Reino Unido investe £15 milhões para acelerar a comercialização de proteínas alternativas; varejistas europeus impulsionam acessibilidade através da paridade de preços

O Reino Unido deu mais um passo em direção à inovação e sustentabilidade alimentar com o anúncio de um investimento de £15 milhões para acelerar a comercialização de proteínas alternativas. Este aporte financeiro, destinado ao novo Centro Nacional de Inovação em Proteínas Alternativas (NAPIC), reflete o compromisso do governo britânico com a transformação do sistema alimentar, promovendo práticas mais sustentáveis e inovadoras. O NAPIC será liderado por um consórcio de instituições de prestígio, incluindo a Universidade de Leeds, Universidade de Sheffield, Instituto James Hutton e Imperial College London. Além do aporte inicial do governo, o centro receberá £23 milhões adicionais de parceiros públicos e privados, elevando o investimento total para £38 milhões. Com esse financiamento, o NAPIC terá a missão de impulsionar o desenvolvimento de novos produtos e ingredientes à base de proteínas alternativas, desde a fase de inovação até a comercialização. O centro também se dedicará a estudar a aceitação desses alimentos pelos consumidores, analisando como essas novas opções podem ser incorporadas de forma eficaz na dieta da população. Além disso, o NAPIC explorará técnicas para desenvolver ração animal e aquicultura mais sustentáveis. Esse avanço é resultado do trabalho consistente que o The Good Food Institute Europa realizou nos últimos dois anos em colaboração com a agência nacional de fomento à pesquisa e inovação, UK Research and Innovation (UKRI). A UKRI incluiu as proteínas alternativas em seus planos estratégicos como uma área prioritária, reconhecendo o potencial desse setor para contribuir com a sustentabilidade e segurança alimentar. O novo financiamento eleva o investimento total do governo britânico em proteínas alternativas para mais de £91 milhões (aproximadamente US$119 milhões), demonstrando o compromisso contínuo do país com a inovação no setor alimentar e com a criação de empregos verdes. No ano passado, o Reino Unido também anunciou, entre outros investimentos, um aporte de £13 milhões para um centro de pesquisa para produzir carne cultivada: o Cellular Agriculture Manufacturing Hub (CARMA), liderado pela Universidade de Bath, está investigando como produzir carne cultivada em escala. Além disso, os pesquisadores também vão estudar o desenvolvimento de alimentos (como o óleo de palma sustentável) por meio da fermentação de precisão. Europa na vanguarda da transformação alimentar O impacto dessas ações não se limita ao Reino Unido. Em toda a Europa, existe um movimento crescente para tornar as proteínas alternativas mais acessíveis e competitivas, impulsionando uma transformação estrutural no setor alimentar e nos hábitos dos consumidores. Redes de supermercados como Lidl e Aldi têm reduzido os preços de produtos plant-based, igualando ou até mesmo baixando os valores em comparação aos seus equivalentes de origem animal em países como Holanda, Alemanha, Dinamarca, e Áustria. Em abril deste ano, o diretor de compras da Lidl Alemanha, Jan Bock, anunciou que a paridade de preços levou a um aumento de 30% nas vendas de carnes vegetais nos últimos seis meses. Essas iniciativas seguem um estudo da ProVeg que mostrou que, quando o preço não é mais uma barreira, os consumidores estão mais inclinados a escolher opções sustentáveis. Além disso, grandes marcas de fast food, como Burger King e McDonald’s, estão ajustando seus preços e expandindo seus menus plant-based para ampliar o acesso ao público europeu. O Burger King da Alemanha, por exemplo, lançou uma campanha chamada “Plant-Based for Everyone” (À base de Plantas para Todos), reduzindo os preços de itens como o Whopper sem carne para torná-los mais baratos que os de carne animal. O McDonald’s, por sua vez, expandiu o McPlant, hambúrguer à base de plantas desenvolvido em parceria com a Beyond Meat, para mais países europeus, com um ajuste nos preços para torná-los mais competitivos. Empresas como IKEA e Tesco também estão investindo na paridade