Em crescimento, mercado de carnes vegetais ganha novas marcas no Brasil

Foi há pouco mais de um ano que a startup Fazenda Futuro lançou o primeiro hambúrguer feito à base de plantas no Brasil. Na época, causou estranheza e curiosidade. Agora, a maior variedade de produtos, o refinamento do sabor e queda no preço ajudaram a levar a carne “plant-based” para a mesa de mais pessoas. Com isso, o mercado caminha para um período mais maduro e amplo, enquanto novas empresas miram no prato do brasileiro.

Segundo dados divulgados pelo Grupo Pão de Açúcar, os hambúrgueres vegetais representam 1/3 da venda bruta total dos hambúrgueres congelados comercializados nacionalmente nas lojas. Enquanto isso, uma pesquisa da Dupont indica que 67% dos brasileiros possuem interesse em produtos de origem vegetal.

Além disso, os próximos passos são promissores. A consultoria AT Kearney prevê que, em 2040, o mercado de carnes será dividido em 40% de carne convencional, 25% de carne vegetal e 35% de carne cultivada, uma tecnologia nova que deverá ter os primeiros produtos lançados nos próximos anos. “É um mercado em franco crescimento”, resume Raquel Casseli, gerente de engajamento corporativo do The Good Food Institute Brasil.

Expansão e novos desafios

Com esses bons números, o mercado começa a ficar agitado. A pioneira Fazenda Futuro, por exemplo, expandiu seu catálogo de produtos. Além do já tradicional hambúrguer, a empresa também vende carne moída, almôndega e linguiça. Tudo à base de plantas. E além disso, quebrou as barreiras das fronteiras. A empresa já chegou no Reino Unido, Alemanha e Holanda — na terra dos moinhos, aliás, já são mais de 40 pontos de vendas.

Além disso, há cerca de um mês, a Future Farm — como é conhecida fora do Brasil — recebeu autorização para ser comercializada nos Estados Unidos pela FDA, a Anvisa local.

“Assim como o Brasil é um dos maiores exportadores de carne, temos a obrigação de sermos uma exportadora de carne de planta”, afirma Marcos Leta, fundador da Fazenda Futuro. “Nós temos o diferencial, também, de termos acesso direto aos ingredientes aqui do Brasil. Muitas empresas de ‘plant-based’ importam daqui. Isso acaba nos tornando muito mais competitivos na Europa. Conseguimos chegar próximo ao preço da carne animal”.

Mas, como qualquer mercado em crescimento, outras empresas não querem deixar a Fazenda Futuro se divertir sozinha. Primeiramente, a chilena NotCo. Após o leite, sorvete e até maionese à base de plantas, a startup entrou no mercado de carne. Para isso, a empresa abriu um restaurante em São Paulo para servir via iFood. No cardápio, produtos como sanduíches e petiscos. Venderam em uma semana o que esperavam vender um mês.

“O mercado cresceu muito desde o ano passado no Brasil, com a entrada de novas marcas e de grandes empresas lançando suas linhas a base de plantas”, conta Luiz Augusto Silva, presidente da NotCo no Brasil. “Hoje é possível encontrar uma variedade de alimentos plant-based, que pretendem substituir produtos de origem animal. Em todo o mundo há uma tendência de crescimento do mercado e de diminuição do consumo de carne animal”.

Para completar a trinca de empresas, tem a Beyond Meat. Sensação no mercado dos Estados Unidos, a companhia produz cerca de 1.200 toneladas por mês e faturou US$ 113 milhões no último trimestre. Agora, chegou ao Brasil por meio das 19 lojas da rede de supermercados St. Marchée. O preço, por enquanto, é salgado: a caixa com dois hambúrgueres custa R$ 65,99 e a carne moída (em um pacote de menos de 500g) tem um custo de R$ 99,90.

“Nossa entrada no mercado brasileiro marca um passo importante para promover nossa missão de aumentar a acessibilidade à carne de origem vegetal em todo o mundo”, afirmou Ethan Brown, CEO da Beyond Meat, por meio de comunicado enviado para a imprensa. “Como o terceiro maior mercado do mundo em termos de consumo de carne animal, o Brasil oferece uma oportunidade significativa para a adoção de carne à base de plantas.”

Questionado sobre a entrada de tantos competidores num mercado antes solitário, Marcos Leta deixa claro: atualmente, a Fazenda Futuro tem os frigoríficos e o mercado de carne animal como concorrentes. Afinal, no Brasil, este é um mercado de mais de R$ 200 bilhões ao ano. “Como tornar cada vez mais os frigoríficos obsoletos? Queremos entregar o que o consumidor ama comer, sem gastar tantos recursos naturais — e sem matar um boi”, disse.

Futuro promissor

Para especialistas e outros nomes do mercado, essa competição e o avanço das empresas brasileiras é extremamente positivo para todo o setor. “Os players vão chegar e essa movimentação demonstra exatamente essa força que o mercado tem”, ressalta Ricardo Laurino, presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira. “E vai haver disputa. Não só no mercado da carne vegetal, mas também na disputa com as carnes animais. Isso é claro”.

O Burger King foi uma das primeiras redes de fast food a adotar o hambúrguer à base de plantas em seu cardápio com o Rebel Whopper. Segundo a empresa, desde outubro de 2019, quando o produto foi oficialmente lançado em todo o País, foram vendidos mais de 1,5 milhões de unidades do sanduíche nacionalmente. Um número que representa, no total de vendas, cerca de 6% da representatividade da família Whopper em todo o Brasil.

“A proposta do Rebel Whopper é focar no público flexitariano, que são pessoas que comem carne, mas buscam reduzir o consumo da proteína animal”, compartilha Thais Souza Nicolau, diretora de marketing e inovação do BK no Brasil em entrevista ao Yahoo Finanças. “Os hambúrgueres à base de planta são uma tendência global. Nós já estávamos de olho no mercado e seguimos nesse mesmo movimento, sempre avaliando possibilidades”.

Luiz Augusto Silva, presidente da NotCo no Brasil, relembra um aspecto importante: melhorar cada vez mais o sabor. “Comemos os alimentos que comemos porque eles nos dão prazer. Esse é o ponto que deve ser preservado na relação com a comida”, diz. “Mudamos a forma de produzir o alimento, mas sem mudar a experiência do consumidor”.

Fonte: Yahoo Finanças

Foto: divulgação

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