COP 29: reflexões e o caminho para Belém

Como era esperado pela maior parte dos países e organizações, a COP 29, embora muito bem organizada, não trouxe avanços significativos para a agenda climática. Apesar disso, o evento reforçou a importância de continuar o trabalho conjunto e destacou que a atenção global agora está voltada para a COP 30, que acontece em 2025, em Belém. Mais do que uma pausa, esse intervalo representa uma oportunidade: temos um ano para trabalhar intensamente, fortalecer alianças e garantir que as soluções necessárias, como as proteínas alternativas, ganhem o destaque que merecem. Ainda que os resultados da COP 29 tenham ficado aquém das expectativas, o fortalecimento da comunidade global focada em alimentos e clima é um avanço que não pode ser ignorado. Hoje, estamos mais alinhados e preparados para avançar com essa conversa, tanto na COP quanto em outros espaços estratégicos. Essa força coletiva será essencial para garantir que, em Belém, o foco esteja na urgência de transformar os sistemas alimentares e de redirecionar recursos para as soluções com maior impacto positivo possível. Avanços e desafios da COP 29 O principal resultado desta edição foi o acordo para destinar US$300 bilhões anuais para o financiamento climático até 2030. Embora distante do US$1,3 trilhão inicialmente demandado pelos países do Sul Global, o valor representa uma direção importante. O texto final, no entanto, menciona alimentos apenas uma vez, destacando que as medidas de mitigação e adaptação a serem implementadas não devem colocar em risco a produção de alimentos, mas falha em oferecer detalhes sobre como o financiamento será direcionado a sistemas alimentares sustentáveis. Além disso, produtores rurais e pequenos agricultores, considerados grupos vulneráveis, não foram citados no documento final, o que foi criticado pela sociedade civil. No próximo ano, o debate será centrado na chamada “Road from Baku to Belém”, com o desafio de transformar os US$300 bilhões anuais em um total de US$1,3 trilhões. Esse escalonamento exigirá a diversificação das fontes de financiamento, mobilizando não apenas recursos públicos, mas também investimentos privados, parcerias internacionais e mecanismos inovadores. Essa abordagem integrada será essencial para garantir que as soluções climáticas sejam robustas e efetivas. O GFI Brasil está comprometido em apresentar projetos que demonstrem o impacto positivo de sistemas alimentares alternativos, especialmente nas economias do Sul Global. Aproveitaremos as lições aprendidas nas COPs anteriores para propor soluções práticas e ampliar as oportunidades de financiamento climático. Outro destaque desta edição foi a Declaração sobre Metano, que gerou controvérsia ao focar exclusivamente nas emissões provenientes de resíduos orgânicos, responsáveis por cerca de 18% das emissões globais de metano, enquanto ignorou completamente a pecuária, que contribui com aproximadamente 40%. Mais de 30 países se comprometeram a incluir metas de redução de metano derivados dos resíduos orgânicos nas suas futuras NDCs, mas essa abordagem reflete uma resistência em enfrentar diretamente o impacto ambiental da produção de produtos de origem animal – e reforça a necessidade de organizações como o GFI intensificarem o debate sobre soluções escaláveis na indústria de alimentos. Além disso, o Trabalho Conjunto de Sharm el-Sheikh sobre Agricultura (SSJWA) lançou um portal online para compartilhamento de projetos relacionados à agricultura e segurança alimentar, com potencial de atrair investimentos e facilitar a ampliação de iniciativas climáticas na agricultura. Essa ferramenta, em desenvolvimento desde a COP 27, busca integrar uma abordagem mais ampla e inclusiva para os sistemas alimentares, que abrangem múltiplos setores da economia e todos os elos da cadeia de produção e consumo de alimentos. O GFI Brasil continuará trabalhando ao lado de negociadores e parceiros para apresentar projetos bem-sucedidos e buscar recursos que ampliem o impacto de iniciativas alinhadas a essa agenda. Esse trabalho é essencial para garantir que os sistemas alimentares sejam priorizados em futuras discussões climáticas, especialmente na “Road from Baku to Belém” que se desenrolará até a COP 30 no Brasil. Por fim, foi lançada a Iniciativa Climática Baku Harmoniya para Agricultores, que busca harmonizar programas existentes e integrar agricultores, especialmente mulheres e comunidades rurais, às ações climáticas voltadas para