de preços: a IKEA, famosa por suas almôndegas plant-based, está oferecendo seus produtos à base de plantas nos mercados europeus a preços iguais ou menores que as versões de carne. As vendas do cachorro-quente vegetal da marca, por exemplo, quase dobraram em 2022 em comparação a 2019, principalmente devido a uma redução significativa de preço no mercado alemão. A Lidl também passou a exibir os produtos plant-based ao lado dos de origem animal nas prateleiras: a estratégia já foi adotada em algumas regiões e busca reduzir barreiras ao consumo de proteínas alternativas, tornando-as mais visíveis para os consumidores. Ao eliminar a necessidade de sessões separadas, a rede pretende encorajar a experimentação e aceitação desses produtos, integrando-os ao mercado mainstream e mostrando que as alternativas vegetais são uma opção viável e acessível para todos. A Lidl Holanda declarou que as vendas de produtos à base de plantas aumentaram sete por cento desde que foram movidos para a seção de carnes. Além disso, a rede também afirmou que, até 2025, 50% das refeições oferecidas em seus restaurantes serão à base de plantas. Já a Tesco, uma das maiores redes de supermercados do Reino Unido, anunciou uma meta ambiciosa de aumentar em 300% as vendas de produtos plant-based até 2025. Essa estratégia faz parte de um compromisso mais amplo de sustentabilidade em parceria com o World Wide Fund for Nature (WWF), com o objetivo de reduzir pela metade o impacto ambiental da produção de alimentos. A rede tem promovido suas marcas de alimentos plant-based a preços competitivos e investido em campanhas publicitárias para aumentar a conscientização sobre os benefícios das dietas à base de plantas.
Reino Unido investe mais de £ 13 milhões em novo centro de pesquisa para produzir carne cultivada

O projeto representa o maior investimento já feito pelo governo do Reino Unido em proteínas alternativas e ajudará cientistas e empresas britânicas a produzir carne cultivada em escala O novo Centro de Agricultura Celular (Cellular Agriculture Manufacturing Hub – CARMA) será liderado pela Universidade de Bath e financiado pelo Conselho de Pesquisa em Engenharia e Ciências Físicas (EPSRC), que é parte da UK Research and Innovation (UKRI), agência de financiamento nacional que investe em ciência e pesquisa no Reino Unido. O polo, que está programado para funcionar por sete anos, vai investigar como produzir carne cultivada em escala. Os pesquisadores também vão estudar o desenvolvimento de alimentos (como o óleo de palma sustentável) por meio da fermentação de precisão. “Essa técnica permite a fabricação em grande escala de ingredientes específicos usando células microbianas como “fábricas” de produção desses compostos. Através de técnicas de engenharia genética, é possível obter microrganismos recombinantes que se tornam capazes de produzir compostos que antes só eram obtidos de outras fontes, sejam animais ou vegetais, como o exemplo do óleo de palma. A utilização dessa técnica para a produção de proteínas e peptídeos, corantes, aromas, gorduras e enzimas destinados ao setor de proteínas alternativas é uma das aplicações da tecnologia de fermentação mais promissoras”, explica a analista de ciência e tecnologia do GFI Brasil, Isabela Pereira. O CARMA será composto por especialistas das universidades de Birmingham, Aberystwyth, College London e da Royal Agriculture, que farão parcerias com a Universidade de Bath. Empresas de carne cultivada sediadas no Reino Unido, como Hoxton Farms e Quest Meat, também vão integrar o centro. Para o gerente de políticas públicas para o Reino Unido do GFI Europa, Linus Pardoe, “esse é um movimento sísmico no desenvolvimento da indústria de proteínas alternativas no Reino Unido. Gostaria de elogiar o governo por investir no potencial extraordinário dessas novas formas de produzir carne”. “Esse investimento histórico é uma forte indicação de que o governo britânico reconhece a importância da agricultura celular e a necessidade de investir em P & D para ajudar as empresas a escalar a produção, reduzir os custos e disponibilizar esses novos alimentos para todos”, conclui Pardoe.
