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Rotulagem de produtos lácteos vegetais conquista importante vitória na Europa

Líderes da União Europeia rejeitaram nesta semana uma série de propostas que restringiriam a rotulagem de produtos lácteos vegetais. Caso fossem aprovadas, as medidas proibiriam as marcas de apresentar informações essenciais sobre saúde e alergênicos, utilizar termos como “cremoso” ou “tipo iogurte”, informar os consumidores sobre o impacto climático dos alimentos, utilizar embalagens semelhantes às usadas para laticínios, como caixas de papelão, além de não poderem mais usar imagens do produto sendo servido na mesa do café da manhã. As palavras leite e iogurte seguem proibidas. As propostas foram retiradas das negociações da UE sobre a Política Agrícola Comum depois que 21 organizações não governamentais, incluindo o The Good Food Institute (GFI), apelaram à UE por meio de uma carta conjunta. A ativista Greta Thunberg também se manifestou em suas redes sociais contra as propostas, e mais de 450 mil pessoas assinaram uma petição pedindo à UE que as retirasse. De acordo com o diretor de políticas públicas do GFI Brasil, Alexandre Cabral, a retirada das propostas restritivas aos laticínios vegetais na Europa representa um passo adiante no respeito à liberdade de escolha dos consumidores. “O consumidor consciente faz escolhas. O crescimento do mercado de produtos à base de proteínas alternativas mostra que cada vez mais consumidores modificam suas dietas por diferentes motivos, ao passo que diminuem o consumo de produtos de origem animal. Espero que seja um exemplo para outros países, inclusive o Brasil”, afirma Cabral. O parlamento brasileiro também analisa o assunto. Projeto de Lei 10556/2018, de autoria da Deputada Tereza Cristina (DEM/MS), propõe restrições aos rótulos de leites e derivados vegetais. Segundo o texto, o uso das palavras “leite” e todos os seus derivados, como manteiga, iogurte e queijo ficariam restritos aos produtos de origem animal. Para Cabral, “esses produtos são conhecidos pelos consumidores pelo seu uso, muito mais do que pelo seu rótulo. Esperamos que o PL seja emendado para autorizar o uso desses termos também pelos produtos feitos de plantas”. O projeto está na Câmara Federal, aguardando parecer do relator na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviços (CDEICS).

Pela primeira vez, Brasil aprova emenda parlamentar para financiar projeto de pesquisa em proteínas alternativas

O The Good Food Institute Brasil celebra feito inédito e promissor: a Câmara dos Deputados aprovou a primeira emenda parlamentar que financiará com R$530.000,00 uma pesquisa do setor de proteínas alternativas. O projeto de pesquisa aprovado foi da professora Dra. Ana Lúcia Vendramini, profissional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que estuda o cultivo e aproveitamento econômico de algas marinhas cultivadas na região de Paraty (RJ). Os responsáveis por esse acontecimento inédito foram o deputado Paulo Ganime (NOVO-RJ), que se tornou o primeiro parlamentar brasileiro a direcionar recursos públicos a um projeto deste segmento, e o GFI Brasil que incentiva e fomenta o apoio às pesquisas científicas e tecnológicas em proteínas alternativas. A pesquisa em questão vai examinar o aproveitamento da espécie de alga Kappaphycus alvarezii como potencial ingrediente para produtos de origem vegetal. “A inicialização do projeto será possível graças ao fundamental apoio de uma das mais importantes universidades do país, a UFRJ, somada aos nossos parceiros da Costa Verde. O projeto é audacioso por atender as autênticas demandas de sustentabilidade, visando um comércio justo, bem-estar social, o desenvolvimento de produtos inovadores e a abertura de novos mercados. Com o financiamento de mais de meio milhão de reais será possível concluir a primeira fase do projeto com a instalação da fazenda marinha e a capacitação de pessoal. Esta fazenda servirá como banco de mudas para os novos algicultores, o fornecimento de algas frescas para as pesquisas e o desenvolvimento de novos produtos”, explica a Dra. Ana Lúcia Vendramini.  A pesquisa é visionária e pode contribuir para o desenvolvimento econômico e social, possibilitando inclusive alavancar uma cadeia de produção na região. “A emenda em questão foi selecionada pelo alinhamento com alguns temas que defendo, como Bioeconomia e inovação, além de ter potencial para novas oportunidades de emprego e renda na região da Costa Verde do Rio de Janeiro. Espero que, ao final do período de financiamento, o projeto se torne autossustentável e consolide a indústria na região. Vislumbro formar outras parcerias, inclusive apresentando o projeto ao Governo do Estado e às prefeituras da região da Costa Verde, para construirmos uma infraestrutura em paralelo que garanta capacitação, estradas em bom estado e acesso a ferramentas de produção”, complementa o deputado Ganime.  O GFI dedica-se ao avanço da pesquisa de acesso aberto em proteínas alternativas e à criação de um ecossistema voltado para o desenvolvimento científico e acadêmico desse setor. Além de promover um Programa Anual de Incentivo à Pesquisa que já financiou mais de USD 7 milhões em recursos para estudos sobre carne cultivada, proteínas vegetais e obtidas por processos de fermentação, a instituição aproxima pesquisadoras de potenciais empresas, pessoas e instituições interessados em subsidiar os projetos. Para Alexandre Cabral, diretor de políticas públicas do GFI Brasil, as proteínas alternativas são fundamentais para a redução do aquecimento global prevista no Acordo de Paris e a necessidade urgente de alimentar 10 bilhões de pessoas até 2050. “Apoiar o desenvolvimento deste mercado permite que o Brasil seja protagonista em um sistema global de alimentação mais sustentável. Vendendo produtos de maior valor agregado, você passa de celeiro do mundo para supermercado do mundo, aproveitando os já consolidados canais de armazenamento e exportação de produtos de origem animal”. Paulo Ganime concorda com essa posição, e, para ele, a inovação tecnológica é a base para encontrar soluções e a Biotecnologia é uma das chaves para o desenvolvimento econômico em coexistência harmoniosa com o meio ambiente. “Acredito que iniciativas como esta podem contribuir para apresentar alternativas à sociedade em termos de alimentação e proporcionar o melhor uso da nossa biodiversidade. Essas alternativas agregam valor à Bioeconomia e promovem a liberdade do indivíduo”.  

