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Por que acreditamos que as proteínas alternativas devem compor as soluções para transformar o sistema de produção de alimentos e conter as mudanças climáticas?

por The Good Food Institute Brasil O ano de 2030 é considerado crucial para a trajetória do nosso planeta. As metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são tão ambiciosas quanto necessárias para a manutenção da vida na terra. Faltando menos de 8 anos para a sua chegada, não há dúvidas de que medidas urgentes devem ser tomadas em escala global para conter as mudanças climáticas antes que sejam irreversíveis. Outro desafio que bate a nossa porta e que não pode mais esperar é o de  acabar com a fome global que já atinge pelo menos 811 milhões de pessoas no mundo. Entre as medidas necessárias para enfrentar essas questão está a de transformar o atual sistema alimentar, incorporando práticas mais sustentáveis e eficientes de produção de alimentos.  Nesta quinta-feira (7), um estudo (Proteínas e Política: mitos e fatos sobre carne, peixe, proteínas alternativas e sustentabilidade) produzido pelo Painel Internacional de Especialistas em Sistemas Alimentares Sustentáveis (IPES-Food) foi divulgado trazendo importantes reflexões para este debate. O documento reconhece que o atual modelo de produção agropecuário precisa ser revisto e que é preciso promover discussões mais equilibradas sobre quais medidas devem ser adotadas para promover as mudanças necessárias em prol de um sistema alimentar mais sustentável. Contudo, o estudo também questiona a adoção das proteínas alternativas como parte da solução. Dentre outros pontos, segundo o IPES-Food, há uma ênfase excessiva na necessidade de consumo de proteínas e na redução dos gases de efeito estufa (GEE). Embora seja verdade que não há deficiência protéica na dieta da população global, a produção de carne deve aumentar 14% e o consumo per capta deve chegar a 35,4 kg até 2030, impulsionada pela crescente demanda global por carne. Não se trata de uma deficiência nutricional, mas de uma tendência de consumo guiada pelos hábitos e tradições alimentares, que colocam a carne no centro das refeições. Então a grande questão é, como faremos essa entrega para o consumidor de maneira a não impactar negativamente as mudanças climáticas? “Assim como o IPES-Food, também acreditamos que a agroecologia e a agricultura regenerativa devem compor as estratégias para transformar o sistema alimentar. Da mesma forma, temos certeza de que a cultura alimentar é parte fundamental dessa equação. Nesse sentido, as proteínas alternativas têm um papel importante. Nenhuma dessas atividades, sozinha, será capaz de alimentar toda a população nem frear as mudanças climáticas na rapidez que se espera. Também não conseguiremos garantir a soberania e a cultura alimentar se não encontrarmos novas formas de se produzir a comida que as pessoas já consomem e vão continuar a consumir”, comenta o presidente do The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil), Gustavo Guadagnini. A adoção das proteínas alternativas na dieta também não serve exclusivamente aos propósitos da grande indústria, como alega a pesquisa. Esse é um debate em que não podemos excluir nenhum elo da cadeia de produção de alimentos. Do produtor rural à grande indústria, todos têm um papel a cumprir. Acreditamos que é fundamental plantar a ideia da diversificação das fontes de proteína, da mesma forma, defendemos a diversificação das indústrias de carne, leite e ovos, que podem diminuir sua pegada ambiental (uso de terra, água e emissões) ao incorporar em seus portfólios análogos vegetais e cultivados dos produtos de origem animal que já produzem. É impossível garantir comida para toda a população sem esses elos que garantem escala e acesso. Além disso, a Organização Internacional do Trabalho, em parceria com o Banco de Desenvolvimento Interamericano, afirma que a adoção de alimentos vegetais cultivados com métodos agrícolas sustentáveis pode gerar 19 milhões de novas oportunidades de emprego. O problema de concentração não é exclusivo do setor de proteínas alternativas. Ao contrário: é uma característica da indústria de alimentos mundial, que acaba impactando também o mundo das proteínas alternativas. “Atualmente, a indústria de alimentos já é concentrada em grandes empresas – mudar a origem do ingrediente de origem animal para vegetal não vai automaticamente mudar a lógica de todo o sistema produtivo que já existe. Porém, existe um ponto que está sendo ignorado pela discussão do IPES: a monocultura é um sistema que atende diretamente a produção de animais. Hoje produzimos grãos para alimentar animais que geram comida para humanos numa proporção muito ineficiente”, aponta a diretora de engajamento corporativo do GFI Brasil, Raquel Casselli. Para se ter uma ideia, o gado leiteiro precisa de cerca de 12kg de ração ou grãos para produzir 1kg de produtos lácteos. Com relação ao gado de corte, são necessários em torno de 6kg de ração ou grãos para produzir 1kg de peso vivo. Vale dizer que 64% do peso vivo do animal corresponde a ossos, sangue e subprodutos (comestíveis ou não). Ou seja, apenas 36% do peso vivo do gado de corte é carne. Para cada 9 calorias (aproximadamente) produzidas para alimentar o frango, apenas 1 é convertida para consumo humano. É importante mencionar que os valores de taxa de conversão alimentar podem variar dependendo da raça do animal, tipo de alimentação e do sistema produtivo utilizado. “Um sistema produtivo que não dependa tanto de animais libera para o uso humano as imensas áreas em que hoje são plantadas soja e milho para ração. Então, por mais que a indústria que vende a carne vegetal seja concentrada, o uso de proteínas alternativas muda a cadeia de produção como um todo e libera terras para plantio de comida vegetal de qualidade para todas as pessoas. Se queremos ver mais arroz, feijão, cenoura, tomate na refeição brasileira, é preciso mudar a equação de uso de terras da produção animal para a produção vegetal”, completa Gustavo Guadagnini. O Programa Biomas, financiado pelo GFI Brasil, estuda como espécies da nossa biodiversidade, podem se tornar ingredientes de produtos feitos de plantas, como as carnes vegetais. A iniciativa tem o potencial de criar novas cadeias de suprimentos, fortalecer comunidades locais e trazer mais diversidade para a mesa dos brasileiros. Além disso, pesquisas também apoiadas pela instituição com organizações como a Unicamp e a Embrapa buscam encontrar novas fontes de proteínas capazes