R & S BLUMOS lança primeira carne vegetal bovina à base de proteína de feijão carioca, custando menos de R$30,00 o kg

A novidade foca no food service e foi lançada no Dia Mundial das Pulses, durante feira do agronegócio, em Cascavel-PR Texto: Bruna Corsato Revisão: Vinícius Gallon Créditos de imagem: R & S BLUMOS Anos de crescimento da indústria plant-based no país levaram ao surgimento de uma demanda entre as empresas do setor: o desenvolvimento de matérias-primas nacionais para serem utilizadas na composição de produtos feitas de planta. Pesquisa realizada pelo The Good Food Institute Brasil mostrou que 84% das empresas de proteína vegetal brasileiras considera essa uma prioridade alta. A R & S BLUMOS, empresa que fornece ingredientes e tecnologias inovadoras para a indústria, mostra que é possível fazer uso da biodiversidade do país para atender às demandas da indústria. A Carnevale WUT, proteína vegetal feita a partir de matérias-primas 100% nacionais como a soja não-transgênica e concentrado de feijão carioca, foi desenvolvida utilizando extrusão úmida, tecnologia que possibilita produzir fibras de carne vegetal análogas às de animais. O produto será lançado custando menos de R$30,00 o kg para o food service, antecipando as previsões do setor de proteínas alternativas de vender carne vegetal mais barata do que a convencional em 2023. “O produto promete chegar ao consumidor a um preço bastante competitivo. Sem dúvida, esse lançamento está alinhado com o que temos observado sobre os anseios do consumidor a respeito desse novo mercado”, pondera Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo do GFI Brasil. As vantagens do Carnevale WUT vão além de preço acessível e ingredientes nacionais. Ao passar pelo processo de extrusão úmida, o produto já é cozido, o que significa mais praticidade no preparo sem perda de rendimento do prato final. “Pela primeira vez, estamos criando uma proteína 100% brasilera com com aptidão para análogos de carne bovina de panela.” conta Fernando Santana, da R & S BLUMOS. A ideia é de que encontre um grande mercado no food service e entre chefs de cozinha e depois, com algumas atualizações, que chegue aos açougues”, conta Fernando Santana, diretor de vendas da R & S BLUMOS. O lançamento aconteceu durante o Show Rural Coopavel, evento anual com foco em inovação tecnológica e sustentabilidade para o agronegócio, explicitando as oportunidades de colaboração entre produtores rurais nacionais e o mercado plant-based. “O agro brasileiro vai se beneficiar muito pois este produto tem um potencial gigante tanto de exportação quanto de consumo no mercado local.”, explica Fernando. Lançamentos como este sinalizam a consolidação do mercado de proteínas alternativas no Brasil, que segue crescendo de forma mais madura à medida que as empresas investem em novas tecnologias e conquistam ainda mais os consumidores. “O lançamento de hoje une diversos aspectos que o consumidor brasileiro vem demonstrando procurar em produtos vegetais. O seu formato pronto para ser utilizado em receitas do dia dia, utilizando ingredientes nacionas, aproveitando a nossa biodiversidade, ingredientes produzidos pelo nosso agronegócio e também a questão do custo, cada vez mais decisivo na decisão de compra do consumidor.”, conclui Raquel.
Proteínas alternativas são aliadas na garantia de um futuro mais sustentável

Na contramão das inovações alimentares, iniciativas tentam barrar o desenvolvimento do setor, mas este é um mercado do “e” e não do “ou”. Há espaço e demanda para toda a indústria. Texto: Alexandre Cabral Revisão: Vinícius Gallon Mais um ano se inicia. Deixamos para trás um ano complexo, onde a vida em geral foi novamente pautada pela pandemia, onde experimentamos o alívio da vacinação de grande parte da população e a incerteza sobre novas variantes do vírus e seus efeitos. Abrimos um ano onde temos a sensação de estarmos na segunda metade da luta contra a Covid-19 e a certeza de que algo de novo precisa ser feito na relação entre o homem e o planeta. Hora de ouvir os ecos das discussões sobre sistemas alimentares (UNFSS) e suas conexões com os desafios da sustentabilidade (COP26). Hora de olhar para os números crescentes da fome no mundo. Hora de convergir as forças em prol de um tema crucial que atravessa diversas dessas questões: a oferta de proteína obtida de forma sustentável para consumo humano, não importa a fonte. A indústria da proteína de origem animal intensificou o debate nessa direção, anunciando diversos programas em busca da neutralidade de suas emissões nas próximas décadas, dentre elas Danone, JBS e BRF. A indústria de proteínas alternativas pode colaborar muito neste debate. Está provado que é possível juntar alguns ingredientes usuais na indústria de alimentos com outros desenvolvidos especificamente para esse mercado e criar um alimento gostoso, sustentável e seguro, que pode ser preparado e consumido da mesma forma que o produto de origem animal, mas utilizando uma quantidade radicalmente menor de terra e água em seu processo produtivo. Essa é uma corrida tecnológica que está acontecendo em diversas partes do mundo e tanto as empresas quanto os cientistas brasileiros estão muito bem posicionados. Trata-se de um campo fértil para a inovação e o Brasil sempre se destacou em avançar tecnologias que já dominava antes. Somos uma potência em alimentos e temos tudo para sermos uma potência também em alimentos de alta tecnologia, como os produtos plant-based e as carnes cultivadas. Somos hoje o celeiro do mundo, imbatíveis e fundamentais no fornecimento de commodities agrícolas. Como disse um importante executivo do setor, podemos nos tornar rapidamente o supermercado do mundo, fornecendo produtos de alto valor agregado desenvolvidos e fabricados no Brasil. Reimaginarmos a forma como obtemos proteína para consumo humano é urgente e fundamental. As proteínas alternativas, como chamamos os produtos análogos aos de origem animal obtidos a partir de plantas, por processos de fermentação ou por cultivo de células, é uma das alternativas concretas para ajudarmos o Brasil na sua transição para uma agricultura de baixo carbono. Lado a lado com as proteínas sustentáveis de origem animal, podemos formar uma resposta consistente do nosso país e da nossa economia agrícola ao novo cenário de médio