundo, que é “fome zero” até 2030.
Especialistas brasileiros e internacionais consideram que um dos caminhos para acabar com a fome, gerar renda e salvar o planeta passa pelo aumento do consumo de pulses (grãos secos como feijão, grão de bico, lentilha e ervilha). Seu cultivo demanda menos água e fertilizantes, diminui a emissão de carbono na cadeia de produção, e aumenta o microbioma do solo. Além disso, possuem alto valor nutricional, baixo custo e fácil armazenamento.
A produção deste tipo de alimento para a segurança alimentar é tão importante que na próxima quarta-feira (10) será comemorado em todo o planeta o Dia Internacional das Pulses. Explorar essa capacidade agrícola de produção de grãos representa um potencial enorme de crescimento, tanto para a economia nacional quanto para o setor de proteínas alternativas, que utiliza as pulses como matéria-prima para muitos de seus produtos.
Por esse motivo, o The Good Food Institute, instituição sem fins lucrativos que trabalha para acelerar transformações na cadeia de produção de alimentos, financia linhas de pesquisas no mundo todo que propõem soluções e avanços para a cadeia de alimentos, por meio de proteínas alternativas.
Uma das iniciativas a receber esse apoio é a pesquisa liderada pela doutora Caroline Mellinger Silva, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). Sua pesquisa visa o desenvolvimento de ingredientes com alta concentração de proteínas a partir do feijão para serem utilizados na produção de novos análogos vegetais como hambúrgueres e almôndegas. Em fase de desenvolvimento, espera-se que até o final de 2021 resultados concretos sejam repassados ao setor produtivo.
O Brasil é um dos maiores produtores e consumidores de feijão do mundo, presente no prato de 70% da população diariamente, segundo dados da IBRAFE. Além disso, produz cerca de 40 tipos de feijão.
De acordo com Caroline, é preciso incentivar a produção do feijão no país. “A proteína de ervilha tem sido cada vez mais usada no desenvolvimento de produtos do tipo cárneo, mas como é importada, torna-se um ingrediente caro para a indústria nacional. O Brasil é um dos maiores produtores de feijão do mundo e tem a possibilidade de ter essa cadeia desenvolvida nos próximos anos, passando de consumidor a produtor de proteínas vegetais. Isso gera emprego e renda, além de prover ingredientes de menor custo para a indústria de alimentos, que poderá desenvolver alimentos mais acessíveis ao consumidor final”, explica a pesquisadora.
O anúncio da parceria com a PepsiCo. fez as ações da Beyond chegarem a subir 26.1%, antes de fecharem com 17.7% de valorização na última terça-feira, 9 de fevereiro. A nova parceria nasceu sob o nome de The Planet Partnership, e vai fazer uso da expertise da Beyond em desenvolver proteínas alternativas e a expiência comercial da Pepsi para criar novos produtos. O objetivo da joint ventura é investir na criação de novos snacks plant-based e também bebidas.
A gigante multinacional PepsiCo tem histórico de inovação em snacks e lanches rápidos, sendo responsável pelo desenvolvimento das batatas assadas LAY’S e Gatorade, por exemplo. A união com a Beyond representa mais um passo nessa direção, desta vez buscando conquistar o novo território das proteínas alternativas.
O chefe comercial global da Pepsi, Ram Krishnan, conta que “proteínas alternativas representam uma grande oportunidade de crescimento para nós, uma nova fronteira para os nossos esforços de construir uma cadeia de alimentos sustentável e ser uma força positiva para as pessoas e o planeta, enquanto ainda atendemos à demanda por um maior portfólio de produtos mais nutritivos”.
A parceria também mostra uma confiança cada vez maior de atores de outros segmentos da indústria de alimentos e investidores no setor de proteínas alternativas. Nos últimos três meses, as ações da Beyond Meat subiram 13.6%, ganhando um total de 56,4% ao longo do ano passado. A previsão é que continue a crescer, mesmo com a pandemia afetando o setor de alimentação.
