O setor de proteínas alternativas tem se desenvolvido rapidamente no mundo todo e passou por um crescimento extremamente significativo nos últimos três anos no Brasil. Como resposta a esse movimento, a equipe da AGN Consultoria e Negócios idealizou O curso “Descomplicando o Mercado da Alimentação Plant-Based”. O objetivo é oferecer conhecimento de qualidade para capacitar profissionais a atuar na área, que tende a continuar crescendo.
O programa oferece um panorama geral das diversas áreas desse novo mercado e vai abordar temas como mudança de hábito alimentar, produtos e tendências, marketing e as oportunidades do setor, com atenção especial ao empreendedorismo e como implementar ideias e projetos na área.
O curso também marca o início das atividades da plataforma Descomplicando, de ensino online.
As metodologias envolvem microlearning com aulas dinâmicas e um ambiente online moderno e descomplicado para manter os alunos engajados e aprendendo de forma leve. Além do curso, o interessado também pode adquirir uma mentoria, que acontecerá online e ao vivo. Ao todo serão 4 sessões de 1h15, uma vez por semana. Os interessados em participar do curso podem se inscrever pelo site do Descomplicando. Com o cupom GFI20 é possível garantir 20% de desconto.
O diretor executivo do The Good Food Institute, Gustavo Guadagnini, é um dos professores dessa iniciativa inédita e ministrará a masterclass “A revolução dos alimentos”, no canal da Descomplicando no Instagram. A aula acontece hoje (8/10), às 19:30h, e faz parte de um ciclo de palestras online que aborda aspectos da indústria de proteínas alternativas.
A Universidade Federal do Paraná (UFPR) acaba de abrir as inscrições para a segunda turma da disciplina “Introdução à Zootecnia Celular”, desenvolvido em parceria com o The Good Food Institute (GFI). Ofertado pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, o curso possui carga horária de 30h e é ministrado totalmente em inglês. As inscrições encerram amanhã (9/10).
De acordo com a diretora de Ciência e Tecnologia do GFI, Dra. Katherine de Matos, “a iniciativa tem como principal objetivo formar profissionais capazes de responder a um dos grandes desafios da atualidade: alimentar uma população que deve chegar a quase 10 bilhões de pessoas em 2050, produzindo alimentos com menos impacto ambiental e danos à saúde humana.”.
Por isso, o curso de Introdução à Zootecnia Celular apresenta aos alunos uma série de conhecimentos relevantes no processo de inovação da produção de alimentos, com foco na carne cultivada: impactos para bem-estar animal e meio-ambiente; aspectos biotecnológicos e regulatórios; a nova cadeia de valor; implicações para especialistas que atuam na cadeia da carne, entre outros.
Primeira Edição
A primeira turma do curso de Introdução à Zootecnia Celular contou com a participação de 25 alunos. As aulas tiveram início no dia 28 de julho e finalizaram no dia 13 de agosto. “A primeira edição da disciplina foi uma experiência positiva marcante, em especial pela qualidade dos participantes, que trouxeram a visão da academia, da indústria de alimentos e de importantes institutos de pesquisa”, conta a professora responsável pela criação da disciplina na UFPR, Dra. Carla Molento.
De acordo com outro professor da disciplina, Dr. Germano Glufke Reis, o sucesso da primeira turma motivou a reabertura do curso, que traz várias novidades: “Percebendo a motivação dos participantes e grande procura, o curso será estendido (mais horas e dias de duração), criando mais espaços de troca de conhecimento, ideias, expectativas e visões. Tal como na primeira edição, além de nós, atuarão nas aulas (como professores/palestrantes convidados) diferentes atores que compõem o ecossistema da carne cultivada, de startups a especialistas em venture capital. A proposta é que seja um curso que atenda as expectativas de profissionais com diferentes formações e backgrounds; entendemos que essa perspectiva transdisciplinar será chave para a configuração da nova cadeia, formação de novos modelos de negócios e para trazer a carne cultivada ao consumidor nos próximos anos.
Anna Paula Viana Graziadio Pinto – diretora R&D do grupo Mantiqueira, foi uma das alunas da primeira turma. Segundo ela, o curso trouxe reflexões importantes sobre o bem estar animal e as alternativas para alimentar uma população em crescimento. “Me senti honrada em fazer parte da primeira turma do Curso e participar das discussões sobre novas tecnologias, mapeando possibilidades de inovar – baseado em ciência – para desenvolver novos alimentos que garantirão a alimentação da população nos próximos anos. Outro ponto importante, também bastante debatido, foi como considerar a vida dos animais e seu bem-estar, principalmente como parâmetro crucial para o avanço desta iniciativa”, refletiu Anna Paula.
Renata do Nascimento, gerente de P&D Plant Based da Seara, também foi aluna da primeira turma. Segundo ela, o curso proporcionou uma visão geral sobre a tecnologia de cultivo celular, assim como apresentou o status atual e os principais desafios para torná-la viável em grande escala. “Me sinto mais preparada para atuar no mercado e em uma próxima oportunidade gostaria de mais informações práticas de como obter a carne cultivada como formulações e dados de processo”, comenta Renata.
O cultivo da carne, área totalmente nova da ciência, abre um um leque imenso de oportunidades para todos, mas certamente ainda tem um longo caminho a percorrer. Essa é a melhor parte: continuaremos trabalhando em conjunto, de forma colaborativa e com empatia, representando todos para encontrarmos uma solução”., finaliza Anna.
Sobre a Carne Cultivada
A diferença dessa nova forma de se produzir carne está no processo de obtenção do alimento final. Do jeito tradicional, a produção é feita por meio da criação, reprodução e abate dos animais. Já a carne cultivada é produzida por meio de uma amostra inicial de célula animal, que depois é inserida em um biorreator onde são alimentadas com uma mistura de ingredientes que permite que as células cresçam e ganhem estrutura.
