Desta vez, a beneficiada é a empresa GOOD Meat, que já comercializa os seus produtos em Cingapura, onde a carne cultivada já foi regulamentada há dois anos.
Hoje, a Food and Drug Administration (FDA-EUA) finalizou favoravelmente a análise a respeito da segurança dos produtos da GOOD Meat. Esta consulta pré-mercadológica ocorre apenas alguns meses após a FDA dar a mesma aprovação para o frango cultivado da UPSIDE Foods, o primeiro produto de carne cultivada a atingir esse marco nos EUA. A análise rigorosa da FDA e a obtenção da aprovação sem questionamentos corrobora as informações que vêm sendo levantadas em estudos relacionados à segurança dos produtos de carne cultivada.
O processo até a liberação para comercialização do produto ainda tem mais alguns passos que envolvem outras agências, mas essa notícia é um movimento histórico importante que demonstra que o caminho vai continuar se abrindo para que os consumidores possam acessar esses produtos em restaurantes e no varejo nos EUA.
Essa segunda aprovação indica que os produtos estão chegando ao mercado sem levantar dúvidas quanto à sua segurança (tanto nos métodos de produção quanto em relação ao produto final), o que pode servir de inspiração para outros reguladores, já que ninguém gostaria de ver seu país ficando para trás na tecnologia.
“Estamos muito satisfeitos em ver que o frango cultivado da GOOD Meat – que tem sido apreciado por milhares de clientes em Cingapura nos últimos anos – está agora a caminho de expandir para os EUA. Em meio à demanda crescente por alimentos e à diminuição dos recursos naturais, nunca foi tão urgente aumentar a produção e distribuição de proteínas alternativas em ambos os lados do Pacífico. O sinal verde da FDA desta semana abre as portas para colaboração regulatória e científica entre dois dos principais centros de inovação do mundo (EUA e Cingapura) e leva a carne cultivada um passo mais perto de se tornar um negócio verdadeiramente global”, Mirte Gosker, diretora administrativa do The Good Food Institute APAC.
“As notícias de hoje são mais do que apenas outra decisão regulatória – é a transformação do sistema alimentar em ação. Os consumidores e as gerações futuras merecem comer os alimentos que desejam, mas feitos de forma mais sustentável, preservando nossa terra e água, protegendo o nosso clima e saúde global e garantindo a segurança alimentar.” Bruce Friedrich, presidente do The Good Food Institute.
“Essa sinalização positiva da FDA em relação ao processo produtivo de carne cultivada pode ser lida como um movimento dos Estados Unidos para se posicionar na vanguarda de uma indústria que deverá, nas próximas décadas, movimentar bilhões de dólares e revolucionar a forma como a humanidade se alimenta. É necessário que os agentes públicos brasileiros se atentem e acelerem o processo regulatório também por aqui, de modo que o Brasil não fique para trás e se consolide o quanto antes como um dos principais atores desse emergente mercado global“, Alysson Soares, especialista de Políticas Públicas do GFI Brasil.
Para mais informações, consulte: What the FDA Evaluated During the First Completed Pre-Market Consultation
O que é carne cultivada e como é produzida?
Carne cultivada é a carne animal produzida a partir do cultivo das células animais. O cultivo das células é realizado reproduzindo o processo biológico que ocorre dentro dos animais e a carne cultivada resultante é composta pelos mesmos tipos celulares que fazem parte do tecido muscular animal, por isso pode reproduzir o perfil sensorial e nutricional da carne bovina, frango, frutos do mar ou de outros produtos de carne produzidos convencionalmente. A partir de uma única célula, multiplicações sucessivas em biorreatores e posterior diferenciação e maturação é possível produzir carne em escala industrial. Para saber mais sobre essa tecnologia consulte os nossos recursos.
Material de apoio/Fontes:
Aproveitando o Dia Mundial sem Carne o The Good Food Institute Brasil e a Sociedade Vegetariana Brasileira te convidam a fazer uma semana de refeições à base de vegetais e proteínas alternativas
Hoje, 20 de março, é celebrado o Dia Mundial Sem Carne. Criada em 1985, o objetivo da data é conscientizar as pessoas sobre os impactos causados pelo consumo do alimento e os benefícios que uma alimentação baseada em vegetais pode trazer para a saúde e para o meio ambiente.