Projetos pioneiros capazes de elucidar os principais desafios tecnológicos da indústria de proteínas alternativas contarão com financiamento do The Good Food Institute (GFI), no valor US$ 250 mil para cada pesquisa. Motivados em capacitar estudos de alta qualidade que construirão a base científica das indústrias de carnes cultivadas, vegetais e derivados de fermentação no futuro, o GFI acaba de lançar o edital do Programa Anual de Incentivo à Pesquisa.
Nesta edição, o instituto selecionará propostas que desenvolvam dados, materiais e processos para viabilizar a produção de carnes inteiras e frutos do mar feitos de proteínas alternativas. “Projetamos conduzir pesquisas que estudem a criação de cortes de carne inteiros e íntegros como carne, frango, peixe e frutos do mar. Buscamos avanços científicos que possibilitem a produção e comercialização desses produtos para formar uma verdadeira nova geração de proteínas de carne e frutos do mar e, assim, construir um sistema alimentar sustentável, saudável e justo”, explica a Diretora de Ciência e Tecnologia do GFI, Dra. Katherine de Matos.
O valor máximo do incentivo para cada projeto será de US$ 250 mil, cerca de R$ 1,3 milhão, e todo o aporte será destinado aos projetos que se concentrem no desenvolvimento de novos ingredientes, métodos, ferramentas e tecnologias e permitam a produção de produtos proteicos alternativos inteiros.
“A indústria de proteína alternativa já realizou avanços científicos significativos para produção de produtos de carne moída a partir de proteínas cultivadas, vegetais e derivadas de fermentação. Já é possível encontrar nas gôndolas dos mercados hambúrgueres, linguiças, nuggets e almôndegas. Queremos aproveitar esse ímpeto e nos concentrar agora nos estudos e criações de cortes de carnes inteiros”, complementa Dra. Katherine. Os projetos financiados deverão realizar aplicações primárias em carnes e frutos do mar que assemelham-se à carne de origem animal em sabor, textura e aroma e se destinam ao consumo humano.
O Brasil ocupa atualmente posição de destaque no cenário global de pesquisa de proteínas alternativas e a nova edição do Programa de Bolsas do GFI visa endereçar alguns gargalos científicos e tecnológicos com estudos precisos e inovadores sobre criação e produção de peças de carne inteiras. “A nossa expectativa é muito positiva. Na edição passada, o Brasil teve um desempenho muito relevante em números de propostas submetidas ocupando a segunda posição”, conta Katherine.
O edital está aberto a empresas brasileiras, instituições científicas tecnológicas, aos pesquisadores que fazem parte do Diretório de Pesquisa Colaborativa (DPC) do GFI e a todos os demais cientistas do país. O Programa está na primeira fase de seleção e os interessados devem enviar sua proposta em formato PDF até o dia 10 de março de 2021 para este formulário. Os projetos têm prazo de execução de até 24 meses. Para acessar o edital completo e conferir a regulamentação detalhada, clique aqui.
Workshop
No dia 4/2, das 14h às 15h (BRT), os interessados em participar do edital terão a oportunidade de entender melhor o Programa de Incentivo à Pesquisa GFI e tirar suas dúvidas sobre o edital com a equipe de Ciência e Tecnologia. Faça a sua inscrição aqui.
Sobre o Programa
Desde seu início em 2018, o programa de bolsas de pesquisa do GFI concedeu mais de US$ 7 milhões a projetos e subsidiou 37 pesquisadores em todo o mundo. Financiadas inteiramente por um seleto grupo de doadores e apoiadores filantrópicos, as pesquisas abrangem o campo de proteínas alternativas, desde o melhoramento de safras e formulação de produtos para carne vegetal ao desenvolvimento de linha celular e aumento de escala de bioprocessos para carne cultivada.
Depois de duas rodadas de financiamento bem sucedidas, a BlueNalu, empresa americana com sede na Califórnia, anunciou que recebeu novo investimento no valor de US$60 milhões. O novo aporte, inédito até então no setor de pescados cultivados, vai possibilitar com que a empresa siga expandindo suas operações.
Entre as próximas atividades previstas, está a construção de fábrica própria e o início de testes de aceitação do produto ainda em 2021. Esses são passos importantes em direção à carne de peixe cultivada chegar ao mercado.