prazo, onde diferentes fontes de obtenção de proteína para consumo humano conviverão. Esse é um mercado “E”, e não um mercado “OU”: há espaço e demanda para atuação de todos. O papel do GFI é ser um catalisador dessa mudança, estimulando a produção de proteína sustentável para consumo humano através de análogos aos produtos de origem animal. Hora de rever o que foi feito ou deixou de ser feito e alinhar ideias e atitudes para o ano que se inicia. O mercado de produtos análogos aos produtos de origem animal vem crescendo muito. Nascido em 2019 a partir do movimento de algumas poucas empresas, veio tomando corpo em 2020 e se consolidou em 2021. Diversas empresas de diferentes portes passaram a operar no mercado nacional e hoje tanto o consumidor brasileiro tem acesso a produtos saborosos e seguros em qualquer supermercado quanto ele já é exportado para mais de 25 países, incluindo Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Alemanha, Emirados Árabes, África do Sul, México, Colômbia e tantos outros. O principal desafio para as empresas em 2022 é caminhar na direção do aumento ao mesmo tempo da escala de produção e do número de ingredientes nacionais utilizados. Isso poderá permitir a produção a um custo cada vez mais baixo, para um público cada vez maior. E permitirá produtos de alcance global cheios de “brasilidade” na sua composição. É hora de consolidar a tendência de que o Brasil passe a utilizar em seus análogos de base vegetal seus próprios feijões e pulses como fonte principal de proteína e ingredientes naturais extraídos de forma sustentável da biodiversidade brasileira por meio da agregação de valor local. Assim como no mercado de proteína de origem animal para consumo humano, onde o Brasil é indiscutivelmente protagonista no cenário internacional, a tendência ao protagonismo também no mercado de proteínas alternativas parece ser apenas uma questão de tempo. O mapeamento das empresas mostra desde gigantes do mercado de proteína animal que anunciaram ou iniciaram seus negócios em proteínas de origem vegetal até empresas de médio porte que se posicionaram no setor, passando pelas inúmeras startups que já nasceram com foco neste mercado. Sem esquecer de como o Brasil vem se posicionando no promissor território das carnes obtidas por cultivo celular, com os anúncios da JBS e BRF e o surgimento das primeiras startups no segmento, Ambi e Sustineri. E quando a indústria se move, a pesquisa científica precisa ser chamada a caminhar junto, desenvolvendo a tecnologia necessária para as inovações a serem introduzidas no mercado. A ciência é fundamental para encontrar respostas aos desafios do mercado. O mapeamento das instituições de pesquisa envolvidas com o tema mostra também um engajamento em universidades e institutos de pesquisa de todo o país. Assistimos a um crescimento exponencial do número de empresas atuantes no setor de proteínas alternativas no Brasil e a uma mobilização acadêmica que pode sustentar um cenário muito favorável de crescimento. Mas nem tudo são flores nesta cena. E nem esperávamos que fossem. Fechamos 2021 e estamos abrindo 2022 com algumas ações contrárias ao desenvolvimento deste setor no Brasil. Descontentes com o nosso discurso, alguns movimentos e associações se posicionaram na mídia e judicialmente tentando
Transição no sistema alimentar é necessária para garantir a vida na Terra

Texto: Victória Gadelha Revisão: Vinícius Gallon A meta estabelecida pelo Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura terrestre a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais demanda uma redução drástica das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Nos últimos anos, muitos avanços tornaram os setores de transportes, indústrias e energia mais limpos. No entanto, por mais fundamentais que sejam todos esses esforços, eles ainda são insuficientes para limitarmos o aquecimento do planeta. Isso porque o sistema alimentar global é também um dos principais emissores de GEE mas, diferente dos outros setores, seus impactos foram historicamente mal compreendidos e, só agora, começaram a ser expostos com clareza – e com a seriedade que a situação demanda. Estudos mostram que, mesmo se todas as emissões de combustíveis fósseis fossem imediatamente zeradas, as emissões do sistema alimentar global por si só tornariam impossível limitar o aquecimento a 1,5°C e ameaçariam, inclusive, um aumento acima de 2°C. Por isso, para cumprir os objetivos do Acordo de Paris e garantir um futuro seguro, é urgente mudar a forma como nós produzimos alimentos e, principalmente, a forma como nós consumimos proteínas. O sistema alimentar é responsável por 34% das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. A produção de proteína animal, sozinha, gera metade desse valor, que é maior do que as emissões totais (de todos os setores combinados) dos EUA. Essas emissões vêm de várias fontes, principalmente do desmatamento (para abrir pastagens e plantar os grãos que viram ração dos animais de abate), da produção e do uso de fertilizantes e agroquímicos, da fermentação entérica e do esterco dos ruminantes (que, juntos, são responsáveis por 30% das emissões de metano) e da queima de combustíveis fósseis na cadeia de produção e abastecimento de alimentos. A pecuária (pastagem e produção de grãos para ração) ocupa mais de 70% de todas as terras agrícolas do mundo e 30% da superfície terrestre. Mesmo assim, fornece apenas 17% do suprimento alimentar da humanidade. Com a população mundial prevista para alcançar 10 bilhões de pessoas em 2050, é esperado que o consumo de carne aumente a ponto de dobrar nos países de renda média. E dobrar a produção desse setor, sem mudar seus métodos, significa dobrar todos os impactos que ele gera – em um mundo com recursos naturais já esgotados. É por isso que as proteínas alternativas se apresentam como uma solução potente e escalável para uma transição eficaz no sistema alimentar. Novo estudo do The Good Food Institute com o Climate Advisers indica que uma mudança no consumo de proteínas é capaz de fornecer de 14 a 20% da mitigação de emissões que o mundo precisa até 2050 para não ultrapassar o aquecimento de 1,5°C. Além disso, é capaz de acelerar outras soluções naturais ao, por exemplo, liberar milhões de hectares de terras que podem ser destinada para estratégias