InovAmazônia, projeto de incentivo à pesquisa do GFI Brasil, recebe propostas até 12/12/22

O The Good Food Institute Brasil acaba de lançar seu mais novo projeto do Programa Biomas de incentivo à pesquisa, o InovAmazônia: Ingredientes para o Mercado de Alimentos Vegetais. Com recursos do Fundo JBS pela Amazônia, o objetivo é desenvolver soluções e ingredientes alimentícios para a indústria de proteínas alternativas vegetais, a partir de espécies nativas do bioma amazônico.  Ao todo, serão investidos cerca de R$ 2,7 milhões para a realização das pesquisas.

Conheça o edital e inscreva a sua proposta de pesquisa!

  1. MODALIDADES DE PESQUISA

Pesquisa exploratória: identificação de fontes potenciais de novos ingredientes a partir de fungos oriundos do bioma Amazônia ainda pouco investigados no âmbito de proteínas alternativas. 

Pesquisa aplicada: soluções e avanços na produção e aplicação de ingredientes em produtos cárneos vegetais análogos. Busca-se otimizar métodos sustentáveis de obtenção de ingredientes, elaborar protótipos a partir da aplicação destes ingredientes e gerar tecnologias com potencial de aplicação na indústria. As espécies nativas para a modalidade pesquisa aplicada são: Açaí, Babaçu, Cacau, Castanha do Brasil, Cupuaçu, Guaraná e Tucumã.

  1. CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

As propostas serão avaliadas considerando critérios de alinhamento científico, impacto esperado do projeto, contribuição para a comunidade científica, contribuição para comunidades produtoras locais, planejamento do projeto e relevância comercial. É obrigatório, ainda:

  1. DATAS IMPORTANTES

Lançamento da chamada – 03/11/2022

Início do prazo de submissão das propostas de pesquisas – 03/11/2022

Workshop de apresentação da chamada – 16/11/2022

Encerramento do prazo de submissão das propostas de pesquisas – 12/12/2022

Resultado das propostas selecionadas – 23/01/2023

Divulgação do resultado final das propostas com contrato assinado – 01/08/2023

Previsão de início dos projetos – Julho/Agosto de 2023

  1. SUBMISSÃO DAS PROPOSTAS

As propostas devem ser submetidas por meio da plataforma de inscrição do GFI Good Grants. Dúvidas poderão ser enviadas para o e-mail ciencia@gfi.org 

  1. LINKS IMPORTANTES

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Assista ao Workshop de apresentação do InovAmazônia

Tire suas dúvidas no documento de Perguntas e Respostas

Inscreva a sua proposta de pesquisa

Seu projeto pode contribuir para um sistema alimentar mais seguro, justo e sustentável hoje e no futuro.

Carne animal ou vegetal? Qual é mais saudável?

Artigo inédito do GFI Brasil comparou rótulos de 59 produtos cárneos e comprovou benefícios nutricionais em optar pelas versões vegetais de alimentos como almôndegas, quibes, empanados, hambúrgueres e linguiças.

O mercado de proteínas vegetais e produtos plant-based cresceu significativamente no Brasil nos últimos 5 anos.  Esta expansão de produtos feitos de plantas que mimetizam as características sensoriais de produtos de origem animal viabiliza uma oferta mundial mais diversificada de alimentos, despertando o interesse dos consumidores, atraindo financiamento para pesquisa, e promovendo o mercado de proteínas alternativas. 

Pesquisa conduzida pelo The Good Food Institute Brasil em maio de 2020 permitiu um conhecimento mais detalhado deste público. Metade dos entrevistados reduziram o consumo de carne de origem animal nos 12 meses anteriores à pesquisa.  Dentre estes, 25% incluíram a carne vegetal (análogas ou não às de origem animal) como único ou principal substituto da carne animal no dia-a-dia.

Entretanto, ainda existem poucos estudos sobre as vantagens nutricionais destes produtos em relação aos seus análogos de origem animal, especialmente no que diz respeito a produtos ultraprocessados, gerando dúvida tanto entre consumidores quanto em reguladores. Neste sentido, o GFI Brasil desenvolveu o artigo “Estudo Nutricional: análise comparativa entre produtos cárneos de origem animal e seus análogos plant-based”, comparando a  composição nutricional e os aditivos utilizados nas formulações dos produtos de origem animal com os seus análogos feitos de planta. 

Os resultados demonstram que produtos cárneos de origem vegetal apresentam aspectos nutricionais superiores aos produtos tradicionais com relação a teores de gordura saturada, sódio e fibra.

Os resultados

A análise foi conduzida a partir de dados coletados nos rótulos de almôndegas, empanados, hambúrgueres, linguiça e quibes de origem animal e vegetal, levando em consideração a atualização dos critérios da ANVISA para rotulagem de alimentos embalados. Entre as novas diretrizes que entram em vigor em outubro de 2022, será obrigatório informar no rótulo frontal quando o produto apresentar índices altos de sódio, açúcar e gordura saturada.

Alguns dos resultados favoráveis encontrados foram:

A questão dos alimentos ultraprocessados (AUP)

O conceito de produtos ultraprocessados normalmente traz dúvidas e gera debate entre os consumidores sobre os reais impactos nutricionais, sociais e ambientais atribuídos aos  produtos categorizados como tal. 

Segundo a Classificação NOVA, o termo ultraprocessado é associado a alimentos que passam por processamento industrial, como extrusão, e apresentam altos teores de sódio, gordura saturada, calorias e aditivos alimentares. Entretanto, a produção de alimentos por processos industriais não implica necessariamente em produtos nocivos à saúde. No caso dos alimentos plant-based, muito pelo contrário.

O estudo realizado pelo GFI Brasil evidencia que estes produtos entregam características nutricionais não apenas adequadas mas, em alguma delas, superiores aos produtos tradicionais, como maior teor de fibra, e menores teores de sódio e gordura saturada. Com relação ao teor de proteína, as amostras de produtos plant-based estão de acordo com os critérios da ANVISA, mas há oportunidade de melhorar a porcentagem, a fim de alcançar equivalência em relação aos produtos de origem animal. 

As proteínas são componentes vitais na dieta humana devido aos seus efeitos na saúde e no bem-estar e têm atraído constante atenção devido à crescente conscientização do consumidor em relação aos aspectos de saudabilidade e sustentabilidade. Impulsionadas pelas demandas atuais de consumo, a indústria de alimentos têm empregado técnicas tradicionais e modernas, altamente tecnológicas, para disponibilizar no mercado uma nova gama de produtos análogos aos de origem animal, obtidos exclusivamente a partir de fontes vegetais.

Com o fortalecimento do setor, novos produtos vêm sendo lançados e, com isso, torna-se essencial a atualização do banco de dados dos estudos existentes. Além disso,  é necessário aprofundar o entendimento quanto à coerência ou não da associação de produtos cárneos vegetais com o termo ultraprocessado. Por esses motivos, e visando ampliar a compreensão dos aspectos nutricionais dos produtos cárneos feitos de plantas, o GFI pretende continuar desenvolvendo novos estudos que também avaliem o perfil de aminoácidos e ácidos graxos dos produtos dessa categoria.

É dessa forma, com base em fatos e dados, que será possível avançar no desenvolvimento de produtos cada vez mais nutritivos e elucidar os principais questionamentos relacionados à saudabilidade desses produtos. O objetivo dessa publicação é que também sirva de instrumento para gerar debate no campo científico sobre o tema, fornecendo mais um subsídio para reguladores, pesquisadores, profissionais de alimentos e o público em geral tirarem suas conclusões.