SERVIÇO
Inscrições: 9 de outubro de 2020
Acesse: http://tiny.cc/AgriculturaCelular
Aulas: 13/10, 27/10, 03/11, 10/11 e 17/11 das 8h30 às 12h30.
Modalidade: à distância
Carga Horária: 30h
Idioma: Inglês
Quem pode se inscrever: qualquer pessoa com diploma de nível superior
Tire suas dúvidas: ppgcv.ufpr@gmail.com
O TechStart Food, que acelera mais de 15 projetos ao ano no setor de alimentos, ajuda a construir o futuro da alimentação através do fomento ao empreendedorismo. O programa de aceleração de startups trabalha para catalisar a inovação tecnológica por meio da geração de conhecimento específico para os diversos setores da cadeia produtiva como alimentos, ingredientes e bebidas e embalagens.
Por trás do projeto, estão três hubs de inovação: Venture Hub, Food Ventures e Conexão.f. Em parceria com o The Good Food Institute, oferecem conhecimento, experiência, redes de contatos e oportunidades de investimento às startups. Esse tipo de apoio é útil a empresas e projetos nascentes que buscam crescer rapidamente e desenvolver soluções para os atuais desafios da indústria de alimentos de forma disruptiva e sustentável.
O programa aceita propostas em diversas áreas, para contemplar a pluralidade de oportunidades nesse setor em crescimento. As principais frentes são alimentos feitos de plantas, novos ingredientes e matérias-primas, soluções mais saudáveis e novas formas de consumo, desperdício e sustentabilidade, e também big data, predição de mercado e soluções para embalagens. Uma vez selecionadas as startups, a aceleração ocorre nas áreas de tecnologia, de negócios e relacionamento com parceiros.
As inscrições vão até o dia 27 de setembro.
Para saber mais e submeter sua proposta, é só clicar aqui.
A carne cultivada e à base de plantas são reconhecidas como dois pilares principais da indústria de proteínas alternativas. Contudo, a fermentação está emergindo como uma importante tecnologia para o setor. Novas aplicações da fermentação como fonte primária de proteínas e como facilitador para produtos vegetais ou cultivados mostram uma promessa incrível para o futuro de proteínas alternativas. A fim de destacar o impacto potencial da fermentação, o The Good Food Institute está lançando a primeira análise aprofundada sobre a ciência da fermentação, assim como questões de empreendedorismo, política e investimento.
O relatório analisa as principais formas como a fermentação é usada em proteínas alternativas, o cenário competitivo, aplicações de ingredientes, tendências de investimento, oportunidades de inovação, uma cartilha regulatória, novos gráficos e números.
O que é fermentação e como ela está sendo usada?
A fermentação – uso de fungos, bactérias, micélio, microalgas e outros micróbios como plataforma de bioprodução – tem uma longa história na produção de alimentos. Cerveja, pão fermentado, kimchi e muitos produtos básicos conhecidos existem graças a métodos rudimentares de fermentação. A tecnologia moderna capacitou esses micróbios a criar agentes de processamento de alimentos funcionais e ingredientes como enzimas nas últimas décadas. Por exemplo, a quimosina derivada da fermentação substituiu o coalho (antes originado do estômago de bezerros) como o principal coagulante na produção moderna de queijo. A maioria das pessoas hoje consome regularmente produtos que dependem da fermentação.
A fermentação também já está possibilitando a próxima geração de carnes, ovos e laticínios sem animais, com uma carga ambiental radicalmente menor do que a pecuária. Além das carnes à base de micoproteínas da Quorn, pioneira da indústria, novos produtos como o sorvete da Perfect Day, o ferro heme do Impossible Burger e o bife de Meati estão abrindo uma nova classe de alternativas aos produtos de origem animal industrial.
“Dada a amplitude de aplicações, acreditamos que a fermentação pode resolver muitos dos desafios atuais enfrentados por proteínas alternativas. Por um lado, a fermentação da biomassa pode criar proteínas nutritivas e limpas de uma forma altamente eficiente e de baixo custo. Por outro lado, o potencial da fermentação de precisão para produzir ingredientes de valor agregado, altamente funcionais e nutritivos é muito estimulante e pode revolucionar a categoria à base de plantas ”, disse Rosie Wardle, investidora da empresa de capital de risco CPT Capital.
Com a fermentação se estabelecendo rapidamente como o próximo pilar da indústria de proteína alternativa, o relatório de fermentação do GFI é uma leitura obrigatória para quem deseja entender o futuro dos alimentos. Os destaques incluem:
Thomas Jonas, CEO da Nature’s Fynd, afirma que a indústria estava precisando dessa tecnologia. “Pela primeira vez, alguém articulou uma visão ampla e setorial do espaço e esclareceu os diferentes tipos de fermentações. O trabalho do GFI vai colocar no mapa um fato que as pessoas perderam completamente: a fermentação está rapidamente se tornando a tecnologia número um em termos de investimentos em novas proteínas. O raciocínio é simples: a fermentação é mais eficiente e os mercados odeiam ineficiências.”.
Texto: Nate Crosser and Liz Specht
Desde os anos 1970, com a criação do Programa Nacional do Álcool, o Brasil conhece o valor da bioeconomia. Criado como oportunidade de uso da tecnologia diante da crise global do petróleo, cinquenta anos depois o país se tornou o segundo maior produtor de etanol do mundo e o maior exportador. O nome é novo, mas a ciência é antiga e tem potencial para alavancar outras áreas da economia nacional de maneira sustentável. O tema foi amplamente debatido hoje (11/9), durante o 3º Seminário Virtual da Frente Parlamentar da Bioeconomia com o tema “Amazônia: desafios e oportunidades da inovação e do ambiente de negócios.”