Israel tem o primeiro chefe de Estado a experimentar carne cultivada

O feito inédito aconteceu em visita oficial do político à Aleph Farms, empresa israelense de carne cultivada. Provar pela primeira vez um bife de carne de verdade, cultivado inteiramente fora do animal, coloca Israel à frente do movimento de desenvolvimento de proteína animal em ambiente fabril. A empresa sediada em Rehoot é pioneira no desenvolvimento em escala da tecnologia em que uma cultura de células é retirada do gado para fazer com que se desenvolvam sob condições controladas. O processo torna tanto o abate de animais quanto o uso de antibióticos desnecessário, além de usar muito menos recursos naturais como terra e água. Israel vem apostando na tecnologia para prover uma fonte de alimentação segura e estável para sua população e além de ser uma fonte de crescimento econômico especialmente promissora em um momento em que o mundo todo busca por soluções mais sustentáveis para a cadeia de produção de alimentos. A visita, que foi acompanhada pelo diretor do The Good Food Israel Nir Goldstein, passou pelas instalações pelas instalações da fábrica para que o primeiro ministro conhecesse o processo de perto, antes de terminar na degustação da carne cultivada. “É deliciosa e livre de culpa, consigo sentir a diferença”, comentou Benjamin Netanyahu. O primeiro-ministro disse ainda que Israel está a caminho de se tornar uma grande força na liderança dos setores de proteínas alternativas.  O país já é visto como terreno fértil para Food Techs em decorrência das inovações na área que nasceram no país, através da articulação da indústria, academia e governo. A própria Aleph Farms nasceu de uma iniciativa conjunta entre duas incubadoras da área de alimentos, The Kitchen Hub e Fresh Start, o Instituto de Tecnologia de Israel e apoio da Autoridade Israelense de Inovação. Resultados como esse comprovam que diversas áreas da cadeia produtiva trabalhando juntas conseguem avançar o setor de alimentos de forma consistente e transformadora, o que pode ser um bom indicativo do que o mercado brasileiro pode se tornar. Na semana passada, Singapura se tornou o primeiro país a estabelecer um marco regulatório específico para carne cultivada, que trará carne cultivada para o mercado. Isso transformará o movimento da carne cultivada de uma visão de longo prazo em uma solução prática concreta que aborda alguns dos desafios mais urgentes do mundo hoje. Aleph Farms, SuperMeat, MeatTech and Future Meat Technologies são algumas das líderes mundiais em carne cultivada, todas estão sediadas em Israel.  O Covid-19 e a emergência climática têm servido para apontar como os sistemas alimentares são vulneráveis frente a crises e rupturas, destacando a urgência de estabelecer cadeias de produção de alimentos mais sustentáveis e resilientes. O processo de cultivar carne em ambientes controlados é um importante passo nessa direção, além do potencial para gerar milhares de novos empregos e aquecer a economia. Segundo o Goldstein, “com o apoio do governo, é possível gerar 11.000 novos postos de trabalho e gerar bilhões de retorno para a economia através de exportações tanto de matérias-primas quanto de tecnologias de proteínas alternativas.” Sobre a Aleph Farms A empresa de alimentos Aleph Farms está abrindo um novo caminho como pioneira do ecossistema global de alimentos sustentáveis, trabalhando para cultivar bifes a partir de células não geneticamente modificadas, isoladas de uma vaca, usando uma fração dos recursos necessários para criar um animal para carne e sem antibióticos e que são deliciosos.  Em maio de 2019, a empresa levantou US $12 milhões em uma rodada de investimentos da Série A, com participação de parceiros estratégicos e grupos de venture capital. A Aleph Farms foi co-fundada pelo The Kitchen Hub do Strauss Group e o Professor Shulamit Levenberg do Technion – Instituto de Tecnologia de Israel. A empresa é apoiada por alguns dos produtores de alimentos mais inovadores do mundo, como Cargill, Migros e o Grupo Strauss.

