A proteína está passando por um momento “zeitgeist”, e não é difícil entender por quê: os consumidores estão cada vez mais conscientes de que de onde nós obtemos nossa proteína tem implicações enormes para a saúde pessoal, pública e planetária.
No The Good Food Institute, somos focados no apoio a cientistas, empreendedores e startups que estão procurando produzir proteína de uma nova maneira. Mas se você está lendo isso e não tem uma ideia de empresa ou diploma em Biologia Vegetal, talvez esteja se perguntando o que pode fazer no seu dia a dia para melhorar nosso sistema alimentar.
Clean Protein (Proteína Limpa), o novo livro do diretor executivo da GFI, Bruce Friedrich, e da autora de best-sellers do New York Times, Kathy Freston, é o seu guia prático para se alimentar bem ao fazer o bem.
[Você pode encomendar a sua cópia do livro Clean Protein aqui!]
Eu me sentei com Bruce e Kathy para trazer a você insights sobre o livro Clean Protein e o que você pode fazer para participar da solução sobre a proteína.
Aproveite!
Vamos começar pelo começo. O que motivou vocês dois a escrever o livro Clean Protein (Proteína Limpa)? Qual foi a premissa?
Kathy: Proteína é um tema polêmico em conversas de consumidores preocupados com a saúde, bem como daqueles que estão preocupados com a segurança alimentar à medida que enfrentamos um aumento sem precedentes na população global. Mais frequentemente, essas conversas partem da premissa de que a proteína e carne animal são sinônimos. Isso não é apenas falso – é uma inverdade que nos impede de responsabilizar as pessoas por suas dietas e criar um suprimento de alimentos que seja igualmente bom para as pessoas e para o planeta.
Bruce e eu acreditamos que as inovações que descrevemos no livro são complementos vitais à questão polêmica da produção de proteínas e do futuro dos alimentos.
Conte-nos! O que exatamente são essas fontes de proteína novas e aprimoradas? Como vocês definem proteína limpa?
Kathy: Quando falamos de proteína limpa, falamos de três coisas: na maioria das vezes nos referimos a alimentos vegetais integrais, como feijões, grãos integrais, nozes e sementes. Mas também estamos falando de carne vegetal, ou seja, carne feita a partir de vegetais, como o que a Tofurky, a Beyond Meat e a Impossible Foods estão fazendo.
[Veja que deliciosa a sopa de “frango” na foto lá em cima, à la Tofurky!]
E finalmente, nós descrevemos um capítulo sobre a carne limpa. Carne limpa, na verdade, é uma carne animal, mas produzida pelo crescimento de células animais fora de um animal, em vez de dentro de uma fazenda industrial e de um matadouro.
A carne pode ser cultivada sem animais, antibióticos ou contaminação bacteriana que vem da pecuária industrial.
Bruce: Essas três formas de proteínas são limpas por mais de uma razão. Para começar, elas são literalmente mais limpas do ponto de vista de saneamento básico, em comparação aos produtos produzidos em fazendas industriais sujas e superlotadas. Mas elas também são limpas de forma semelhante à energia limpa: elas reduzem drasticamente a pegada de carbono e o impacto ambiental da produção de proteína em comparação à atividade pecuária. Por fim, é uma fonte de energia mais limpa para abastecer nossos corpos, com as fibras e vitaminas de que nosso intestino precisa, sem o excesso de gordura saturada e colesterol.
Qual é uma das suas histórias favoritas do livro Clean Protein que ilustra quão excitantes foram os recentes desenvolvimentos na área?
Bruce: Eu nunca vou esquecer quando divulgaram a notícia de que a Tyson, uma das maiores empresas produtoras de carnes do mundo, comprou uma participação da startup de proteína completamente à base de vegetais, Beyond Meat. Em seguida, a Cargill investiu na empresa de carne limpa Memphis Meats. Vendo a velha guarda abraçar o futuro da comida e começar a se transformar de dentro para fora – essas são as histórias que eu adorei contar no livro Clean Protein, e aquelas que eu acho que melhor ilustram o momento crucial da história quando se trata do nosso sistema alimentar.