O Vice-Presidente Gen. Hamilton Mourão, que coordena o Conselho Nacional da Amazônia Legal, afirmou em seu pronunciamento o país deve centrar esforços no desenvolvimento da bioeconomia. “O Brasil tem que se apresentar para o mundo como potência agroambiental, ligada exatamente à questão da exploração da nossa biodiversidade. A bioeconomia na Amazônia deve mapear todos os produtos que temos lá, como o açaí, castanha, cacau e óleos vegetais, por exemplo.”.
Mourão afirmou, ainda, que o conselho tem três grandes vertentes de trabalho: proteção, preservação e desenvolvimento da Amazônia. ”Considero que o maior desafio está centrado no desenvolvimento, que requer uma ampla gama de medidas e um debate intenso para buscar o melhor caminho para a exploração econômica das riquezas da diversidade da região.”. Dentre as principais pautas da conselho estão o reforço do combate ao desmatamento e às queimadas; Fundo Amazônia, e a avaliação sobre a retomada de projetos ligados ao fundo que estão parados; recomposição da capacidade operacional de órgãos de fiscalização ambiental; e regularização fundiária.
Bioeconomia
A bioeconomia é um modelo econômico e industrial que utiliza matérias-primas regenerativas em substituição aos recursos fósseis e não renováveis. Dessa forma, não apenas a bioenergia se favorece dela. Com os inúmeros avanços tecnológicos e científicos, atualmente já são produzidos alimentos funcionais e biofortificados, medicamentos, plásticos biodegradáveis e muitos outros produtos e insumos.
Para se ter uma ideia, estudos realizados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico mostram que a bioeconomia movimenta cerca de 2 trilhões de euros e gera 22 milhões de empregos no mundo todo. Até 2030, as expectativas são de que as biotecnologias representarão 80% da produção de fármacos, 50% da produção agrícola e 35% dos produtos químicos. A pesquisa afirma, ainda, que 2,7% do PIB dos seus Estados-membros virão da bioeconomia. Nos Estados Unidos, já representa 5% do PIB, segundo informações das Academias de Ciências, de Engenharia e de Medicina.
Esse percentual tem potencial para ser ainda mais representativo em países como o Brasil, que tem uma grande biodiversidade de fauna e flora. São mais de 100 mil espécies animais e cerca de 45 mil de vegetais, grande parte dela se encontra na Amazônia. “A Amazônia brasileira possui mais de 500 milhões de hectares, 340 milhões ainda intactos; representa 20% da biodiversidade global. É um bioma onde ainda há muito o que descobrir. pois ali uma nova espécie é descoberta ou descrita a cada três dias. A grande questão do debate é: quanto vale a floresta? qual é o valor da floresta em termos de bioativos? Sem dúvida nenhuma é maior do que da floresta deitada, devastada se explorada de forma irracional”, argumentou o presidente executivo da Associação Brasileira de Bioinovação – ABBI, Thiago Falda.
Maurício Adade, presidente do Conselho diretor da ABBI, elencou ações fundamentais para o desenvolvimento de um ecossistema estimulante para a bioeconomia avançada na Amazônia. “Devemos mapear as matérias-primas e biorecursos e desenvolver redes de distribuição e coleta envolvendo as comunidades locais; modernizar os marcos regulatórios para desburocratizar o ambiente de inovação de negócios; incentivar a interação entre a academia e o setor público, com especial atenção à pesquisa aplicada para exploração sustentável da biodiversidade local; criar mecanismos para atração de investimentos e empresas de produtos de base biológica; estimular a criação de mecanismos para participação de produtos de base renovável e soluções de baixo carbono no mercado nacional e que permitam a competitividade desses produtos no exterior”.
Diante desse potencial, um plano para implementar medidas de desenvolvimento de bioeconomia na região está em construção. O foco das atividades econômicas atuais ainda são as commodities que, apesar de atrativas por serem produzidas em larga escala, têm valor agregado baixo. Se explorados de forma sustentável, os recursos naturais amazônicos podem ter um impacto positivo transformador na economia do país e na preservação do bioma. Por meio de investimento em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias a partir dos conhecimento acumulados por anos pelas instituições científicas locais, é possível desenvolver novos produtos alimentícios e farmacêuticos que podem tornar o país referência mundial nessas áreas.
De acordo com o diretor executivo do The Good Food Institute, Gustavo Guadagnini, a indústria de proteínas alternativas tem muito a ganhar com o desenvolvimento de produtos e novos ingredientes de alto valor agregado na região amazônica que utilizam a biotecnologia. “O Brasil tem uma biodiversidade única, por isso também temos inúmeras possibilidades de gerar ingredientes inovadores com base em todas essas espécies de plantas amazônicas. O GFI acredita que uma agenda de bioinovação focada na região amazônica será um dos ingredientes essenciais para uma receita de sucesso na qual o Brasil poderá liderar globalmente a indústria de proteínas alternativas”, afirmou Gustavo.
A ação integrada entre os agentes econômicos, científicos e de governo é outro fator importante para que o país assuma esse papel de liderança. Cada vez mais os produtores, indústria, governos e cientistas se unem para elaborar soluções que permitam o aumento da produção global de proteínas de forma mais sustentável. Dentre as ações possíveis podemos citar melhorias nas práticas de manejo, estudos para aumento sustentável de produtividade no campo e implementação de novas tecnologias agrárias como monitoramento de plantações por drones, agricultura de precisão e fazendas verticais. O desenvolvimento de novas fontes de proteínas é outra solução que surge na construção desse novo panorama da alimentação. Por isso a indústria de proteínas alternativas surge com tanta força: é um dos caminhos necessários para o futuro da alimentação no mundo.