de conservação, gestão com foco no clima, segurança alimentar, proteção da biodiversidade, etc. As proteínas alternativas podem ser divididas em dois tipos principais: feitas de plantas (plant-based), que são produtos feitos de vegetais que imitam o sabor, formato e textura das carnes (bovina, suína, de frango, peixe, frutos do mar…), laticínios e derivados; e carne cultivada, fabricada diretamente a partir de células animais, resultando num produto igual ao convencional. A alta eficiência de ambas no uso da terra em relação à carne bovina é, sem dúvidas, uma das suas maiores vantagens, já que precisam de até 99% e 95% menos solo para serem produzidas, respectivamente. Ao invés de usar terras para cultivar os grãos que alimentam os animais que, por sua vez, são abatidos para nos alimentar – e ocupar mais terras para criar todos esses animais – as colheitas podem ser usadas diretamente para produzir carne à base de plantas. Dessa forma, deixamos de “terceirizar” a ingestão de proteínas através do animal e podemos tirar esse intermediário da equação. Com isso, todo o metano e o óxido nitroso gerados pela digestão e decomposição do estrume dos ruminantes deixa de ser emitido e, como dito anteriormente, as vastas terras poupadas podem ser destinadas para práticas regenerativas e de preservação. Tanto a carne vegetal quanto a cultivada concentram seu gasto de energia em instalações que podem ter uma pegada de carbono mínima se alimentadas com energia renovável, emitindo pouco ou nenhum GEE. Assim como painéis solares e carros elétricos, as proteínas alternativas precisam ser amplamente consumidas para passarem a assumir um papel de protagonismo na redução global de gases de efeito estufa. Apesar desse momento ainda não ter chegado, as inovações do setor seguem em ritmo impressionante e indicam que, logo, as proteínas alternativas poderão competir em sabor e preço com todo tipo de carne animal. Os produtos substitutos para carne bovina, suína e de frango já se popularizaram e estão sempre presentes em mercados e hamburguerias como uma opção para vegetarianos e veganos, mas os avanços em relação a alternativas para peixes e frutos do mar também surpreendem e, em termos de impactos ambientais, têm uma relevância importantíssima – que muitas vezes é menosprezada. Além da pesca predatória agredir os ecossistemas marinhos ao retirar do mar trilhões de animais todos os anos, muitos peixes selvagens (como atum, bacalhau e salmão) já são pescados acima da capacidade máxima e passam a integrar a lista de espécies em extinção. O desenvolvimento de peixes e frutos do mar alternativos pode aliviar a pressão sobre a pesca industrial e os sistemas de aquicultura, que não vão conseguir suprir a lacuna entre oferta e demanda que deve se formar nos próximos anos. Ao mesmo tempo, as proteínas alternativas reduzem em até 91% a poluição dos oceanos (Causada pelo escoamento agrícola) e também poupam todos os outros recursos aquáticos, uma vez que precisam de até 99% menos água para serem produzidas do que a carne animal). Os ganhos ambientais proporcionados por essa transição no sistema alimentar são inegáveis, mas ela também oferece benefícios cruciais à saúde global: relatório da FAO (braço da ONU para alimentação e agricultura) de 2013 já indicava
The Good Food Institute Brasil alavanca o desenvolvimento do mercado de proteína cultivada e apoia investimento JBS no setor

Com o objetivo de alavancar o desenvolvimento do mercado de proteína cultivada, o The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil) assessorou a JBS na sua entrada neste segmento. O GFI Brasil ofereceu apoio estratégico, tecnológico, regulatório e conexões com cientistas e startups para a companhia, que irá destinar US$ 100 milhões nesta nova frente, consolidando um trabalho de análise mercadológica iniciado há três anos. “Esse é um dos maiores fatos que já ocorreram nesse setor. O investimento é de longe o maior já feito nessa área por uma empresa tradicional de carnes, e um dos maiores mesmo dentre as startups, que já captam recursos há anos. Com esse movimento, a JBS mostra que está disposta a investir pesado para chegar na liderança da produção de carne cultivada e imediatamente muda o cenário competitivo global. Cada vez mais temos uma certeza: o futuro da produção de alimentos com base tecnológica terá, com certeza, protagonismo brasileiro”, afirma Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo do GFI Brasil Com esse recurso, a JBS, líder global em proteínas e segunda maior empresa de alimentos do mundo, firmou acordo para aquisição do controle da empresa espanhola BioTech Foods, prevendo o investimento na construção de uma nova unidade fabril na Espanha para dar escala à produção. Além da aquisição, a JBS também anuncia a implantação do primeiro Centro de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) em Biotecnologia e Proteína Cultivada do Brasil. Fundada em 2017, a BioTech Foods é uma das líderes no desenvolvimento de biotecnologia para a produção de proteína cultivada, contando com o apoio do governo espanhol e da União Europeia. A empresa opera uma planta-piloto na cidade de San Sebastián e tem a expectativa de alcançar a produção comercial em meados de 2024, com a construção dessa nova unidade fabril. O investimento na nova instalação é estimado em US$ 41 milhões. Pelos termos da transação, a JBS se torna a acionista majoritária da BioTech Foods. A operação possibilita que as duas empresas unam forças para acelerar o desenvolvimento do mercado de proteína cultivada. A companhia brasileira passa a ter acesso à tecnologia e à produção de proteínas da BioTech Foods, que, por sua vez, terá à disposição a capacidade de processamento industrial, a estrutura de marketing, know-how para o desenvolvimento de produtos e os canais de venda da JBS para colocar o novo produto no mercado. “Esta aquisição reforça nossa estratégia de inovação, desde como desenvolvemos novos produtos até como comercializamos, para atender à crescente demanda global por alimentos. Unindo o conhecimento tecnológico com nossa capacidade de produção, seremos capazes de acelerar o desenvolvimento do mercado de proteína cultivada”, afirma Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS. A aquisição da BioTech Foods ainda está sujeita à confirmação da