Cada vez mais pessoas têm repensado seus hábitos alimentares e aderido a diferentes tipos de dieta que excluem completamente ou diminuem o consumo de produtos de origem animal. Atualmente, 28% dos brasileiros se consideram flexitarianos. Em 2022, de acordo com pesquisa do GFI Brasil, 67% dos brasileiros diminuíram seu consumo de carne (bovina, suína, aves e peixes), dos quais 52% por vontade própria, incluindo questões relacionadas à saúde, preocupação com os animais, o meio ambiente, influência de familiares ou motivos religiosos e espirituais. A boa notícia é que, desses, 47% pretendem diminuir ainda mais a ingestão no próximo ano.
“Uma alimentação 100% à base de vegetais, que exclui todos os alimentos de origem animal, não somente é possível como também é comprovadamente uma das formas mais efetivas de você cuidar da sua saúde”, afirma a nutricionista e Diretora do Departamento de Saúde da SVB, Alessandra Luglio.
Veja como fazer parte desse movimento!
Aproveitando que em 2023 o Dia Mundial Sem Carne é celebrado em uma segunda-feira, você pode começar pela Segunda Sem Carne, uma campanha presente em mais de 40 países, apoiada por líderes internacionais, governos, personalidades e empresas. As organizações estendem o convite para que você participe também de uma Semana Mundial Sem Carne e sinta os benefícios de uma alimentação à base de plantas.
A forma mais comum de substituição são os alimentos vegetais íntegros, como grãos, legumes, frutas e tubérculos. Com criatividade e planejamento, é totalmente possível criar receitas nutritivas e deliciosas para a semana toda. Se você não sabe por onde começar, esse cardápio vegano gratuito para 14 dias elaborado pela SVB vai te ajudar! “Todas as receitas foram elaboradas considerando o cálculo de aminoácidos essenciais, fundamentais para a formação de proteínas, assim como outros nutrientes necessários ao corpo, fazendo com que as receitas sugeridas sejam saudáveis e completas”, Tatiana Consoli, nutricionista do Departamento de Saúde da SVB.
Para muitas pessoas, no entanto, abandonar hábitos e tradições alimentares é muito difícil, especialmente no Brasil, onde boa parte dos eventos sociais acontecem em torno de uma mesa recheada de carnes variadas e outros alimentos de origem animal. Para fazer essa transição algo mais simples e ao mesmo tempo prazeroso, existem as proteínas alternativas. “Esses alimentos foram criados para te ajudar nessa missão sem que você precise abandonar a ideia de tomar o café com leite pela manhã, de comer o “peito de frango” no almoço, o iogurte no lanche e o omelete no jantar. Para todas essas ocasiões e produtos tradicionais, existem alternativas de origem vegetal com o mesmo gosto, aparência e aroma dos convencionais.”, explica Gustavo Guadagnini, presidente do GFI Brasil.
Se você quer conhecer os produtos vegetais alternativos disponíveis hoje no mercado nacional, acesse os guias do GFI Brasil no Instagram: lá você vai encontrar diversas marcas e produtos para todas as refeições e momentos do seu dia. Desde 2019, mais de 140 produtos foram lançados por cerca de 130 empresas nacionais ou que operam no Brasil.
“Nós queremos construir um mundo mais seguro e justo para as pessoas, meio ambiente e também para os animais. No entanto, precisamos entender que a forma atual como produzimos e distribuímos alimentos exige recursos cada vez mais finitos, além de não garantir a segurança alimentar nem de ofertar alimentos completamente seguros às pessoas.”, afirma Gus Guadagnini.
“A importância da Semana Mundial Sem Carne é enorme. Nela, podemos dar um primeiro passo para refletir sobre como nossas escolhas podem promover a proteção do meio ambiente, melhorar a nossa saúde e transformar a forma como nos relacionamos com os animais!” Ricardo Laurino, presidente da SVB.
No Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, celebrado hoje (16/3), o GFI Brasil aponta algumas correlações importantes.
Desde a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, países do mundo todo têm se dedicado a enfrentar a crise climática. Na ocasião, foi criada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), que entrou em vigor em 1994. Desde então, 27 Conferências das Partes (ou COP) foram realizadas em diferentes países, resultando em compromissos globais como o Protocolo de Quioto, o Acordo de Paris, o Acordo de Copenhague, entre outros. Dois pontos principais definem o foco das iniciativas: financiar projetos climáticos em países em desenvolvimento e limitar o aquecimento da temperatura global para abaixo de 2ºC.
Hoje (16/3), no Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, te convidamos a refletir sobre o impacto dos sistemas alimentares no agravamento da crise climática. O tema surgiu pela primeira vez na COP 27, realizada em 2022 no Egito, e deve seguir como ponto-chave para garantir que as metas sejam alcançadas antes do colapso planetário.
Sistema alimentar sustentável é a chave para frear a crise climática
Nos últimos anos, vários eventos extremos (desastres naturais, desmatamento recorde da Amazônia e do Cerrado, pandemia da Covid-19, guerra na Ucrânia, peste suína africana, doença da vaca louca…) evidenciaram a fragilidade dos nossos sistemas, principalmente o alimentar. Sabemos que ele já não é capaz de alimentar toda a população global, não garante plenamente a segurança dos alimentos, facilita a transmissão de doenças, explora cada vez mais animais para consumo humano, demanda recursos naturais como nunca e é o setor econômico que mais emite gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera.
Mesmo assim, a transição energética sempre foi o foco do debate sobre as mudanças climáticas. Só agora a discussão começa a se voltar também para a transição alimentar, porque fica cada vez mais claro que uma mudança na forma de produzir alimentos (sobretudo de origem animal, como carne, leite, ovos) poderia atenuar e até reverter a trajetória da crise climática. Veja nos dados abaixo como a produção de proteína animal desloca recursos naturais de humanos para animais de consumo:
COP 28: Proteínas alternativas devem ser incorporadas ao setor de alimentos como uma das soluções para a crise do clima
Como já dissemos, a COP 27, que aconteceu ano passado no Egito, foi a primeira edição que teve um espaço inteiramente dedicado a discutir o papel do sistema de produção de alimentos no enfrentamento da crise climática. O Food System Pavilion foi resultado de um trabalho articulado de uma coalizão de 9 organizações, entre elas o GFI, com o objetivo de levantar essa pauta no lugar mais importante de negociações internacionais sobre o clima, além de apresentar soluções e firmar compromissos para cumprir as metas do Acordo de Paris.
Na COP 28, que acontece em novembro de 2023 em Dubai, o GFI estará presente novamente e com objetivos ainda mais ambiciosos, focado em ampliar a exposição do setor de proteínas alternativas. Entenda porque os alimentos feitos de planta e cultivados são cruciais para conter a emissão de GEE e outros poluentes, liberar terras para produção de alimentos diretamente para as pessoas e reduzir o uso de recursos naturais.
As proteínas alterantivas devem ser incorporadas ao setor de alimentos para garantir maior resiliência ao sistema alimentar e para ajudar a solucionar a crise do clima. E, no Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, nós reforçamos nosso compromisso de trabalhar para tornar a cadeia de produção de alimentos mais sustentável, segura, justa, saudável e acessível para todos.
Muitas vezes esquecemos disso no dia a dia, mas nossa comida está intimamente ligada com a crise do clima e o que colocamos no prato é crucial para definir nosso futuro! As discussões voltadas para apontar soluções para a forma como produzimos e distribuímos alimentos só vai se intensificar e o GFI irá contribuir em todas essas frentes, ajudando a apresentar, viabilizar e implementar essas soluções. Neste ano, na COP 28, também vamos mostrar o papel crucial do Brasil, que será palco da COP 30 em 2025, no cenário ambiental.