“Para uma reviravolta completa na Amazônia, é necessário financiar uma revolução disruptiva de ciência e tecnologia. O objetivo é criar novos caminhos de desenvolvimento econômico e social a partir dos recursos biológicos da região – esse é um discurso que nos une a todos. O resultado será a descoberta de um mundo de oportunidades que transformam os recursos ecossistêmicos amazônicos e sistemas agroflorestais em artigos altamente valiosos através da bioindustrialização, muito mais rentáveis e socialmente inclusivos do que o caminho que nós cursamos nos últimos 50 anos na Amazônia”, concluiu o cientista e meteorologista, Carlos Nobre.
Desde seu início em 2018, o programa de bolsas de pesquisa do GFI concedeu mais de US$ 7 milhões a projetos em todo o mundo. Financiadas inteiramente por nossa família de doadores, as pesquisas abrangem o campo de proteínas alternativas, desde o melhoramento de safras e formulação de produtos para carne vegetal ao desenvolvimento de linha celular e aumento de escala de bioprocessos para carne cultivada.
No GFI, entendemos que o futuro da alimentação está ligado ao avanço do setor de proteínas alternativas, um segmento baseado em inovação tecnológica, com desafios específicos. Para vencê-los, financiamento para pesquisa científica é fundamental.
Por meio do conhecimento de ponta e de livre acesso tornaremos o alimento do futuro uma realidade, e todos que quiserem fazer parte da construção de soluções para esse setor, devem ter a oportunidade de contribuir com sua expertise.
Por esse motivo, com o apoio da nossa família de doadores, estamos lançando duas novas oportunidades de financiamento para pesquisa científica, abertas para aplicação durante o ano todo. A possibilidade de submeter propostas ao longo do ano vem em resposta à necessidade de formas de financiamento que sejam mais ágeis e flexíveis, acompanhando o ritmo de inovação das pesquisas no setor. Essas novas iniciativas complementam nosso Edital de Pesquisa GFI anual, que está recebendo submissões para a edição de 2021.
Conheça mais sobre as novas oportunidades de financiamento:
White Spaces Collaborations: Este financiamento é direcionado para pesquisas no tema: “Mapeamento do secretoma de mioblastos, adipócitos e outras células animais usados na carne cultivada”. Os projetos devem apresentar duração máxima de 12 meses, com orçamento máximo de US$ 100.000. As propostas podem ser enviadas até 20 de outubro de 2020.
Exploratory Grants: Financiamento de projetos experimentais e trabalhos exploratórios que podem levar a grandes avanços científicos. Os projetos não devem exceder 6 meses de duração, com financiamento de até US$ 50.000. As inscrições são aceitas o ano todo.
Se a sua proposta não se enquadra em nossas oportunidades de financiamento, explore nosso banco de dados com outras fontes de incentivo. Caso conheça outras opções, também é possível cadastrá-las.
Caso tenha alguma dúvida sobre o financiamento de sua pesquisa, entre em contato com nossa equipe de ciência e tecnologia pelo e-mail ciencia@gfi.org, ou diretamente com a equipe de gerenciamento de concessões pelo e-mail research_grants@gfi.org.
A pesquisa e o desenvolvimento de novos negócios na área de alimentos no estado do Amazonas acabam de ganhar um importante incentivo. Por meio de um termo de cooperação técnica, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Amazonas (SEDECTI) e o The Good Food Institute (GFI) estabeleceram um plano de trabalho para dar suporte e articular a criação de um ecossistema que atraia investimentos e fomente a inovação no setor de proteínas alternativas no estado.
As ações devem ocorrer no âmbito dos Programas Estruturantes Bioeconomia Amazonas e Ciência, Tecnologia e Inovação. Para a secretária executiva da SEDECTI, Tatiana Schor, a parceria com o GFI Brasil direciona um olhar para o futuro. “A diversificação da matriz econômica, tendo a bioeconomia como estratégia de desenvolvimento econômico sustentável e socialmente justo, implica em incorporar nos processos de produção de ciência, tecnologia e na política industrial do Estado, as alternativas de ponta. A parceria trará essas alternativas para os nossos pesquisadores, vai gerar debates no ambiente acadêmico e criará redes de cooperação. Ao mesmo tempo, fortalecerá a política industrial, atraindo indústrias de insumos, em especial para as proteínas alternativas”, comentou a secretária.
“O trabalho na região amazônica é de extrema importância para que o Brasil possa competir de forma consistente num mercado consumidor que cada vez mais exige sustentabilidade nas suas inovações.” explica o diretor executivo do The Good Food Institute, Gustavo Guadagnini. O investimento em proteínas alternativas vai ao encontro dessa nova demanda dos consumidores e diversifica a economia do estado de forma sustentável.
As atividades em conjunto têm como foco desenvolver um ambiente fértil de pesquisa, desenvolvimento e produção de substitutos aos produtos de origem animal, envolvendo alimentos baseados em vegetais, algas, fungos ou obtidos por multiplicação celular, assim como seus ingredientes. Serão realizadas ações visando engajar atores do setor e envolver interessados em integrar esse espaço, viabilizando novos negócios. Além disso, as duas instituições trabalharão para o fortalecimento da pesquisa e desenvolvimento na área, possibilitando a criação de novos produtos.
A colaboração visa utilizar as potencialidades da região para promover seu desenvolvimento e atingir também os mercados internacionais. “Um dos grandes motivos que tornam o Brasil extremamente competitivo no cenário global de proteínas alternativas é a nossa biodiversidade. Temos uma infinidade de novos ingredientes e novos sabores que ainda podem ser desenvolvidos a partir de nossas riquezas naturais para suprir o mundo todo com soluções inovadoras para o mercado de alimentos.” afirma Guadagnini.