Começam discussões sobre regulamentação de produtos à base de vegetais no Brasil

Os primeiros passos para a regulamentação do segmento de produtos à base de vegetais (plant-based) no Brasil, foram dados em workshop sobre mercado, conceitos e pesquisas em desenvolvimento, realizado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), com apoio da Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro), no dia 8, pelo canal da Embrapa no Youtube. Segundo Glauco Bertoldo, diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Mapa, a partir do workshop será aprofundada a discussão dos tópicos mais relevantes. “Serão chamados à discussão os demais entes envolvidos, com destaque para a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e as entidades de defesa do consumidor”, acrescentando que “a regulamentação propicia um ambiente seguro para o desenvolvimento da agricultura e das agroindústrias e uma relação saudável com o consumidor”. Para Lourdes Cabral, chefe-geral da Embrapa Agroindústria de Alimentos, a diversificação da matriz protéica na dieta humana é uma realidade e representa uma resposta a demandas dos consumidores. “Estamos vendo o aumento da oferta de novos produtos no mercado e, nesse sentido, o Mapa precisa escutar os diversos atores desse segmento, produtores, pesquisadores e consumidores, e processar essas informações de modo a criar uma base que possa vir a auxiliar a regulamentação desse setor emergente”. A abertura do evento contou com a participação de Guy de Capdeville, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa.  Segundo ele, a iniciativa do Mapa é fundamental não apenas para oferecer mais segurança às empresas que já desenvolvem produtos no mercado brasileiro, como também para atrair novos parceiros para esse segmento, que está em franca ascensão no Brasil e no mundo. Ainda de acordo com Capdeville, o fato de o evento reunir representantes da indústria, terceiro setor e ciência, entre outros, traz várias visões à discussão e à consolidação desse conceito no Brasil. “Essa união de expertises é determinante para fortalecer a inserção desse segmento no agro brasileiro. Além disso, são vozes que têm a capacidade de levar essa temática para frente”, destacou. Apresentações Uma das apresentações dos painéis do workshop foi da pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Caroline Mellinger. Ela falou, entre outros temas, sobre a importância de olhar para toda a cadeia produtiva quando se pensa em ofertar novos alimentos, uma vez que eles dependem do desenvolvimento tecnológico de ingredientes e da garantia de oferta de matérias-primas. Caroline citou, ainda, uma nova norma da Organização Internacional de Padronização (ISO), com previsão de ser votada até o fim deste ano, que trata de definições e critérios técnicos para alimentos e ingredientes alimentícios adequados para vegetarianos ou veganos, além de aspectos de rotulagem e apelo. “Quando terminar a votação e tivermos a publicação desse documento, teremos subsídios para traçar conceitos padronizados no mundo todo”, explica. O trabalho, realizado em 2019 e 2020, contou com a participação de representantes de 80 países. No Brasil, a coordenação é da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e o grupo é composto por representantes da indústria, Abia, do Senac, da Embrapa e Sociedade Vegetariana Brasileira. Bruno Brasil, secretário de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, apresentou as pesquisas em desenvolvimento na Empresa sobre os produtos de base vegetal. Segundo ele, a Embrapa trabalha com foco nas tendências que podem moldar o agro para o futuro e, por isso, o crescimento desse segmento já havia sido antecipado como parte importante da atuação da Empresa. O documento Visão 2030 aponta sete megatendências para o agro brasileiro e uma delas é o protagonismo do consumidor. “É exatamente nessa vertente que se encaixam esses produtos. Eles espelham os desejos do consumidor contemporâneo não apenas por opções mais saudáveis, mas também e principalmente, por alimentos e bebidas de sabores e aromas diversificados”, pontua. Segundo