Impactos da produção de alimentos no Brasil

Em 2017, o IBGE divulgou uma pesquisa afirmando que há mais de 7 milhões de pessoas no Brasil passando fome(1). Porém, é fácil afirmar que o país teria suficiência na produção de alimentos, se a estivesse destinando ao consumo direto da população. A realidade é que, no Brasil, o rebanho de gado é maior que a população humana(2) (são 220 milhões de bois contra 208,8 milhões de pessoas) e grande parte dos grãos produzidos são destinados à alimentação de animais criados para abate. Assim, cada caloria obtida pelo consumo de carne representa 10 calorias de fontes vegetais que foram dadas ao animal durante sua vida, num sistema ineficiente do ponto de vista do uso dos recursos naturais. No mundo inteiro, mais de 70 bilhões de animais são abatidos por ano, sendo que temos uma população de 7 bilhões de pessoas. Além desses desafios sobre a eficiência na produção, existe uma série de consequências ambientais, que incluem: Desmatamento A Amazônia, que é a maior floresta tropical do mundo, está quase chegando em seu ponto crítico(4), no qual os efeitos do desmatamento podem não ter mais volta. Se isso acontecer, a floresta passará a ter uma vegetação mais rasa e depredada, e com menos biodiverdade. De acordo com os relatórios do Banco Mundial(5), 91% das causas do desmatamento são causadas pela pecuária, sendo 20% deste número é a produção de grãos para alimentar os animais. O Cerrado, segundo maior bioma do Brasil que compõe quase 25% da área do país, já teve mais de 50% de sua área devastada, como mostra o mapa do IBGE. O maior pântano do mundo se encontra ali, que é o Pantanal, e segundo relatórios de 2017, ele também passou a encolher(6). Assim como no casa da Amazônia, a exploração se divide em pasto e cultivo de soja para alimentação do gado. A grande maioria do uso de terras no Brasil se dá pela produção de alimentos com origem animal, seja em pastagens ou em produção de ração. 79% da soja processada no país se torna farelo para alimentar animais(7) e 44% da soja é exportado in natura, em sua maioria para se tornar ração. O maior consumo está na criação de porcos e galinhas, principalmente na China (nossa maior importadora). Gases de efeito estufa: Mais de 18% dos envios de gases de efeito estufa tem origem na pecuária(8). Isso é 30% a mais do que todos os meios de transportes somados (carros, motos, navios, aviões etc). No Brasil, o impacto da pecuária é ainda muito mais visível devido ao desmatamento e do uso de suas terras. No gráfico abaixo, vemos o total de emissão de gases no Brasil, sendo que quase metade dos gases são causados pelo desmatamento e uso de terras (sendo a pecuária o principal fator que influencia negativamente esse ponto). 22% estão ligados diretamente à produção agropecuária, 19% à produção de energia e o restante dividido entre indústria e consumo da população. Fonte: SEEG Outro fato negativo para nosso país é que somos o terceiro maior emissor de metano do mundo(9), gás emitido pelo gado e muito mais danoso que o CO2. Desperdício de água: De acordo com a WaterFootPrint, para cada 1kg de carne bovina, são necessárias mais de 15 toneladas de água(10). No cenário global, há dados da USDA mostrando que a pecuária utiliza 90% de toda a água consumida do mundo(11). Metade de todo o abastecimento de água do Brasil, por exemplo, se encontra no Cerrado, que está se tornando campos de pasto e de soja para alimentar o gado. Geração de lixo: Existe uma alerta da ONU mostrando que a pecuária é o setor que mais polui as águas no mundo. Um exemplo dos efeitos catastróficos dessa poluição é a acidificação das águas, que causa zonas mortas no oceano. Devido a essa acidificação, há previsões de que até dois terços dos corais do mundo serão degradados nas próximas décadas(12). Zonas desertas nos oceanos também já podem ser vistas, como o trágico exemplo do Golfo do México, que existe pelo uso excessivo de fertilizantes e pelo hábito de jogar os resíduos da pecuária no mar. Está claro que a produção de alimentos com origem animal é uma conta absolutamente ineficiente. Dessa forma, indústria, investidores e pesquisadores buscam soluções tecnológicas