A agência colocou em consulta pública um novo rascunho regulatório e aceitará comentários até 24 de abril de 2023
A Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, equivalente à ANVISA), publicou, no dia 22 de fevereiro de 2023, um rascunho regulatório no qual indica que bebidas vegetais (feitas a partir de soja, aveia e amêndoa, por exemplo) devam continuar usando o termo “leite” no rótulo.
Indo direto ao ponto, a agência afirmou que esses produtos não enganam o consumidor americano, que sabe que está comprando uma bebida à base de plantas, e não derivada de animais, e recomenda que os fabricantes rotulem seus produtos claramente pela fonte vegetal do alimento (como “leite de soja”, “leite de aveia”, etc). De acordo com as diretrizes preliminares, a FDA também considera que, para ser chamado de “leite”, o produto deve atender a um critério de qualidade que inclui aspectos nutricionais (como quantidade de proteínas, vitaminas e fibras) e não a fonte de produção (animal ou vegetal).
Esse foi um movimento contrário ao que alguns setores da indústria americana imaginavam e indica que a FDA está olhando para o futuro. Por anos, os legisladores dos estados produtores de leite tentaram aprovar projetos de lei que exigiriam que a FDA aplicasse um padrão federal que define “leite” apenas como o produto da “ordenha de uma ou mais vacas saudáveis”.
E aqui no Brasil não é diferente: de acordo com o presidente do GFI Brasil, Gus Guadagnini, “com mais reconhecimento e apoio governamental, a indústria de alternativas à laticínios de origem animal pode continuar a crescer e se expandir, oferecendo aos consumidores mais opções saudáveis e sustentáveis no futuro. O Brasil pode ser líder dessa indústria globalmente e, assim, gerar muitos empregos e receita em impostos. Para isso, também precisamos de um arcabouço regulatório justo e que exista em prol dos interesses dos consumidores, não do protecionismo anticompetitivo da indústria”.
O vice-presidente de políticas públicas do GFI Brasil, Alexandre Cabral, complementa: “o papel do governo é reduzir o risco associado à incerteza regulatória. Para isso, consideramos oportuno a Anvisa avaliar a emissão de um Informe Técnico de Rotulagem sobre o tema”.
A FDA vai aceitar comentários e sugestões na consulta pública até o dia 23 de abril, quando começará a trabalhar na versão final da recomendação de rotulagem. O conteúdo deste e de outros documentos do FDA têm como objetivo fornecer clareza ao público e devem ser vistos como recomendações. Mas, por mais que não tenham cunho obrigatório, essas recomendações de rotulagem indicam que a avaliação da agência converge com diversas pesquisas que apontam que o consumidor compra produtos plant-based de forma consciente. As diretrizes desse documento não se aplicam a produtos lácteos que não sejam bebidas, como iogurte – a FDA está desenvolvendo um projeto de orientação para abordar a rotulagem e nomenclatura de outros produtos alternativos à base de plantas e comunicará atualizações quando disponíveis.
O ano de 2022 foi de muitas conquistas para a nossa organização: tivemos 8 projetos aprovados em programas de pesquisa, 7 publicações lançadas, mais de 2 milhões de reais investidos em pesquisas de acesso aberto, 451 reuniões estratégicas com empresas, governos e universidades, 64 eventos organizados ou apoiados pela nossa equipe e mais de 1047 matérias publicadas na imprensa.
Esses e vários outros impactos positivos só foram possíveis graças aos nossos apoiadores, que possibilitam que continuemos a realizar um trabalho de excelência e gratuito, aos pesquisadores que, todos os dias, produzem um conhecimento valioso para o setor, ao governo brasileiro, que abriu sua agenda para dialogar sobre caminhos para a regulação do mercado de proteínas alternativas, aos empresários e investidores que têm dedicado esforços para produzir alimentos cada vez mais saborosos e acessíveis aos consumidores, e à imprensa, que faz nossas mensagens chegarem a cada vez mais pessoas. Em 2022 comemoramos 5 anos de GFI Brasil e a confiança depositada em nosso trabalho, ainda mais em um ano de muitos conflitos globais, é mais do que gratificante e confirma que estamos no caminho certo.