Leia o artigo completo aqui.

Proteínas alternativas são mesmo mais sustentáveis?

GFI e FAIRR lançam modelos de relatórios para que empresas de proteínas alternativas possam medir e revelar seus impactos ambientais, sociais e de governança.

Da carne à base de plantas ao leite de macadâmia, produtores de alimentos, varejistas e fabricantes podem, graças ao lançamento de dois novos modelos de relatório, passar a relatar com precisão o impacto de sustentabilidade de seus negócios de proteínas alternativas. Projetados pela rede de investidores da Iniciativa FAIRR, apoiada por US$ 68 trilhões, e pelo The Good Food Institute (GFI), uma organização internacional sem fins lucrativos que atua para transformar o sistema de produção de alimentos, investindo em proteínas alternativas vegetais, cultivadas e obtidas por fermentação, os modelos são apoiados por investidores e líderes da indústria.

A FAIRR e o GFI desenvolveram os dois novos modelos de relatório com contribuições de diversos investidores, empresas e ONGs, incluindo Unilever, Eat Just Inc., Newton Investment Management, PIMCO, Blue Horizon e WWF-UK, bem como de especialistas em ESG e Avaliação de Ciclo de Vida (ACV). Após o lançamento, os autores dos modelos vão trabalhar com marcas de proteínas alternativas que desejam usá-los para relatar fatores ambientais, sociais e de governança (ESG da sigla em inglês), como emissões de carbono, uso do solo, da água e impactos nutricionais.

Proteínas alternativas, incluindo carne, frutos do mar, ovos e laticínios à base de plantas, obtidas por fermentadas e cultivadas devem proporcionar um caminho para descarbonizar a produção de alimentos, ao mesmo tempo em que atendem a demanda global por alimento. Nos últimos anos, o investimento em proteínas alternativas aumentou 91% em uma taxa média de crescimento de 5 anos até 2021 (de acordo com a análise feita pelo GFI a partir dos dados da PitchBook Data), e estima-se que as vendas aumentem em até US$ 1,1 trilhão até 2040 e ocupem até 60% do mercado total de carnes.

Pesquisas mostram que muitos produtos à base de plantas têm de um quinto a um décimo do impacto ambiental que seus equivalentes feitos de proteína animal. No entanto, até hoje, não existiam padrões abrangentes para empresas que fabricam e vendem proteínas alternativas poderem avaliar e divulgar os dados robustos de ESG que investidores, empresas e consumidores precisam para tomar decisões informadas.

O Modelo de Relatório ESG de Proteínas Alternativas para Empresas Especializadas (“Modelo Especializado”) e o Modelo de Relatório ESG de Proteínas Alternativas para Empresas Diversificadas (“Modelo Diversificado”) oferecem aos investidores, governos e consumidores um caminho para receber informações precisas de cada negócio de proteínas alternativas.

Raquel Casselli, Diretora de Engajamento Corporativo do The Good Food Institute Estados Unidos, afirma que a ferramenta permitirá que empresas de proteínas alternativas mostrem as muitas vantagens em ESG que seus modelos de negócios atuais possuem. “Se comparadas à proteína animal convencional, proteínas alternativas emitem quantidades significativamente menores de gases de efeito estufa e apresentam consideráveis vantagens nutricionais e de segurança alimentar. À medida que essa indústria continua a fazer parceria com o setor privado para construir negócios responsáveis e sustentáveis para o futuro, esses modelos vão permitir que as empresas reivindiquem seu papel natural de liderança em ESG.”.

Jeremy Coller, presidente e fundador da FAIRR e diretor de investimentos da Coller Capital, disse que a FAIRR a parceria com o GFI na elaboração dos dois modelos de relatório são um marco para a indústria de proteínas alternativas. “Não é possível gerenciar o que não se pode medir. Esses novos modelos fornecem aos investidores e às empresas uma linguagem comum e um conjunto de padrões para medir e divulgar como eles estão gerenciando seus impactos ESG e abordando as metas climáticas. Esperamos que os membros da FAIRR, representando US $68 trilhões de ativos sob gestão (AUM), recebam os modelos como mais uma ferramenta nos seus processos de investimentos. Também esperamos que tanto grandes produtores de proteínas quanto pequenas empresas especializadas em proteínas alternativas adotem os novos modelos, o que vai beneficiar o mercado como um todo”.

O novo Modelo Especializado é projetado para fabricantes e fornecedores de ingredientes cujo foco principal são proteínas alternativas, como carne, laticínios, proteína de soro de leite ou gelatina. Ele engloba os riscos e oportunidades mais relevantes em todo o espectro E, S e G, por exemplo, em fornecimento, certificação, envolvimento do consumidor, saúde do solo, resíduos plásticos, consumo de água e nutrição.

Em resposta ao lançamento do Modelo Especializado, Lisa Wetstone, Diretora Sênior de Marketing, Inovação e Estratégia de Crescimento da empresa de ingredientes especializada em cogumelos, MycoTechnology, Inc, comenta que o modelo vai permitir que as empresas meçam e comuniquem seus impactos positivos de maneiras que façam sentido e tenham importância – para a estratégia interna, para o processo de tomada de decisão e também para os consumidores. “De pequenas startups a startups em estágio de crescimento (como a MycoTechology) a players estabelecidos do setor, há muitas maneiras de coletar e interpretar dados ESG. Isso é especialmente verdade dadas as nuances de nossa indústria. Nos falta uma linguagem comum! Por isso, estabelecer as bases para padronizar essas informações pode ser um guia para todos nós e pode elevar a indústria como um todo.”

Já o novo Modelo Diversificado foi projetado para empresas de alimentos, varejistas, fabricantes e produtores de proteína animal e com portfólios de produtos que incluem tanto proteínas convencionais quanto alternativas. Esse modelo orienta a geração de relatórios sobre os dados ESG relativos à porção de proteínas alternativas das empresas (como lobby/advocacy, gestão da água, circularidade e acessibilidade), para que eles complementem os outros dados que provavelmente já são reportados por meio de outros modelos. Ao possibilitar que os tomadores de decisão façam comparações entre seus negócios de proteínas animais e alternativas, o Modelo Diversificado apoia e incentiva as empresas enquanto elas fazem a transição de suas práticas para atender uma série de metas relacionadas ao clima, biodiversidade e governança.

Beatriz Hlavnicka, Head de Marketing para América do Sul da PlantPlus Foods, joint venture entre Marfrig e ADM disse, em relação ao lançamento do Modelo Diversificado que “o modelo abrangente permite comparar e abordar as oportunidades e os riscos das proteínas alternativas e convencionais, e está orientando nossas divulgações sobre os tópicos mais importantes para as partes interessadas, de acordo com as melhores práticas de ESG.”

A forma como produzimos carne, ovos e laticínios atualmente é extremamente intensiva em recursos: apesar dessa indústria fornecer apenas um terço do suprimento global de proteína para a humanidade (o restante é composto por vegetais, fungos e insetos), ela responde por 77% do uso das terras agrícolas, quase 14,5% das emissões globais de GEE . Essas e outras preocupações com o clima, natureza e segurança alimentar representam riscos financeiros cada vez mais importantes, com a previsão de que o estresse térmico (decorrente de temperaturas muito elevadas), por si só, eliminará 20% do valor global de produção de carne bovina. Com as divulgações relacionadas ao clima e à natureza padronizadas e obrigatórias se tornando, em breve, uma exigência em certas regiões, esses dois novos modelos de relatório são uma primeira proposta concreta de um padrão para permitir que a indústria de alimentos avalie os impactos e estabeleça as melhores práticas no setor de proteínas alternativas.