autoridade de investimento estrangeiro na Espanha, entre outras condições usuais a esse tipo de operação. Quando estiver em fase comercial, a proteína cultivada chegará inicialmente aos consumidores na forma de alimentos preparados, como hambúrgueres, embutidos, almôndegas, entre outros. A tecnologia tem potencial não apenas para a produção de proteína bovina, mas também para a de frangos, suínos e pescados. O movimento na Europa é complementado pelo Centro de Pesquisa em Proteína Cultivada no Brasil. Previsto para ser inaugurado em 2022, o centro incluirá na segunda etapa uma planta que irá ocupar uma área de 10 mil metros quadrados. Liderado pelos doutores Luismar Marques Porto e Fernanda Vieira Berti, a iniciativa contará com cerca de 25 pesquisadores e vai trabalhar no desenvolvimento de tecnologias de ponta para a indústria de alimentos. Com o investimento no Centro de P&D, a JBS pretende desenvolver novas técnicas que acelerem os ganhos de escala e reduzam os custos de produção da proteína cultivada, antecipando sua comercialização no mercado. “Estamos ampliando nossa plataforma global para atender às novas tendências de consumo e ao crescimento da população global. A aquisição da BioTech Foods e o novo centro de pesquisa colocam a JBS numa posição única para avançar no setor de proteína cultivada”, complementa Tomazoni. “Nós, do GFI, ficamos muito felizes em termos sido chamados para colaborar no projeto de proteína cultivada da JBS. Nosso objetivo é sempre facilitar a entrada de novos agentes para que o mundo das proteínas alternativas se desenvolva mais rápido. Tivemos o privilégio de ver a empresa potencializar esses recursos para buscar a liderança da área, gerando uma das estratégias mais arrojadas da história do setor. Foi uma honra ver esse projeto nascer e aprender com o time de executivos da JBS durante o processo de planejamento”, afirma Gustavo Guadagnini, presidente do GFI Brasil.
Parte planta, parte carne: como os alimentos híbridos suprem duas demandas com um único produto

Texto: Victoria Gadelha Revisão: Vinícius Gallon Novos estilos de vida mais conscientes e preocupados com a saúde e o meio ambiente têm estimulado o surgimento de novos gêneros alimentares, como o flexitarianismo, em que o consumidor diminui o consumo de produtos de origem animal sem interrompê-lo completamente. Enquanto as alternativas à base de plantas já possuem um lugar consolidado na dieta dos veganos e vegetarianos, os alimentos híbridos (blended, em inglês) vieram para atingir um público que se importa com saúde e sustentabilidade mas não quer abrir mão da experiência sensoral e da nutrição associadas à carne animal. Incorporar vegetais em pratos tradicionalmente feitos somente de carne, tornando-os híbridos, é uma forma de mudar a dieta dos consumidores sem a necessidade de grandes mudanças no estilo de vida. Em vez de “plant-based”, é “plant forward”: esse termo guarda-chuva inclui qualquer dieta ou padrão alimentar de quem se compromete a comer mais vegetais e menos carne, mas não busca eliminar todos os produtos de origem animal nem se rotular de forma mais estrita. Os motivos, de acordo com o relatório “The Power of Meat”, lançado em 2020 pela The Food Industry Associaton (FMI), incluem o fato desses produtos facilitarem uma maior ingestão de vegetais e proporcionarem uma maneira mais saudável de comer carne. Além de serem melhores para a saúde do consumidor (por conterem menos gorduras saturadas, colesterol e sódio, mais fibras e vitaminas) os produtos híbridos também são melhores para o meio ambiente, uma vez que a pecuária é uma das atividades que mais poluem, desmatam e emitem gases de efeito estufa na atmosfera. Segundo o World Resources Institute (WRI), os norte-americanos comem 10 bilhões de hambúrgueres todos os anos. De acordo com o instituto, se um terço da carne em cada hambúrguer fosse substituída por cogumelos, seria economizada uma quantidade de água equivalente ao uso anual de água doméstica de 2,6 milhões de americanos. Em relação à poluição atmosférica, seria o equivalente a tirar 2,3 milhões de carros – e suas emissões de CO2 – das ruas por ano. Se tratando de terras, o WRI relata que o “blend” nos hambúrgueres reduziria o uso global de áreas agrícolas em mais de 36.260 km2, uma área que equivale a 4,395 campos de futebol. Fora o impacto ambiental, a estratégia de incrementar vegetais em alimentos de origem animal também pode reduzir os custos de produção e comercialização de vários produtos. No caso da carne cultivada, por exemplo, misturar uma porcentagem de vegetais nas células animais é essencial para baratear sua produção que, apesar de já ser uma realidade, enfrenta desafios relacionados à redução de custos, aumento de escala e regulamentação legal. O único lugar no mundo em que a carne cultivada já está aprovada para venda é em Cingapura. No final de 2020, a marca Eat Just lançou sob o nome de GOOD Meat o primeiro frango cultivado híbrido, usando 70% de frango cultivado e 30% de base vegetal. Enquanto a demanda por carne cresce, ao mesmo tempo em que a demanda por alternativas vegetais também, as empresas que produzem alimentos híbridos se posicionam bem entre as duas categorias. Nos últimos dois anos, gigantes do mercado embarcaram na tendência e adicionaram linhas híbridas aos seus catálogos de produtos. A Tyson, maior processadora de carne dos EUA, lançou pela marca Aidells Whole Blends salsichas e almôndegas de carne com misturas vegetais, como frango com espinafre e queijo feta ou frango com abacaxi desidratado. Já a Applegate criou um hambúrguer híbrido feito de carne de vaca com couve-flor, espinafre, lentilha e abóbora, e outro feito de peru com batata-doce, feijão branco, couve e cebola. Por utilizarem menos carne animal, eles conseguiram utilizar um produto “grass fed”, ou seja, de animais que foram alimentados naturalmente no pasto, sem o uso de rações com grãos e remédios. Cada hambúrguer da marca (106g) entrega por volta de 1⁄3 de xícara de vegetais. A Lisanatti Foods foi além e lançou um queijo híbrido: a mozzarella vegetal, à base de amêndoas, é misturada com caseína (proteína derivada do leite), permitindo que o queijo vegetal imite bem a textura do queijo animal. Dessa forma, o produto é apto para vegetarianos, flexitarianos e para o consumidor comum, mas não para