ele, a população brasileira já demonstra interesse em reduzir o consumo de produtos de origem animal. Isso é indicativo do crescimento dos chamados “flexitarianos”, consumidores que buscam alimentos de origem animal e vegetal de forma alternada e balanceada. “Um sinal deste crescimento pode ser percebido nas grandes redes de supermercados e até mesmo de fastfood que já aderiram a essa tendência”. Brasil explicou que a avaliação das tendências do agro brasileiro pauta o planejamento estratégico da Embrapa, o qual é executado por meio de 34 portfólios de projetos. O desenvolvimento de produtos de base vegetal é hoje uma das áreas de destaque do portfólio “Alimentos: segurança, nutrição e saúde”, envolvendo quatro unidades de pesquisa da Embrapa – Agroindústria Tropical, Agroindústria de Alimentos, Arroz e Feijão e Hortaliças – sete instituições parceiras, seis projetos de pesquisa, 42 pesquisadores e analistas, e recursos superiores a R$ 3,3 milhões. O secretário apresentou produtos desenvolvidos pela Embrapa que já estão no mercado ou prontos para produção em larga escala e comercialização por parceiros. Um deles é o Amazonika Burger, um hamburguer 100% vegetal que tem entre os ingredientes fibra de caju, proteína de soja e a pimenta assîsî, típica da região amazônica, e foi desenvolvido em parceria com a Sotille Alimentos. A parceria também já desenvolveu coxinha e o bolinho Siriju, todos à base de plantas. No mesmo painel, Raquel Casselli, gerente de Engajamento Corporativo do The Good Food Institute (GFI) no Brasil, falou sobre as tendências animadoras do mercado para os produtos à base de plantas no Brasil. Segundo ela, na rede de supermercados Pão de Açúcar, um terço dos hamburgueres comercializados são de origem vegetal. “É um índice impressionante se considerarmos que a tecnologia só tem um ano e meio no País”, comemorou. Casselli apresentou uma pesquisa recente realizada pelo GFI, em parceria com o Ibope, com 2 mil respondentes, que apontou que 50% dos brasileiros reduziram o consumo de carne no último ano. Desses, 37% já consomem carnes vegetais em suas dietas diárias. Para 62% dos entrevistados, o mais importante em um substituto vegetal é o sabor, aroma e a textura. Outro dado apontado pela pesquisa é que apenas 7% afirmaram jamais consumir alternativas vegetais à carne e que, para os brasileiros, soja e transgênicos não são barreiras de compra. A pesquisa está disponível no link: gfi.org.br/consumidor2020  Participantes Também participaram do evento: diretor executivo do GFI, Gustavo Guadagnini; diretor

Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) realiza workshop sobre alimentos vegetais

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) com apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), realiza hoje (8/12) o evento virtual “Percepções sobre o segmento de plant-based products no Brasil”. O seminário explicará conceitos básicos e o panorama atual desse mercado no país, e abordará as questões pertinentes a essa indústria que estão sendo discutidas atualmente, como avanços da pesquisa científica na área e o desenvolvimento de um marco regulatório que leve em consideração demandas e contexto específicos dessa indústria.  O consumo de produtos plant-based, também conhecidos por aqui como proteínas alternativas, é uma tendência mundial consolidada. Pesquisas apontam que, até 2035, esse setor atingirá até US$ 370 bilhões. O evento vem ao encontro desse movimento, discutindo o contexto atual desse mercado no Brasil. Vai também refletir sobre formas de promover ainda mais o rápido desenvolvimento pelo qual vem passando nos últimos anos. Um elemento fundamental para que o crescimento se mantenha é um marco regulatório, que dê suporte à indústria e assegure o padrão de qualidade esperado pelos consumidores. O The Good Food Institute participa dos três painéis de discussão, junto ao Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas (Abir) e o Departamento de Apoio à Inovação para Agropecuária (Diagro). O workshop será transmitido pelo canal da EMBRAPA no Youtube, a partir das 14 horas.