Os novos modelos também devem catalisar investimentos, ao equipar instituições financeiras com um conjunto de ferramentas de divulgação e métricas que permitem obter insights sobre as atividades de uma empresa com transparência, destacando os impactos reduzidos das proteínas alternativas, em comparação com os da produção de carne animal, ovos, frutos do mar e laticínios.

Para Rosie Wardle, cofundadora e sócia da Synthesis Capital,  à medida que as startups de proteínas alternativas crescem, amadurecem e eventualmente se tornam as gigantes da indústria alimentícia de amanhã, o uso do novo Modelo Especializado ajudará a garantir que elas estejam prontas para as divulgações de relatórios ESG que, agora, são exigidas de todas as grandes empresas no mercado privado e público. “Nós recebemos de braços abertos novas ferramentas no mercado, como esse modelo de relatório, que traz estrutura e consistência para medir os impactos de sustentabilidade. Nós vamos integrar o modelo em nossos processos e políticas ESG já existentes, para nos ajudar a entender o desempenho da empresa de forma mais detalhada e a monitorar nosso impacto ao longo do tempo.”

Já para Jared Fernandez, analista sênior de ESG e Gerente de Votação no Boston Trust Walden, as proteínas alternativas representam uma oportunidade significativa para varejistas, fabricantes e produtores de proteínas de alimentos. “Os modelos de relatórios GFI/FAIRR oferecem aos investidores todas as informações necessárias para avaliar e valorar as empresas e suas cadeias de suprimentos na transição para uma economia de baixo carbono.”

Mais de 50 empresas, investidores, ONGs e definidores de padrões ESG forneceram informações e contribuíram com expertise durante o processo de pesquisa e desenvolvimento de ambos os Modelos (Especializado e Diversificado).

COP27 terá Pavilhão exclusivo sobre Sistemas Alimentares

GFI é parceiro da iniciativa e vai liderar discussões sobre proteínas alternativas da  27ª Conferência das Partes, principal evento do Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climáticas (UNFCCC) 

Faltando menos de 50 dias para o início da COP27, uma coalizão de organizações focadas em ações pela produção e consumo de alimentos mais sustentáveis, anunciou seus planos para sediar o primeiro Pavilhão de Sistemas Alimentares na COP27.

O Pavilhão de Sistemas Alimentares reúne mais de 15 líderes internacionais no setor de alimentos, abrangendo os setores público, privado e sem fins lucrativos, de agricultores e jovens a formuladores de políticas e cientistas. Essa diversidade de conhecimentos e perspectivas o destaca entre outras coalizões, com co-anfitriões e parceiros comprometidos a trabalhar de forma colaborativa para chegar a compromissos, apresentar soluções e superar barreiras para alcançarmos as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris.

As organizações participantes incluem os co-anfitriões Clim-Eat, Coalizão de Ação para a Saúde do Solo (CA4SH), EIT Alimentos, Fundo de Defesa Ambiental, FOLU, The Good Food Institute, Infarm, SNV e Yara International; parceiros de paineis Aleph Farms, Food Tank, Just Rural Transition, One Acre Fund e Rabobank; e parceiros apoiadores World Farmers’ Organization, World Food Forum, YPARD, IAAS World e YOUNGO.

Para Gustavo Guadagnini, presidente do GFI Brasil, a COP27 representará um ponto de virada crítico para os sistemas alimentares. Com a agricultura e os sistemas alimentares contribuindo com mais de um terço das emissões de gases de efeito estufa, há muitos desafios complexos a serem superados, mas também enormes oportunidades. Transformar os sistemas alimentares globalmente pode gerar US$ 4,5 trilhões anualmente em novas atividades econômicas, além de criar um mundo com emissões neutras de carbono e positivo para a natureza e, ao mesmo tempo,  garantir justiça socioambiental e a segurança alimentar e nutricional.”.

Na COP26, em Glasgow, formuladores de políticas deram os primeiros passos para reconhecer o papel crítico dos alimentos e da agricultura na redução das emissões de gases de efeito estufa. Este ano, os co-anfitriões do Food Systems Pavilion querem avançar essa agenda significativamente e colocando os a agricultura e a produção de alimentos no centro das discussões.

A Dra. Agnes Kalibata, Presidente da Aliança para uma Revolução Verde na África (AGRA), Enviada Especial do Secretário-Geral da ONU para a Cúpula de Sistemas Alimentares de 2021 e Embaixadora da FOLU, disse que é preciso garantir que os alimentos dominem a agenda da COP27. “Tem sido a peça que faltava nas negociações climáticas por muito tempo, e a África está fazendo grandes apostas em uma COP no continente. Esperamos que o mundo reconheça que nossa capacidade de produzir alimentos está sendo erodida rapidamente, nossa capacidade de adaptação é a mais fraca e como os alimentos são produzidos em outras partes do mundo temos problemas urgentes que devemos resolver.”.

Dra. Agnes ainda complementou que sem ações imediatas, mais 100 milhões de pessoas na África podem ser levadas à pobreza extrema nas próximas oito estações – são mais de 10 milhões de pessoas por ano entre agora e 2030. 

O Food Systems Pavilion se concentrará em ações, estratégias e soluções práticas que abrangem toda a cadeia de valor de alimentos que oferecem o potencial de acelerar a transição para sistemas alimentares mais saudáveis, sustentáveis ​​e justos para todos.

Para saber mais, visite FoodSystemsPavilion.com ou busque pela hashtag #ActionOnFood nas redes sociais.

Mercado de carne cultivada avança na América Latina

Conheça as iniciativas brasileiras para produção de carne cultivada, envolvendo grandes empresas, universidades e institutos

A indústria de carne cultivada passa por um  momento de franca expansão, com o número de players no setor se tornando cada vez maior. Atualmente, são cerca de 70 empresas e startups no mundo todo, e é esperado que essa tendência de crescimento se mantenha, segundo levantamento feito pelo Good Food Institute. Em 2021, este mercado de carne cultivada recebeu investimentos de USD1,4 bilhão.

Um passo significativo no avanço do mercado de carne cultivada na América Latina acaba de ser dado pela Granja Tres Arroyos. A empresa argentina, líder na produção de alimentos no país, acaba de anunciar sua entrada no segmento por meio de uma parceria técnica com o Instituto de Pesquisa Biotecnológica da Universidade Nacional de San Martin. Os esforços de P&D começaram há um ano e o objetivo é ter uma planta piloto nos próximos dois anos.

Para o setor de carne cultivada chegar à escala comercial a preços acessíveis para o consumidor, são necessários investimentos altos em pesquisa e estrutura robusta de produção. É este know-how que a Granja Tres Arroyos e seus 50 anos de experiência no setor de carnes está trazendo para esse mercado.

Essa não é a primeira iniciativa no âmbito de cultivo de proteínas no país. A Argentina já foi palco da primeira degustação de carne cultivada na América do Sul, em julho de 2021. O feito foi fruto das pesquisas da startup B.I.F.E., da divisão de bioengenharia do Laboratório Craveri e aconteceu de forma privada. A degustação serviu como prova de conceito inicial, ainda sem perspectiva para atingir o estágio de produção para o mercado.