alimentos. Apesar da proposta ser muito promissora para construir soluções climáticas inclusivas e sustentáveis, sua operacionalização ainda precisa ser detalhada, e nós acompanharemos de perto seus desdobramentos. Oportunidades na NDC Brasileira Durante a COP 29, Brasil, Reino Unido e Emirados Árabes Unidos apresentaram atualizações de suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). No caso do Brasil, a revisão da NDC está associada ao Plano Clima e seus planos setoriais,com previsão de finalização até março de 2025. Há uma expectativa crescente de que as versões finais sejam mais inclusivas e ambiciosas. O GFI Brasil enxerga essa revisão como uma oportunidade crucial para integrar políticas que incentivem a produção sustentável de alimentos, especialmente as proteínas para consumo humano, como parte de uma estratégia alimentar mais alinhada com os desafios climáticos. Incorporar metas específicas para sistemas alimentares será essencial para posicionar o Brasil como líder em soluções sustentáveis, contribuindo significativamente para a mitigação das emissões globais. Um caminho positivo para Belém O maior legado da COP 29 não está nos textos finais ou nos compromissos firmados, mas no fortalecimento de uma comunidade global de comida e clima mais unida e determinada a enfrentar os desafios climáticos. Esse alinhamento será fundamental para garantir que, na COP 30, os sistemas alimentares estejam no centro das discussões. Ao longo das COPs 27, 28 e 29, o GFI Brasil colaborou com diversos parceiros para consolidar a agenda de sistemas alimentares no centro das negociações climáticas. O próximo desafio é transformar essa conexão em ações climáticas concretas, apresentando projetos robustos que demonstrem o impacto positivo de novas formas de se produzir proteínas como uma solução viável, escalável e estratégica no combate às mudanças climáticas. A COP 30 será uma oportunidade única para avançar essa agenda. Com planejamento estratégico, mobilização de recursos e parcerias fortalecidas, estamos confiantes de que Belém terá o potencial para gerar mudanças estruturais na agenda climática global Belém nos espera e, com ela, a chance de transformar o potencial das proteínas alternativas em soluções concretas e duradouras para um futuro mais sustentável.
Novas fontes e sistemas de produção de alimentos: principais resultados do relatório FAO 2023

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) divulgou recentemente o relatório da Reunião Técnica de Prospectiva de Segurança de Alimentos sobre Novas Fontes e Sistemas de Produção de Alimentos de 2023, que aconteceu em novembro do mesmo ano. Este encontro contou com a presença de especialistas globais, incluindo Graziele Karatay, Especialista de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil, para discutir os desafios e oportunidades relacionados à segurança dos alimentos plant-based, e das tecnologias de fermentação de precisão e impressão 3D de alimentos. O documento sintetiza a literatura existente nessas novas fontes e sistemas de produção de alimentos, abordando tanto os riscos à segurança de alimentos, quanto outros aspectos relevantes, como características nutricionais, impactos ambientais e percepção dos consumidores. 1. Questões de Segurança de Alimentos Esse tópico emergiu como um dos principais pontos de discussão no desenvolvimento de novos alimentos e sistemas de produção e os principais pontos destacados no relatório nas três áreas são: Plant-based Os perigos de segurança de alimentos são semelhantes aos dos alimentos convencionais. Os consumidores podem erroneamente considerar os produtos não cozidos como seguros. Uma gestão adequada da segurança de alimentos pode reduzir significativamente os riscos, como microrganismos patogênicos e de deterioração, e contaminantes químicos. Fermentação de precisão As etapas de produção são geralmente bem conhecidas e controladas. Perigos potenciais: crescimento de microrganismos patogênicos, contaminantes químicos, alergenicidade. A seleção rigorosa de cepas, o monitoramento adequado e o cumprimento das diretrizes de segurança de alimentos podem reduzir os riscos. Impressão 3D de alimentos Fatores-chave para prevenir o crescimento microbiano: Parâmetros para impressão, processamento, armazenamento e condições de formulação dos ingredientes de entrada. O projeto higiênico do equipamento é crítico para evitar a lixiviação (processo pelo qual substâncias indesejadas, como contaminantes, são transferidas do equipamento, no caso a impressora, para o alimento). 