O diretor de políticas públicas do GFI Brasil, Alexandre Cabral, acredita que o país ainda não explorou de contundente as possibilidades oferecidas pelos ingredientes oriundos da biodiversidade brasileira, em especial do bioma amazônico. “Empresas de alimentos de diversos tamanhos vêm lançando seus produtos em parceria com grandes empresas de ingredientes. Podemos desenvolver novos ingredientes que incorporem ‘brasilidade’ aos produtos desenvolvidos aqui e no exterior. Desenhando as cadeias de plantio e extração com foco no desenvolvimento econômico local podemos trazer novas perspectivas de trabalho e renda para as populações envolvidas”, justifica Cabral.
Os benefícios da parceria vão além do desenvolvimento econômico. Para Tatiana Schor, é também uma oportunidade de criar estratégias de conservação do bioma amazônico. “No futuro, a carne cultivada de animais silvestres pode significar uma redução drástica na caça de animais que estão hoje ameaçados de extinção”, idealiza Tatiana. “Isso significa permitir que o retorno a um “cardápio amazônico” possa acontecer sem agredir o meio ambiente e ao mesmo tempo gerar renda que pode ser revertida para processos de preservação das espécies envolvidas”, conclui Alexandre Cabral.
O evento organizado pela Embrapa é o único no país a abordar o uso da água, focando na relação entre esse recurso natural e a produção de proteína animal. Esse ano, especialistas abordarão o futuro da alimentação através da carne cultivada e seus impactos em sustentabilidade, saúde humana e bem estar animal. Entre eles, o diretor do The Good Food Institute, Gustavo Guadagnini, discutirá o futuro do consumo de carne, e a professora Carla Molento da UFPR divulgará resultados de sua pesquisa sobre a percepção dos brasileiros sobre carne cultivada. Além disso, disponibilidade e escassez de água e os efeitos do consumo de água no bem estar animal também serão abordadas esse ano.
O evento é uma oportunidade para profissionais da área, pesquisadores e interessados no assunto de se informarem sobre o contexto atual dos recursos hídricos no país, seus desafios e soluções que estão sendo desenvolvidas.
O evento é gratuito e acontece online nos dias 22 e 23 de Outubro. As inscrições são feitas através do site da Embrapa.
Foi há pouco mais de um ano que a startup Fazenda Futuro lançou o primeiro hambúrguer feito à base de plantas no Brasil. Na época, causou estranheza e curiosidade. Agora, a maior variedade de produtos, o refinamento do sabor e queda no preço ajudaram a levar a carne “plant-based” para a mesa de mais pessoas. Com isso, o mercado caminha para um período mais maduro e amplo, enquanto novas empresas miram no prato do brasileiro.
Segundo dados divulgados pelo Grupo Pão de Açúcar, os hambúrgueres vegetais representam 1/3 da venda bruta total dos hambúrgueres congelados comercializados nacionalmente nas lojas. Enquanto isso, uma pesquisa da Dupont indica que 67% dos brasileiros possuem interesse em produtos de origem vegetal.
Além disso, os próximos passos são promissores. A consultoria AT Kearney prevê que, em 2040, o mercado de carnes será dividido em 40% de carne convencional, 25% de carne vegetal e 35% de carne cultivada, uma tecnologia nova que deverá ter os primeiros produtos lançados nos próximos anos. “É um mercado em franco crescimento”, resume Raquel Casseli, gerente de engajamento corporativo do The Good Food Institute Brasil.
Com esses bons números, o mercado começa a ficar agitado. A pioneira Fazenda Futuro, por exemplo, expandiu seu catálogo de produtos. Além do já tradicional hambúrguer, a empresa também vende carne moída, almôndega e linguiça. Tudo à base de plantas. E além disso, quebrou as barreiras das fronteiras. A empresa já chegou no Reino Unido, Alemanha e Holanda — na terra dos moinhos, aliás, já são mais de 40 pontos de vendas.
Além disso, há cerca de um mês, a Future Farm — como é conhecida fora do Brasil — recebeu autorização para ser comercializada nos Estados Unidos pela FDA, a Anvisa local.
“Assim como o Brasil é um dos maiores exportadores de carne, temos a obrigação de sermos uma exportadora de carne de planta”, afirma Marcos Leta, fundador da Fazenda Futuro. “Nós temos o diferencial, também, de termos acesso direto aos ingredientes aqui do Brasil. Muitas empresas de ‘plant-based’ importam daqui. Isso acaba nos tornando muito mais competitivos na Europa. Conseguimos chegar próximo ao preço da carne animal”.
Mas, como qualquer mercado em crescimento, outras empresas não querem deixar a Fazenda Futuro se divertir sozinha. Primeiramente, a chilena NotCo. Após o leite, sorvete e até maionese à base de plantas, a startup entrou no mercado de carne. Para isso, a empresa abriu um restaurante em São Paulo para servir via iFood. No cardápio, produtos como sanduíches e petiscos. Venderam em uma semana o que esperavam vender um mês.
“O mercado cresceu muito desde o ano passado no Brasil, com a entrada de novas marcas e de grandes empresas lançando suas linhas a base de plantas”, conta Luiz Augusto Silva, presidente da NotCo no Brasil. “Hoje é possível encontrar uma variedade de alimentos plant-based, que pretendem substituir produtos de origem animal. Em todo o mundo há uma tendência de crescimento do mercado e de diminuição do consumo de carne animal”.
Para completar a trinca de empresas, tem a Beyond Meat. Sensação no mercado dos Estados Unidos, a companhia produz cerca de 1.200 toneladas por mês e faturou US$ 113 milhões no último trimestre. Agora, chegou ao Brasil por meio das 19 lojas da rede de supermercados St. Marchée. O preço, por enquanto, é salgado: a caixa com dois hambúrgueres custa R$ 65,99 e a carne moída (em um pacote de menos de 500g) tem um custo de R$ 99,90.
