Proteínas alternativas são mesmo mais sustentáveis?

GFI e FAIRR lançam modelos de relatórios para que empresas de proteínas alternativas possam medir e revelar seus impactos ambientais, sociais e de governança.

Da carne à base de plantas ao leite de macadâmia, produtores de alimentos, varejistas e fabricantes podem, graças ao lançamento de dois novos modelos de relatório, passar a relatar com precisão o impacto de sustentabilidade de seus negócios de proteínas alternativas. Projetados pela rede de investidores da Iniciativa FAIRR, apoiada por US$ 68 trilhões, e pelo The Good Food Institute (GFI), uma organização internacional sem fins lucrativos que atua para transformar o sistema de produção de alimentos, investindo em proteínas alternativas vegetais, cultivadas e obtidas por fermentação, os modelos são apoiados por investidores e líderes da indústria.

A FAIRR e o GFI desenvolveram os dois novos modelos de relatório com contribuições de diversos investidores, empresas e ONGs, incluindo Unilever, Eat Just Inc., Newton Investment Management, PIMCO, Blue Horizon e WWF-UK, bem como de especialistas em ESG e Avaliação de Ciclo de Vida (ACV). Após o lançamento, os autores dos modelos vão trabalhar com marcas de proteínas alternativas que desejam usá-los para relatar fatores ambientais, sociais e de governança (ESG da sigla em inglês), como emissões de carbono, uso do solo, da água e impactos nutricionais.

Proteínas alternativas, incluindo carne, frutos do mar, ovos e laticínios à base de plantas, obtidas por fermentadas e cultivadas devem proporcionar um caminho para descarbonizar a produção de alimentos, ao mesmo tempo em que atendem a demanda global por alimento. Nos últimos anos, o investimento em proteínas alternativas aumentou 91% em uma taxa média de crescimento de 5 anos até 2021 (de acordo com a análise feita pelo GFI a partir dos dados da PitchBook Data), e estima-se que as vendas aumentem em até US$ 1,1 trilhão até 2040 e ocupem até 60% do mercado total de carnes.

Pesquisas mostram que muitos produtos à base de plantas têm de um quinto a um décimo do impacto ambiental que seus equivalentes feitos de proteína animal. No entanto, até hoje, não existiam padrões abrangentes para empresas que fabricam e vendem proteínas alternativas poderem avaliar e divulgar os dados robustos de ESG que investidores, empresas e consumidores precisam para tomar decisões informadas.

O Modelo de Relatório ESG de Proteínas Alternativas para Empresas Especializadas (“Modelo Especializado”) e o Modelo de Relatório ESG de Proteínas Alternativas para Empresas Diversificadas (“Modelo Diversificado”) oferecem aos investidores, governos e consumidores um caminho para receber informações precisas de cada negócio de proteínas alternativas.

Raquel Casselli, Diretora de Engajamento Corporativo do The Good Food Institute Estados Unidos, afirma que a ferramenta permitirá que empresas de proteínas alternativas mostrem as muitas vantagens em ESG que seus modelos de negócios atuais possuem. “Se comparadas à proteína animal convencional, proteínas alternativas emitem quantidades significativamente menores de gases de efeito estufa e apresentam consideráveis vantagens nutricionais e de segurança alimentar. À medida que essa indústria continua a fazer parceria com o setor privado para construir negócios responsáveis e sustentáveis para o futuro, esses modelos vão permitir que as empresas reivindiquem seu papel natural de liderança em ESG.”.

Jeremy Coller, presidente e fundador da FAIRR e diretor de investimentos da Coller Capital, disse que a FAIRR a parceria com o GFI na elaboração dos dois modelos de relatório são um marco para a indústria de proteínas alternativas. “Não é possível gerenciar o que não se pode medir. Esses novos modelos fornecem aos investidores e às empresas uma linguagem comum e um conjunto de padrões para medir e divulgar como eles estão gerenciando seus impactos ESG e abordando as metas climáticas. Esperamos que os membros da FAIRR, representando US $68 trilhões de ativos sob gestão (AUM), recebam os modelos como mais uma ferramenta nos seus processos de investimentos. Também esperamos que tanto grandes produtores de proteínas quanto pequenas empresas especializadas em proteínas alternativas adotem os novos modelos, o que vai beneficiar o mercado como um todo”.

O novo Modelo Especializado é projetado para fabricantes e fornecedores de ingredientes cujo foco principal são proteínas alternativas, como carne, laticínios, proteína de soro de leite ou gelatina. Ele engloba os riscos e oportunidades mais relevantes em todo o espectro E, S e G, por exemplo, em fornecimento, certificação, envolvimento do consumidor, saúde do solo, resíduos plásticos, consumo de água e nutrição.