Plano de Estratégia Alimentar do Reino Unido propõe que os britânicos comam menos carne

O Reino Unido acaba de lançar a segunda parte de sua Estratégia Alimentar Nacional, um relatório de 176 páginas desenvolvido para embasar a criação de um sistema alimentar que seja melhor para as pessoas e para o planeta. Entre as principais recomendações está a redução do consumo de carne em 30% na próxima década. De acordo com o relatório, apesar de 85% das terras agrícolas do Reino Unido serem utilizadas para a criação de animais, a produção de carnes, ovo, leite e derivados fornece apenas 32% das calorias consumidas pela população. Por outro lado, os 15% restantes que são usados para o cultivo de plantas para consumo humano fornecem 68% das calorias consumidas pelos britânicos. Além da eficiência na conversão de calorias, o relatório também aponta para o impacto que a produção e o consumo de carne têm sobre a saúde humana e planetária. O Plano afirma que o gado, por exemplo, emite 25 vezes mais gases de efeito estufa que a produção de tofu. Diz ainda que, à medida que o consumo de carne cresce, aumentam também as operações agrícolas intensivas ligadas ao uso excessivo de antibióticos e contaminação da água. Segundo o relatório, o número de fazendas pecuárias intensivas aumentou 25% no Reino Unido em 2021. Como uma das soluções propostas, o Plano recomenda o consumo de proteínas alternativas que mimetizam a experiência sensorial dos produtos de origem animal quanto ao sabor, textura, aroma e aparência. Estima-se que a substituição por opções vegetais e obtidas por fermentação poderia gerar uma diminuição de 20% no consumo de carne na próxima década. Não por acaso, o relatório defende que o Governo invista 50 milhões de libras no mercado de proteínas sustentáveis. De acordo com a gerente de políticas públicas do The Good Food Institute na Europa, Ellie Walden, não há como o Reino Unido cumprir suas metas climáticas sem impor mudanças drásticas na dieta da população. “Até agora, a responsabilidade de cortar ou diminuir o consumo de carne tem recaído sobre os indivíduos. Por isso, é estimulante ver a Estratégia Alimentar Nacional focada em fazer das proteínas alternativas à escolha padrão. Os produtos análogos vegetais ou obtidos por fermentação garantem um produto com sabor e aparência similar com um custo ambiental muito menor, criando milhares de empregos verdes (que diminuem o impacto ambiental) e permitindo que as pessoas continuem comendo os alimentos que gostam”. No mesmo caminho dos britânicos, estão os espanhóis. Ainda neste mês, o ministro do Meio Ambiente da Espanha, Alberto Garzón, também defendeu a redução do consumo de carne pelos cidadãos. Ele divulgou um vídeo pedindo aos espanhóis que reduzam a taxa de consumo semanal de 1kg para 200g a 500g de carne, a quantidade semanal recomendada pela Agência Espanhola de Segurança Alimentar e Nutrição. Para o diretor de políticas públicas do The Good Food Institute Brasil, Alexandre Cabral, o exemplo europeu se aplica a muitas outras regiões do planeta e todos os grandes mercados produtores e consumidores de carne precisam avaliar com cautela esta problemática alimentar. “No Brasil, o ambiente industrial já se encontra bastante evoluído, com as principais indústrias de alimentos oferecendo proteínas alternativas em seu portfólio. No ambiente regulatório, o Governo vem se movendo de forma sinérgica em diferentes frentes. Do ponto de vista macro, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) desenvolve uma Política Nacional sobre sistemas alimentares contemporâneos, na qual as proteínas alternativas têm um lugar de destaque. Do ponto de vista mais operacional, ligado às estruturas de registro e inspeção, tanto o MAPA quanto a Anvisa estão mobilizados no debate da configuração desta estrutura regulatória”. Prova disso é a Tomada Pública de Subsídios como forma de embasar os reguladores com as impressões da sociedade e do mercado sobre os elementos necessários para o marco regulatório. Na área de carne cultivada, os agentes reguladores recebem um conjunto de informações de caráter científico, ao mesmo tempo em que estão dialogando com seus colegas do exterior numa troca de experiências visando definir o perfil do marco regulatório brasileiro para o setor. “O GFI Brasil está colaborando ativamente em todas estas frentes, conectando os atores nacionais e internacionais para um ambiente de negócios competitivo e favorável à inovação”, afirma Cabral.