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The Good Food Institute Brasil alavanca o desenvolvimento do mercado de proteína cultivada e apoia investimento JBS no setor

Com o objetivo de alavancar o desenvolvimento do mercado de proteína cultivada, o The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil) assessorou a JBS na sua entrada neste segmento. O GFI Brasil ofereceu apoio estratégico, tecnológico, regulatório e conexões com cientistas e startups para a companhia, que irá destinar US$ 100 milhões nesta nova frente, consolidando um trabalho de análise mercadológica iniciado há três anos. “Esse é um dos maiores fatos que já ocorreram nesse setor. O investimento é de longe o maior já feito nessa área por uma empresa tradicional de carnes, e um dos maiores mesmo dentre as startups, que já captam recursos há anos. Com esse movimento, a JBS mostra que está disposta a investir pesado para chegar na liderança da produção de carne cultivada e imediatamente muda o cenário competitivo global. Cada vez mais temos uma certeza: o futuro da produção de alimentos com base tecnológica terá, com certeza, protagonismo brasileiro”, afirma Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo do GFI Brasil Com esse recurso, a JBS, líder global em proteínas e segunda maior empresa de alimentos do mundo, firmou acordo para aquisição do controle da empresa espanhola BioTech Foods, prevendo o investimento na construção de uma nova unidade fabril na Espanha para dar escala à produção. Além da aquisição, a JBS também anuncia a implantação do primeiro Centro de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) em Biotecnologia e Proteína Cultivada do Brasil.  Fundada em 2017, a BioTech Foods é uma das líderes no desenvolvimento de biotecnologia para a produção de proteína cultivada, contando com o apoio do governo espanhol e da União Europeia. A empresa opera uma planta-piloto na cidade de San Sebastián e tem a expectativa de alcançar a produção comercial em meados de 2024, com a construção dessa nova unidade fabril. O investimento na nova instalação é estimado em US$ 41 milhões. Pelos termos da transação, a JBS se torna a acionista majoritária da BioTech Foods. A operação possibilita que as duas empresas unam forças para acelerar o desenvolvimento do mercado de proteína cultivada. A companhia brasileira passa a ter acesso à tecnologia e à produção de proteínas da BioTech Foods, que, por sua vez, terá à disposição a capacidade de processamento industrial, a estrutura de marketing, know-how para o desenvolvimento de produtos e os canais de venda da JBS para colocar o novo produto no mercado. “Esta aquisição reforça nossa estratégia de inovação, desde como desenvolvemos novos produtos até como comercializamos, para atender à crescente demanda global por alimentos. Unindo o conhecimento tecnológico com nossa capacidade de produção, seremos capazes de acelerar o desenvolvimento do mercado de proteína cultivada”, afirma Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS. A aquisição da BioTech Foods ainda está sujeita à confirmação da autoridade de investimento estrangeiro na Espanha, entre outras condições usuais a esse tipo de operação. Quando estiver em fase comercial, a proteína cultivada chegará inicialmente aos consumidores na forma de alimentos preparados, como hambúrgueres, embutidos, almôndegas, entre outros. A tecnologia tem potencial não apenas para a produção de proteína bovina, mas também para a de frangos, suínos e pescados. O movimento na Europa é complementado pelo Centro de Pesquisa em Proteína Cultivada no Brasil. Previsto para ser inaugurado em 2022, o centro incluirá na segunda etapa uma planta que irá ocupar uma área de 10 mil metros quadrados. Liderado pelos doutores Luismar Marques Porto e Fernanda Vieira Berti, a iniciativa contará com cerca de 25 pesquisadores e vai trabalhar no desenvolvimento de tecnologias de ponta para a indústria de alimentos. Com o investimento no Centro de P&D, a JBS pretende desenvolver novas técnicas que acelerem os ganhos de escala e reduzam os custos de produção da proteína cultivada, antecipando sua comercialização no mercado. “Estamos ampliando nossa plataforma global para atender às novas tendências de consumo e ao crescimento da população global. A aquisição da BioTech Foods e o novo centro de pesquisa colocam a JBS numa posição única para avançar no setor de proteína cultivada”, complementa Tomazoni. “Nós, do GFI, ficamos muito felizes em termos sido chamados para colaborar no projeto de proteína cultivada da JBS. Nosso objetivo é sempre facilitar a entrada de novos agentes para que o mundo das proteínas alternativas se desenvolva mais rápido. Tivemos o privilégio de ver a empresa potencializar esses recursos para buscar a liderança da área, gerando uma das estratégias mais arrojadas da história do setor. Foi uma honra ver esse projeto nascer e aprender com o time de executivos da JBS durante o processo de planejamento”, afirma Gustavo Guadagnini, presidente do GFI Brasil.