Kathy: Embora o livro Clean Protein tenha chegado às prateleiras no início do ano, as notícias de investimentos e novas histórias de apoio à indústria continuaram desde a publicação, com um grande produtor de aves da UE apoiando a empresa de carne lima israelense SuperMeat, e o maior produtor de carne do Canadá comprando duas empresas de carnes vegetais nos EUA!
Passamos muito tempo na GFI trabalhando no lado da oferta de proteína limpa. O que você está vendo em relação à demanda do consumidor que está impulsionando o crescimento de carne limpa e à base de vegetais?
Kathy: Empresas de carnes convencionais não estão comprando carne limpa e à base de vegetais como um ato de boa vontade. É o que os consumidores estão pedindo: uma opção mais saudável, deliciosa e familiar. Além disso, as empresas estão vendo a gravidade da situação: a pecuária industrial é um sistema que está em ponto de ruptura. É ineficiente, ambientalmente devastador, perigoso para a saúde pública e um pesadelo para os animais. A proteína limpa é uma solução elegante para todos esses problemas. Até mesmo o CEO da Tyson, Tom Hayes, prevê que em 25 anos, cerca de 20% das carnes serão limpas ou à base de vegetais – uma afirmação que alguns especialistas do setor esperam que seja uma estimativa baixa.
Bruce: Os consumidores querem proteína de alta qualidade, de fontes sustentáveis e humanas, e a indústria está tomando nota.
Qual é a coisa mais valiosa que alguém poderia fazer para apoiar a transição do nosso suprimento de alimentos da carne da pecuária para a proteína limpa?
Kathy: O livro Clean Protein é um guia para ajudar exatamente nisso! Então eu começaria dando uma lida, dando uma chance a uma das receitas, e compartilhando aquela refeição e o livro com um amigo!
Na verdade, todos têm o poder de levar o sistema alimentar para as proteínas limpas e para longe da pecuária industrial, ao simplesmente colocar mais proteínas vegetais no prato e mostrar à indústria de carne que as pessoas querem opções mais saudáveis e sustentáveis.
Escrito por Emily Byrd. Traduzido por Fernanda Onça. Texto original pode ser acessado aqui.
A Impossible Foods acabou se tornar a startup de proteínas alternativas mais financiada até hoje.
O anunciamento dessa semana em que a empresa arrecadou um adicional de $114 milhões traz o total da Impossible para quase $400 milhões – contribuindo com seus planos em transformar toda a indústria de carnes.
Nós estamos empolgados em trazer para você esta redação da convidada Dr.a. Marianne Ellis, Professora Associada a Unidade de Pesquisa em Bioprocessamento do Departamento de Engenharia Química na Universidade de Bath, e co-fundadora da Celullar Agriculture Ltd. A pesquisa da Dr.a. Ellis é focada em design de bioprocessos para aumento de escala na produção de carne limpa.
– – –
No século 21, pessoas ainda morrem de fome. Isso não deveria acontecer. Nós podemos usar tecnologia da agricultura celular para produzir comida, mesmo em terras inférteis.
Vamos pegar o exemplo da Turkana, no norte da Kenya, com uma população de 85.000 pessoas. De acordo com a Humanitarian Response e a Agência de Refugiados da ONU, 17,2% das pessoas nessa região estão criticalmente destrnutidas e outros 3,9% estão severamente desnutridas. Vinte e dois porcento das crianças possuem crescimento atrofiado. Deficiência de ferro e vitamina B-12 são especificamente altas e estão diretamente ligadas a falta de consumo de carne na região. Espera-se que o número de refugiados no Campo de Kakuma aumente significamente nos próximos 10 anos, aumentando muito mais ainda esses problemas.
Agora imagine uma construção na beira de um campo. Ela é do tamanho de seis containers de navios estacados em três camadas para cima, cobertos por painéis solares. Atravesse a pequena porta e em frente a você está uma série de tubos horizontais. Esses são bioreatores gerando célulares musculares – um produto inteiramente proteíco e que é uma forma de carne limpa.