quem é vegano ou tem alergia à proteína do leite de vaca (APLV). A Misfit Foods, que até 2019 era uma empresa que produzia sucos prensados a frio a partir de frutas imperfeitas (que seriam jogadas fora), decidiu entrar no ramo das carnes híbridas. Motivada pela urgência ambiental aliada à crescente demanda do mercado, a marca criou produtos misturados (como hambúrguer bovino com beterraba ou salsicha de frango com cenoura e curry) que vêm numa proporção de 50 a 60% carne e 40 a 50% vegetais, oferecendo ao consumidor um bom “empurrão” para longe da carne, mesmo enquanto ele come carne. A Perdue, que está entre as principais empresas de grãos e de processamento de frango, peru e porco nos EUA, lançou também em 2019 a Chicken Plus, uma linha voltada para o público infantojuvenil que oferece nuggets híbridos, feitos de frango com couve-flor, grão de bico e proteínas vegetais. Essas formulações, feitas com ingredientes naturais, permitem que no mínimo 1⁄3 da carne animal seja substituída pela proteína à base de plantas, aumentando tanto o rendimento quanto o valor nutricional do produto (adicionando mais fibras e minerais, mantendo o nível de proteína e reduzindo calorias, gorduras e colesterol). Por mais que a presença de produtos híbridos seja relativamente nova nos supermercados, o conceito não é novidade entre chefs e cozinheiros. A James Beard Foundation é uma organização sem fins lucrativos que defende um padrão de qualidade baseado no talento e na sustentabilidade, apoiando pessoas que formam a cultura alimentar da América através de seus Programas de Impacto. E um dos programas de maior sucesso é o Blended Burger Project: desde 2015, a fundação, em parceria com o Mushroom Council, desafia chefs de todos os Estados Unidos a criarem hambúrgueres que sejam mais saudáveis e sustentáveis, substituindo 25% da carne
Plano de Estratégia Alimentar do Reino Unido propõe que os britânicos comam menos carne

O Reino Unido acaba de lançar a segunda parte de sua Estratégia Alimentar Nacional, um relatório de 176 páginas desenvolvido para embasar a criação de um sistema alimentar que seja melhor para as pessoas e para o planeta. Entre as principais recomendações está a redução do consumo de carne em 30% na próxima década. De acordo com o relatório, apesar de 85% das terras agrícolas do Reino Unido serem utilizadas para a criação de animais, a produção de carnes, ovo, leite e derivados fornece apenas 32% das calorias consumidas pela população. Por outro lado, os 15% restantes que são usados para o cultivo de plantas para consumo humano fornecem 68% das calorias consumidas pelos britânicos. Além da eficiência na conversão de calorias, o relatório também aponta para o impacto que a produção e o consumo de carne têm sobre a saúde humana e planetária. O Plano afirma que o gado, por exemplo, emite 25 vezes mais gases de efeito estufa que a produção de tofu. Diz ainda que, à medida que o consumo de carne cresce, aumentam também as operações agrícolas intensivas ligadas ao uso excessivo de antibióticos e contaminação da água. Segundo o relatório, o número de fazendas pecuárias intensivas aumentou 25% no Reino Unido em 2021. Como uma das soluções propostas, o Plano recomenda o consumo de proteínas alternativas que mimetizam a experiência sensorial dos produtos de origem animal quanto ao sabor, textura, aroma e aparência. Estima-se que a substituição por opções vegetais e obtidas por fermentação poderia gerar uma diminuição de 20% no consumo de carne na próxima década. Não por acaso, o relatório defende que o Governo invista 50 milhões de libras no mercado de proteínas sustentáveis. De acordo com a gerente de políticas públicas do The Good Food Institute na Europa, Ellie Walden, não há como o Reino Unido cumprir suas metas climáticas sem impor mudanças drásticas na dieta da população. “Até agora, a responsabilidade de cortar ou diminuir o consumo de carne tem recaído sobre os indivíduos. Por isso, é estimulante ver a Estratégia Alimentar Nacional focada em fazer das proteínas alternativas à escolha padrão. Os produtos análogos vegetais ou obtidos por fermentação garantem um produto com sabor e aparência similar com um custo ambiental muito menor, criando milhares de empregos verdes (que diminuem o impacto ambiental) e permitindo que as pessoas continuem comendo os alimentos que gostam”. No mesmo caminho dos britânicos, estão os espanhóis. Ainda neste mês, o ministro do Meio Ambiente da Espanha, Alberto Garzón, também defendeu a redução do consumo de carne pelos cidadãos. Ele divulgou um vídeo pedindo aos espanhóis que reduzam a taxa de consumo semanal de 1kg para 200g a 500g de carne, a quantidade semanal recomendada pela Agência Espanhola de Segurança Alimentar e Nutrição. Para o diretor de políticas públicas do The Good Food Institute Brasil, Alexandre Cabral, o exemplo europeu se aplica a muitas outras regiões do planeta e todos os grandes mercados produtores e consumidores de carne precisam avaliar com cautela esta problemática alimentar. “No Brasil, o ambiente industrial já se encontra bastante evoluído, com as principais indústrias de alimentos oferecendo proteínas alternativas em seu portfólio. No ambiente regulatório, o Governo vem se movendo de forma sinérgica em diferentes frentes. Do ponto de vista macro, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) desenvolve uma Política Nacional sobre sistemas alimentares contemporâneos, na qual as proteínas alternativas têm um lugar de destaque. Do ponto de vista mais operacional, ligado às estruturas de registro e inspeção, tanto o MAPA quanto a Anvisa estão mobilizados no debate da configuração desta estrutura regulatória”. Prova disso é a Tomada Pública de Subsídios como forma de embasar os reguladores com as impressões da sociedade e do mercado sobre os elementos necessários para o marco regulatório. Na área de carne cultivada, os agentes reguladores recebem um conjunto de informações de caráter científico, ao mesmo tempo em que estão dialogando com seus colegas do exterior numa troca de experiências visando definir o perfil do marco regulatório brasileiro para o setor. “O GFI Brasil está colaborando ativamente em todas estas frentes, conectando os atores nacionais e internacionais para um ambiente de negócios competitivo e favorável à inovação”, afirma Cabral.