O mercado de frutos do mar, avaliado em US$200 bilhões, encontra- se em uma posição extremamente vulnerável por conta do consumo de recursos naturais e das variações do ambiente. Escalar a produção de pescados a partir do cultivo celular vem para introduzir soluções nesse sentido.
A BlueNalu está se dedicando a aperfeiçoar a produção de carne de peixe por meio dessa tecnologia para desenvolver produtos sustentáveis. Para isso, planejam introduzir uma grande variedade de frutos do mar cultivados no mercado, começando com as carnes de mahi mahi e atum no fim deste ano. Também estão firmando parcerias-chave nos mercados onde pretendem operar, para que os produtos cheguem às gôndolas mais rápido e a um custo mais acessível.
Olhando para o panorama dos pescados vegetais
O anúncio da BlueNalu é um feito inédito para a indústria de pescados cultivados. O investimento de US$60 milhões representa o maior aporte que esse setor já recebeu até agora e solidifica a tendência de crescimento que vemos acontecendo no ecossistema de alternativas aos frutos do mar.
E a BlueNalu não é a única empresa de frutos do mar alternativos a arrecadar fundos com sucesso em 2021. Na primeira semana de janeiro, a New Wave Foods anunciou a conclusão de uma rodada de $18 milhões da Série A para levar seu camarão vegetal ao mercado.
Esses são sinais claros de que os resultados encontrados pelas empresas e pesquisadores estão inspirando a confiança de investidores em injetar recursos significativos em seu crescimento. Restaurantes também expressam a mesma confiança, demonstrando interesse em incorporar a carne de peixe cultivada em seus menus.
O Good Food Institute (GFI) é uma organização sem fins lucrativos, mantida com recursos filantrópicos, que trabalha para transformar a cadeia de produção de alimentos. Para isso, apoiamos o desenvolvimento do setor de proteínas alternativas, especialmente o mercado de carnes, ovos, e produtos lácteos vegetais, cultivados ou obtidos por fermentação.
As possibilidades de inovações em alimentos são infinitas, já existem muitas alternativas excelentes baseadas em plantas para produtos de cultivo industrial, mas no Brasil, temos o privilégio de ter uma vasta biodiversidade em nossos biomas, com potencial para transformar produtos de manejos sustentáveis em ingredientes para o mercado de produtos plant-based. Ao trabalhar com as potencialidades de nossa biodiversidade, o Especialista em Tecnologia de Alimentos identificará novos ingredientes que poderão agregar valor aos produtos nativos e poderão ser aplicados em produtos plant-based, tornando-os, genuinamente brasileiros, ao mesmo tempo em que preserva o ecossistema sob a perpectiva do uso sustentável dos recursos naturais.
Nesta função, o Especialista em Tecnologia de Alimentos ajudará a construir o mercado de produtos plant-based com ingredientes da biodiversidade brasileira. O seu foco de atuação será no desenvolvimento do projeto de “Proteínas alternativas a partir de produtos dos biomas Amazônia e Cerrado”, inclusive, colaborando na construção de um relacionamento com profissionais de comunidades produtoras, cooperativas, pesquisadores e agentes do governo que atuam nestes ecossistemas. Como Especialista em Tecnologia de Alimentos, você deverá buscar, por meio de pesquisa, dados técnicos, de produção e científicos de diversos produtos dos biomas Amazônia e Cerrado, que serão selecionados e farão parte de um edital de financiamento a pesquisa a ser lançado pelo GFI, assim você será responsável por:
O que estamos procurando?
O Especialista em Tecnologia de Alimentos deve ter:
Queremos as melhores pessoas e não queremos preconceitos nos impedindo. Nós encorajamos pessoas de todas as cores, orientações, idades, gêneros, origens e habilidades para se inscreverem. Como valorizamos um local de trabalho diversificado, priorizamos um clima inclusivo, sem discriminação e assédio durante o processo de inscrição e depois que você se juntar à equipe.
Condições de trabalho:
Prepare-se para o processo seletivo!