Te convidamos a ler nosso Relatório de 2022, onde detalhamos tudo que foi conquistado em cada esfera de atuação do GFI Brasil. Para nós, esses dados representam não apenas números, mas também histórias, pessoas, relacionamentos e muita dedicação. Acreditamos que a transparência é fundamental e o relatório é a nossa forma de compartilhar com a sociedade o impacto do seu investimento.
A inovação e o crescimento do ecossistema de proteínas alternativas do Brasil tem sido sem precedentes e nós estamos apenas começando. Continuaremos a investir de forma estratégica na ciência, na proteção dos nossos biomas, no desenvolvimento do mercado nacional e na certeza de que um mundo com um sistema alimentar mais justo, seguro e saudável é possível.
Estamos muito felizes de você estar conosco nessa missão. Muito obrigada!
Ana Carolina Rossettini, gerente de desenvolvimento do GFI Brasil
Gustavo Guadagnini (*)
Recentemente, a indústria de carnes vegetais foi questionada por uma parte da mídia, especialmente nos Estados Unidos, após um desempenho abaixo do esperado na empresa Beyond Meat e em outras iniciativas menores. Essas reportagens se utilizaram de exemplos específicos para projetar um cenário desastroso sobre toda a indústria, e questionaram: será que essa tecnologia é uma moda passageira?
Na opinião dos especialistas desse setor, não. Para entendermos o contraponto, dois argumentos têm sido bastante utilizados. Em primeiro lugar, a teoria de mudança das proteínas alternativas prevê que os produtos vão conquistar uma grande parcela do mercado quando estiverem competindo em condição de igualdade nos aspectos de preço e sensorialidade (sabor, textura, aroma e suculência). No entanto, é evidente que esse ponto ainda não chegou, pois as tecnologias são muito novas e ainda têm muito o que se desenvolver.
Curiosamente, o mesmo termo mencionado pela mídia estadunidense (“fad”, ou moda passageira) já foi utilizado antes para descrever diversas outras tecnologias, como o os videogames, o rádio, os automóveis e até a internet. Não é preciso desenvolver um argumento para mostrar que nenhuma dessas tecnologias acabou sendo uma moda passageira. Da mesma forma, a indústria de proteínas alternativas está ainda em seus primeiros passos. Precisa ganhar escala e receber investimento em pesquisa e desenvolvimento para então competir de forma mais ampla.
Além disso, o segundo argumento está ligado à necessidade que fez com que essas indústrias surgissem. Aqui, não se trata apenas de mais uma oferta alimentar, mas sim de uma solução imprescindível para o futuro do planeta. Isso porque há um consenso científico de que, se não lidarmos com a contribuição da pecuária para a crise climática, não alcançaremos nossos objetivos do Acordo de Paris, ou seja, não conseguiremos conter o aquecimento global e todas suas consequências. O Brasil, inclusive, é signatário do acordo e tem metas para reduzir sua emissão de gases, que é a quarta maior do mundo, exatamente pela imensa atividade pecuária do país.
Em janeiro de 2023, um estudo conduzido pela Universidade de Exeter, Systemiq e pelo Bezos Earth Fund mapeou três tecnologias que têm potencial para reduzir 70% das emissões de gases do efeito estufa. Uma delas, sem surpresas, é a indústria de proteínas alternativas. Esse estudo se soma a diversos outros que apontam essas novas tecnologias de alimentos como a única solução em larga escala para redução do metano emitido por animais.
Para termos uma ideia do que pode ser esse impacto, a consultoria Kearney prevê que em 2040 o mercado total de carnes valerá US$ 1,8 trilhão, sendo que apenas 40% dessa carne será produzida a partir do abate animal, e 60% do mercado será tomado por proteínas alternativas (carnes vegetais, obtidas pela fermentação ou cultivadas a partir de células). Se essa previsão se realizar, as novas tecnologias de alimentos terão eliminado mais de metade do impacto causado pela pecuária.
