Quanto vale a floresta?

Há 29 anos, as Nações Unidas comemoram o dia 22 de maio como o Dia Internacional da Biodiversidade. A data visa aumentar a compreensão e a conscientização sobre a importância da diversidade biológica, além da necessidade de proteção da biodiversidade em todos os ecossistemas. Com o mote “Somos parte da solução”, a data defende a ideia de que a biodiversidade é a resposta para vários desafios do desenvolvimento sustentável.

No Brasil, uma nova espécie da fauna e flora é descoberta ou descrita a cada três dias. Dados levantados pela Associação Brasileira de Bioeconomia (ABBI) confirmam o potencial do país em ser um dos maiores players do setor, considerando o fato da nação concentrar mais de 100 mil espécies animais e cerca de 45 mil de vegetais com mais de 500 milhões de hectares, 340 milhões ainda intactos, representando 20% da biodiversidade global. Motivados pelo potencial e capacidade do Brasil que é berço de uma rica diversidade, o The Good Food Institute realizou um mapeamento dos biomas da Amazônia e Cerrado para identificar produtos do extrativismo vegetal com maior potencial técnico e econômico a serem estudados em mais profundidade para transformá-los em ingredientes para a indústria de proteínas vegetais.

“A biodiversidade brasileira é, ainda, pouco conhecida, negligenciada e subutilizada. Na medida em que não a valorizamos, estamos contribuindo, indiretamente, para a sua perda.”, afirma Katherine de Matos, diretora de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil. Em primeira análise, o GFI identificou 20 produtos nativos do extrativismo vegetal na Amazônia e 13 no Cerrado. Destes, a instituição selecionou três produtos de cada bioma para uma pesquisa e estudo mais aprofundados. No Cerrado, os produtos foram a macaúba, o baru e o pequi. Na Amazônia, a castanha-do-brasil, o babaçu e o cupuaçu. 

Para chegar aos resultados econômicos, o GFI considerou o número de comunidades produtoras, volume de produção e maturidade da cadeia produtiva. Para a análise de potencial técnico, foram utilizados critérios como a composição química dos produtos nativos, o potencial tecnológico e aspectos nutricionais. 

“A potencialidade da flora nativa brasileira não está refletida nos supermercados, nas feiras e muito menos na cozinha do brasileiro. Como resultado, a sociedade deixa de aproveitar os benefícios decorrentes dessa riqueza. No caso das espécies de uso alimentício, por exemplo, a sociedade acaba não se beneficiando dos elevados valores nutricionais presentes nas espécies nativas. A natureza é rica, entretanto, essa riqueza precisa e deve ser usada com sabedoria. Essa pode ser a grande saída da humanidade para o futuro”, explica Cristiana Ambiel, gerente de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil.

Para se ter uma ideia, estudos realizados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mostram que a bioeconomia, modelo econômico e industrial que utiliza matérias-primas regenerativas da biodiversidade em substituição aos recursos fósseis e não renováveis, movimenta cerca de 2 trilhões de euros e gera 22 milhões de empregos no mundo todo. Até 2030, as expectativas são de que as biotecnologias representarão 80% da produção de fármacos, 50% da produção agrícola e 35% dos produtos químicos. Conheça um pouco mais sobre os ingredientes selecionados pelo GFI e suas propriedades: 

  • CASTANHA-DO-BRASIL 

Com significativa produção nacional de cerca de 32.900 toneladas no ano de 2019 segundo o IBGE, a castanha-do-brasil in natura constitui uma favorável fonte proteica (15,60%) e lipídica (61,00%). O seu óleo possui uma boa qualidade nutricional (85% de ácidos graxos insaturados) e apresenta índices de acidez e peróxidos que atendem a legislação brasileira para óleos vegetais comestíveis.

  • BABAÇU

A produção nacional de Babaçu atingiu cerca de 48.700 toneladas no ano de 2019 segundo o IBGE, envolvendo cerca de 37 comunidades produtoras segundo a Conexsus. A amêndoa do babaçu possui 7,25 % de proteína e 66% de lipídeos. O seu óleo apresenta características funcionais interessantes por ser constituído de 83% de ácidos graxos saturados. Este produto, destinado à alimentação humana como suplemento alimentar, e, na medicina popular no tratamento de inflamações, já é produzido e comercializado por algumas comunidades. 

  • CUPUAÇU

Com uma produção de cerca de 787 toneladas no ano de 2017, segundo o IBGE, a polpa do cupuaçu é destinada à produção de diversos alimentos (polpa congelada, sorvete, geleias, etc). Dessa produção, gera-se como resíduo as sementes. A semente do cupuaçu possui 9,4% de proteína e 64,9% de lipídeos. Do óleo extraído dessa semente forma-se uma torta com altos teores de proteína (15,2%), fibras (47,6%) e lipídeos (21,0%). A torta de cupuaçu se mostra como uma alternativa para a elaboração de isolados proteicos devido a sua riqueza de aminoácidos essenciais, tornando-se uma fonte de proteína alternativa.

  • MACAÚBA

Segundo dados do IBGE, a produção nacional de Macaúba atingiu cerca de 1.178 toneladas no ano de 2018. A polpa e amêndoa de macaúba podem ser industrialmente exploradas não só como fonte de óleos vegetais, mas também como fonte de proteínas e carboidratos. Estas propriedades são desejáveis para a formulação de diferentes tipos de alimentos, com destaque para a indústria de panificação e massas e a indústria de produtos cárneos, além da importância na fabricação de suplementos alimentares.

  • BARU

A produção nacional de Baru atingiu cerca de 69,3 toneladas no ano de 2019, segundo o IBGE. A polpa do baru possui 6,0% de proteína; 41,6% de fibras; 3,4% de lipídeos e 22,5% de carboidratos, sendo comercializada, usualmente, na forma de farinha. A amêndoa possui cerca de 30% de proteína; 15% de fibras e 40% de lipídeos, sendo comercializada na forma de amêndoa torrada. O óleo da amêndoa de baru tem elevado grau de insaturação, sendo similar ao óleo de oliva e, portanto, com potencial para ser usado como óleo de cozinha. 

  • PEQUI

O Pequi tem produção nacional de cerca de 27.183 toneladas no ano de 2019. A polpa do pequi possui 3,7% de proteína; 15% de fibras e 33,4% de lipídeos. O óleo extraído da polpa se constitui de 62% de ácidos graxos insaturados. A polpa é comercializada na forma in natura, congelada e em conserva. Apesar de considerada uma proteína de baixa qualidade, é comparável à proteína da farinha de trigo, e pode ser adicionada de misturas para melhorar sua qualidade.

O GFI Brasil incentiva o investimento em pesquisa e desenvolvimento da biodiversidade para encontrar inovações tecnológicas que supram as demandas da indústria de forma sustentável. Dessa forma, promovemos a conservação da floresta em pé, proporcionamos o desenvolvimento de novas cadeias produtivas e a melhoria da qualidade de vida das comunidades locais.

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