O processo seletivo se dará em duas fases, sendo:
Fase 1: enviar currículo atualizado para o e-mail: ciencia@gfi.org até 05 de fevereiro de 2021 até às 23:59h (horário de Brasília) juntamente com um plano de projeto sobre “Obtenção de ingredientes a partir de produtos nativos dos biomas Amazônica e Cerrado”, contendo:
Para a elaboração do plano de projeto, você deverá selecionar um produto nativo do bioma Amazônia ou Cerrado, que possui potencial proteico para aplicação em produtos plant-based, justificar a sua escolha com embasamento técnico e científico e dados de mercado, citar os objetivos do projeto, fazer uma breve introdução sobre o estado da arte da pesquisa com relação ao produto selecionado, propor um cronograma de projeto com as etapas necessárias para atingir os objetivos propostos e citar as referências bibliográficas utilizadas. O plano de projeto pode ser uma proposta de projeto de pesquisa acadêmica ou uma proposta de instalação agroindustrial para processamento e obtenção do ingrediente.
O Plano de projeto deve ter, no máximo, 4 (quatro) páginas, redigido usando a fonte “Times New Roman”, no tamanho 11, e deve ser enviado no formato PDF. O arquivo deve ser nomeado com o primeiro nome e sobrenome do candidato (exemplo: Projeto Paulo Junqueira).
Currículo e plano de projeto recebidos fora do prazo estabelecido serão automaticamente desconsiderados.
Fase 2: O candidato selecionado na Fase 1 será convidado a fazer uma apresentação de 15 (quinze) minutos sobre o plano de projeto apresentado na primeira fase, onde responderá perguntas sobre a apresentação e passará, na sequência, por uma entrevista geral.
As entrevistas acontecerão nos dias 11 e 12 de fevereiro de 2021 no formato online, em horário a ser informado posteriormente.
Fique de olho nos prazos!
Início desejável do trabalho: Março de 2021
O ano de 2020 foi desafiador em muitos sentidos. Com a pandemia, tivemos que nos reinventar por completo, seja interrompendo ou adiando atividades já planejadas, seja transformando a maneira como nos relacionamos com as pessoas e com o planeta. Ainda assim, conseguimos manter em nosso horizonte a missão de criar uma nova cadeia de produção de alimentos, muito mais sustentável, segura, justa e saudável. Inclusive, sendo reconhecidos como uma das 4 ONGs mais eficientes do mundo pela Animal Charity Evaluators. Os desafios nos acompanharão no próximo ano, mas não faltam motivos para celebrar. A sua parceria e confiança em nosso trabalho é um deles. Por isso, como forma de agradecer essa trajetória compartilhada, enviamos esse registro com as atividades mais impactantes do nosso trabalho. É uma prestação de contas, mas muito mais do que isso, é a nossa maneira de dizer a você que o nosso sonho segue vivo.
Saiba o que a força do seu apoio nos fez realizar em 2020:
Engajamento Corporativo
Esse ano, a área de Engajamento Corporativo focou seus esforços em dar suporte à expansão da indústria de proteínas alternativas. Para isso, trabalhamos em construir conexões entre fornecedores e clientes em potencial, multiplicando oportunidades de negócio e, assim, acelerar os avanços do setor. Também foram realizadas pesquisas específicas sobre o mercado brasileiro, resultando nos relatórios Indústria de Proteínas Alternativas 2020 e O consumidor brasileiro e o mercado plant-based. Esses estudos foram divulgados gratuitamente, a fim de tornar a informação acessível a todos os interessados nessa indústria. Consolidamos, assim, um arcabouço técnico sólido que qualificou o lançamento de novos produtos. Entre as novidades que chegaram ao mercado, estão o pernil desfiado e a isca de peixe da linha Incrível Seara e a chegada ao Brasil da marca holandesa The Vegetarian Butcher.
“O consumidor brasileiro e o mercado plant-based” foi idealizada para obter um melhor entendimento sobre quem é o consumidor de proteínas alternativas no Brasil, seus hábitos e motivações, e o que ainda busca nesse tipo de produto. Esse estudo só foi possível graças ao envolvimento de onze empresas do setor de ingredientes, alimentos e varejo, que tiveram exclusividade sobre os resultados por seis meses, com divulgação para o público em dezembro. O GFI Brasil foi uma das primeiras organizações do terceiro setor a captar investimento privado para custear uma iniciativa de pesquisa dessa natureza.