Atrás desses bioreatores, você vê várias unidades de filtração e tubos, mas a construção é até quieta, com apenas um leve zumbido da água que é reciclada. O segundo andar é o laboratório que processa o produto, enquanto a sala de secagem está no último andar, aquecida por raios solares.
Voltando lá fora, você vê um mercado, vendendo nas sessões de comida as proteínas da instalação, assim como outras mercadorias locais. A construção – carinhosamente conhecida como CALpod (casulo da Cellular Agriculture Lifecycle) –já se tornou um ponto de foco para os negócios rotineiros da comunidade.
Eu imagino CALpods integrados em uma larga variedade de regiões. O produto exato vai depender da região, preferências culturais, e dietas. Com a tecnologia dos dias de hoje, um CALpod poderia produzir proteínas em pó que ficam estavelmente nas prateleiras (similares aos pacotes já distribuídos no Campo de Kakuma). Com os próximos avanços da tecnologia e de distribuição de redes – exemplo, refrigeração – produtos mais pertos e assemelhando-se mais ainda da carne poderiam de fato serem produzidos e vendidos.
Assim que a instalação já estiver no lugar, uma série de fazendeiros, produtores, fornecedores, e distribuidores vão ser formados, criando uma economia sustentável local construída ao redor de um processo ambientalemente sustentável. Nós podemos imaginar os benefícios sociais que isso poderia trazer: escolas e educação, futuros trabalhos, saúde melhor e qualidade de vida.
Não existe uma bala de prata para atingir segurança alimentar global, é claro. Diversificar nossos métodos de produção de comida é a melhor forma de atacar as iminentes mudanças sociais e climáticas. Minha visão para usar os CALpods é uma forma de fazer isso, atingindo quase todos os objetivos do plano da ONU para um futuro sustentável. Eu não estou iludida que essa visão será fácil de atingir – os desafios técnicos, financeiros e sociais são significantes. Mas uma forte dose de otimismo com uma saudável gota de realismo signifca, para agora, que eu estou sonhando com agricultura celular como quem vai permitir um futuro melhor para todos os seres vivos, em qualquer lugar que estejam no Planeta Terra.
Você pode aprender mais sobre o trabalho de Dr.a. Ellis’s aqui.
Traduzido por Felipe Krelling. Texto original pode ser visto aqui.
No dia 16 de maio, será realizado o primeiro encontro do Foodtech Movement, no Centro Ahoy de Inovação, em São Paulo. A agenda do evento trará alguns dos principais atores envolvidos na cadeia de produção do alimento para discutir a respeito dos desafios existentes no segmento e como a inovação pode auxiliar na aceleração das mudanças necessárias.
Segundo estimativas da FAO, o crescimento da população mundial, que deverá atingir a casa dos 9 bilhões de pessoas até 2050, exigirá um aumento de 60% na demanda global de alimentos. Tamanho é o desafio que o assunto virou foco de diversos fóruns globais envolvendo os principais stakeholders do segmento.
O The Good Food Institute apoia a iniciativa, e terá como representante Gustavo Guadagnini, que atua como diretor no Brasil. O tema será sobre os papéis das alternativas vegetais e das carnes limpas, e os porquês elas terão papéis decisivos. Não apenas para alimentar o mundo, mas para também solucionar as principais alertas ambientais mundiais.
O intuito do movimento no Brasil é reunir as pessoas para pensarem em possíveis respostas a esse desafio e juntas co-criarem um futuro realizável e desejável para alimentar a população de forma sustentável. Afinal, é difícil imaginar que as indústrias do alimento serão capazes de fazer isso sozinhas.
Para isso, o Foodtech Movement abordará o conceito de food system, fortalecendo a importância da colaboração e parceria entre organizações, universidades, indústrias, startups e demais empreendedores para a inovação em cadeia.
Entre os painelistas, organizações não governamentais, indústrias e consultorias de tendência e nutrição abordarão as necessidades e os comportamentos das novas gerações de consumidores, a diversidade de matéria prima, as novas tecnologias e os modelos de produção, trazendo sempre o ponto de vista diferente de cada um.