que possam modernizar essa produção, como opções de alimentos feitos a base de vegetais ou por tecnologias de reprodução de tecidos. Acompanhe nosso blog para mais informações sobre esse setor! Escrito por: Felipe Krelling Referências https://istoe.com.br/397357_MAIS+DE+7+MILHOES+DE+PESSOAS+AINDA+PASSAM+FOME+NO+BRASIL+MOSTRA+IBGE/ http://www.farmnews.com.br/mercado/produtores-de-carne-bovina/ https://www.nature.com/articles/nature10452 http://advances.sciencemag.org/content/4/2/eaat2340?utm_source=meio&utm_medium=email http://documents.worldbank.org/curated/en/758171468768828889/pdf/277150PAPER0wbwp0no1022.pdf http://www.midianews.com.br/cotidiano/brasil-vacila-sobre-ambiente-e-pantanal-comeca-a-encolher/314579 http://aprosojabrasil.com.br/2014/sobre-a-soja/uso-da-soja/ http://www.fao.org/docrep/010/a0701e/a0701e00.HTM https://data.worldbank.org/indicator/EN.ATM.METH.AG.KT.CE http://waterfootprint.org/en/water-footprint/product-water-footprint/water-footprint-crop-and-animal-products/ http://waterfootprint.org/media/downloads/Hoekstra-Mekonnen-2012-WaterFootprint-of-Humanity.pdf https://www.nature.com/articles/nclimate1674
Grupo de investidores diz: impostos nas carnes são “inevitáveis”

Um grupo de investidores que administram mais de $4 trilhões ativos enviaram um alerta para seus constituintes: Se preparem para impostos nas carnes. Traçando paralelos com cigarros, carbono e açúcar, o grupo ‘Farm Animal Investment Risk and Return’ (FAIRR) concluiu que é “altamente provável” e “parece inevitável” que impostos nas carnes sejam iminentes após a implementação do Acordo de Paris. Jeremy Coller, a fundadora do FAIRR e da CIO da Coller Capital explica: Se criadores de políticas estão para cobrir os reais custos das epidemias geradas pela criação de animais como a gripe aviária e epidemias humanas como obesidade, diabetes e câncer, como também atacar os desafios gêmeos de mudanças climáticas e resistência a antibióticos, então uma mudança de subsídios para impostos na indústria das carnes é inevitável. O grupo FAIRR recomenda fortemente que empresas de alimentos passem a adotar um “preço sombra” nas carnes para cobrir futuros custos. De fato, a “sombra” da indústria de carnes é excepcionalmente longa, visto que a Organização das Nações Unidas da Agricultura e Alimentação apropriadamente utilizou o termo em sua análise, chamada ‘Livestock’s Long Shadow’. De acordo com as análises da ONU, a produção de carnes é uma enorme contribuinte desordenada para “as maiores causas dos problemas ambientais globais, incluindo aquecimento global, degradação das terras, ar e poluição nas águas, e perda de biodiversidade.” De fato, mesmo a carne mais “eficiente” (que é a de galinha), causa 40 vezes mais mudanças globais por caloria do que proteínas relativas a legumes como soja e ervilhas. Se você levar em conta os custos incorridos nas crises de saúde pública exarcebadas pela carne (resistência a antibióticos, obesidade, doenças no coração), então devemos admitir que existe um verdadeiro caso para incorporar os verdadeiros custos em seus preços. O grupo FAIRR destacou um estudo publicado na Nature da Universidade de Oxford, mostrando que se o consumo das proteínas animais fosse cortado inteiramente nas dietas globais, mais de $1 trilhão poderia ser poupado nos custos ambientais e de saúde até 2050. Por sorte, existem maneiras para atingir as demandas globais por carnes sem essas consequências devastadoras. Assim como a Diretora de Políticas da Good Food Institute dize para a Vice: “Carnes feitas de plantas e carnes limpas, que são produzidas diretamente de células sem a necessidade de fazendas industriais ou matadouros, possuem todos os benefícios da carne sem possuir riscos para o meio ambiente.” Carnes limpas e alternativas vegetais são como a energia limpa quando se trata de alimentos, e se investidores e empresas querem se proteger de futuros custos e fazerem algo bom no processo, não existe melhor forma do que mudar suas produções em direção a essas novas e melhores formas de se fazer carnes. Você pode ler o relatório do grupo FAIRR neste link. Traduzido por Felipe Krelling. Texto original pode ser visto aqui.