A aposta da Argentina no cultivo de proteínas confirma a tendência de queda no consumo de carne no país, que chegou ao menor patamar em 100 anos. O potencial deste movimento é de impactar a cadeia em escala global, uma vez que a Argentina é o maior consumidor de carne per capta entre países emergentes, de acordo com dados do CiCarne.

“Com a união de esforços da iniciativa privada com os agentes governamentais, sobretudo com institutos de pesquisa e agências reguladoras, é possível motivar o fluxo de capital e estimular o desenvolvimento de pesquisadores e profissionais dedicados a essa área tão estratégica para a América Latina”, diz a Raquel Casseli, gerente de Engajamento Corporativo do GFI Brasil. 

Na sua opinião, a América Latina poderá liderar nos próximos anos o protagonismo do setor de carne cultivada no mundo. “Grandes players, principalmente no Brasil, importaram tecnologia e construíram grandes laboratórios para que no futuro seja possível produzir a carne cultivada em escala. É uma corrida de 100m rasos. É uma maratona científica”, afirma a especialista.

Saiba mais sobre as iniciativas no Brasil:

O Brasil possui as condições favoráveis para se tornar líder desta indústria e já existem grandes empresas brasileiras implementando iniciativas para tornar a carne cultivada uma realidade no prato do consumidor.

A JBS investirá R$ 325 milhões nos próximos quatro anos para o desenvolvimento de carne cultivada através do seu Biotech Innovation Center. Inclusive, o seu centro de inovação em alimentos no Brasil está com vagas abertas para cientistas de diversas áreas relacionadas à inovação em alimentos por meio do programa Especialistas em Biotecnologia Avançada, que tem foco na produção de carne cultivada.

No campo das startups as últimas novidades também não poderiam ser mais animadoras. A Ambi Real Foods, que nasceu com a promessa de se tornar a primeira empresa brasileira a produzir carne cultivada com tecnologia totalmente nacional, acaba de produzir seu primeiro protótipo de hambúrguer bovino, com tecnologia totalmente nacional.

Já a Sustinieri Pisces, startup que também deseja ser pioneira na produção de peixes cultivados no Brasil, finalizou a etapa de desenvolvimento de bancos de células de cinco espécies de peixes: Garoupa, Cherne, Robalo, Linguado e Tainha. “Estamos produzindo os Work Banks e daremos início ao processo de uso dos biorreatores para produzir um protótipo (empanado de peixe) até o primeiro trimestre de 2023.”, conta Marcelo Szpilman, diretor executivo da Sustinieri Pisces.

Além disso, acaba de entrar para o mercado a primeira empresa de cultivo celular focada em desenvolver gordura de porco cultivada, a Cellva. De acordo com informações da empresa, “a tecnologia Cellva proverá gordura animal substancialmente mais saudável e completamente segura contra as contaminações que a gordura suína tradicional pode oferecer, com exato sabor, textura e aroma”. O produto poderá ser incorporado em produtos de origem animal, cultivados ou feitos de plantas. Também estão nos planos o desenvolvimento de outros alimentos a partir do cultivo de células.

No campo acadêmico, a carne cultivada também tem atraído a atenção de cada vez mais pesquisadores e gerado os primeiros resultados. Projeto coordenado pela Profa. Dra. Aline Bruna da Silva do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET MG) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, acaba de produzir o primeiro protótipo de carne de frango estruturado cultivado. A pesquisa que deu origem ao protótipo (Hybrid scaffolds for cultivated chicken) foi financiada pelo Good Food Institute, por meio do Programa de Incentivo à Pesquisa.

Utilizando tecnologia de impressão 3D, o SENAI CIMATEC está desenvolvendo carne cultivada e os testes feitos até o momento buscam criar formulações para alcançar textura, aparência  e sabor da carne convencional.

Em parceria com o GFI Brasil, a UFPR, por meio do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, já formou 107 alunos na disciplina de introdução à zootecnia celular, dedicada aos estudos de carne cultivada. O próximo passo será desenvolver o produto em laboratório.

A Escola Senai Dr. Celso Charuri passou a oferecer um curso de Técnicas de cultivo com linhagens de células de mamífero, com o objetivo de desenvolver competências relacionadas ao cultivo de linhagens celulares.

Na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), a disciplina “Proteínas Alternativas: Feito de Plantas, Fermentação e Carne Cultivada” agora é oferecida dentro do programa de Pós-graduação da Faculdade de Engenharia de Alimentos. O objetivo é capacitar os alunos apresentando os fundamentos técnico-científicos das proteínas alternativas para que eles possam contribuir tanto para o desenvolvimento da ciência como para o crescimento da indústria. Ao todo, 29  alunos já foram formados.

Governo publica Decreto garantindo isenção de IPI para bebidas vegetais

Em maio deste ano o Governo incluiu na Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos Industrializados (TIPI) uma classificação específica para as bebidas vegetais, antes classificadas apenas como “outras”. Além da medida, também zerou a a alíquota desse tipo de produto, que era de 2,6%.

No entanto, em julho, ao publicar a nova TIPI atualizada e consolidada, por um erro técnico, as bebidas vegetais não estavam contempladas. A revisão foi anunciada pelo Governo, por meio do Decreto 11.182/2022, que restabelece o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) zero para bebidas vegetais.

➡️ Se sua empresa ou parceiro/as comerciais apresentarem alguma dúvida em relação ao tema, nossa equipe está a disposição para conversar através do E-mail: politicas@gfi.org

Em ação inédita, governo lança edital de pesquisa de R$10 milhões incluindo proteínas alternativas

Prazo de envio das propostas de pesquisa encerra no dia 14 de outubro e contempla, também, sistemas alimentares contemporâneos, novos ingredientes e novas tecnologias de alimentos

O setor de proteínas alternativas segue em pleno crescimento no Brasil, atraindo investimentos e conquistando espaços na indústria, na academia e no governo. Confirmando que esse não é um mercado ou uma tendência passageira, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) acaba de dar mais um sinal de que o segmento deve fazer parte das estratégias para seguir liderando a produção de proteínas globalmente. 

A Finep Inovação e Pesquisa, empresa pública do MCTI, divulgou um edital inédito focado em pesquisa, desenvolvimento e inovação dedicado exclusivamente às proteínas alternativas, sistemas alimentares contemporâneos, novos ingredientes e tecnologias de alimentos. No total, serão direcionados R$10 milhões não reembolsáveis, vindos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).

“O Edital sinaliza os primeiros movimentos de financiamento público direto a pesquisas voltadas para o desenvolvimento de proteínas alternativas, contemplando plant-based, fermentação e cultivo celular. Esse tipo de financiamento tende a acelerar o avanço científico no setor, além impulsionar também o investimento privado. Esperamos que, em breve, o lançamento do Plano Nacional de Proteínas Alternativas consolide esse fértil ambiente de pesquisas”, afirma Alysson Soares, especialista de Políticas Públicas do The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil).

ENTENDA O EDITAL E CONTE COM O APOIO DO GFI BRASIL

Objetivo do edital: Conceder recursos financeiros não-reembolsáveis para pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação, em projetos que envolvam risco tecnológico com foco em sistemas alimentares contemporâneos, novos ingredientes, proteínas alternativas e tecnologia de alimentos.