Parte importante da agenda do evento será o espaço dado a startups que atuam nesse segmento no País e estão em busca de parcerias e oportunidades para apresentarem seus negócios na Batalha de Foodstartups. O evento também contará com o lançamento do primeiro mapa brasileiro de startups de food & beverage.
Para inscrições, ingressos e demais informações acesse: www.foodtechmovement.com.br
Eu acredito que em mais ou menos 30 anos nós não vamos mais precisar matar animais e que todas as carnes serão ou limpas ou à base de vegetais, possuírem o mesmo sabor e serem também muito mais saudáveis para todos.
-Richard Branson no blog Virgin.
Escrito por Emily Byrd.
Traduzido por Felipe Krelling. Vídeo traduzido por Fernanda Onça. Texto original pode ser visto aqui.
Em 2017, o IBGE divulgou uma pesquisa afirmando que há mais de 7 milhões de pessoas no Brasil passando fome(1). Porém, é fácil afirmar que o país teria suficiência na produção de alimentos, se a estivesse destinando ao consumo direto da população. A realidade é que, no Brasil, o rebanho de gado é maior que a população humana(2) (são 220 milhões de bois contra 208,8 milhões de pessoas) e grande parte dos grãos produzidos são destinados à alimentação de animais criados para abate. Assim, cada caloria obtida pelo consumo de carne representa 10 calorias de fontes vegetais que foram dadas ao animal durante sua vida, num sistema ineficiente do ponto de vista do uso dos recursos naturais. No mundo inteiro, mais de 70 bilhões de animais são abatidos por ano, sendo que temos uma população de 7 bilhões de pessoas.
Além desses desafios sobre a eficiência na produção, existe uma série de consequências ambientais, que incluem:
A Amazônia, que é a maior floresta tropical do mundo, está quase chegando em seu ponto crítico(4), no qual os efeitos do desmatamento podem não ter mais volta. Se isso acontecer, a floresta passará a ter uma vegetação mais rasa e depredada, e com menos biodiverdade. De acordo com os relatórios do Banco Mundial(5), 91% das causas do desmatamento são causadas pela pecuária, sendo 20% deste número é a produção de grãos para alimentar os animais. O Cerrado, segundo maior bioma do Brasil que compõe quase 25% da área do país, já teve mais de 50% de sua área devastada, como mostra o mapa do IBGE. O maior pântano do mundo se encontra ali, que é o Pantanal, e segundo relatórios de 2017, ele também passou a encolher(6). Assim como no casa da Amazônia, a exploração se divide em pasto e cultivo de soja para alimentação do gado.
A grande maioria do uso de terras no Brasil se dá pela produção de alimentos com origem animal, seja em pastagens ou em produção de ração. 79% da soja processada no país se torna farelo para alimentar animais(7) e 44% da soja é exportado in natura, em sua maioria para se tornar ração. O maior consumo está na criação de porcos e galinhas, principalmente na China (nossa maior importadora).
Mais de 18% dos envios de gases de efeito estufa tem origem na pecuária(8). Isso é 30% a mais do que todos os meios de transportes somados (carros, motos, navios, aviões etc). No Brasil, o impacto da pecuária é ainda muito mais visível devido ao desmatamento e do uso de suas terras. No gráfico abaixo, vemos o total de emissão de gases no Brasil, sendo que quase metade dos gases são causados pelo desmatamento e uso de terras (sendo a pecuária o principal fator que influencia negativamente esse ponto). 22% estão ligados diretamente à produção agropecuária, 19% à produção de energia e o restante dividido entre indústria e consumo da população.
Fonte: SEEG
Outro fato negativo para nosso país é que somos o terceiro maior emissor de metano do mundo(9), gás emitido pelo gado e muito mais danoso que o CO2.
De acordo com a WaterFootPrint, para cada 1kg de carne bovina, são necessárias mais de 15 toneladas de água(10). No cenário global, há dados da USDA mostrando que a pecuária utiliza 90% de toda a água consumida do mundo(11). Metade de todo o abastecimento de água do Brasil, por exemplo, se encontra no Cerrado, que está se tornando campos de pasto e de soja para alimentar o gado.