Tyson lança marca 100% vegetal

“Nós não queremos ser rompidos,” disse Justin Whitmore, vice presidente de estratégia corporativa e diretor de sustentabilidade na Tyson Foods, num evento recente. “Nós queremos fazer parte da disrupção.” A Tyson pode ser uma líder global na produção de carne, mas também está se tornando um exemplo na liderança do que se é quando a indústria da carne abraça os desejos de seus consumidores para mais alternativas vegetais. A empresa também já investiu nas startups vanguardas que estão tornando a pecuária convencional obsoleta (empresas de proteínas vegetais como a Beyond Meat e a empresa Memphis Meats, que é de carnes limpas). Agora, ela está lançando sua própria marca de alimentos vegetais, a Green Street, para obter uma grande parcela da crescente demanda por mais alimentos vegetais como alternativas às fontes de proteínas animais. A Green Street é a primeira incursão da Tyson nas refeições que já são prontas para comer e prontas para levar. A vontade da empresa em pegar essa nova abordagem é um sinal da profunda mudança nas preferências alimentares dos consumidores. Dados recentes da Nielsen mostram que mais de um terço dos consumidores estão ativamente tentando incorporar mais alimentos de origem vegetal em suas dietas. Como você já deve ter notado, isso dramáticamente excede a porcentagem de vegetarianos e veganos, mostrando que uma faixa mais abrangente de grupos de consumidores estão procurando por mais opções somente vegetais. Firmas líderes de pesquisas de mercado como a Mintel, MarketWatch, Innova, e Rabobank todas já possuem proteínas alternativas como uma trend chave para 2018. E assim como mostra a pesquisa da Lux, isso é uma tendência macro que apenas vai crescer nas próximas décadas, o que fará com que produtores de alimentos de origem animal adaptem fundamentalmente suas abordagens para manterem essa relevante mudança do mercado. Para ver um exemplo primário de empresas de alimentos abraçando o novo mercado robusto de mais alternativas vegetais, veja o novo lançamento da Tesco da linha de produtos prontos para pegar da Wicked Kitchen. E pode esperar por mais atividades similares nos próximos meses para ver varejistas e restaurantes “plantarem” também novas ofertas. Traduzido por: Felipe Krelling. Texto original encontra-se aqui.
Quem não come carne, come o quê?

Em 2017 os brasileiros puderam acompanhar uma série de escândalos envolvendo a indústria da carne. Operação carne fraca, delação da JBS, produtos brasileiros sendo banidos no exterior…. Muitos ficaram surpresos em saber que a qualidade daquilo que comem pode não ser tão rigorosa quanto imaginavam e agora pensam em mudar alguns hábitos, mas ainda se fazem uma pergunta: quem não come carne, come o quê? No passado, de fato era mais difícil encontrar opções vegetarianas para compor a alimentação, mas felizmente a situação hoje em dia é outra. Em primeiro lugar, porque temos muito mais conhecimento sobre como ter uma dieta balanceada sem a necessidade de carne. Ou seja, ninguém precisa substituir a carne por algo parecido, pode-se apenas compor um prato balanceado com vegetais para conseguir todos os nutrientes que o corpo precisa. A nutricionista especialista em vegetarianismo, Ale Luglio, afirma: “Todos os nutrientes essenciais para a saúde humana estão disponíveis nos alimentos de origem vegetal e os animais são apenas acumuladores dos mesmos”. A nutricionista e especialista em vegetarianismo Alessandra Luglio afirma que o vegetarianismo é mais simples do que muitos pensam. Todos os nutrientes essenciais para a saúde humana estão disponíveis nos alimentos de origem vegetal e os animais são apenas acumuladores dos mesmos, desta forma, alimentar-se prioritariamente de alimentos vegetais é seguro e saudável uma vez que, dificilmente ocorrerão carências e também excessos, comuns no modelo alimentar atual que prioriza alimentos de origem animal, evitando-se assim os malefícios dos excessos de gorduras saturadas, colesterol, proteínas e alguns minerais como ferro e cálcio. Uma dieta variada e equilibrada a base de vegetais combina leguminosas, cereais, raízes, frutas, verduras, legumes, sementes, castanhas e cogumelos de forma nutritiva e estimulante. A dieta vegetariana propõe uma mudança de padrão alimentar e a desconstrução de premissas de essencialidade, ou seja, propõe novas e seguras fontes de nutrientes