2. Características Nutricionais Plant-based Possíveis benefícios para a saúde: melhoria nos marcadores cardiometabólicos e na saúde intestinal. Possíveis deficiências nutricionais: vitamina B12 e certos aminoácidos (como metionina e cisteína, no caso de alimentos à base de leguminosas). Fermentação de precisão Pode alterar as propriedades dos produtos nativos (por exemplo, reduzir a alergenicidade e aumentar a biodisponibilidade) ou produzir novos produtos. Impressão 3D de alimentos A dosagem precisa de vários ingredientes ou nutrientes pode ajudar a atender às necessidades nutricionais individuais. 3. Aspectos Ambientais Plant-based Alimentos à base de plantas podem ter uma pegada ambiental menor do que os alimentos de origem animal, mas comparações diretas são complexas. Fermentação de precisão Menor impacto ambiental em comparação com laticínios convencionais (por exemplo, emissões de metano e agroquímicos). A produção de alimentos em ambientes fechados e controlados não é afetada pelas condições climáticas. Alto consumo de eletricidade. Impressão 3D de alimentos Os aspectos de sustentabilidade ambiental da impressão 3D de alimentos permanecem inexplorados. 4. Percepção do Consumidor Plant-based Interesse do consumidor em experimentar alimentos à base de plantas. Percepção de serem “altamente processados”. Reduzir os custos e aumentar a diversidade de produtos melhorará a adoção pelos consumidores. Fermentação de precisão Disposição do consumidor para experimentar produtos com ingredientes feitos por fermentação de precisão. Segurança, nutrição, sabor e impactos ambientais são fundamentais para a aceitação do consumidor. Impressão 3D de alimentos As percepções dos consumidores são influenciadas pela falta de conhecimento sobre alimentos impressos em 3D e pela terminologia técnica (por exemplo, vistos como “não naturais” e “sintéticos”). Conclusão O relatório da FAO oferece uma visão abrangente dos avanços e desafios na produção de alimentos plant-based, obtidos por fermentação de precisão e impressão 3D, reafirmando a importância de regulamentações robustas, desenvolvimento contínuo e uma comunicação clara com o consumidor. O GFI Brasil segue acompanhando esses avanços para garantir que essas inovações possam ser amplamente implementadas, com segurança e benefícios claros tanto para o meio ambiente quanto para a saúde pública. Acesse o relatório completo aqui. A FAO também produziu uma série de 4 vídeos a partir de entrevistas feitas com os especialistas durante a reunião técnica. Confira a playlist no Youtube. https://www.youtube.com/watch?v=1N7KhFl5bD8&list=PLzp5NgJ2-dK7OoCcSAP-tyVzmuiCsEo8G&index=5
GFI na Bonn Climate Change Conference

Entre os dias 5 a 15 de junho, acontece na cidade de Bonn, na Alemanha, o Bonn Climate Change Conference (SB58). O evento foi projetado para preparar as tomadas de decisões relacionadas à contenção da crise climática, a serem adotadas na COP28 nos Emirados Árabes Unidos em dezembro. A conferência convocará a 58ª sessão dos órgãos subsidiários das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), incluindo discussões de importância crítica, como o Balanço do Objetivo Global de Adaptação. Esse documento subsidia uma análise profunda sobre como o mundo está em ação ao clima, identificando as lacunas e trabalhando de forma articulada para chegar a um acordo sobre os caminhos das soluções, até 2030 e além. O GFI é uma das organizações observadoras das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), podendo participar de eventos, acompanhar negociações e submeter contribuições técnicas aos grupos de trabalho que se juntam para analisar e definir resoluções da Conferência das Partes, a COP. Por isso, Mariana Bernal, Analista de Políticas Públicas do GFI Brasil, estará presente participando do evento paralelo Unlocking the Potential of Alternative Proteins and Plant Rich Diets, das 16h15 às 17h30 (CEST) | 11h15 às 12h30 (GMT-3), a fim de mostrar o papel que as proteínas alternativas podem desempenhar no debate climático. Você pode assistir ao evento através deste link. “Queremos mostrar que, por meio do desenvolvimento de ingredientes vegetais como o feijão e espécies vegetais nativas da Amazônia e do Cerrado, podemos contribuir para a preservação da biodiversidade desses biomas. Uma das formas de fazer isso é apoiar pequenos e médios produtores de alimentos a diversificarem suas produções por meio da bioinovação”.