Estado do Amazonas assina acordo de cooperação para atrair investimentos no setor de proteínas alternativas

A pesquisa e o desenvolvimento de novos negócios na área de alimentos no estado do Amazonas acabam de ganhar um importante incentivo. Por meio de um termo de cooperação técnica, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Amazonas (SEDECTI) e o The Good Food Institute (GFI) estabeleceram um plano de trabalho para dar suporte e articular a criação de um ecossistema que atraia investimentos e fomente a inovação no setor de proteínas alternativas no estado.  As ações devem ocorrer no âmbito dos Programas Estruturantes Bioeconomia Amazonas e Ciência, Tecnologia e Inovação. Para a secretária executiva da SEDECTI, Tatiana Schor, a parceria com o GFI Brasil direciona um olhar para o futuro. “A diversificação da matriz econômica, tendo a bioeconomia como estratégia de desenvolvimento econômico sustentável e socialmente justo, implica em incorporar nos processos de produção de ciência, tecnologia e na política industrial do Estado, as alternativas de ponta. A parceria trará essas alternativas para os nossos pesquisadores, vai gerar debates no ambiente acadêmico e criará redes  de cooperação. Ao mesmo tempo, fortalecerá a política industrial, atraindo indústrias de insumos, em especial para as proteínas alternativas”, comentou a secretária. “O trabalho na região amazônica é de extrema importância para que o Brasil possa competir de forma consistente num mercado consumidor que cada vez mais exige sustentabilidade nas suas inovações.” explica o diretor executivo do The Good Food Institute, Gustavo Guadagnini. O investimento em proteínas alternativas vai ao encontro dessa nova demanda dos consumidores e diversifica a economia do estado de forma sustentável.  As atividades em conjunto têm como foco desenvolver um ambiente fértil de pesquisa, desenvolvimento e produção de substitutos aos produtos de origem animal, envolvendo alimentos baseados em vegetais, algas, fungos ou obtidos por multiplicação celular, assim como seus ingredientes. Serão realizadas ações visando engajar atores do setor e envolver interessados em integrar esse espaço, viabilizando novos negócios. Além disso, as duas instituições trabalharão para o fortalecimento da pesquisa e desenvolvimento na área, possibilitando a criação de novos produtos.  A colaboração visa utilizar as potencialidades da região para promover seu desenvolvimento e atingir também os mercados internacionais. “Um dos grandes motivos que tornam o Brasil extremamente competitivo no cenário global de proteínas alternativas é a nossa biodiversidade. Temos uma infinidade de novos ingredientes e novos sabores que ainda podem ser desenvolvidos a partir de nossas riquezas naturais para suprir o mundo todo com soluções inovadoras para o mercado de alimentos.” afirma Guadagnini.  O diretor de políticas públicas do GFI Brasil, Alexandre Cabral, acredita que o país ainda não explorou de contundente as possibilidades oferecidas pelos ingredientes oriundos da biodiversidade brasileira, em especial do bioma amazônico. “Empresas de alimentos de diversos tamanhos vêm lançando seus produtos em parceria com grandes empresas de ingredientes. Podemos desenvolver novos ingredientes que incorporem ‘brasilidade’ aos produtos desenvolvidos aqui e no exterior. Desenhando as cadeias de plantio e extração com foco no desenvolvimento econômico local podemos trazer novas perspectivas de trabalho e renda para as populações envolvidas”, justifica Cabral. Os benefícios da parceria vão além do desenvolvimento econômico. Para Tatiana Schor, é também uma oportunidade de criar estratégias de conservação do bioma amazônico. “No futuro, a carne cultivada de animais silvestres pode significar uma redução drástica na caça de animais que estão hoje ameaçados de extinção”, idealiza Tatiana. “Isso significa permitir que o retorno a um “cardápio amazônico” possa acontecer sem agredir o meio ambiente e ao mesmo tempo gerar renda que pode ser revertida para processos de preservação das espécies envolvidas”, conclui Alexandre Cabral.

