Programa de Incentivo à Pesquisa do GFI está aberto a cientistas do mundo todo

Este ano, o GFI vai financiar quase US $4 milhões em pesquisa de acesso aberto para apoiar projetos que visam solucionar os principais e mais urgentes desafios científicos e tecnológicos enfrentados pela indústria de proteínas alternativas. As propostas podem ser enviadas até dia 3 de junho. por Victoria Gadelha A chamada para financiamento de pesquisas (Pequest for Proposals – RFP) de 2022 irá subsidiar projetos de pesquisa através de dois mecanismos de financiamento. O primeiro é o Field Catalyst Grant, que fornece uma quantia e tempo maior de financiamento (até 24 meses e US$ 250.000) para projetos que atendem a um dos três tópicos prioritários do GFI direcionados para este ano: métodos de processamento biológico para criar ingredientes funcionais à base de plantas; albumina e transferrina não recombinantes e isentas de animais para carne cultivada; criação de componentes de sabor para frutos do mar alternativos. O segundo mecanismo é o Discovery Grant, que fornece um financiamento mais enxuto (até 12 meses e US $100.000), mas permite maior flexibilidade para os candidatos na seleção da área de pesquisa, que pode se concentrar em um dos conceitos identificados pela Iniciativa de Soluções Avançadas para Proteínas Alternativas (Advancing Solutions for Alternativa Proteins – ASAP). Baixe aqui o edital e envie sua proposta até o dia 3 de junho. Por mais que as proteínas alternativas venham se provando uma ferramenta potente para conter (e até reverter) o pior cenário da crise climática, o setor público ainda dedica muito pouco financiamento à pesquisa e desenvolvimento desse setor quando comparado ao setor de energia limpa, por exemplo. Por isso, desde 2018, o The Good Food Institute trabalha para preencher essa lacuna. Graças ao enorme apoio de doadores, o GFI já conseguiu financiar mais de US $13 milhões em suporte à pesquisa de acesso aberto em 17 países diferentes. No Brasil, já direcionamos recursos do Programa para 8 pesquisadores e pesquisadoras. No Brasil, já foram direcionados recursos do Programa para 8 pesquisadores e pesquisadoras. E para auxiliar os profissionais interessados em enviar suas candidaturas, o GFI vai promover no próximo dia 18 de maio, das 13h30 às 14h45, o workshop “Programa de Incentivo à Pesquisa do GFI: entenda os mecanismos de financiamento e o processo de aplicação!”. Para participar, basta se inscrever pelo link.
Otimismo Racional sobre Carnes Cultivadas: perspectivas iniciais do começo de uma longa jornada

Texto de Elliot Swartz, lead scientist (GFI) com tradução de Bruna Scorsatto O início cético É o começo de 2016 e eu sou um candidato a Ph.D na UCLA investigando como transformar células-tronco de seres humanos em músculo esquelético e tecidos neuronais para estudar doenças neuromusculares como ALS. Foi aqui que eu li pela primeira vez sobre Memphis Meats (que agora é UPSIDE Foods), a primeira empresa a completar uma rodada de investimento para cultivar carne a partir de células tronco de animais. “Interessante”, pensei comigo mesmo, “mas isso não vai acontecer tão cedo. É muito caro.” Eu sabia do que eu estava falando. Eu gastava mais de $1.000 em meio para cultura de células e reagentes por mês, usando métodos parecidos com aqueles necessários para cultivar carne. Mas a semente estava plantada. E se fosse possível cultivar carne em escala a um custo que a fizesse um substituto viável à carne animal tradicional? Carne sem o animal. Quão difícil seria? À medida que eu acompanhava a nascente indústria de carne cultivada, eu comecei a prestar consultoria para uma startup que queria descobrir soluções para doenças neurodegenerativas que até então não tinham tratamento, como Alzheimer e Parkinson. Descobrir novas drogas é extremamente desafiador. Em muitos casos, nós não sabemos a causa raiz da doença, o que poderia ser um bom alvo terapêutico ou mesmo o melhor método de aplicação da nova droga no alvo hipotético. Normalmente existe uma caixa-preta biológica cheia de incertezas e desconhecidos no meio do caminho. Apesar disso, a sociedade despeja bilhões de dólares nessa e em muitas outras caixas todos os anos, na esperança de fazê-las menos opacas. Mas e a carne cultivada? Décadas