“Nossa entrada no mercado brasileiro marca um passo importante para promover nossa missão de aumentar a acessibilidade à carne de origem vegetal em todo o mundo”, afirmou Ethan Brown, CEO da Beyond Meat, por meio de comunicado enviado para a imprensa. “Como o terceiro maior mercado do mundo em termos de consumo de carne animal, o Brasil oferece uma oportunidade significativa para a adoção de carne à base de plantas.”
Questionado sobre a entrada de tantos competidores num mercado antes solitário, Marcos Leta deixa claro: atualmente, a Fazenda Futuro tem os frigoríficos e o mercado de carne animal como concorrentes. Afinal, no Brasil, este é um mercado de mais de R$ 200 bilhões ao ano. “Como tornar cada vez mais os frigoríficos obsoletos? Queremos entregar o que o consumidor ama comer, sem gastar tantos recursos naturais — e sem matar um boi”, disse.
Para especialistas e outros nomes do mercado, essa competição e o avanço das empresas brasileiras é extremamente positivo para todo o setor. “Os players vão chegar e essa movimentação demonstra exatamente essa força que o mercado tem”, ressalta Ricardo Laurino, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira. “E vai haver disputa. Não só no mercado da carne vegetal, mas também na disputa com as carnes animais. Isso é claro”.
O Burger King foi uma das primeiras redes de fast food a adotar o hambúrguer à base de plantas em seu cardápio com o Rebel Whopper. Segundo a empresa, desde outubro de 2019, quando o produto foi oficialmente lançado em todo o País, foram vendidos mais de 1,5 milhões de unidades do sanduíche nacionalmente. Um número que representa, no total de vendas, cerca de 6% da representatividade da família Whopper em todo o Brasil.
“A proposta do Rebel Whopper é focar no público flexitariano, que são pessoas que comem carne, mas buscam reduzir o consumo da proteína animal”, compartilha Thais Souza Nicolau, diretora de marketing e inovação do BK no Brasil em entrevista ao Yahoo Finanças. “Os hambúrgueres à base de planta são uma tendência global. Nós já estávamos de olho no mercado e seguimos nesse mesmo movimento, sempre avaliando possibilidades”.
Luiz Augusto Silva, presidente da NotCo no Brasil, relembra um aspecto importante: melhorar cada vez mais o sabor. “Comemos os alimentos que comemos porque eles nos dão prazer. Esse é o ponto que deve ser preservado na relação com a comida”, diz. “Mudamos a forma de produzir o alimento, mas sem mudar a experiência do consumidor”.
Foto: divulgação
Um dos principais compromissos do The Good Food Institute é compartilhar conhecimento de acesso aberto a inovação científica e tecnológica. Por isso, desde maio deste ano (2020), realiza a série de webinars Proteínas Alternativas: Ciência e Tecnologia. Na edição de agosto, que acontece no dia 31, das 14h às 15h15, a professora Dra. Ana Carla Sato, que é pesquisadora da Unicamp, vai apresentar as estratégias para a melhoria das funcionalidades das proteínas vegetais. O webinar é gratuito e será ministrado em português pela plataforma Zoom. Faça a sua inscrição!
Passados quase cinco meses de isolamento social, fica evidente que o mundo como conhecemos não será mais o mesmo. Estamos diante de um fato histórico que determinará a forma de organizar e manter a vida neste planeta. Evidentemente, desafios antigos permanecem e se intensificam diante de um problema que afeta a todos, direta ou indiretamente. Dentre eles o de como alimentar de forma segura quase 10 bilhões de pessoas até 2050 em um cenário onde 820 milhões já passam fome. O que vamos comer e como vamos produzir esses alimentos?
Segundo estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU) será necessário aumentar a produção de alimentos em 70% para que todos tenham acesso à comida. Essa nova realidade impacta especialmente a demanda por carne, que exigirá a criação de ainda mais animais. Para que isso seja possível, muitas vezes é necessário confiná-los em espaços pequenos, pouco arejados e sem espaço para movimentação adequada. O número de animais em proximidade, com contato entre diferentes espécies e as condições citadas, favorecem a transmissão de patógenos entre espécies, podendo levar a eventual transmissão dessas doenças para seres humanos.
O Covid-19 surgiu devido ao consumo e comercialização de animais silvestres, assim como a AIDS, Ebola e outras pandemias. Ao mesmo tempo, há patógenos que surgem nas produções de animais para consumo, como é o caso da gripe aviária, gripe suína e da gripe espanhola. De acordo com a OMS, 60% das novas doenças infecciosas se originaram em animais. Esse mesmo estudo ainda cita que a produção de alimentos tem sido uma das mais importantes rotas de transmissão dessas doenças, também pelo uso intensivo de antibióticos na produção animal.
Por fim, ainda há um grande risco de insegurança alimentar (falta de comida) associado às pandemias animais. No ano passado, a Peste Suína Africana dizimou populações de porcos na China, fazendo com que esse país tivesse que comprar alimentos no exterior, o que gerou aumento do preço da carne no mundo todo, inclusive no Brasil. De acordo com o jornal britânico The Guardian, mesmo abatendo todos os porcos vivos no mundo não seria possível suprir a demanda chinesa, tamanha foi a falta de carne causada pela pandemia animal. Em maio de 2020, a Índia já havia reportado mais de 11 surtos da mesma doença, que no momento está sendo considerada o maior impacto na produção de proteína global (maior do que o Covid-19, mesmo tendo acontecido no mesmo período).