Com apoio do GFI, Brasil acelera inovação e prepara tecnologia para produzir carne cultivada

Texto: Vinícius Gallon Revisão: Gustavo Guadagnini Em dezembro de 2020, um restaurante localizado próximo ao rio Singapura criou um marco na forma com que o mundo deve passar a consumir carne nas próximas décadas. Isso porque, pela primeira vez, uma empresa conseguiu autorização para comercializar a carne cultivada, uma forma de produção do alimento que parte da reprodução celular e evita o abate animal. Em pouco tempo, a técnica aprimorada desde 2013 ganhou força e agora conta com produtos capazes de mimetizar a carne de frango, boi, camarão e até o leite materno. Somente no ano passado, de acordo com levantamento do The Good Food Institute (GFI), o setor recebeu US$ 360 milhões em investimentos, seis vezes mais que em 2019. Com o mercado aquecido em pelo menos dez países, a possibilidade de se produzir uma carne de cultivo celular movimentou startups e grandes empresas – são ao menos 70 mapeadas pelo GFI. Elas dão o tom das diversas demonstrações do produto que tomaram restaurantes ao redor do mundo. O Brasil segue na esteira deste processo e desponta iniciativas que preparam um terreno inevitável para tornar a carne cultivada um produto básico de consumo. Uma previsão da consultoria alemã AT Kearney, por exemplo, aponta que 35% da carne consumida no mundo deverá ser produzida a partir da reprodução celular em 2040. Uma pesquisa do GFI mostrou que, em 2020, metade dos brasileiros diminuiu o consumo de carne, especialmente por motivos relacionados à saúde e a restrições médicas. Neste ano, com a alta dos preços dos alimentos no país e a crise global provocada pela pandemia de Covid-19, o consumo ficou abaixo do recorde registrado em 2019 (7,93 milhões de toneladas), caindo para 7,73 milhões de toneladas, segundo informações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).  No entanto, é fato que o consumo de proteína animal tem crescido, sobretudo na África e na Ásia. De acordo com a USDA, em 2021, o consumo mundial de carne bovina deve chegar a 60,04 milhões de toneladas, representando um crescimento de 1,6% em relação a 2020 (59,06 milhões de toneladas). Para se ter uma ideia, desse total, 10,08 milhões de toneladas serão consumidos pelos chineses, representando uma alta de 6,3% em relação a 2020 (9,48 milhões de toneladas), atrás apenas dos Estados Unidos, país que mais consome carne bovina no mundo (12,52 milhões de toneladas em 2021). Para seguir alimentando a população, que deve chegar a quase 10 bilhões de pessoas em 2050, a ONU estima que será necessário aumentar a produção de alimentos em 70%. Neste caminho, produtos como a carne cultivada se tornam uma necessidade para garantia da segurança alimentar, em especial porque reduz o impacto da produção de alimentos no meio ambiente. A pauta é urgente: o último Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas mostrou que os impactos da ação humana no meio ambiente podem ser irreversíveis. Na contramão deste processo, estudo encomendado pelo GFI e GAIA mostra que a carne cultivada pode derrubar a pegada de carbono em até 80%. Pesquisas anteriores também revelam um menor uso de água azul (redução de 51% a 78%) e menor poluição ao ar (redução de 29% a 93%) na comparação com a carne convencional. Contudo, apesar da urgência climática, o que realmente deve garantir que a carne cultivada chegue aos restaurantes e supermercados e ganhe o público brasileiro e global, é a experiência sensorial idêntica ou ainda melhor que a promovida pela carne animal, além do preço competitivo ou inferior à carne tradicional.  De acordo com a especialista de ciência e tecnologia do GFI Brasil, Dra. Amanda Leitolis, o GFI trabalha para entender essas e outras demandas dos consumidores e da indústria, contornando os desafios que esta tecnologia apresenta. “Na área de carne cultivada, mas não somente nela, nosso papel também é o de contribuir para estruturar e articular o ecossistema de inovação”, afirma. “Conectando os atores dessa cadeia, com habitats de inovação, investidores e parceiros”. Entenda a tecnologia Um artigo publicado em 2019 pela doutora em filosofia da biologia Cor van der Weele indicou que, do ponto de vista comportamental, quanto mais a carne cultivada for conhecida e normalizada, mais estranho será consumir a carne convencional. Isso significa que uma carne produzida a partir do cultivo celular pode parecer distante da nossa realidade, mas o processo é mais comum do que se imagina. De modo geral, a indústria de alimentos já está acostumada a usar biorreatores na cadeia produtiva, por exemplo, como na produção de iogurtes, queijos e cervejas.  O processo de produção da carne cultivada é simples. Primeiro, se retira uma célula do animal vivo por biópsia ou a partir de uma célula embrionária. Ela é, então, alimentada com nutrientes e fatores de crescimento em uma placa de cultivo fora do animal, de modo que se multiplica em meio a um substrato até formar um tecido completo. “O crescimento destas células em em um ambiente controlado é o que chamamos de cultivo celular”, explica Leitolis. “Primeiro se coleta e expande essas células e se coloca isso em uma estrutura para fazer a engenharia de tecidos, que é construir o tecido de novo”. Esta estrutura usada como suporte para as células é chamada de scaffold.  Tudo é feito em biorreatores, que funcionam como um vaso onde a célula poderá se multiplicar. A tecnologia é conhecida, já que importa conhecimento da biomedicina, com os procedimentos podendo ser feitos em laboratórios de engenharia tecidual.  Retirada das células A biópsia é feita por agulha ou incisão, com prós e contras nos dois métodos. A biópsia por agulha gera pouco ou nenhum desconforto para o animal, mas retira pouca quantidade de células, exigindo várias amostragens. Já a incisão retira uma amostra maior de tecido, exigindo apenas uma amostragem, mas é mais agressiva para o animal, exigindo maior uso de analgésicos e sedativos para garantir o seu bem estar. Em ambos os casos, a célula pode dar origem a uma linhagem, ou seja, pode ser usada na produção de vários