Essa previsão não é a única, mas independente do número específico, está claro que essa indústria terá um papel essencial para o futuro da cadeia de produção de alimentos ser mais sustentável. Ainda assim, o ditado já disse que “Roma não foi construída em um dia” – e nem será o futuro da alimentação. A construção dessa indústria ainda vai levar décadas e exigir muito investimento, assim como foi com o rádio, videogames, internet, automóveis e qualquer outra grande evolução tecnológica.
Apesar das dúvidas trazidas pela mídia no passado, as tais modas passageiras transformaram completamente a vida de todos nós. Assim será no futuro: a indústria de carnes vegetais está apenas começando e em breve será acompanhada de suas “irmãs”ainda mais novas, que trazem proteínas produzidas a partir de fermentação e do cultivo celular.
No final, o que todos queremos é a mesma coisa: uma cadeia de produção de alimentos que consiga eliminar a fome ao mesmo tempo em que preserva o planeta. R. Buckminster Fuller disse “Somos chamados a ser arquitetos do futuro, não suas vítimas”. Agora cabe escolher: você vive ao lado dos que constroem o futuro, ou dos que preferem acreditar que a tecnologia será uma moda passageira?
(*) Gustavo Guadagnini – Administrador de empresas formado pela PUC-SP, seu objetivo é criar uma cadeia de produção de alimentos mais saudável, segura, justa e sustentável por meio de apoio às indústrias que visam criar alternativas ao uso de ingredientes com origem animal, seja em tecnologias de base vegetal ou de tecidos cultivados. É um dos mais ativos promotores do setor, sendo listado em 2020 pela revista GQ como um dos brasileiros na lista dos “25 nomes que podem salvar o mundo”.
Nesse Dia Mundial das Mulheres na Ciência, o GFI Brasil quer parabenizar todas as cientistas, pesquisadoras, professoras, alunas e acadêmicas que trabalham todos os dias para transformar em realidade a nossa missão de criar um sistema alimentar mais justo, seguro e sustentável!
Programa de computação, cromossomos x e y, radioatividade, fissão nuclear, comunicação sem fio, dupla hélice do DNA, trajeto até a lua, matéria escura. O que essas descobertas têm em comum? Todas foram feitas por mulheres cientistas! Em um campo emergente como as proteínas alternativas, é preciso um conhecimento científico profundo pra identificar lacunas e articular soluções tecnológicas que vão não apenas melhorar a oferta de produtos, mas também impactar positivamente o clima, a saúde global, a segurança alimentar e o respeito aos animais. Aqui no Brasil, quem tem assumido esse desafio são, em grande número, as mulheres. E essa realidade se comprova no trabalho do GFI Brasil:
Nos programas de incentivo à pesquisa, 68% das pesquisas aprovadas são lideradas por mulheres. Além disso, nosso time de Ciência e Tecnologia é 100% formado por mulheres, todas pós doutoras, doutoras, mestres ou doutorandas!
“O time de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil é formado por 8 incríveis mulheres que participam de grupos de discussão e eventos internacionais desbravando um caminho pioneiro para a ciência das proteínas alternativas no Brasil e no mundo. Tenho muito orgulho delas porque todas possuem maestria na condução dos nossos projetos”, Cristiana Ambiel, gerente de ciência e tecnologia e mestre em tecnologia de alimentos.
“As mulheres formam uma grande parcela da ciência no Brasil e, na área de alimentos, é ainda maior. Nos laboratórios onde trabalhei e nos cursos que fiz, as mulheres sempre foram maioria. Eu trabalho com algas para uso na alimentação humana e, em muitos momentos, me sentia insegura em relação ao meu tema. Mas, desde que entrei no GFI Brasil, tudo se encaixou e sinto que estou exercendo ao máximo minha profissão: hoje desenvolvo trabalhos e projetos que conectam meu trabalho com meu doutorado e ainda geram impacto um positivo no mundo”, Mariana Demarco, analista de Ciência e Tecnologia, mestre e doutoranda em Ciência de Alimentos.