7 de junho: Dia Mundial da Segurança de Alimentos

A alimentação segura é essencial para promover a saúde humana e erradicar a fome. GFI quer garantir a segurança de produtos à base de plantas. O Dia Mundial da Segurança dos Alimentos foi criado pela ONU em 2018 e é celebrado todo 7 de junho. O principal objetivo da data é chamar a atenção para a importância de todos os seres humanos terem acesso a alimentos seguros, além de fortalecer esforços para prevenir, detectar e gerenciar perigos de origem alimentar. O acesso a quantidades suficientes de alimentos seguros e nutritivos é fundamental para sustentar a vida e promover a boa saúde. Apesar de ser um direito, o acesso à alimentação adequada ainda não é a realidade de muitas pessoas no planeta. Por isso, o tema da campanha de 2022 é “Alimentação Segura, Melhor Saúde”. Segurança alimentar e segurança dos alimentos são dois conceitos que vêm ganhando destaque no debate público, especialmente no contexto da pandemia da COVID-19. Os termos são parecidos e estão correlacionados, mas têm significados diferentes: segurança alimentar é a garantia que todas as pessoas tenham acesso aos alimentos, com fornecimento estável, abastecimento assegurado e distribuição equitativa. Já a segurança de alimentos trata de garantir que os alimentos consumidos pelas pessoas sejam seguros e livres de contaminação, ou seja, não causem nenhum efeito adverso à saúde dos consumidores, quando consumidos de acordo com o seu uso pretendido. Não existe segurança alimentar sem segurança dos alimentos e, como cita o novo guia da FAO/OMS para o Dia Mundial da Segurança dos Alimentos, “se não for seguro, não é alimento”. Segundo a FAO, quase uma em cada três pessoas no mundo, ou 2,37 bilhões de pessoas, não teve acesso à alimentação adequada em 2020 – um aumento de quase 320 milhões de pessoas em relação ao ano de 2019. O trabalho do GFI pela segurança dos alimentos Os setores de alimentos feitos de planta (plant-based) e carne cultivada estão presentes em muitos dos drivers e tendências analisados pelo estudo da FAO “Pensando no futuro da segurança de alimentos – um relatório prospectivo”. Além dessas alternativas mais “populares”, a produção de algas marinhas e macroalgas e a produção de micoproteínas (derivadas de fungos filamentosos) também são citados pelo relatório como segmentos em expansão. A indústria de alimentos à base de plantas pode não só ajudar na transição para um sistema alimentar global mais sustentável, saudável, ético e justo, mas também pode ajudar a evitar que crises relativas à segurança dos alimentos continuem surgindo. Isso porque produtos de origem animal (como ovos, peixes, frutos do mar, carne crua, leite e derivados), quando mal manuseados, se tornam fontes de transmissão de DTAS, e a adoção de uma dieta baseada em plantas poderia minimizar essas contaminações. Além disso, o consumo de proteínas alternativas vai continuar crescendo e, como indica relatório do GFI (que prevê os requisitos globais de volumes de produção relativos à colheita, ingredientes, infraestrutura e investimentos para o setor em 2030), a indústria vai precisar se preparar e se adaptar para suprir a demanda. Pensando nisso, o The Good Food Institute Brasil está trabalhando diretamente em duas iniciativas para contribuir com a segurança de alimentos das proteínas alternativas. A primeira iniciativa trata-se de um estudo de segurança de alimentos aplicado para carne cultivada. Este estudo, iniciado recentemente, está sendo realizado na UNICAMP por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores e sob a coordenação do professor Dr. Anderson S. Sant’Ana. O objetivo final do estudo é estabelecer um plano de segurança de alimentos que aborde os aspectos de qualidade e segurança da produção de carne cultivada usando como base as recomendações do Codex Alimentarius. Além desta