Para desenvolvimento de projetos de pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico em proteínas alternativas (substitutos vegetais ou de carne cultivada para carnes, ovos e lácteos) podem ser submetidos projetos por meio das linhas:

Redes de Pesquisa: A rede de pesquisa deve ser formada por 01 (uma) Instituição Proponente: Fundação de apoio ou ICT privada que será responsável pelo gerenciamento e execução financeira do projeto + 1 (uma) Executora Principal: ICT pública ou privada que será responsável pelas informações técnicas perante à FINEP e pela gestão da rede de pesquisa + no mínimo 4 Co-executoras: ICTs públicas ou privadas.

Desafios tecnológicos: As propostas de desafios tecnológicos devem ser formadas por 1 (uma) Instituição Proponente: Fundação de apoio ou ICT privada que será responsável pelo gerenciamento e execução financeira do projeto + 1 (uma) Executora Principal: ICT pública ou privada que será responsável pela coordenação e execução técnica do projeto. É facultativo a participação de Co-executoras (ICTs públicas ou privadas) e/ou participação de Interveniente Co-financiadora (empresa brasileira).

Nesta linha enquadram-se os projetos que tragam avanços tecnológicos para produção de carnes cultivadas e carnes feitas de plantas:

Produção de carne cultivada:

a) Desenvolvimento de cortes inteiros de carne bovina cultivada;

b) Desenvolvimento de formulações de meio de cultivo de grau alimentício, isentas de soro fetal bovino (SFB) ou outros elementos de origem animal que permitam a proliferação e/ou diferenciação de células bovinas;

Produção de carnes feitas de plantas:

c) Produção de gorduras a partir de fontes de vegetais ou por fermentação para aplicação em produtos cárneos feitos de plantas;

d) Extração e funcionalização de proteínas vegetais para aplicação em produtos cárneos análogos aos de origem animal.

Conte com o suporte do time do GFI Brasil, por meio do e-mail ciencia@gfi.org para:

Esclarecimentos do edital; Suporte na definição da proposta; Conexões entre pesquisadores e empresas; e Revisão e comentários na versão final do projeto.

O prazo para submissão encerrará no dia 14 de outubro, às 17h. Para mais informações acesse o link.

GFI lança carta de compromissos às eleições em 2022

Candidaturas devem subscrever a carta, por meio de e-mail, até o dia 30 de setembro; documento tem como principal preocupação a segurança alimentar e o meio ambiente

O mundo vive uma das maiores crises alimentares em décadas. De acordo com a FAO (Agência da ONU Alimentação e a Agricultura), 690 milhões de pessoas passam fome no mundo diariamente. Em 2021, 116,8 milhões de brasileiros conviviam com algum grau de Insegurança Alimentar e, destes, 43,4 milhões não tinham alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões passavam fome. 

O Good Food Institute Brasil (GFI Brasil) acredita que a Segurança Alimentar da população conversa diretamente com a busca por novos alimentos e métodos produtivos, mais sustentáveis e universalizados. Nesse sentido, as proteínas alternativas são a grande aposta não apenas para o futuro, mas também para o presente.

Diante desses desafios e com o objetivo de incentivar uma agenda política propositiva para o mercado de proteínas alternativas nos próximos anos, o GFI Brasil está convidando candidaturas às eleições de 2022 a fazer um compromisso público, caso seja eleito, defendendo as seguintes propostas:

  1. Defender a inserção do tema de proteínas alternativas na agenda brasileira de adaptação e mitigação das mudanças climáticas, com a sua inclusão nos planos de ação para cumprimento de compromissos internacionais.
  2. Pleitear que o setor de proteínas alternativas seja incluído como uma das estratégias para uma agricultura de baixo carbono no Brasil.
  3. Estimular um ambiente de negócios competitivo e favorável à inovação no setor de proteínas alternativas através de políticas públicas de apoio a startups, fortalecimento de pesquisa e desenvolvimento aplicados ao setor e suporte à internacionalização de empresas brasileiras.
  4. Combater medidas de censura de rótulo que tenham por alvo o setor de proteínas alternativas no âmbito dos Poderes Legislativo e Executivo.
  5. Trabalhar por uma carga tributária justa para produtos de proteínas alternativas em comparação aos de proteína animal, levando em consideração seu grau de inovação e sustentabilidade.
  6. Incluir proteínas alternativas como prioridade nas estratégias políticas do avanço do setor de bioeconomia no Brasil.

“Se o candidato se identificar com esses compromissos, ele terá responsabilidade de levar essas propostas adiante nos anos seguintes. São compromissos importantes que irão impactar não só a questão alimentar, mas também o meio ambiente e a renovação de recursos naturais. Esperamos uma grande adesão”, afirma o vice-presidente Políticas Públicas do GFI Brasil, Alexandre Cabral. 

A subscrição vai até o dia 30 de setembro. Qualquer candidatura pode participar da subscrição dos compromissos. Para isso, basta enviar um e-mail com as informações abaixo para o e-mail politicas@gfi.org.

  1. Nome do/a candidato/a ou da candidatura coletiva
  2. Filiação – Partido / UF
  3. Cargo ao qual concorre
  4. Endereços eletrônicos da candidatura – (site, Instagram etc.)
  5. Número de registro da candidatura junto ao TSE 

As candidaturas subscritas serão divulgadas semanalmente no site, blog e mídias sociais do GFI Brasil. Leia aqui a carta na íntegra.

Rotulagem plant-based: veja análise do GFI sobre Nota Técnica do Mapa

O principal argumento da nota é de que utilizar termos como carne e leite vegetal podem confundir o consumidor. No entanto, pesquisas afirmam que as escolhas são conscientes

Por Vinícius Gallon e Victória Gadelha

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) enviou um ofício no início do mês pedindo informações para o Ministério da Saúde, a quem está vinculada a Anvisa, e ao Ministério da Justiça, onde está a Secretária Nacional do Consumidor (Senacon), a respeito da rotulagem dos produtos feitos de plantas (plant-based). O ofício se baseava em uma nota técnica do próprio Ministério, que faz uma análise da norma atual e conclui que os produtos de proteína vegetal não estão em conformidade. 

A partir disso, muitas informações equivocadas começaram a circular na internet, confundindo e gerando preocupação no setor de proteínas alternativas. Gustavo Guadagnini, presidente do The Good Food Institute Brasil, garante que esse é um movimento já esperado: “O GFI está totalmente envolvido no processo regulatório e esse ofício não significa uma mudança drástica de posicionamento, nem uma nova decisão. A nota técnica não é um decreto ou uma mudança de legislação, é apenas parte de um ofício, ou seja, parte de uma conversa iniciada entre ministérios, a respeito da necessidade de regulamentar um novo setor.”

O presidente do GFI Brasil afirma que não existem indícios de que o governo tentaria aplicar regras criadas anos atrás, antes mesmo do setor existir: “se o Mapa fosse cobrar a legislação atual, eles teriam autuado e multado as empresas de produtos vegetais. Todos já sabiam que o setor plant-based não está contemplado nas legislações atuais porque não existia no momento em que estas foram criadas. Então, nossa expectativa é que sejam criadas regras específicas para essa nova indústria. O que precisamos fazer agora, enquanto setor, é intensificar a comunicação com os agentes regulatórios e compartilhar fatos e dados para que eles possam tomar as decisões corretas, inclusive, durante esse momento de transição. 