O lançamento dessa pesquisa foi realizado em parceria com a Revista Globo Rural, que produziu 8 reportagens especiais no site do veículo, uma matéria de 8 páginas na revista impressa, uma entrevista para o podcast Palavra do Campo e duas lives no canal do youtube. O retorno de mídia gerado por essa ação resultou em um valor estimado em quase R$2 milhões.
Outra frente de atuação que merece destaque foi o engajamento de investidores do setor, que permitiu a criação da Enfini, um fundo do grupo PWR que investe em startups do setor como Fazenda Futuro, Blue Nalu e Memphis Meats. Esse já é, atualmente, o maior fundo de investimento em proteínas alternativas da América Latina.
A área de Engajamento Corporativo também iniciou o desenvolvimento do Programa Elo, que foca na inclusão do produtor rural no mercado de proteínas alternativas.
Ciência e Tecnologia
O GFI Brasil promoveu o Programa de Incentivo à Pesquisa (Annual Competitive Research Grant Program) em toda a comunidade científica e acadêmica. Em 2020, 34 equipes de pesquisadores brasileiros submeteram propostas ao programa, tornando o Brasil o segundo país em submissões de propostas. Foram selecionados três projetos de duas instituições, EMBRAPA e UNICAMP.
O financiamento está viabilizando a pesquisa da Dra. Caroline Mellinger Silva (Embrapa Agroindústria de Alimentos), que estuda o desenvolvimento de ingredientes com alta concentração de proteínas a partir do feijão carioca para formulação de produtos análogos à carne; a pesquisa da Dra. Ana Carla Kawazoe Sato (Unicamp), que estuda extração e aplicação de proteínas vegetais obtidas, principalmente, de subprodutos agroindustriais, como as folhas da mandioca; e a pesquisa da Dra. Ana Paula Dionisio (Embrapa Agroindústria Tropical), que estuda o uso da fibra de caju como ingrediente para produtos feitos de plantas.
Em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR), o GFI Brasil lançou a disciplina “Introdução à Zootecnia Celular”, o primeiro curso brasileiro destinado a formar profissionais capacitados para atuar no mercado da carne cultivada. Foram lançadas duas turmas até o momento, formando 46 alunos da própria universidade e de outras instituições, e também de empresas, como a JBS e a Mantiqueira.
Além disso, para democratizar o acesso aos estudos em desenvolvimento no setor, o GFI lançou a série de webinars Proteínas Alternativas: Ciência e Tecnologia e realizou palestras sobre proteínas alternativas para uma variedade de empresas e universidades. Ao todo, participaram 2.500 pessoas, das quais 60% eram profissionais da comunidade científica e acadêmica e 40% do setor privado. Os participantes eram de 108 universidades e institutos de pesquisa e 160 empresas diferentes.
Políticas Públicas
Os avanços também puderam ser percebidos no campo das políticas públicas. Em 2020, nos tornamos membro da Associação Brasileira de Bioinovação (ABBI), anteriormente focada em biocombustíveis e química de renováveis. Nosso trabalho expandiu o escopo da ABBI, passando a incluir a bioeconomia avançada através das proteínas alternativas. Nosso papel é coordenar o Grupo de Trabalho de Proteínas Alternativas e representar as 29 empresas signatárias do Manifesto de Apoio ao Setor de Proteínas Alternativas em discussões relevantes para a agenda do setor junto ao governo, seja no Legislativo, Executivo ou junto aos órgãos regulatórios. O trabalho com a ABBI nos permitiu a aproximação com a Frente Parlamentar da Bioeconomia (cuja secretaria executiva é exercida pela ABBI) e nos propiciou apresentar nossa pauta ao Vice-Presidente da República, Gen. Hamilton Mourão, debatendo o setor de Proteínas Alternativas e sua conexão com a região amazônica.