GFI Brasil organiza workshop sobre carne cultivada para representantes da ANVISA e do MAPA

Em março deste ano, a BRF anunciou uma parceria com a startup israelense Aleph Farms para produzir carne cultivada no Brasil, com a promessa de comercializar produtos nos supermercados já em 2024. A notícia foi recebida com entusiasmo pelo setor de proteínas alternativas, mas também levantou inúmeras questões, especialmente relacionadas ao processo de produção e regulação da tecnologia de cultivo celular. Por isso, o The Good Food Institute Brasil organizou um workshop para reguladores brasileiros, com foco nas equipes do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (DIPOA/MAPA) e da Gerência Geral de Alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (GGALI/Anvisa). Durante os dois primeiros dias de evento, realizados em 17 e 22 de junho, foram apresentadas informações sobre a técnica de cultivo celular para a obtenção de produtos cárneos, além de pontos de atenção que devem ser considerados no processo de regulação, com especial atenção às questões de segurança do processo e do produto final. O público, formado por 70 profissionais, teve a oportunidade de assistir às exposições da física e professora do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Dra. Aline Bruna da Silva; do biólogo e professor da UniSociesc, Dr. Bruno Bellagamba; do cientista do The Good Food Institute Estados Unidos, Dr. Elliot Swartz; e do engenheiro químico e professor da Universidade Federal de Santa Catarina, Dr. Luismar Porto. As instalações e os desafios de escala A fim de alinhar o conhecimento sobre a técnica e deixar todos na mesma página, o professor Luismar fez um breve resumo sobre como é o processo de cultivo celular para a obtenção da carne cultivada. “Tecnicamente, estamos falando de um produto à base de agregados de células animais produzidas em biorreatores. Fundamentalmente, o processo envolve a coleta de células, que podem vir de uma biópsia ou de uma célula embrionária. Essas linhagens celulares primárias eventualmente serão utilizadas para bancos de células, para posterior expansão ou multiplicação celular em biorreatores específicos”, explicou. Comparando a produção convencional com a produção de carne cultivada, Luismar destacou entre os principais benefícios que podem ser alcançados com a técnica, a produtividade. “O tempo que se leva para obter carne bovina é da ordem de dois anos, com uma baixa conversão nesse processo. Uma pequena parte dos nutrientes e da energia utilizada para obter essa carne é disponibilizada no final como proteína para alimentação humana. Enquanto que, para a carne cultivada, é possível obter proteína para consumo em cerca de duas semanas”. E os impactos apontados não se limitam a isso. Segundo o professor, há também vantagens para o meio ambiente. “Além do ganho de tempo, teremos ganhos indiretos, como a diminuição do uso de terras, não só para a criação de gado, por exemplo, mas para a plantação de alimentos para esses animais. Deixa de ser necessária a criação, o confinamento, o abate e o transporte e vai direto para o processamento, a partir dessa base biotecnológica que está muito centrada nos biorreatores”. Apesar de soar futurista, os biorreatores são equipamentos amplamente utilizados na indústria de bebidas e alimentos. Por exemplo, para a produção de cerveja e produtos lácteos. No entanto, os biorreatores teciduais são diferentes dos utilizados para fermentação, pois normalmente precisam atender à necessidade de que as células animais, sobretudo quando cultivadas de forma isolada, são muito sensíveis aos esquemas de agitação e mistura. “Temos biorreatores de parede rotativa, de movimento ondulatório, de cultura celular e bioimpressora. No entanto, são biorreatores comerciais, o desafio é criar um biorreator de escala industrial”. Como resultado final desse processo industrial, espera-se obter um produto que mimetize a experiência sensorial da carne convencional em aparência, textura e sabor. No entanto, para o professor Luismar, a tecnologia de cultivo celular pode ir além. “Eu quero crer que, no futuro, não haverá um comprometimento da indústria em apenas mimetizar a carne convencional. Eu gosto da analogia de que “sorvete não dá em árvore”, e, no entanto, as pessoas preferem comer o sorvete do que os seus componentes naturais. Então, é muito possível que essa tecnologia gere um conjunto de novas estruturas à base de proteínas animais, e que não necessariamente mimetizam a carne obtida pelo processo convencional”. No entanto, para que tudo isso aconteça no Brasil, ao ponto de colocar o país no mapa da tecnologia de cultivo celular, é preciso acelerar as inovações e as pesquisas neste campo. “Atualmente, as iniciativas estão mais concentradas nos Estados Unidos, Europa, Israel, alguns países da Ásia, como Cingapura e China, além da Austrália. O maior gap está na África e na América Latina, com poucas iniciativas em andamento. Estamos, aparentemente, perdendo o compasso”, conclui o professor. Da biópsia ao biorreator Seguindo com as exposições, o professor Bruno Bellagamba enfatizou a importância do evento. “Poder discutir todos esses assuntos do ponto de vista regulatório, com as agências reguladoras, é um momento histórico para o país.”. Em sua fala, Bellagamba apresentou aspectos relevantes sobre as primeiras etapas do processo de cultivo celular. A partir de dados do grupo de estudos do professor Mark Post, conhecido por produzir o primeiro hambúrguer cultivado em 2013, o pesquisador apresentou as duas formas de fazer a biópsia para retirada de células do animal: por agulha ou por incisão. De acordo com o professor, a biópsia por agulha gera pouco ou nenhum desconforto ao animal e exige pouca sedação e analgesia. No entanto, obtém-se pouca quantidade de amostra de células, cerca de 0,5g, exigindo várias amostragens. Já a incisão, processo para obter músculo e tecido adiposo, garante maior quantidade de tecido, cerca de 10g a 15g, resultando em apenas uma amostragem por animal. Contudo, gera maior desconforto e exige maior dose de analgésicos e sedativos. “Portanto, também há uma questão de bem-estar animal para escolher entre um método e outro”, afirma. Além disso, há, ainda, a questão do risco de contaminação que pode sofrer o material biológico coletado. No procedimento de coleta por agulha o potencial de contaminação é baixo porque a incisão é bem menor. Já na