Por isso, cada vez mais os produtores, indústria, governos e cientistas se unem para elaborar soluções que possam permitir o aumento da produção global de proteínas de forma mais sustentável do ponto de vista ecológico e, acima de tudo, sem colaborar para o desenvolvimento de novas pandemias, seja em humanos ou animais. Dentre os possíveis podemos citar melhorias nas práticas de manejo, estudos para aumento sustentável de produtividade no campo, implementação de novas tecnologias agrárias e, também, o desenvolvimento de novas fontes de proteína. Por isso a indústria de proteínas alternativas surge com tanta força: é um dos caminhos necessários para o futuro da alimentação no mundo.
Essa indústria não tem mais como objetivo atender somente uma demanda de nicho do mercado vegetariano. O objetivo agora é entregar alimentos que tenham as características de sabor, aroma e textura daqueles que não consumidos em larga escala, porém produzindo-os por uma tecnologia inovadora. Daí surgem os substitutos vegetais análogos à carne ou mesmo a tecnologia de carne cultivada a partir de células: o objetivo é permitir que as pessoas continuem comendo o que gostam, mas fazer essa comida (ou parte dela) com uma nova tecnologia.
Nessa lógica, o Brasil pode assumir uma posição de liderança global, pois temos tudo o que é necessário para o bom desenvolvimento do setor: um agronegócio forte, estrutura logística para distribuição global de produtos, clima favorável à produção e um enorme capital intelectual ligado à produção de alimentos. Já somos chamados de “o celeiro do mundo”, pois conseguimos desenvolver tecnologias que colocaram nosso agro à frente de outros países. Agora, devemos seguir nesta mesma rota e investir nas tecnologias que serão imprescindíveis para o futuro, garantindo a manutenção de nossa liderança e da competitividade dos negócios brasileiros.
Soluções viáveis já estão em curso e essa é a hora de investir consistentemente para que o agronegócio brasileiro consiga atender à demanda global por novas fontes de proteína e, com isso, liderar o mundo no sentido de alimentar todas as pessoas, minimizar danos ambientais e diminuir a possibilidade de novas pandemias.
Proteínas Alternativas Vegetais
Diferentes instituições de pesquisa brasileiras já estão realizando estudos de viabilidade de outras fontes de proteína e produtos vegetais. A EMBRAPA, por exemplo, está pesquisando sobre a fibra de caju, e proteína de feijão, enquanto a UNICAMP iniciou estudos para a obtenção de proteínas a partir da folha da mandioca. Esses são só alguns exemplos dentre inúmeras pesquisas que já ocorrem em instituições espalhadas por todo o Brasil. Além disso, as maiores empresas brasileiras de carne e alimentos em geral investiram no mercado de proteínas alternativas consistentemente no último ano, juntando-se a uma série de startups que já estavam sendo bem sucedidas no setor.
Por fim, produtores estão aproveitando essa nova tecnologia para expandir seus negócios e criar novas fontes de renda. Essa é a chave para entender o setor de proteínas alternativas: não se trata de uma ameaça ao produtor rural ou às empresas de carne, mas sim de uma oportunidade para rentabilização desses negócios. O produtor que cria gado pode agora plantar grão de bico e se rentabilizar vendendo a proteína que é utilizada como matéria prima da indústria de substitutos vegetais análogos à carne. As cooperativas de leite podem facilmente produzir leite vegetal utilizando pequenas áreas das fazendas para plantação de, por exemplo, aveia ou soja.
Os sinais de uma guinada nessa direção já puderam ser vistos nos primeiros meses da pandemia. Na segunda semana de abril, as vendas de análogos vegetais, que são produtos que mimetizam os de origem animal, subiram 200% nos Estados Unidos em comparação com o mesmo período do ano passado.
Carne cultivada a partir de células
Outra tecnologia que aparece como possível solução para os desafios citados é a chamada “carne cultivada”. Trata-se de uma nova forma de se produzir carne, que chegará em breve ao mercado, com lançamentos previstos para 2021. Utilizando técnicas de reprodução de tecidos, os pesquisadores nutrem as células e fazem com que se multipliquem em um ambiente fabril controlado. No final do processo, a carne obtida é idêntica aquela que consumimos tradicionalmente, mesmo em nível celular. Porém, ao invés de ser produzida pela criação e abate de um animal, essa carne é feita pela reprodução industrial dos tecidos desse animal.
Por ser produzida em ambiente controlado, a tecnologia da carne cultivada diminui a possibilidade de contaminação por microrganismos comuns nas linhas de processamento dos frigoríficos, como a salmonella no frango, por exemplo, ou por questões ambientais, em caso de contaminação por agrotóxicos.
Além de permitir com que o consumidor siga comprando o alimento que gosta e está acostumado, o meio ambiente também sai ganhando: o processo fabril tem impacto ambiental consideravelmente menor, pois consome menos água e demanda menos espaço para entregar o produto final, inclusive em locais nos quais hoje não é possível produzir carne. Por fim, quase não contribui com emissão de gases que aquecem o planeta.
Alimentar um mundo super populoso com recursos finitos se mostrou um dos maiores desafios a ser enfrentado no pós-pandemia. Felizmente, a visão de como fazê-lo e os recursos para viabilizá-lo já se tornaram claros mesmo antes de a pandemia estar sob controle. A construção do mundo em que queremos viver, onde todos tenham acesso à alimentação de forma segura, já começou.
Texto por Gustavo Guadagnini, diretor executivo do The Good Food Institute
O tema das proteínas alternativas vem chamando a atenção de cientistas, empresários, investidores e reguladores públicos no mundo todo. Não seria diferente no Brasil. O que está em pauta é uma reconfiguração do mercado de alimentos, proporcionada por inovações recentes em biotecnologia, aproveitadas pela engenharia de alimentos para desenvolver novos ingredientes e formulações. Como resultado, os produtos que chegam ao mercado têm conquistado cada vez mais consumidores desde os primeiros lançamentos no país em 2019.