Nessa mesma linha, firmamos um Acordo de Cooperação com o Governo do Estado do Amazonas, onde somos responsáveis pelo eixo de proteínas alternativas do programa Biópolis, que visa a inserção da agenda de bioeconomia avançada na economia do estado.
Visando subsidiar a construção de um marco regulatório para proteínas alternativas no Brasil, contratamos o ITAL para desenvolver três estudos regulatórios focados no mercado brasileiro, compreendendo os produtos a base de vegetais, os produtos obtidos por cultivo de células e os produtos e ingredientes obtidos através de fermentação de precisão. Antecipando os efeitos destes estudos, com apoio do GFI, foram dados primeiros passos para a regulamentação do segmento de produtos a base de vegetais (plant-based) no Brasil, discutidos em um workshop sobre mercado, conceitos e tecnologias em desenvolvimento, patrocinado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) em parceria com a Embrapa.
Seguimos juntos!
Em 2021 voltaremos renovados e ainda mais fortalecidos. Contamos com você para nos ajudar a construir um sistema de produção de alimentos mais sustentável, seguro, justo e saudável.
Todo o nosso trabalho é oferecido gratuitamente à sociedade. Por isso, contamos com as doações da nossa família de apoiadores. Para saber como você pode fazer parte deste trabalho transformador, entre em contato com a Gerente de Desenvolvimento do GFI Brasil, Ana Carolina Rossettini – anar@gfi.org
O feito inédito aconteceu em visita oficial do político à Aleph Farms, empresa israelense de carne cultivada. Provar pela primeira vez um bife de carne de verdade, cultivado inteiramente fora do animal, coloca Israel à frente do movimento de desenvolvimento de proteína animal em ambiente fabril.
A empresa sediada em Rehoot é pioneira no desenvolvimento em escala da tecnologia em que uma cultura de células é retirada do gado para fazer com que se desenvolvam sob condições controladas. O processo torna tanto o abate de animais quanto o uso de antibióticos desnecessário, além de usar muito menos recursos naturais como terra e água. Israel vem apostando na tecnologia para prover uma fonte de alimentação segura e estável para sua população e além de ser uma fonte de crescimento econômico especialmente promissora em um momento em que o mundo todo busca por soluções mais sustentáveis para a cadeia de produção de alimentos.
A visita, que foi acompanhada pelo diretor do The Good Food Israel Nir Goldstein, passou pelas instalações pelas instalações da fábrica para que o primeiro ministro conhecesse o processo de perto, antes de terminar na degustação da carne cultivada. “É deliciosa e livre de culpa, consigo sentir a diferença”, comentou Benjamin Netanyahu. O primeiro-ministro disse ainda que Israel está a caminho de se tornar uma grande força na liderança dos setores de proteínas alternativas.
O país já é visto como terreno fértil para Food Techs em decorrência das inovações na área que nasceram no país, através da articulação da indústria, academia e governo. A própria Aleph Farms nasceu de uma iniciativa conjunta entre duas incubadoras da área de alimentos, The Kitchen Hub e Fresh Start, o Instituto de Tecnologia de Israel e apoio da Autoridade Israelense de Inovação. Resultados como esse comprovam que diversas áreas da cadeia produtiva trabalhando juntas conseguem avançar o setor de alimentos de forma consistente e transformadora, o que pode ser um bom indicativo do que o mercado brasileiro pode se tornar.
Na semana passada, Singapura se tornou o primeiro país a estabelecer um marco regulatório específico para carne cultivada, que trará carne cultivada para o mercado. Isso transformará o movimento da carne cultivada de uma visão de longo prazo em uma solução prática concreta que aborda alguns dos desafios mais urgentes do mundo hoje. Aleph Farms, SuperMeat, MeatTech and Future Meat Technologies são algumas das líderes mundiais em carne cultivada, todas estão sediadas em Israel.
O Covid-19 e a emergência climática têm servido para apontar como os sistemas alimentares são vulneráveis frente a crises e rupturas, destacando a urgência de estabelecer cadeias de produção de alimentos mais sustentáveis e resilientes. O processo de cultivar carne em ambientes controlados é um importante passo nessa direção, além do potencial para gerar milhares de novos empregos e aquecer a economia. Segundo o Goldstein, “com o apoio do governo, é possível gerar 11.000 novos postos de trabalho e gerar bilhões de retorno para a economia através de exportações tanto de matérias-primas quanto de tecnologias de proteínas alternativas.”