Contexto global

Globalmente, discussões similares já ocorreram e é possível identificar que os argumentos contra a utilização de termos animais pela indústria vegetal não têm se sustentado. A maioria das decisões contrárias ao setor têm sido derrubadas. Conheça alguns casos:

Em 2021, a União Europeia rejeitou a Emenda 171, que tornaria as regras para comercialização de produtos lácteos vegetais ainda mais restritivas e o Parlamento Europeu também votou contra uma moção que buscava proibir produtos à base de plantas de usar termos como hambúrguer, filé e salsicha. Na França, o Decreto que entraria em vigor em outubro deste ano proibindo termos “cárneos” em produtos vegetais acabou sendo suspenso. 

Nos Estados Unidos, iniciativas tentam sem sucesso proibir o uso de termos como “leite” e “hambúrguer”. No Mississipi o processo foi arquivado após os dois lados entrarem em acordo sobre a rotulagem dos produtos e no Arkansas, um juiz concedeu uma liminar, tornando a lei inaplicável. Neste ano, a Tofurky conseguiu uma grande vitória judicial em Louisiana, quando o juiz considerou a lei inconstitucional. Com representação legal da Animal Legal Defense Fund e The Good Food Institute USA, o processo movido pela Tofurky provou que o Estado, que argumentou que termos como hambúrguer e salsicha em produtos plant-based confundem o consumidor, não apresentou nenhuma evidência comprovando isso e, portanto, não poderia provar que a lei promove o interesse do Estado de evitar a confusão do consumidor.

Já na Índia, os requisitos impostos em julho pela agência regulatória não dizem respeito a terminologias e nomenclaturas “emprestadas”: a preocupação é a de garantir que o produto vendido como “à base de plantas” seja realmente vegano. 

Vamos aos fatos: o que dizem as pesquisas sobre se os consumidores sabem o que estão comprando.

As normas criadas para cercear o uso de nomenclaturas pelo setor de produtos com base vegetal se baseiam na alegação de que o consumidor compra esses produtos por engano, já que levam nomes similares e eventualmente possuem imagens de animais. Acontece que as evidências apontam para o contrário e indicam que, na verdade, esses termos ajudam a transmitir com precisão o sabor, textura e função do produto vegetal. A maioria das pesquisas aponta que não seria mais claro para o consumidor se, em vez de “hambúrguer de ervilha”, estivesse escrito “disco de ervilha” na embalagem do produto. Similarmente, termos como “tubo vegetal” ao invés de “salsicha vegetal” só geram dificuldades de o consumidor entender a real aplicação do produto. 

Para responder esse questionamento utilizando dados reais dos consumidores brasileiros, o GFI Brasil conduziu uma pesquisa com 2500 entrevistados distribuídos por todo o país, a fim de obter um dado estatisticamente representativo. De acordo com essa pesquisa, conduzida entre maio e junho de 2022, apenas 3% dos consumidores afirmam ter comprado um produto plant-based acreditando que fosse um alimento de origem animal entre os principais motivos para a primeira compra de alternativas vegetais. Ou seja, 97% dos consumidores brasileiros compraram produtos vegetais análogos pela primeira vez por escolha própria, de forma consciente.

A pesquisa “Are Consumers Really Confused by Plant-Based Food Labels? An Empirical Study” feita em 2020 pela Cornell University, mostrou que os consumidores não são mais propensos a pensar que os produtos à base de plantas vêm de animais se o nome do produto incorporar palavras tradicionalmente associadas a produtos de origem animal. Além disso, ele também concluiu que a omissão dessas palavras nos rótulos dos produtos vegetais faz com que os consumidores fiquem confusos sobre o sabor e uso do produto. Uma pesquisa holandesa de 2020 descobriu que 96% das 22.770 pessoas entrevistadas sabiam perfeitamente que salsichas vegetais não continham carne. 

Já uma pesquisa realizada em 2021 na Austrália concluiu que 91% dos australianos nunca compraram erroneamente um produto à base de plantas pensando que era feito de carne. Na verdade, houve mais confusão por parte de consumidores que buscavam adquirir um produto vegetal e, sem querer, levaram um com ingredientes animais. O estudo analisou mais de 250 produtos vegetais alternativos à carne disponíveis em supermercados australianos e descobriu que 100% dos rótulos da frente das embalagens usam ao menos um termo para mostrar claramente que estão livres de carne. Já 85% usam dois ou mais termos para indicar que são totalmente vegetais e mais da metade usa três ou mais termos. 

Outro estudo australiano de 2022 mostrou que 96% dos entrevistados nunca compraram uma alternativa à base de plantas por engano e, dos 4% restantes, mais de 67% admitiram que o erro aconteceu porque estavam com pressa e não leram corretamente ou não prestaram atenção. Já do outro lado, a confusão é bem mais comum: 41% dos entrevistados disseram já ter comprado um produto pensando que era totalmente vegetal, para depois descobrir que continha ingredientes de origem animal. Esse tipo de erro é possivelmente causado por produtos de origem animal que usam rótulos verdes para se dizerem mais saudáveis ou sustentáveis. Viu-se que 64% dos participantes disseram que termos como “meat-free” (sem carne) ajudam a diferenciar os produtos e 57% responderam que preferem termos ainda mais específicos  (como “frango à base de plantas” e “picadinho sem carne”) para identificar o produto vegetal. 

Vale mencionar que a porcentagem de consumidores que se engana com outros tipos de informação é bem mais alta do que os 3% encontrados no Brasil. Especialistas suspeitam que uma grande parte dos consumidores não sabe diferenciar termos já aprovados para rotulagem, como a diferença entre leite e composto lácteo, ou entre creme de leite e mistura culinária. A mídia nacional, inclusive, tem feito campanhas para esclarecer os  consumidores quanto ao tema. É importante contextualizar a margem de erro aqui apresentada, comparando com outras que já são consideradas aceitáveis pela legislação. Pesquisas no Brasil e no mundo apontam que o setor de alimentos com base vegetal não é, e nem será, um problema real para o consumidor.

A verdade é que os consumidores não estão comprando produtos à base de plantas por engano. Eles estão comprando porque fazem parte do crescente movimento global de pessoas que estão em busca de produtos mais éticos, saudáveis, sustentáveis e que promovam a mesma experiência sensorial que os seus análogos. 

Outro ponto que é pauta nas alegações recentes é quanto à saudabilidade dos produtos plant-based. De acordo com recente estudo nutricional realizado pelo GFI Brasil comparando produtos vegetais com seus análogos de origem animal, foi possível observar que os alimentos feitos de planta são mais benéficos à saúde. A análise foi conduzida a partir de dados coletados nos rótulos de almôndegas, empanados, hambúrgueres, linguiça e kibes de origem animal e vegetal levando em consideração a atualização dos critérios da ANVISA para rotulagem de alimentos embalados. Entre as novas diretrizes que entram em vigor em outubro de 2022, será obrigatório informar no rótulo frontal quando o produto apresentar índices altos de sódio e gordura saturada.