Existe uma alerta da ONU mostrando que a pecuária é o setor que mais polui as águas no mundo. Um exemplo dos efeitos catastróficos dessa poluição é a acidificação das águas, que causa zonas mortas no oceano. Devido a essa acidificação, há previsões de que até dois terços dos corais do mundo serão degradados nas próximas décadas(12). Zonas desertas nos oceanos também já podem ser vistas, como o trágico exemplo do Golfo do México, que existe pelo uso excessivo de fertilizantes e pelo hábito de jogar os resíduos da pecuária no mar.
Está claro que a produção de alimentos com origem animal é uma conta absolutamente ineficiente. Dessa forma, indústria, investidores e pesquisadores buscam soluções tecnológicas que possam modernizar essa produção, como opções de alimentos feitos a base de vegetais ou por tecnologias de reprodução de tecidos. Acompanhe nosso blog para mais informações sobre esse setor!
Escrito por: Felipe Krelling
Um grupo de investidores que administram mais de $4 trilhões ativos enviaram um alerta para seus constituintes: Se preparem para impostos nas carnes.
Se criadores de políticas estão para cobrir os reais custos das epidemias geradas pela criação de animais como a gripe aviária e epidemias humanas como obesidade, diabetes e câncer, como também atacar os desafios gêmeos de mudanças climáticas e resistência a antibióticos, então uma mudança de subsídios para impostos na indústria das carnes é inevitável.
Em 2017 os brasileiros puderam acompanhar uma série de escândalos envolvendo a indústria da carne. Operação carne fraca, delação da JBS, produtos brasileiros sendo banidos no exterior…. Muitos ficaram surpresos em saber que a qualidade daquilo que comem pode não ser tão rigorosa quanto imaginavam e agora pensam em mudar alguns hábitos, mas ainda se fazem uma pergunta: quem não come carne, come o quê?
No passado, de fato era mais difícil encontrar opções vegetarianas para compor a alimentação, mas felizmente a situação hoje em dia é outra. Em primeiro lugar, porque temos muito mais conhecimento sobre como ter uma dieta balanceada sem a necessidade de carne. Ou seja, ninguém precisa substituir a carne por algo parecido, pode-se apenas compor um prato balanceado com vegetais para conseguir todos os nutrientes que o corpo precisa.
A nutricionista especialista em vegetarianismo, Ale Luglio, afirma:
A nutricionista e especialista em vegetarianismo Alessandra Luglio afirma que o vegetarianismo é mais simples do que muitos pensam. Todos os nutrientes essenciais para a saúde humana estão disponíveis nos alimentos de origem vegetal e os animais são apenas acumuladores dos mesmos, desta forma, alimentar-se prioritariamente de alimentos vegetais é seguro e saudável uma vez que, dificilmente ocorrerão carências e também excessos, comuns no modelo alimentar atual que prioriza alimentos de origem animal, evitando-se assim os malefícios dos excessos de gorduras saturadas, colesterol, proteínas e alguns minerais como ferro e cálcio. Uma dieta variada e equilibrada a base de vegetais combina leguminosas, cereais, raízes, frutas, verduras, legumes, sementes, castanhas e cogumelos de forma nutritiva e estimulante. A dieta vegetariana propõe uma mudança de padrão alimentar e a desconstrução de premissas de essencialidade, ou seja, propõe novas e seguras fontes de nutrientes específicos normalmente relacionados às carnes, ovos e lácteos. A academia de nutrição e dietética americana, um dos maiores órgãos de nutrição e saúde do mundo, em suas diretrizes nutricionais classifica a dieta vegetariana estrita como saudável, equilibrada para todas as faixas etárias além de preventivas das principais doenças crônicas não transmissíveis como a obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e o câncer.
Mesmo sabendo que é possível se alimentar sem carne, nem sempre é fácil abandonar os velhos hábitos e muitas pessoas sentem que fica faltando alguma coisa no prato quando vão comer. Para essas pessoas, boas notícias também! A indústria tem se desenvolvido muito e novas opções com origem vegetal surgem a cada dia. A pesquisa já avançou tanto, que é possível comer hambúrgueres vegetais com a mesma aparência de um hambúrguer animal, inclusive com uma cor que simula a carne mal passada. Ao mesmo tempo, em alguns lugares já encontra-se produtos muito parecidos com o frango, linguiças, peixe, atum enlatado, camarão e outros frutos do mar. Tudo completamente feito de vegetais, com valor nutricional melhor do que seus exemplos do mundo animal, sem antibióticos, hormônios e sem risco de contaminação por doenças como febre aftosa e salmonela, mas com um sabor muito próximo do original.