iniciativa, em maio o GFI lançou umaa chamada para o desenvolvimento de um outro estudo sobre segurança de alimentos, porém voltado para produtos plant-based. Por isso,convidamos pesquisadores, empresas e instituições interessadas a enviarem suas propostas até o dia 9 de junho. Estes dois trabalhos, , que terão duração de 4 e 5 meses, vão contribuir para geração de subsídios técnicos e científicos para orientar as futuras ações de legisladores, pesquisadores, professores, produtores e empresários do segmento. Em comparação aos produtos de carne convencional, as alternativas à base de plantas geralmente são compostas por uma diversidade maior de ingredientes – as proteínas vegetais, por exemplo, variam entre leguminosas, pulses, sementes, cereais e tubérculos, e as gorduras costumam vir de um combinação entre óleos (como de canola, coco, soja e girassol), manteiga de cacau, etc. A diversidade de ingredientes nos produtos plant-based é uma vantagem, porque possibilita o ajuste da composição para alcançar as necessidades tecnológicas, funcionais e sensoriais desejadas, mas também pode gerar um ponto de atenção, porque aumenta o número de fontes de onde perigos podem surgir. Além disso, apesar da indústria de alternativas à base de plantas ter nascido fortemente associada à de produtos animais, as considerações de segurança entre elas são bem diferentes. O desafio de hoje é identificar todos os potenciais riscos para superá-los e quanto mais informações científicas, melhor. Por isso, o GFI vem trabalhando em parceria com o governo, municiando as equipes técnicas do Mapa e da Anvisa com dados essenciais para o processo regulatório dos produtos plant-based no Brasil. O que mais precisamos saber sobre Segurança de Aimentos? Incidentes locais, efeitos globais Além de essencial para a saúde humana, a produção de alimentos seguros também reduz o desperdício, preserva recursos, beneficia a economia, cria mercados nacionais prósperos, exportações estáveis e reduz a pressão sobre os sistemas de saúde. A segurança dos alimentos é afetada pela saúde dos animais, das plantas e do ambiente em que eles são produzidos; por isso, o problema deve ser tratado de forma holística, onde o planeta é visto como um sistema único e complexo. Hoje, qualquer incidente na cadeia de suprimento de alimentos pode desencadear efeitos negativos não só regionais, mas globais. De acordo com a ONU, embora o vírus da COVID-19 não seja transmitido por alimentos, a pandemia colocou em destaque muitas questões relacionadas a eles, como higiene, resistência antimicrobiana, doenças zoonóticas, mudanças climáticas e
Comissão do Codex Alimentarius concede status de observador ao GFI

Para apoiar o setor de proteínas alternativas em escala global, precisamos de uma estrutura regulatória internacional forte. Em um esforço para apoiar esse movimento, o GFI solicitou e acaba de obter o status de observador oficial na Comissão do Codex Alimentarius, uma comissão conjunta da FAO-OMS dedicada ao desenvolvimento de padrões globais para segurança alimentar e comércio exterior para consumidores, produtores, processadores e agências reguladoras. O status de observador permite que o GFI participe do desenvolvimento de padrões para o setor de proteínas e participe de reuniões de comitês individuais do Codex relevantes para o nosso trabalho. A proteína alternativa está se expandindo, mas os desafios permanecem O setor de proteínas alternativas se expandiu rapidamente nos últimos cinco anos. À medida que a oferta de produtos feitos de plantas aumenta, com o desafio de fornecer uma experiência sensorial semelhante à de seus equivalentes de origem animal, os consumidores os aceitam cada vez mais. Espera-se que esta indústria continue crescendo, atraindo mais players para o setor, investimentos em produtos existentes e na criação de novos. No entanto, esses