de ciência anterior nos deram um entendimento de como transformar células-tronco em músculo, gordura e tecidos conectivos necessários para fazer carne. Claro, pode ser que existam formas mais eficientes de fazer isso, mas a caixa preta não revelou. Aparentemente, metade da batalha já estava ganha. Era apenas o caso de aumentar a escala e diminuir os custos, e esforços para ganhar essa outra metade da batalha já tinha começado. O timing era certo. Então eu mergulhei de cabeça. E não fui só eu. Uma indústria em crescimento Hoje, existem mais de 80 empresas no mundo todo buscando criar produtos de carne cultivada prontos para consumo e dezenas mais surgiram para fornecer linhas de células, meios de cultura, scaffolds, bioreatores e outros componentes necessários para dar suporte ao crescimento da indústria. O ritmo dessa transição está acelerando. Eu e meus colegas no GFI somos contatados quase diariamente por empreendedores em estágio inicial, estudantes universitários, investidores ou representantes da indústria de alimentos buscando entender melhor os desafios da indústria de carne cultivada e como eles podem se envolver na busca por soluções (confira algumas ideias no nosso Banco de Dados de Soluções) Em 2015, se você dissesse a biólogos trabalhando com células-tronco que consumidores estariam comendo carne cultivada aprovada pelo governo em 2021, eles dariam risada de você. Mas em seis anos, carne cultivada foi de ficção científica à realidade – dependendo para quem você pergunta (mais sobre isso depois). Construindo um roteiro No GFI, nós sonhamos com um mundo onde as proteínas alternativas de plantas, cultivo celular ou fermentação não são mais uma alternativa. E nós estamos desenhando um roteiro para chegar lá. Um dos melhores métodos para traçar esse roteiro é através de análises técnico econômicas (TEAs na sigla em inglês). Como dito anteriormente, TEAs são ferramentas fundamentais para exploração e priorização de áreas que justificam pesquisas adicionais, revelando os gargalos técnicos e econômicos dentro de uma determina indústria ou processo. Até o momento, três TEAs foram publicadas sobre a produção hipotética de carne cultivada em escala comercial (Vergeer, 2021; Humbird, 2021; e Risner, 2021) e sabemos de pelo menos mais duas próximas de serem publicadas. Nós encorajamos ativamente a realização de TEAs adicionais para trazer novas perspectivas que podem ser usadas para iluminar caminhos alternativos no mapa tecnológico ao longo do tempo. Embora adotem abordagens diferentes e dependam de diferentes suposições e fontes de dados de entrada, as três TEAs publicados são, na verdade, bastante semelhantes no alto nível de suas descobertas. Coletivamente, elas sugerem que os custos de produção de carne cultivada são altos devido ao custo atual dos meios de cultura de células, o custo atual de biorreatores (stirred-tank) em grande escala que foram usados nos exercícios de modelagem e os custos previstos de infraestrutura adicional necessária para produzir quantidades significativas de carne cultivada. Essas TEAs sugerem que, com base em nosso conhecimento atual, reduzir os custos do meio de cultura e do biorreator, além de melhorar a produtividade do processo são essenciais para obter faixas de custo competitivo com algumas carnes convencionais. A indústria de carne cultivada provavelmente também exigirá abordagens inovadoras tanto do lado comercial quanto do lado tecnológico, incluindo opções de financiamento flexíveis e desenvolvimento de nova tecnologia para se aventurar em faixas de custo verdadeiramente competitivas com a maioria das carnes convencionais (para considerações adicionais, incluindo a importância de produtos híbridos na realização desse objetivo, veja essa thread no Twitter). Para fazer uma analogia, considere o mapa para carnes cultivadas como o mapa da Terra Média no Senhor dos Anéis. A empreitada da carne cultivada é representada por Sam e Frodo deixando o Condado para viajar para Mordor (ou, neste caso, criar carne cultivada que compete em preço, sabor e conveniência). A indústria da carne cultivada acaba de deixar o Condado. O mapa rudimentar da Terra Média que eles estão seguindo, informado pelos TEAs atuais, mostra as maiores montanhas (meios de cultura de células e custos de biorreator), florestas (instalações de qualidade alimentar, incerteza na tecnologia de aumento de escala) e rios (regulamentos, processo de produtividade aumentado) ao longo do caminho, mas não revela os melhores caminhos ou tecnologias para nos guiar sobre, através ou em torno deles. Os detalhes completos da jornada pela Terra Média do início ao fim ainda são obscuros. O mapa revela uma jornada intimidante – e para os pessimistas,