Sobre a Aleph Farms
A empresa de alimentos Aleph Farms está abrindo um novo caminho como pioneira do ecossistema global de alimentos sustentáveis, trabalhando para cultivar bifes a partir de células não geneticamente modificadas, isoladas de uma vaca, usando uma fração dos recursos necessários para criar um animal para carne e sem antibióticos e que são deliciosos.
Em maio de 2019, a empresa levantou US $12 milhões em uma rodada de investimentos da Série A, com participação de parceiros estratégicos e grupos de venture capital. A Aleph Farms foi co-fundada pelo The Kitchen Hub do Strauss Group e o Professor Shulamit Levenberg do Technion – Instituto de Tecnologia de Israel. A empresa é apoiada por alguns dos produtores de alimentos mais inovadores do mundo, como Cargill, Migros e o Grupo Strauss.
Os primeiros passos para a regulamentação do segmento de produtos à base de vegetais (plant-based) no Brasil, foram dados em workshop sobre mercado, conceitos e pesquisas em desenvolvimento, realizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com apoio da Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro), no dia 8, pelo canal da Embrapa no Youtube.
Segundo Glauco Bertoldo, diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Mapa, a partir do workshop será aprofundada a discussão dos tópicos mais relevantes. “Serão chamados à discussão os demais entes envolvidos, com destaque para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e as entidades de defesa do consumidor”, acrescentando que “a regulamentação propicia um ambiente seguro para o desenvolvimento da agricultura e das agroindústrias e uma relação saudável com o consumidor”.
Para Lourdes Cabral, chefe-geral da Embrapa Agroindústria de Alimentos, a diversificação da matriz protéica na dieta humana é uma realidade e representa uma resposta a demandas dos consumidores. “Estamos vendo o aumento da oferta de novos produtos no mercado e, nesse sentido, o Mapa precisa escutar os diversos atores desse segmento, produtores, pesquisadores e consumidores, e processar essas informações de modo a criar uma base que possa vir a auxiliar a regulamentação desse setor emergente”.
A abertura do evento contou com a participação de Guy de Capdeville, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa. Segundo ele, a iniciativa do Mapa é fundamental não apenas para oferecer mais segurança às empresas que já desenvolvem produtos no mercado brasileiro, como também para atrair novos parceiros para esse segmento, que está em franca ascensão no Brasil e no mundo.
Ainda de acordo com Capdeville, o fato de o evento reunir representantes da indústria, terceiro setor e ciência, entre outros, traz várias visões à discussão e à consolidação desse conceito no Brasil. “Essa união de expertises é determinante para fortalecer a inserção desse segmento no agro brasileiro. Além disso, são vozes que têm a capacidade de levar essa temática para frente”, destacou.
Apresentações
Uma das apresentações dos painéis do workshop foi da pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Caroline Mellinger. Ela falou, entre outros temas, sobre a importância de olhar para toda a cadeia produtiva quando se pensa em ofertar novos alimentos, uma vez que eles dependem do desenvolvimento tecnológico de ingredientes e da garantia de oferta de matérias-primas.
Caroline citou, ainda, uma nova norma da Organização Internacional de Padronização (ISO), com previsão de ser votada até o fim deste ano, que trata de definições e critérios técnicos para alimentos e ingredientes alimentícios adequados para vegetarianos ou veganos, além de aspectos de rotulagem e apelo. “Quando terminar a votação e tivermos a publicação desse documento, teremos subsídios para traçar conceitos padronizados no mundo todo”, explica.
O trabalho, realizado em 2019 e 2020, contou com a participação de representantes de 80 países. No Brasil, a coordenação é da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e o grupo é composto por representantes da indústria, Abia, do Senac, da Embrapa e Sociedade Vegetariana Brasileira.