específicos normalmente relacionados às carnes, ovos e lácteos. A academia de nutrição e dietética americana, um dos maiores órgãos de nutrição e saúde do mundo, em suas diretrizes nutricionais classifica a dieta vegetariana estrita como saudável, equilibrada para todas as faixas etárias além de preventivas das principais doenças crônicas não transmissíveis como a obesidade, doenças cardiovasculares, diabetes, hipertensão e o câncer. Mesmo sabendo que é possível se alimentar sem carne, nem sempre é fácil abandonar os velhos hábitos e muitas pessoas sentem que fica faltando alguma coisa no prato quando vão comer. Para essas pessoas, boas notícias também! A indústria tem se desenvolvido muito e novas opções com origem vegetal surgem a cada dia. A pesquisa já avançou tanto, que é possível comer hambúrgueres vegetais com a mesma aparência de um hambúrguer animal, inclusive com uma cor que simula a carne mal passada. Ao mesmo tempo, em alguns lugares já encontra-se produtos muito parecidos com o frango, linguiças, peixe, atum enlatado, camarão e outros frutos do mar. Tudo completamente feito de vegetais, com valor nutricional melhor do que seus exemplos do mundo animal, sem antibióticos, hormônios e sem risco de contaminação por doenças como febre aftosa e salmonela, mas com um sabor muito próximo do original. Consumir esses produtos, além de ser um hábito muito mais saudável, tem grande impacto no meio ambiente. Isso porque a pecuária é uma vilã ambiental em muitos aspectos, sendo considerada como uma das principais causas do efeito estufa, perda de biodiversidade e desertificação do solo, esgotamento da água, dentre outros problemas. A pecuária é, inclusive, apontada como a causa de 90% da destruição da Floresta Amazônica brasileira. Quando o consumo de carne diminui, aumenta também a disponibilidade de alimentos, pois um animal precisa ser alimentado durante anos antes do abate. Cerca de 80% da soja, 70% do milho e 70% da aveia produzidos no mundo são destinados a alimentação do gado ao invés de alimentaram seres humanos mais necessitados. Isso tudo sem falar no sofrimento animal, que é um problema muito extenso. Os animais que abatemos tem sentimentos tão complexos como os que domesticamos, sendo capazes de sentir medo, dor, afeição por suas crias e todos os sentimentos que vemos em um gatinho ou cachorro. Milhões de animais sofrem os mais graves abusos antes de serem mortos pela indústria da carne, mesmo nos frigoríficos mais profissionais. Os fatos apresentados pela operação “Carne fraca” são apenas na última parte da cadeia de alimentos, antes disso muitas outras atrocidades aconteceram. Nos supermercados brasileiros ainda não temos todas essas opções que surgiram em outros países, mas a indústria por aqui também se desenvolveu. Enquanto o mercado de produtos veganos cresce 40% ao ano, o de carnes vem caindo consistentemente. As empresas daqui também melhoram suas receitas a cada ano e muitas pessoas começam a consumir esse tipo de produto como mais uma opção, que é saudável e gostosa, mesmo que não parem completamente de comer carne. Para que esse mercado se desenvolva mais e ofereça opções cada vez mais saborosas, é preciso ter demanda pelo consumo, ou seja, quanto mais as pessoas se dispuserem a experimentar, mais produtos bons surgirão. Todo mundo pode fazer parte disso, comprando marcas vegetarianas, experimentando produtos, procurando receitas e cobrando dos supermercados em que compram para trazerem mais opções a preços acessíveis. Além disso, é fácil de encontrar receitas, comunidades e guias para quem deseja opções vegetarianas. Faça um busca, por exemplo, pelo “Guia Vegetariano para Começar” e veja o material gratuito que envolve até dicas do que comprar em supermercados comuns. Outra opção legal é o “Desafio 21 dias sem carne”, no qual a pessoa inscrita recebe emails com dicas interessantes todos os dias do desafio. O mercado vegetariano tem recebido investimentos de peso, como dos bilionário Bill Gates e Richard Branson, do ator Leonardo DiCaprio e das maiores indústrias do setor alimentício, como da gigante da carne Tyson Foods, da Unilever, Kraft Foods, Cargill, dentre outras. Isso não só mostra o gigantesco potencial de crescimento e retorno financeiro contido nesse tipo de produto, mas também quer dizer que é uma opção muito interessante para as indústrias brasileiras que foram acusadas pela