Em resposta ao lançamento do Modelo Especializado, Lisa Wetstone, Diretora Sênior de Marketing, Inovação e Estratégia de Crescimento da empresa de ingredientes especializada em cogumelos, MycoTechnology, Inc, comenta que o modelo vai permitir que as empresas meçam e comuniquem seus impactos positivos de maneiras que façam sentido e tenham importância – para a estratégia interna, para o processo de tomada de decisão e também para os consumidores. “De pequenas startups a startups em estágio de crescimento (como a MycoTechology) a players estabelecidos do setor, há muitas maneiras de coletar e interpretar dados ESG. Isso é especialmente verdade dadas as nuances de nossa indústria. Nos falta uma linguagem comum! Por isso, estabelecer as bases para padronizar essas informações pode ser um guia para todos nós e pode elevar a indústria como um todo.”

Já o novo Modelo Diversificado foi projetado para empresas de alimentos, varejistas, fabricantes e produtores de proteína animal e com portfólios de produtos que incluem tanto proteínas convencionais quanto alternativas. Esse modelo orienta a geração de relatórios sobre os dados ESG relativos à porção de proteínas alternativas das empresas (como lobby/advocacy, gestão da água, circularidade e acessibilidade), para que eles complementem os outros dados que provavelmente já são reportados por meio de outros modelos. Ao possibilitar que os tomadores de decisão façam comparações entre seus negócios de proteínas animais e alternativas, o Modelo Diversificado apoia e incentiva as empresas enquanto elas fazem a transição de suas práticas para atender uma série de metas relacionadas ao clima, biodiversidade e governança.

Beatriz Hlavnicka, Head de Marketing para América do Sul da PlantPlus Foods, joint venture entre Marfrig e ADM disse, em relação ao lançamento do Modelo Diversificado que “o modelo abrangente permite comparar e abordar as oportunidades e os riscos das proteínas alternativas e convencionais, e está orientando nossas divulgações sobre os tópicos mais importantes para as partes interessadas, de acordo com as melhores práticas de ESG.”

A forma como produzimos carne, ovos e laticínios atualmente é extremamente intensiva em recursos: apesar dessa indústria fornecer apenas um terço do suprimento global de proteína para a humanidade (o restante é composto por vegetais, fungos e insetos), ela responde por 77% do uso das terras agrícolas, quase 14,5% das emissões globais de GEE . Essas e outras preocupações com o clima, natureza e segurança alimentar representam riscos financeiros cada vez mais importantes, com a previsão de que o estresse térmico (decorrente de temperaturas muito elevadas), por si só, eliminará 20% do valor global de produção de carne bovina. Com as divulgações relacionadas ao clima e à natureza padronizadas e obrigatórias se tornando, em breve, uma exigência em certas regiões, esses dois novos modelos de relatório são uma primeira proposta concreta de um padrão para permitir que a indústria de alimentos avalie os impactos e estabeleça as melhores práticas no setor de proteínas alternativas.

Os novos modelos também devem catalisar investimentos, ao equipar instituições financeiras com um conjunto de ferramentas de divulgação e métricas que permitem obter insights sobre as atividades de uma empresa com transparência, destacando os impactos reduzidos das proteínas alternativas, em comparação com os da produção de carne animal, ovos, frutos do mar e laticínios.

Para Rosie Wardle, cofundadora e sócia da Synthesis Capital,  à medida que as startups de proteínas alternativas crescem, amadurecem e eventualmente se tornam as gigantes da indústria alimentícia de amanhã, o uso do novo Modelo Especializado ajudará a garantir que elas estejam prontas para as divulgações de relatórios ESG que, agora, são exigidas de todas as grandes empresas no mercado privado e público. “Nós recebemos de braços abertos novas ferramentas no mercado, como esse modelo de relatório, que traz estrutura e consistência para medir os impactos de sustentabilidade. Nós vamos integrar o modelo em nossos processos e políticas ESG já existentes, para nos ajudar a entender o desempenho da empresa de forma mais detalhada e a monitorar nosso impacto ao longo do tempo.”

Já para Jared Fernandez, analista sênior de ESG e Gerente de Votação no Boston Trust Walden, as proteínas alternativas representam uma oportunidade significativa para varejistas, fabricantes e produtores de proteínas de alimentos. “Os modelos de relatórios GFI/FAIRR oferecem aos investidores todas as informações necessárias para avaliar e valorar as empresas e suas cadeias de suprimentos na transição para uma economia de baixo carbono.”

Mais de 50 empresas, investidores, ONGs e definidores de padrões ESG forneceram informações e contribuíram com expertise durante o processo de pesquisa e desenvolvimento de ambos os Modelos (Especializado e Diversificado).

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