O êxito deve-se, sobretudo, pela capacidade da indústria em inovar na produção de alimentos análogos de base vegetal que proporcionam a mesma experiência dos produtos de origem animal quanto ao sabor, aroma e textura. O setor também trabalha para agregar ainda mais valor aos produtos por meio de preço competitivo e conveniência. Essas estratégias atingem em cheio as expectativas do flexitariano, consumidor que deseja reduzir o consumo de alimentos de origem animal, sem interrompê-lo por completo, mas mantendo seus hábitos alimentares. Boas estratégias de marketing também souberam associar características de qualidade, segurança do alimento e sustentabilidade a esta nova categoria de produtos. Basta observar a utilização de termos como “sem colesterol”, “feito de plantas”, “100% vegetal”, entre outros, presentes nas embalagens e nas campanhas das marcas.
No mesmo campo de debate, encontram-se as possibilidades prometidas pelos produtos obtidos a partir de multiplicação celular, apontando disrupções importantes nos setores de carnes, ovos, pescados, leite e seus derivados. Soma-se a isso os riscos econômicos da necessidade de abate de rebanhos inteiros em decorrência dos surtos recentes causados pelos vírus da família HxNx e os danos à saúde pública decorrentes desses eventos.
Estes elementos apontam que não é mais o caso de pensarmos em “se”, mas “quando” e “em que medida” os alimentos baseados em proteínas alternativas serão uma alternativa real em suas diversas modalidades para o consumidor. Esse será o momento onde poderemos entender o quanto será reconfigurado o mercado de proteínas de origem animal para consumo humano a partir desse processo de inovação.
Mapeamentos recentes no Brasil e no mundo já apontam algumas tendências. Uma delas é o volume crescente de investimentos em startups, ao mesmo tempo determinante e determinado pelo aumento do número de novas empresas ano a ano. Outra tendência é a montagem de unidades de negócio de proteínas alternativas nas empresas já em atividade no mercado da proteína animal, inclusive nas de grande porte. Por fim, parece clara a mobilização e a especialização da cadeia de ingredientes para atender a demanda destes novos negócios.
O debate sobre as proteínas alternativas ganha força no momento atual. Assim como os biocombustíveis e a química de renováveis durante a primeira década deste século, a discussão sobre as tecnologias envolvidas e sua entrada no mercado dependem de fatores como investimentos, reações dos atores econômicos atuais, regulação e apoios governamentais. Há desafios muito semelhantes.
Primeiramente, o de tornar o produto final competitivo em custo e acesso em relação aos produtos de origem animal, entregando uma experiência sensorial e de sabor semelhantes. O desafio envolve a execução em larga escala de um processo produtivo baseado em uma nova tecnologia e a solução das questões técnicas e econômicas relacionadas a esse volume de produção.
Em seguida, a necessidade de um marco regulatório favorável à inovação, fundamental para um ambiente de negócios saudável e atrativo. Se no caso dos biocombustíveis os agentes econômicos anteriores atuavam no passado sobre marcos regulatórios e mecanismos de benefícios fiscais consolidados durante décadas, o mesmo ocorre com as proteínas alternativas hoje em dia. A demanda pela atualização do marco regulatório para produtos a base de plantas e obtidos por fermentação e a criação de um marco regulatório para produtos obtidos por multiplicação de células, tanto em âmbito nacional (pelas agências regulatórias de cada país) quanto internacional (no Codex Alimentarius) está colocada e é uma necessidade natural advinda de uma inovação disruptiva dessa magnitude.
Por fim, o desafio de definir a melhor estratégia de negócios na transição da fase de demonstração do produto para a produção e comercialização efetiva. O desenho de negócios, especialmente o investimento em plantas produtivas e estruturas de distribuição, é fortemente afetado pelo grau de maturidade das tecnologias capazes de entregar os produtos desejados. Neste sentido, algumas empresas de carne cultivada tem optado por inicialmente desenvolver análogos de carnes raras de baixo volume e alto valor de mercado. Exemplo semelhante ocorreu com a recomendação para o setor de biocombustíveis e química de renováveis considerar a produção de especialidades em vez de commodities durante o processo de escala de produção.
Como procuramos demonstrar, há paralelos importantes entre o momento atual do setor de alimentos feitos a partir de proteínas alternativas e o cenário do setor de biocombustíveis e química de renováveis no início deste século. Entre os aprendizados mais relevantes que podem ser trazidos de um cenário para o outro está a necessária capacidade de adaptação dos modelos de negócio e suas cadeias produtivas. Isso implica em diversificar as opções tecnológicas, antecipando e mitigando eventuais falhas ou mudanças de percurso durante o processo de escala. Além disso, desenvolver uma cadeia de fornecimento robusta em vez do desenho de negócios verticalizados pode ser uma opção capaz de minimizar a necessidade de investimentos fixos e ao mesmo tempo ajudar a lidar com variações inesperadas de preço dos produtos análogos, operados hoje dentro das regras dos mercados de commodities.
O Brasil pode se tornar protagonista no cenário atual das proteínas alternativas, desenvolvendo novas cadeias produtivas no setor de alimentos, intensivas em tecnologia e de alcance global. Os alimentos de base vegetal e os obtidos por multiplicação celular representam uma enorme oportunidade para produtores, empresários e o setor produtivo como um todo. O futuro da alimentação passa por pensarmos o alimento do futuro sob a ótica da bioinovação.
Autores
Raquel Casselli – Comunicadora Social, especialista em Sustentabilidade e gerente de Engajamento Corporativo no The Good Food Institute Brasil
Alexandre Cabral – Sociólogo, Mestre em Propriedade Intelectual e Inovação, assessor de políticas públicas no The Good Food Institute Brasil
Texto originalmente publicado no site da ABBI – Associação Brasileira de Bioinovação