GFI está entre as organizações mais transparentes do mundo e recebe selo máximo do GuideStar

Mais uma vez, o GFI foi reconhecido como uma das organizações mais transparentes do mundo. Pelo quarto ano consecutivo, recebemos o Selo de Transparência GuideStar Platinum, obtido por apenas 1% das 2,8 milhões de instituições avaliadas. O GuideStar é um banco de dados com informações sobre organizações sem fins lucrativos que foi projetado para revolucionar a prática filantrópica e sem fins lucrativos, fornecendo informações que aumentam a transparência, permitem que os usuários tomem melhores decisões e incentiva doações para a caridade. O GFI recebeu esse reconhecimento por demonstrar abertamente informações sobre finanças, missão e impacto do trabalho desenvolvido. Para conferir, acesse o site do GuideStar e crie uma conta.
GFI Brasil financia pesquisas para o desenvolvimento de ingredientes a partir de espécies vegetais da Amazônia e Cerrado

O The Good Food Institute Brasil lança o Projeto Biomas que vai financiar pesquisas exploratórias com potencial para transformar produtos vegetais nativos dos biomas da Amazônia e Cerrado em ingredientes alimentícios demandados pela indústria de proteínas alternativas. Com aporte de até R$135 mil por projeto, os estudos deverão se concentrar na investigação de quatro espécies amazônicas (babaçu, guaraná, cupuaçu e castanha-do-Brasil) e três do Cerrado (baru, macaúba e pequi). Os pesquisadores interessados devem enviar suas candidaturas até o dia 15 de julho de 2021, às 22h de Brasília. Os projetos deverão ter prazo de execução de, no máximo, 12 (doze) meses e desenvolvidos no Brasil. Para se inscrever, basta ler o edital e seguir as instruções. Por meio do programa que conta com aporte de recursos da Fundação CLUA – Climate Land and Use Alliance, o GFI espera criar ferramentas de acesso livre e métodos para o desenvolvimento de alimentos que sejam saborosos e acessíveis. “No Brasil, temos o privilégio de contar com uma vasta biodiversidade, com potencial para transformar espécies nativas de manejos sustentáveis em ingredientes para o mercado de produtos plant-based. As pesquisas deverão estabelecer caminhos para valorização, ampliação das informações tecnológicas das espécies nativas e a ampliação do uso desse enorme potencial natural como ingredientes em produtos vegetais, potencializando o desenvolvimento econômico regional”, explica a Dra. Katherine de Matos, diretora de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil. A seleção dos sete produtos nativos ocorreu após levantamento feito pelo próprio GFI Brasil que levou em consideração o potencial técnico e econômico de cada espécie. Para chegar aos resultados econômicos, a instituição utilizou o número de comunidades produtoras, volume de produção e maturidade da cadeia produtiva. Para a análise de potencial técnico, foram utilizados critérios como a composição química dos produtos, o potencial tecnológico e aspectos nutricionais. “A potencialidade da flora nativa brasileira não está refletida nos supermercados, nas feiras e muito menos na cozinha do brasileiro. Como resultado, a sociedade deixa de aproveitar os benefícios decorrentes dessa riqueza. No caso das espécies de uso alimentício, por exemplo, a sociedade acaba não se beneficiando dos elevados valores nutricionais presentes nas espécies nativas. A natureza é rica, entretanto, essa riqueza precisa e deve ser usada com sabedoria. Essa pode ser a grande saída da humanidade para o futuro”, defende Cristiana Ambiel, gerente de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil. Entre as possibilidades de temas de pesquisa apontadas pelo edital do Projeto Biomas, destacam-se a utilização de resíduos ou subprodutos industriais ou agroindustriais, desenvolvimento e otimização de processos para obtenção de ingredientes por meio de métodos ecológicos, viáveis e simples de serem aplicados na agroindústria e associações extrativistas locais, desenvolvimento de ingredientes para aplicação em produtos feitos de plantas que melhorem as características sensoriais de aparência, cor, sabor e textura, promovam incremento nos aspectos nutricionais e reduzam o custo no produto final, além do desenvolvimento de produtos com apelo clean label, dentre outros. Para contribuir na compreensão do edital, o GFI vai promover, no dia 23 de junho, das 14h às 15h30, o workshop “Entendendo o Programa de Financiamento à Pesquisa Exploratória com foco nos Biomas Amazônia e Cerrado”. Inscreva-se no link. O GFI Brasil incentiva o investimento em pesquisa e desenvolvimento da biodiversidade para encontrar inovações tecnológicas que supram as demandas da indústria de forma sustentável. Desta forma, a instituição promove a conservação da floresta em pé, proporciona o desenvolvimento de novas cadeias produtivas e a melhoria da qualidade de vida das comunidades