avanços não vêm sem desafios. As regulamentações atuais sobre proteínas alternativas estão aquém do estado atual do setor e do ritmo de seu desenvolvimento. Por ser um segmento relativamente novo, as discussões sobre a padronização de boas práticas e recomendações técnicas para uma regulamentação consistente ainda são incipientes. Para avançar a indústria de proteínas alternativas, precisamos de uma estrutura regulatória global. Uma forte estrutura regulatória é fundamental para o avanço do setor de proteínas alternativas, uma vez que emprega tecnologias específicas para criar e produzir seus produtos alimentícios. O apoio ao crescimento desse setor pode ter impactos diretos e positivos sobre os problemas globais relacionados à saúde humana, degradação ambiental e pobreza global.Em um mundo atingido por uma pandemia, essas questões se tornaram ainda mais urgentes. E o consumo de proteína alternativa está em um ponto mais alto. Um conjunto robusto de códigos e regulamentações permitirá que a indústria atenda a essa demanda crescente, fornecendo alimentos seguros e nutritivos. Com padrões que podem ser aplicados da fazenda à mesa, a indústria de proteína alternativa pode garantir aos varejistas, importadores e consumidores que seus alimentos são seguros para o consumo. Estamos colaborando com o Codex para apoiar o futuro dos alimentos. A compreensão de regulamentações abrangentes só pode ser construída por meio da colaboração diversificada de conhecimento científico sólido. O Codex dá as boas-vindas aos ouvintes para que contribuam com sua experiência no setor para o processo de definição de padrões internacionais. Como observador, a GFI agora é uma das organizações que pode opinar sobre essas discussões críticas. Através desta oportunidade, nossas equipes comprometidas de cientistas, empresários e especialistas em políticas estão prontas para trabalhar com a comissão para construir uma estrutura regulatória de padrões internacionais de segurança alimentar que apóie um sistema alimentar global mais sustentável, saudável e justo. Para saber mais sobre o trabalho da GFI para garantir um cenário regulatório justo para proteínas alternativas, verifique nossos recursos para legisladores.
Dia Mundial da Alimentação, celebrado hoje, chama a atenção para os desequilíbrios dos sistemas alimentares

Há quase 4 décadas, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO-ONU) celebra não apenas a sua fundação, ocorrida em 16 de outubro de 1981, mas também o Dia Mundial dos Alimentos. Com o tema “Crescer, nutrir, sustentar. Juntos.”, mais do que uma data festiva, o dia chama a atenção para a necessidade de uma solidariedade global que auxilie os países, especialmente os mais vulneráveis, a se recuperarem da crise de socioeconômica e de saúde provocada pelo Covid-19. Em apoio às ações de mobilização que devem acontecer em 150 países, o The Good Food Institute destaca neste texto alguns números que revelam os desafios e as soluções para garantir um sistema alimentar mais sustentável, saudável e justo para todos. Quais são os desafios? No ano passado (2019), a ONU divulgou um estudo afirmando que mais de 820 milhões de pessoas passam fome no mundo todo. Só na América Latina e Caribe, são 42,5 milhões. Com a previsão de que até 2050 a população global deve chegar a quase 10 bilhões de pessoas, os números são ainda mais preocupantes. Para alimentar a todos será necessário aumentar a produção de alimentos em 70%. Ainda que os progressos tecnológicos tenham melhorado a produtividade agrícola, fazendo com que hoje seja possível produzir comida suficiente para todos, os desequilíbrios nos sistemas alimentares levam a crer que aumentar a produção nesta quantidade, não será tarefa fácil. Os desafios incluem elevar a produtividade de alimentos de maneira sustentável, a fim de diminuir os impactos