“Hoje, as mulheres cientistas representam a maioria dos doutorandos no Brasil e elas têm atuado em diversas frentes: são professoras e pesquisadoras nas universidades e empresas, têm ganhado destaque divulgando e discutindo ciência nas redes sociais e telejornais, além de muitas outras ações. Apesar dos muitos obstáculos que existem na nossa trajetória enquanto mulheres cientistas, estar em um ambiente cheio de referências femininas, competentes, dedicadas e que são valorizadas é o que nos motiva. É um privilégio dividir o dia-a-dia, compartilhar os desafios e comemorar as conquistas com elas”, Amanda Leitolis, Especialista em Ciência e Tecnologia e Ph.D em Biologia Celular e Molecular.
Sem essas mulheres, o setor de proteínas alternativas no Brasil não teria tido tantos avanços nos últimos tempos. Agradecemos à todas as cientistas por estarem sempre inovando e criando soluções de alto impacto para o planeta!
Você sabe o que são os pulses?
Pulses são as sementes secas comestíveis de leguminosas. Aqui no Brasil, os pulses mais consumidos são os feijões, a ervilha, a lentilha e o grão-de-bico.
O Brasil é um dos maiores produtores e consumidores globais de feijão:
7 entre cada 10 brasileiros comem feijões todos os dias. Mas, apesar de existirem mais de 40 tipos desse pulse aqui no Brasil, o feijão preto, o fradinho, o caupi, o vermelho, o mungo e o carioca são os que dominam o mercado. O carioca, sozinho, ocupa 50% de toda a área de cultivo do país.
Potencial dos pulses para a saúde global:
Especialistas brasileiros e internacionais consideram que o aumento do consumo de pulses é um dos caminhos para acabar com a fome, gerar renda e garantir a segurança alimentar. Além de serem riquíssimos em proteínas, fibras, vitaminas e minerais, o cultivo dos pulses requer muito menos água e fertilizantes, diminui a emissão de CO2 na cadeia de produção e aumenta o microbioma do solo, além de ser de baixo custo e fácil armazenamento.
…e para o setor das proteínas alternativas:
Os pulses são usados como matéria-prima para muitos dos produtos plant-based, mas a proteína de ervilha tem assumido o protagonismo. Mas, como ela é importada, é um ingrediente caro para a indústria nacional. O Brasil tem uma capacidade agrícola de produção de grãos pujante que, se bem explorada, representa um potencial enorme de crescimento. Além da geração de empregos e renda, o baixo custo dos pulses poderá permitir que a indústria de alimentos desenvolva produtos mais acessíveis para o consumidor final.
Como estamos envolvidos:
O GFI Brasil, em cooperação com o Governo do Mato Grosso, está iniciando um trabalho para promover o uso do feijão brasileiro como matéria-prima para a indústria de produtos plant-based. Essa iniciativa busca não apenas fomentar a agricultura regional e sustentável, como também valorizar esse ingrediente tão popular e tradicional do nosso país.
O Alt Protein Project é um movimento global que reúne estudantes motivados e visionários que buscam criar um sistema alimentar mais sustentável, seguro e justo. O The Good Food Institute desenvolveu o projeto para que esses alunos liderem a promoção da educação, pesquisa e inovação em proteínas alternativas nas suas universidades.
Desde 2020, já formamos grupos de estudantes em 36 universidades ao redor do mundo para conduzirem a revolução da proteína alternativa. Chegou a hora de você se juntar a eles! Os grupos contam com pesquisadores, cientistas e alunos de disciplinas e estágios acadêmicos diferentes, e todos trabalham juntos para definir e lançar as iniciativas de alto impacto que vão garantir o sucesso das proteínas alternativas.
No Alt Protein Project você vai poder atuar em diversas frentes, como: se reunir com membros de outros laboratórios para conduzir novas propostas de pesquisas; desenvolver cursos e especializações a serem adicionadas ao currículo universitário; analisar lacunas de mercado para criar novos produtos e formulações e promover atividades que estimulem o debate sobre proteínas alternativas.
Quer fazer parte dessa comunidade? Se inscreva até o dia 31 de março e, caso tenha alguma dúvida, entre em contato com a nossa equipe de ciência e tecnologia pelo e-mail lorenap@gfi.org