GFI anuncia Programa para financiar projetos em proteínas alternativas

Projetos pioneiros capazes de elucidar os principais desafios tecnológicos da indústria de proteínas alternativas contarão com financiamento do The Good Food Institute (GFI), no valor US$ 250 mil para cada pesquisa. Motivados em capacitar estudos de alta qualidade que construirão a base científica das indústrias de carnes cultivadas, vegetais e derivados de fermentação no futuro, o GFI acaba de lançar o edital do Programa Anual de Incentivo à Pesquisa. Nesta edição, o instituto selecionará propostas que desenvolvam dados, materiais e processos para viabilizar a produção de carnes inteiras e frutos do mar feitos de proteínas alternativas. “Projetamos conduzir pesquisas que estudem a criação de cortes de carne inteiros e íntegros como carne, frango, peixe e frutos do mar. Buscamos avanços científicos que possibilitem a produção e comercialização desses produtos para formar uma verdadeira nova geração de proteínas de carne e frutos do mar e, assim, construir um sistema alimentar sustentável, saudável e justo”, explica a Diretora de Ciência e Tecnologia do GFI, Dra. Katherine de Matos. O valor máximo do incentivo para cada projeto será de US$ 250 mil, cerca de R$ 1,3 milhão, e todo o aporte será destinado aos projetos que se concentrem no desenvolvimento de novos ingredientes, métodos, ferramentas e tecnologias e permitam a produção de produtos proteicos alternativos inteiros. “A indústria de proteína alternativa já realizou avanços científicos significativos para produção de produtos de carne moída a partir de proteínas cultivadas, vegetais e derivadas de fermentação. Já é possível encontrar nas gôndolas dos mercados hambúrgueres, linguiças, nuggets e almôndegas. Queremos aproveitar esse ímpeto e nos concentrar agora nos estudos e criações de cortes de carnes inteiros”, complementa Dra. Katherine. Os projetos financiados deverão realizar aplicações primárias em carnes e frutos do mar que assemelham-se à carne de origem animal em sabor, textura e aroma e se destinam ao consumo humano. O Brasil ocupa atualmente posição de destaque no cenário global de pesquisa de proteínas alternativas e a nova edição do Programa de Bolsas do GFI visa endereçar alguns gargalos científicos e tecnológicos com estudos precisos e inovadores sobre criação e produção de peças de carne inteiras. “A nossa expectativa é muito positiva. Na edição passada, o Brasil teve um desempenho muito relevante em números de propostas submetidas ocupando a segunda posição”, conta Katherine. O edital está aberto a empresas brasileiras, instituições científicas tecnológicas, aos pesquisadores que fazem parte do Diretório de Pesquisa Colaborativa (DPC) do GFI e a todos os demais cientistas do país. O Programa está na primeira fase de seleção e os interessados devem enviar sua proposta em formato PDF até o dia 10 de março de 2021 para este formulário. Os projetos têm prazo de execução de até 24 meses. Para acessar o edital completo e conferir a regulamentação detalhada, clique aqui. Workshop No dia 4/2, das 14h às 15h (BRT), os interessados em participar do edital terão a oportunidade de entender melhor o Programa de Incentivo à Pesquisa GFI e tirar suas dúvidas sobre o edital com a equipe de Ciência e Tecnologia. Faça a sua inscrição aqui. Sobre o Programa Desde seu início em 2018, o programa de bolsas de pesquisa do GFI concedeu mais de US$ 7 milhões a projetos e subsidiou 37 pesquisadores em todo o mundo. Financiadas inteiramente por um seleto grupo de doadores e apoiadores filantrópicos, as pesquisas abrangem o campo de proteínas alternativas, desde o melhoramento de safras e formulação de produtos para carne vegetal ao desenvolvimento de linha celular e aumento de escala de bioprocessos para carne cultivada.