locais. Conheça um pouco mais sobre os ingredientes selecionados pelo GFI e suas propriedades: CASTANHA-DO-BRASIL Com significativa produção nacional de cerca de 32.900 toneladas no ano de 2019 segundo o IBGE, a castanha-do-brasil in natura constitui uma favorável fonte proteica (15,60%) e lipídica (61,00%). O seu óleo possui uma boa qualidade nutricional (85% de ácidos graxos insaturados) e apresenta índices de acidez e peróxidos que atendem a legislação brasileira para óleos vegetais comestíveis. BABAÇU A produção nacional de Babaçu atingiu cerca de 48.700 toneladas no ano de 2019 segundo o IBGE, envolvendo cerca de 37 comunidades produtoras segundo a Conexsus. A amêndoa do babaçu possui 7,25 % de proteína e 66% de lipídeos. O seu óleo apresenta características funcionais interessantes por ser constituído de 83% de ácidos graxos saturados. Este produto, destinado à alimentação humana como suplemento alimentar, e, na medicina popular no tratamento de inflamações, já é produzido e comercializado por algumas comunidades. CUPUAÇU Com uma produção de cerca de 787 toneladas no ano de 2017, segundo o IBGE, a polpa do cupuaçu é destinada à produção de diversos alimentos (polpa congelada, sorvete, geleias, etc). Dessa produção, gera-se como resíduo as sementes. A semente do cupuaçu possui 9,4% de proteína e 64,9% de lipídeos. Do óleo extraído dessa semente forma-se uma torta com altos teores de proteína (15,2%), fibras (47,6%) e lipídeos (21,0%). A torta de cupuaçu se mostra como uma alternativa para a elaboração de isolados proteicos devido a sua riqueza de aminoácidos essenciais, tornando-se uma fonte de proteína alternativa. GUARANÁ O Guaraná é normalmente comercializado na forma de xarope (para a produção de refrigerantes e bebidas energéticas) e em pó (para a produção de cápsulas ou vendidos em sachês e frascos). Tanto o xarope quanto o pó são produzidos a partir das sementes torradas do guaraná que possuem cerca de 15% de proteína e 40% de fibras. Deste processo gera-se como subprodutos a casca e a polpa do guaraná. A casca possui cerca de 10% de proteína e 70% de fibra e a polpa possui cerca de 17% de proteína. Faz-se necessário o aprofundamento de estudos a cerca do aproveitamento destes subprodutos pela indústria alimentícia. MACAÚBA Segundo dados do IBGE, a produção nacional de Macaúba atingiu cerca de 1.178 toneladas no ano de 2018. A polpa e amêndoa de macaúba podem ser industrialmente exploradas não só como fonte de óleos vegetais, mas também como fonte de proteínas e carboidratos. Estas propriedades são desejáveis para a formulação de diferentes tipos de alimentos, com destaque para a indústria de panificação e massas e a indústria
MAPA divulga Tomada Pública de Subsídios para fomentar discussão sobre produtos de origem vegetal análogos aos de origem animal

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) divulgou hoje (11/6) uma Tomada Pública de Subsídios a fim de fomentar a discussão sobre a regulação dos produtos de origem vegetal análogos a carne, leite, laticínios, ovos e pescados, também chamados “plant based”. Segundo o texto publicado no Diário Oficial da União, o objetivo é “permitir a ampla divulgação e a participação de órgãos, entidades ou pessoas interessadas em contribuir com a discussão sobre a regulação dos produtos processados de origem vegetal análogos a produtos de origem animal”. O público interessado em participar, terá 90 dias, a partir da publicação no Diário Oficial da União. Após a finalização da tomada, o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal vai consolidar as contribuições. Acesse o link do formulário aqui. Este é o segundo passo do MAPA em direção a um processo de regulamentação do segmento de produtos à base de vegetais (plant-based) no Brasil. Em dezembro do ano passado, o Ministério realizou com apoio da Embrapa, um workshop sobre mercado, conceitos e pesquisas em desenvolvimento sobre o setor, com apoio do The Good Food Institute Brasil, que colaborou na definição dos temas dos painéis de debate e que participou em todos eles. Na ocasião, Glauco Bertoldo, diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Mapa, disse que “a regulamentação propicia um ambiente seguro para o desenvolvimento da agricultura e das agroindústrias e uma relação saudável com o consumidor”. Já a chefe-geral da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Lourdes Cabral, afirmou que há um “aumento da oferta de novos produtos no mercado e, nesse sentido, o Mapa precisa escutar os diversos atores desse segmento, produtores, pesquisadores e consumidores, e processar essas informações de modo a criar uma base que possa vir a auxiliar a regulamentação desse setor emergente”. Também participaram do evento: diretor executivo do GFI, Gustavo Guadagnini; diretor de Políticas Públicas do GFI, Alexandre Cabral; diretor de Assuntos Regulatórios e Científicos da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), Alexandre Novachi; diretor técnico da Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas (Abir), Igor Castro; e a diretora geral do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Dra. Eloísa Garcia. “Se no primeiro debate houve o MAPA abriu sua escuta para associações e especialistas do setor, neste segundo passo a consulta é ampla e o MAPA se abre a qualquer colaboração vinda do setor privado, de instituições de pesquisa, associações de classe, sociedade civil organizada ou mesmo manifestações individuais que venham a colaborar na construção do marco regulatório dos alimentos à base de proteínas alternativas”, afirma Alexandre Cabral, diretor de Políticas Públicas do GFI Brasil.