ambientais, redobrar os cuidados para evitar a contaminação de alimentos que podem propagar doenças em humanos e animais, utilizar os recursos naturais disponíveis sem esgotá-los e ainda assim possibilitar que nenhum ator dessa imensa cadeia produtiva seja prejudicado com as transformações necessárias. A demanda por carnes será especialmente afetada. Isso, porque exigirá a criação e o confinamento de ainda mais animais, aumentando os riscos de transmissão de doenças para seres humanos. O Covid-19 foi provocado pelo consumo e comercialização de animais silvestres, assim como a AIDS, o Ebola e outras pandemias. Ao mesmo tempo, há organismos capazes de gerar doenças que surgem nas produções de animais para consumo, como é o caso da gripe aviária, gripe suína e gripe espanhola. De acordo com a OMS, 60% das novas doenças infecciosas se originaram em animais. A produção de alimentos tem sido uma das mais importantes rotas de transmissão dessas doenças, também pelo uso intensivo de antibióticos na produção animal. Como resultado, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase uma em cada 10 pessoas adoece e 420 mil morrem todos os anos devido à ingestão de água ou alimentos contaminados por bactérias, vírus, parasitas ou substâncias químicas. Há, ainda, um grande risco de insegurança alimentar (falta de comida) associado às pandemias animais. No ano passado, a Peste Suína Africana dizimou criações de porcos na China, fazendo com que o país tivesse que comprar alimentos no exterior, gerando um aumento do preço da carne no mundo todo. De acordo com o jornal britânico The Guardian, mesmo abatendo todos os porcos vivos no mundo não seria possível suprir a demanda chinesa. Em maio de 2020, a Índia reportou mais de 11 surtos da mesma doença, considerada o maior impacto na produção de proteína global (maior do que o Covid-19). Além da insegurança, há um grande problema relacionado à perda e o desperdício de alimentos. Segundo a FAO-ONU, 1,3 bilhão de toneladas de comida é desperdiçada ou se perde ao longo das cadeias produtivas de alimentos todos os anos. O volume representa 30% de todo alimento produzido por ano globalmente. O desperdício é responsável por 46% da quantidade de comida que vai parar no lixo. Já as perdas — que ocorrem sobretudo nas fases de produção, armazenamento e transporte — correspondem a 54% do total. Soluções em curso Cada vez mais os produtores, indústria, governos e cientistas se unem para elaborar soluções que possam permitir o aumento da produção global de alimentos de forma mais sustentável. Podemos citar melhorias nas práticas de manejo, estudos para aumento sustentável de produtividade no campo, implementação de novas tecnologias agrárias e, também, o desenvolvimento de novas fontes de proteína. Nesse sentido, o fortalecimento da indústria de proteínas alternativas é um dos caminhos necessários para o futuro da alimentação no mundo. Essa indústria não tem o objetivo de atender apenas uma demanda de nicho do mercado vegetariano. A meta é entregar alimentos que possam ser consumidos por todas as pessoas, com as características de sabor, aroma e textura daqueles que são consumidos em larga escala. “Os substitutos vegetais análogos à carne ou mesmo a tecnologia de carne cultivada a partir de células são bons exemplos desse esforço: o objetivo é permitir que as pessoas continuem comendo o que gostam, mas com uma nova tecnologia.”, explica a diretora de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil, Katherine de Matos. Um estudo realizado pela Beyond Meat em parceria com a Universidade de Michigan afirmou que, em comparação com a produção de um bife animal, a carne vegetal emite 90% menos gases de efeito estufa, 99% menos água, 93% menos terra e 46% menos energia. Além disso, pode trazer inúmeros benefícios econômicos, incluindo a geração de renda. De acordo com o Fórum