Ao estabelecerem paralelos com os conceitos da Classificação NOVA, parâmetro que agrupa os alimentos conforme o nível de processamento, revelou-se que os produtos plant-based processados proporcionam uma experiência nutricional saudável e adequada, principalmente quanto aos teores de fibra, densidade calórica, açúcares e teor proteico. Alguns dos resultados encontrados foram:

Na mesma linha, pesquisas indicam benefícios ao adotar uma dieta à base de plantas, destacando vantagens relacionadas à redução da obesidade, controle da pressão arterial e colesterol. Franca et al. (2022) avaliou a composição nutricional e a natureza de processamento dos produtos plant-based. Ao estabelecerem paralelos com os conceitos da Classificação NOVA, os autores revelaram que os produtos plant-based processados (principalmente de 2° geração: substitutos de carne obtidos a partir de extrusão de alta umidade) proporcionam uma experiência nutricional saudável e adequada, principalmente quanto aos teores de fibra, densidade calórica, açúcares e teor proteico. Adicionalmente, Messina et al (2022) reportou que a composição do produto plant-based e seu impacto na saúde e sustentabilidade são os aspectos mais importantes a serem considerados na avaliação dos atributos nutricionais, ao invés do processamento envolvido na elaboração. 

Tentar impedir que produtos vegetais usem termos já amplamente conhecidos não traz benefícios para o consumidor e nem ao mercado. No Brasil, o setor de carnes e frutos do mar plant-based movimentou, no ano passado, R$ 573 milhões em vendas no varejo e já colocou os produtos brasileiros em mais de 30 países pelo mundo. Não só novas empresas surgiram para atender esse mercado como gigantes do setor de proteína animal estão investindo fortemente em produtos à base de plantas, produtores primários (de grãos, leguminosas e vegetais) também vão se beneficiar desse setor em rápida expansão; supermercados vão poder oferecer, cada vez mais, uma ampla variedades de alimentos e contemplar todos os públicos. Isso sem contar nas inúmeras oportunidades para criar empregos, em diversas áreas.

O Brasil, que é líder em exportação de produtos animais, pode aproveitar todo o potencial de sua indústria e agronegócio para liderar também no setor de proteínas alternativas. Para o presidente do GFI Brasil, isso parece ser apenas questão de tempo: “nosso diálogo com o governo hoje é muito bom e o debate entre diferentes ministérios faz parte do processo regulatório, assim como a tomada pública de subsídios e a ideia de um Plano Nacional de Proteínas Alternativas, coisas que já aconteceram. Estamos confiantes que o processo regulatório Brasileiro será a favor da inovação e virá para lançar o agro brasileiro à liderança do setor de proteínas alternativas mundial.”

Faça parte do time GFI Brasil: conheça as vagas disponíveis

Se assim como nós você também acredita que um mundo melhor é possível, temos um lugar te esperando aqui no The Good Food Institute Brasil. 

Encorajamos profissionais de todas as cores, orientações, idades, gêneros e origens a se inscreverem. A fim de contribuir para a diminuição das barreiras que separam pessoas pretas, indígenas e trans de oportunidades que valorizem o seu talento, estamos oferecendo duas oportunidades exclusivas para profissionais com este perfil. Valorizamos um local de trabalho diverso e inclusivo, e garantimos a sua proteção contra qualquer tipo de discriminação ou assédio durante o processo de inscrição e depois que se juntar à equipe.

Conheça todas as vagas abertas e se atentem às datas de cada candidatura.

Como Especialista em Ciência e Tecnologia do GFI Brasil, você trabalhará para o desenvolvimento científico das proteínas alternativas com foco nos produtos feitos de planta (plant-based), liderando a elaboração de documentos e projetos. Também terá a oportunidade de atuar em com as tecnologias de fermentação e carne cultivada, de acordo com as demandas. Participará de projetos que fomentem o financiamento, público e privado, à pesquisa científica sobre proteínas alternativas no Brasil, e se envolverá nos projetos de ciência e tecnologia que vão dar suporte à nossa missão e às transformações para o mundo que tanto visionamos. 

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Como Analista de Comunicação, você terá a oportunidade de contribuir na transformação do atual sistema de produção de alimentos, auxiliando na organização e no planejamento das estratégias de comunicação criadas para promover o setor de proteínas alternativas. Esta vaga é exclusiva para pessoas pretas ou trans.

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Nesta função, você vai prestar suporte técnico, operacional e analítico a projetos, produzirá relatórios e contribuirá na elaboração de documentos na área de carne cultivada e nas demais áreas tecnológicas relacionadas a proteínas alternativas. Além disso, terá a oportunidade de participar de projetos que fomentem o financiamento à pesquisa científica sobre proteínas alternativas no Brasil.

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Como Analista de Políticas Públicas, você terá a oportunidade de ser parte da solução para um dos maiores desafios que nossa geração enfrenta: alimentar 10 bilhões de pessoas de forma sustentável, segura, acessível, e com respeito aos hábitos e culturas alimentares. Procuramos alguém com foco principalmente nas atividades de apoio e de gestão do conhecimento na área de políticas publicas (Legislativo, Executivo e Judiciário) no Brasil e nos países da América Latina e Caribe. Esta vaga é exclusiva para pessoas pretas, trans ou indígenas.

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GFI Brasil lança chamada para o Mapeamento do Estágio de Desenvolvimento da Tecnologia de Fermentação Aplicada às Proteínas Alternativas no Brasil

Projeto inicia em novembro de 2022 e tem prazo de 6 meses

O The Good Food Institute Brasil convida empresas e instituições interessadas em desenvolver o Mapeamento do Estágio de Desenvolvimento da Tecnologia de Fermentação Aplicada às Proteínas Alternativas no Brasil a enviarem suas propostas até o dia 31 de julho. 

O objetivo principal do estudo é entender o estágio de desenvolvimento da tecnologia de fermentação aplicada às proteínas alternativas, os potenciais e desafios da tecnologia, gargalos e oportunidades para produção em larga escala. Visando o desenvolvimento da tecnologia de fermentação aplicada às proteínas alternativas no Brasil, o mapeamento deve contribuir para o aprofundamento de um plano estratégico e prover subsídios técnicos e científicos para orientar as futuras ações de legisladores, reguladores, empresas, professores e pesquisadores da área.

O estudo será dividido em seis etapas: elaboração de um white paper sobre a tecnologia de fermentação aplicada às proteínas alternativas; de um glossário com termos técnicos usuais dessa tecnologia; identificação da organização da comunidade científica e infraestrutura de pesquisa; elaboração de um plano educacional para formação de pessoas na área de fermentação aplicada às proteínas alternativas; avaliação da geoeconomia da fermentação aplicada às proteínas alternativas; e elaboração de um plano estratégico para o desenvolvimento da tecnologia de fermentação aplicada às proteínas alternativas no Brasil.

O projeto é previsto para iniciar em novembro de 2022 e o prazo desejado para a execução é de seis meses. As propostas poderão ser enviadas até dia 31 de julho, em formato PDF, para o email ciencia@gfi.org. O documento deverá conter, obrigatoriamente, um cronograma, os valores previstos para execução de cada etapa, o investimento total, a metodologia a ser utilizada e o currículo dos profissionais que vão desenvolver o trabalho.

O edital completo, com todas as orientações para a submissão da proposta, assim como todas as demais informações sobre o estudo, podem ser acessadas neste link.

Contextualização

A fermentação é utilizada há milênios na produção de alimentos (como pão,  cerveja, vinho, vinagre e outros produtos básicos). No entanto, no último século, a tecnologia moderna possibilitou que a fermentação ganhasse diversas novas aplicações.

