IPCC: Carne cultivada e à base de plantas podem desempenhar um papel fundamental na redução pela metade das emissões globais até 2030

O GFI defende mais financiamento público para proteínas alternativas, uma vez que os principais cientistas do mundo reconhecem que as inovações do setor agrícola – especialmente carne à base de plantas e cultivada – mitigam as mudanças climáticas e oferecem co-benefícios nas áreas de biodiversidade e de saúde global

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) lançou seu Sexto Relatório de Avaliação, no qual aponta a carne à base de plantas e cultivada como uma solução transformadora que, junto das transições nos setores de energia e transporte, pode cortar pela metade as emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) até 2030.

Comparado com as avaliações anteriores do IPCC, o Sexto Relatório de Avaliação é o que mais aprofunda nas proteínas alternativas e melhor destaca como elas podem reduzir significativamente as emissões em escala. Elaborado pelos principais cientistas do mundo, o relatório afirma que, mesmo se os combustíveis fósseis fossem eliminados da noite para o dia, as emissões do sistema alimentar por si só prejudicariam – a ponto de impedir – o cumprimento da meta do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5°C.

Embora o relatório tenha constatado que “o maior potencial (para mitigar as mudanças climáticas) viria da transição para dietas baseadas em vegetais” (TS. 5.8), ele aponta que a crescente demanda por carne convencional deve gerar um aumento de 14% na sua produção até 2029 (TS. 5.8). Com a conclusão do IPCC de que a dieta humana, que é um hábito difícil de ser mudado, precisa migrar com urgência para fontes de alimentos mais sustentáveis (1.4.7), o The Good Food Institute defende que os governos invistam em carnes vegetais e cultivadas como alternativa à convencional.

Formuladores de políticas podem tornar essa mudança de comportamento o mais fácil possível para os consumidores ao investirem em pesquisas que tornem essas opções tão deliciosas e acessíveis quanto a carne convencional, garantindo que a transição no sistema alimentar necessária para atender às metas climáticas globais aconteça.

O relatório descobriu que tecnologias alimentares emergentes (como fermentação de precisão, carne cultivada e alimentos à base de plantas) podem “prometer reduções substanciais nas emissões diretas de gases de efeito estufa provenientes da produção de alimentos” (TS. 5.6.2).

Citando um artigo de co autoria do cientista sênior do GFI Israel, Tom Ben-Arye, o relatório reconhece que, embora ainda esteja em seu princípio e ainda dependa de maiores investimentos, inovações a aprovações regulatórias, a carne cultivada oferece uma alternativa mais sustentável aos atuais sistemas de produção agropecuária e uso da terra (7.3.3).

Além das reduções de emissões, o relatório destaca que as proteínas alternativas também “têm menor pegada de terra, água e nutrientes e tratam das preocupações com o bem-estar animal” (TS. 5.6.2). É possível identificar múltiplos co-benefícios associados a uma transição alimentar para carne à base de plantas e cultivada, que vão desde a diminuição do uso de pesticidas, antibióticos e de poluentes (que afetam a saúde e qualidade do solo, da água e do ar) até a redução do risco do surgimento de novas zoonoses (TS-91).

“Os principais cientistas do mundo deixaram claro que a transformação do sistema alimentar é necessária para atender às metas climáticas globais e reconheceram a carne à base de plantas e cultivada como soluções de alto impacto para atender à crescente demanda global por carne. O investimento público continua sendo crítico e urgentemente necessário para levar as proteínas alternativas em escala ao mercado. Os governos de todo o mundo devem investir em carnes que sejam produzidas com muito menos terra e água, que gerem uma fração das emissões e que reduzam  substancialmente os riscos à saúde global em comparação com a carne convencional. Temos uma chance de mudar a forma como a carne é feita, e agora é a hora de fazer isso.”, afirma Bruce Friedrich, fundador e CEO do GFI.

“O ganho de escala da produção de carne à base de plantas e cultivada é fundamental para que a indústria cumpra seu potencial de mitigação climática. O IPCC identificou que o novo aspecto do mercado de proteínas alternativas é a escala proposta, que só pode ser alcançada com uma injeção de investimento público e privado. Esse investimento possibilitará que a carne de origem vegetal e cultivada compita com os produtos animais convencionais em sabor e preço, desencadeando um ciclo virtuoso de demanda do consumidor e mais inovação”, completa Emma Ignaszewski, gerente de projetos de engajamento corporativo do GFI.

Mais informações

Proteínas alternativas podem desempenhar um papel crucial na redução das emissões do sistema alimentar:

  • 77% das terras agrícolas de todo o planeta são usadas para a pecuária, que fornece apenas 18% das calorias da dieta humana. Diante da escassez hídrica e dos crescentes índices de desmatamento, alternativas à pecuária podem ajudar a alimentar mais pessoas enquanto dependem de muito menos terra e água.
  • De acordo com um relatório apoiado pelo Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido e pela Climate Works Foundation, a diversificação da fonte do suprimento global de proteínas pode resultar na redução de 10% nos preços médios das safras até 2050, ao mesmo tempo em que libera 640 milhões de hectares de terra, uma área maior que a floresta amazônica – criando mais espaços para práticas agrícolas sustentáveis.
  • Uma transição em direção ao consumo de carne à base de plantas reduziria as emissões em 30% a 90%, enquanto a produção da carne cultivada poderia cortar o impacto climático da carne em até 92% e o uso de terra em até 95%.

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