Consumir esses produtos, além de ser um hábito muito mais saudável, tem grande impacto no meio ambiente. Isso porque a pecuária é uma vilã ambiental em muitos aspectos, sendo considerada como uma das principais causas do efeito estufa, perda de biodiversidade e desertificação do solo, esgotamento da água, dentre outros problemas. A pecuária é, inclusive, apontada como a causa de 90% da destruição da Floresta Amazônica brasileira. Quando o consumo de carne diminui, aumenta também a disponibilidade de alimentos, pois um animal precisa ser alimentado durante anos antes do abate. Cerca de 80% da soja, 70% do milho e 70% da aveia produzidos no mundo são destinados a alimentação do gado ao invés de alimentaram seres humanos mais necessitados.
Isso tudo sem falar no sofrimento animal, que é um problema muito extenso. Os animais que abatemos tem sentimentos tão complexos como os que domesticamos, sendo capazes de sentir medo, dor, afeição por suas crias e todos os sentimentos que vemos em um gatinho ou cachorro. Milhões de animais sofrem os mais graves abusos antes de serem mortos pela indústria da carne, mesmo nos frigoríficos mais profissionais. Os fatos apresentados pela operação “Carne fraca” são apenas na última parte da cadeia de alimentos, antes disso muitas outras atrocidades aconteceram.
Nos supermercados brasileiros ainda não temos todas essas opções que surgiram em outros países, mas a indústria por aqui também se desenvolveu. Enquanto o mercado de produtos veganos cresce 40% ao ano, o de carnes vem caindo consistentemente. As empresas daqui também melhoram suas receitas a cada ano e muitas pessoas começam a consumir esse tipo de produto como mais uma opção, que é saudável e gostosa, mesmo que não parem completamente de comer carne. Para que esse mercado se desenvolva mais e ofereça opções cada vez mais saborosas, é preciso ter demanda pelo consumo, ou seja, quanto mais as pessoas se dispuserem a experimentar, mais produtos bons surgirão. Todo mundo pode fazer parte disso, comprando marcas vegetarianas, experimentando produtos, procurando receitas e cobrando dos supermercados em que compram para trazerem mais opções a preços acessíveis.
Além disso, é fácil de encontrar receitas, comunidades e guias para quem deseja opções vegetarianas. Faça um busca, por exemplo, pelo “Guia Vegetariano para Começar” e veja o material gratuito que envolve até dicas do que comprar em supermercados comuns. Outra opção legal é o “Desafio 21 dias sem carne”, no qual a pessoa inscrita recebe emails com dicas interessantes todos os dias do desafio.
O mercado vegetariano tem recebido investimentos de peso, como dos bilionário Bill Gates e Richard Branson, do ator Leonardo DiCaprio e das maiores indústrias do setor alimentício, como da gigante da carne Tyson Foods, da Unilever, Kraft Foods, Cargill, dentre outras. Isso não só mostra o gigantesco potencial de crescimento e retorno financeiro contido nesse tipo de produto, mas também quer dizer que é uma opção muito interessante para as indústrias brasileiras que foram acusadas pela operação “Carne Fraca” e suas derivações. Não é possível mudar o que aconteceu, essas empresas terão de enfrentar a justiça e pagar pelos crimes que tenham cometido. Porém, é possível criar um futuro diferente, se elas decidirem inovar e oferecer produtos gostosos que sejam mais sustentáveis, saudáveis e justos com os animais. Investir no mercado de alimentos com origem vegetal é uma tendência da indústria em todo o mundo, mas no Brasil, após essa crise, pode ser também a grande virada para empresas que precisam se reinventar.
Gustavo Guadagnini
> Managing Director do The Good Food Institute no Brasil