Na indústria de proteínas alternativas, a fermentação refere-se ao cultivo de microrganismos com a finalidade de processar um alimento ou ingrediente; obter mais do próprio microrganismo como fonte primária de proteína ou ingredientes específicos (como aromatizantes, enzimas, proteínas e gorduras para incorporação em produtos feitos de plantas ou carne cultivada). A indústria plant-based utiliza a fermentação tradicional, a fermentação industrial de biomassa e a fermentação de precisão como três técnicas principais.

Os desafios para tornar produtos feitos de plantas com características sensoriais, funcionais e nutricionais similares aos convencionais são vários. Busca-se por tecnologias e ingredientes que contribuam para o incremento dessas características nos produtos vegetais, que proporcionem uma experiência de consumo igual ou melhor do que os produtos de origem animal análogos.

A tecnologia de fermentação tem se apresentado como uma grande aliada na resolução desses desafios, viabilizando o aprimoramento das características desejadas e resultando em produtos vegetais mais saborosos, nutritivos e similares aos convencionais. Ela também tem contribuído para o desenvolvimento da tecnologia de carne cultivada, produzindo importantes moléculas específicas do processo (como fatores de crescimento livre de origem animal). Além disso, proteínas como colágeno e fibronectina, produzidas por meio da fermentação, podem servir como componentes de suporte em substituição às suas versões de origem animal.

Dessa forma, a fermentação mostra ser uma tecnologia capacitadora e inovadora para o setor de proteínas alternativas, contribuindo para uma nova geração de ingredientes e produtos com atributos sensoriais e funcionais aprimorados. Não à toa, no início de 2022, a fermentação foi citada pelo GFI como uma das sete tendências globais que vão dominar o setor plant-based.

GFI Brasil apresenta panorama sobre a indústria de carne cultivada em publicação inédita

O Brasil desempenha um papel central na produção e no abastecimento global de alimentos e de proteína animal. Com a urgência em se pensar formas mais sustentáveis de alimentar uma população que deve chegar a quase 10 bilhões em 2050, é fundamental que o país também seja capaz de ofertar os alimentos que as pessoas querem continuar a comer, desenvolvidos com mais tecnologia. Tendo isso em vista, o The Good Food Institute Brasil acaba de lançar a publicação “Carne Cultivada: perspectivas e oportunidades para o Brasil”. O objetivo é apresentar um panorama atualizado sobre a tecnologia, em língua portuguesa, para servir de referência a todos os agentes envolvidos nesta indústria, como cientistas, reguladores, empreendedores e qualquer pessoa interessada em saber mais sobre a tecnologia. 

Com textos de Dr. Luismar Marques Porto e Dra. Fernanda Vieira Berti, e coordenação técnica do GFI Brasil, o documento introduz o tema de uma forma abrangente, trazendo  aspectos tecnológicos, econômicos e sociais, que podem ser utilizados para nortear o desenvolvimento do setor da carne cultivada no país. Destaca, ainda, as inúmeras oportunidades desse novo mercado para o país e descreve os potenciais desafios que precisarão ser superados em seu desenvolvimento. 

“O Good Food Institute (GFI) tem sido um importante catalisador de todo este processo no Brasil e no exterior, fornecendo subsídios para o desenvolvimento do setor de proteínas alternativas no mundo. Nesse cenário, o GFI não poderia deixar de ser um agente de transformação e de apoio no país onde a carne é um produto de primeira linha, de relevância econômica indiscutível, e objeto de desejo e de consumo como em poucos lugares do mundo”, afirma Cristiana Ambiel, Gerente  de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil.

O GFI espera que este documento seja útil como fonte de informação técnica introdutória, ou mesmo para auxiliar na tomada de decisões, estabelecendo políticas e estratégias de P&D e de investimento no setor de carne cultivada no Brasil. Como este documento contém uma série de terminologias técnicas acerca do tema “Carne Cultivada”, é recomendado que os leitores e leitoras acessem, também,  o Glossário de Carne Cultivada, desenvolvido pelos mesmos autores. 

A tecnologia

De forma resumida, a produção de carne cultivada acontece a partir da multiplicação de células dentro de biorreatores em ambiente fabril. O produto final contém os mesmos tipos de células que formam o tecido muscular dos animais, portanto, tem potencial para replicar o perfil sensorial e nutricional da carne convencional. 

Entretanto, essas novas tecnologias exigem um amplo conhecimento e integração de técnicas avançadas de cultivo celular, biologia molecular, engenharias (tecidual, química, de alimentos, mecânica, de materiais, de controle e automação), bioquímica, bioinformática, ciência e tecnologia de biomateriais. A complexidade técnica está presente na produção de todas as carnes cultivadas a partir do cultivo celular.

“Por ser um processo que envolve diferentes tecnologias, o investimento em pesquisa científica é imprescindível para o desenvolvimento do setor em escala. Até o momento, grande parte da P&D no setor ainda acontece através de startups estrangeiras. Mas o Brasil entrou recentemente para a corrida, tem como vantagem cientistas altamente capacitados para trabalhar no tema e, em breve, será capaz de levar carne cultivada ao prato do consumidor”, explica Dra. Amanda Leitolis, especialista de ciência e tecnologia do GFI Brasil.

O papel do Brasil

Em julho de 2021, a empresa brasileira BRF anunciou o aporte de 2,5 milhões de dólares na Aleph Farms, startup israelense de carne cultivada. Este movimento não apenas solidificou o aquecimento do setor de cultivo de carne, como também sinalizou a iminência de se ter um produto comercial a curto prazo, uma vez que a tecnologia da Aleph Farms para produzir carne cultivada estaria disponível no Brasil já em 2024. 

Também em 2021, a JBS, líder global na produção de proteínas e a maior empresa de alimentos do mundo, firmou acordo para aquisição do controle da empresa espanhola BioTech Foods, prevendo o investimento na construção de uma nova unidade fabril na Espanha para dar escala à produção. Além da aquisição, a JBS também anunciou a implantação do primeiro Centro de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) em Biotecnologia e Proteína Cultivada do Brasil.

Esta é uma grande aportunidade para a indústria nacional, pois gera interesse e demanda em se desenvolver tecnologia em território nacional. Com isso, há também a necessidade de se incentivar a inovação e o empreendedorismo nacionais, e de se regulamentar de forma adequada a produção e a comercialização, além de se fomentar a pesquisa e a formação de recursos humanos para o setor.

Perspectivas de futuro

A produção de carne cultivada em escala industrial a partir de células animais para consumo humano é, sem dúvida, um grande desafio de nossa geração. Entretanto, este é um caminho sem volta em direção ao futuro da alimentação. Os passos iniciais mais importantes já foram dados, com inúmeros casos bem sucedidos..

Utilizando os mais avançados conhecimentos científicos e capacidade tecnológica, é possível transformar a forma como produzimos alimentos para que a cadeia se torne mais inteligente, sustentável e segura.

O Brasil possui as condições necessárias para se tornar terreno fértil deste ecossistema. Com a união de esforços da iniciativa privada com os agentes governamentais, sobretudo com as instituições de ciência e tecnologia (ICTs) e agências reguladoras, é possível motivar o fluxo de capital e estimular o desenvolvimento de pesquisadores e profissionais dedicados a essa área tão estratégica para o país. O estabelecimento de um programa nacional de carne cultivada é uma oportunidade de promoção e qualificação de recursos humanos, que avançará a economia brasileira.

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