Bruno Brasil, secretário de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, apresentou as pesquisas em desenvolvimento na Empresa sobre os produtos de base vegetal. Segundo ele, a Embrapa trabalha com foco nas tendências que podem moldar o agro para o futuro e, por isso, o crescimento desse segmento já havia sido antecipado como parte importante da atuação da Empresa.
O documento Visão 2030 aponta sete megatendências para o agro brasileiro e uma delas é o protagonismo do consumidor. “É exatamente nessa vertente que se encaixam esses produtos. Eles espelham os desejos do consumidor contemporâneo não apenas por opções mais saudáveis, mas também e principalmente, por alimentos e bebidas de sabores e aromas diversificados”, pontua.
Segundo ele, a população brasileira já demonstra interesse em reduzir o consumo de produtos de origem animal. Isso é indicativo do crescimento dos chamados “flexitarianos”, consumidores que buscam alimentos de origem animal e vegetal de forma alternada e balanceada. “Um sinal deste crescimento pode ser percebido nas grandes redes de supermercados e até mesmo de fastfood que já aderiram a essa tendência”.
Brasil explicou que a avaliação das tendências do agro brasileiro pauta o planejamento estratégico da Embrapa, o qual é executado por meio de 34 portfólios de projetos. O desenvolvimento de produtos de base vegetal é hoje uma das áreas de destaque do portfólio “Alimentos: segurança, nutrição e saúde”, envolvendo quatro unidades de pesquisa da Embrapa – Agroindústria Tropical, Agroindústria de Alimentos, Arroz e Feijão e Hortaliças – sete instituições parceiras, seis projetos de pesquisa, 42 pesquisadores e analistas, e recursos superiores a R$ 3,3 milhões.
O secretário apresentou produtos desenvolvidos pela Embrapa que já estão no mercado ou prontos para produção em larga escala e comercialização por parceiros. Um deles é o Amazonika Burger, um hamburguer 100% vegetal que tem entre os ingredientes fibra de caju, proteína de soja e a pimenta assîsî, típica da região amazônica, e foi desenvolvido em parceria com a Sotille Alimentos. A parceria também já desenvolveu coxinha e o bolinho Siriju, todos à base de plantas.
No mesmo painel, Raquel Casselli, gerente de Engajamento Corporativo do The Good Food Institute (GFI) no Brasil, falou sobre as tendências animadoras do mercado para os produtos à base de plantas no Brasil. Segundo ela, na rede de supermercados Pão de Açúcar, um terço dos hamburgueres comercializados são de origem vegetal. “É um índice impressionante se considerarmos que a tecnologia só tem um ano e meio no País”, comemorou.
Casselli apresentou uma pesquisa recente realizada pelo GFI, em parceria com o Ibope, com 2 mil respondentes, que apontou que 50% dos brasileiros reduziram o consumo de carne no último ano. Desses, 37% já consomem carnes vegetais em suas dietas diárias. Para 62% dos entrevistados, o mais importante em um substituto vegetal é o sabor, aroma e a textura. Outro dado apontado pela pesquisa é que apenas 7% afirmaram jamais consumir alternativas vegetais à carne e que, para os brasileiros, soja e transgênicos não são barreiras de compra. A pesquisa está disponível no link: gfi.org.br/consumidor2020
Participantes
Também participaram do evento: diretor executivo do GFI, Gustavo Guadagnini; diretor de Políticas Públicas do GFI, Alexandre Cabral; diretor de Assuntos Regulatórios e Científicos da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), Alexandre Novachi; diretor técnico da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas (Abir), Igor Castro; e a diretora geral do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Eloísa Garcia.
Moderaram os três painéis o coordenador geral de Qualidade Vegetal do Mapa, Hugo Caruso; o coordenador geral de Inovação Aberta do Mapa, Daniel Trento, e o auditor fiscal federal agropecuário da Superintendência Federal de Agricultura/Paraná, Elton Massarollo.
O workshop completo está disponível no canal da Embrapa no Youtube, pelo link https://www.youtube.com/watch?v=a8qA2yvCG3g
Texto: Assessoria de Imprensa da EMBRAPA |
Kadijah Suleiman
Embrapa Agroindústria de Alimentos
Fernanda Diniz
Secretaria de Pesquisa e Desenvolvimento