Econômico Mundial, ainda que a substituição de dietas baseadas em carnes aves, peixes e produtos lácteos possa levar a cerca de 4,3 milhões de perdas de empregos na região até 2030, a adoção de alimentos vegetais cultivados com métodos agrícolas sustentáveis pode gerar 19 milhões de novas oportunidades de trabalho. Nessa lógica, o Brasil pode assumir uma posição de liderança global. “Temos tudo o que é necessário para o bom desenvolvimento do setor: um agronegócio forte, estrutura logística para distribuição global de produtos, clima favorável à produção e um enorme capital intelectual ligado à produção de alimentos”, afirma o diretor executivo do GFI Brasil, Gustavo Guadagnini. Alimentar um mundo super populoso com recursos finitos se mostrou um dos maiores desafios a ser enfrentado no pós-pandemia. Felizmente, a visão
Grupo de investidores diz: impostos nas carnes são “inevitáveis”

Um grupo de investidores que administram mais de $4 trilhões ativos enviaram um alerta para seus constituintes: Se preparem para impostos nas carnes. Traçando paralelos com cigarros, carbono e açúcar, o grupo ‘Farm Animal Investment Risk and Return’ (FAIRR) concluiu que é “altamente provável” e “parece inevitável” que impostos nas carnes sejam iminentes após a implementação do Acordo de Paris. Jeremy Coller, a fundadora do FAIRR e da CIO da Coller Capital explica: Se criadores de políticas estão para cobrir os reais custos das epidemias geradas pela criação de animais como a gripe aviária e epidemias humanas como obesidade, diabetes e câncer, como também atacar os desafios gêmeos de mudanças climáticas e resistência a antibióticos, então uma mudança de subsídios para impostos na indústria das carnes é inevitável. O grupo FAIRR recomenda fortemente que empresas de alimentos passem a adotar um “preço sombra” nas carnes para cobrir futuros custos. De fato, a “sombra” da indústria de carnes é excepcionalmente longa, visto que a Organização das Nações Unidas da Agricultura e Alimentação apropriadamente utilizou o termo em sua análise, chamada ‘Livestock’s Long Shadow’. De acordo com as análises da ONU, a produção de carnes é uma enorme contribuinte desordenada para “as maiores causas dos problemas ambientais globais, incluindo aquecimento global, degradação das terras, ar e poluição nas águas, e perda de biodiversidade.” De fato, mesmo a carne mais “eficiente” (que é a de galinha), causa 40 vezes mais mudanças globais por caloria do que proteínas relativas a legumes como soja e ervilhas. Se você levar em conta os custos incorridos nas crises de saúde pública exarcebadas pela carne (resistência a antibióticos, obesidade, doenças no coração), então devemos admitir que existe um verdadeiro caso para incorporar os verdadeiros custos em seus preços. O grupo FAIRR destacou um estudo publicado na Nature da Universidade de Oxford, mostrando que se o consumo das proteínas animais fosse cortado inteiramente nas dietas globais, mais de $1 trilhão poderia ser poupado nos custos ambientais e de saúde até 2050. Por sorte, existem maneiras para atingir as demandas globais por carnes sem essas consequências devastadoras. Assim como a Diretora de Políticas da Good Food Institute dize para a Vice: “Carnes feitas de plantas e carnes limpas, que são produzidas diretamente de células sem a necessidade de fazendas industriais ou matadouros, possuem todos os benefícios da carne sem possuir riscos para o meio ambiente.” Carnes limpas e alternativas vegetais são como a energia limpa quando se trata de alimentos, e se investidores e empresas querem se proteger de futuros custos e fazerem algo bom no processo, não existe melhor forma do que mudar suas produções em direção a essas novas e melhores formas de se fazer carnes. Você pode ler o relatório do grupo FAIRR neste link. Traduzido por Felipe Krelling. Texto original pode ser visto aqui.