O que o setor de proteínas alternativas pode aprender com o de biocombustíveis?

O tema das proteínas alternativas vem chamando a atenção de cientistas, empresários, investidores e reguladores públicos no mundo todo. Não seria diferente no Brasil. O que está em pauta é uma reconfiguração do mercado de alimentos, proporcionada por inovações recentes em biotecnologia, aproveitadas pela engenharia de alimentos para desenvolver novos ingredientes e formulações. Como resultado, os produtos que chegam ao mercado têm conquistado cada vez mais consumidores desde os primeiros lançamentos no país em 2019. O êxito deve-se, sobretudo, pela capacidade da indústria em inovar na produção de alimentos análogos de base vegetal que proporcionam a mesma experiência dos produtos de origem animal quanto ao sabor, aroma e textura. O setor também trabalha para agregar ainda mais valor aos produtos por meio de preço competitivo e conveniência. Essas estratégias atingem em cheio as expectativas do flexitariano, consumidor que deseja reduzir o consumo de alimentos de origem animal, sem interrompê-lo por completo, mas mantendo seus hábitos alimentares. Boas estratégias de marketing também souberam associar características de qualidade, segurança do alimento e sustentabilidade a esta nova categoria de produtos. Basta observar a utilização de termos como “sem colesterol”, “feito de plantas”, “100% vegetal”, entre outros, presentes nas embalagens e nas campanhas das marcas.  No mesmo campo de debate, encontram-se as possibilidades prometidas pelos produtos obtidos a partir de multiplicação celular, apontando disrupções importantes nos  setores de carnes, ovos, pescados, leite e seus derivados. Soma-se a isso os riscos econômicos da necessidade de abate de rebanhos inteiros em decorrência dos surtos recentes causados pelos vírus da família HxNx e os danos à saúde pública decorrentes desses eventos. Estes elementos apontam que não é mais o caso de pensarmos em “se”, mas “quando” e “em que medida” os alimentos baseados em proteínas alternativas serão uma alternativa real em suas diversas modalidades para o consumidor. Esse será o momento onde poderemos entender o quanto será reconfigurado o mercado de proteínas de origem animal para consumo humano a partir desse processo de inovação. Mapeamentos recentes no Brasil e no mundo já apontam algumas tendências. Uma delas é o volume crescente de investimentos em startups, ao mesmo tempo determinante e determinado pelo aumento do número de novas empresas ano a ano. Outra tendência é a montagem de unidades de negócio de proteínas alternativas nas empresas já em atividade no mercado da proteína animal, inclusive nas de grande porte. Por fim, parece clara a mobilização e a especialização da cadeia de ingredientes para atender a demanda destes novos negócios.  O debate sobre as proteínas alternativas ganha força no momento atual. Assim como os biocombustíveis e a química de renováveis durante a primeira década deste século, a discussão sobre as tecnologias envolvidas e sua entrada no mercado dependem de fatores como investimentos, reações dos atores econômicos atuais, regulação e apoios governamentais. Há desafios muito semelhantes. Primeiramente, o de tornar o produto final competitivo em custo e acesso em relação aos produtos de origem animal, entregando uma experiência sensorial e de sabor semelhantes. O desafio envolve a execução em larga escala de um processo produtivo baseado em uma nova tecnologia e a solução das questões técnicas e econômicas relacionadas a esse volume de produção.  Em seguida, a necessidade de um marco regulatório favorável à inovação, fundamental para um ambiente de negócios saudável e atrativo. Se no caso dos biocombustíveis os agentes econômicos anteriores atuavam no passado sobre marcos regulatórios e mecanismos de benefícios fiscais consolidados durante décadas, o mesmo ocorre com as proteínas alternativas hoje em dia. A demanda pela atualização do marco regulatório para produtos a base de plantas e obtidos por fermentação e a criação de um marco regulatório para produtos obtidos por multiplicação de células, tanto em âmbito nacional (pelas agências regulatórias de cada país) quanto internacional (no Codex Alimentarius) está colocada e é uma necessidade natural advinda de uma inovação disruptiva dessa magnitude. Por fim, o desafio de definir a melhor estratégia de negócios na transição da fase de demonstração do produto para a produção e comercialização efetiva. O desenho de negócios, especialmente o investimento em plantas produtivas e estruturas de distribuição, é fortemente afetado pelo grau de maturidade das tecnologias capazes de entregar os produtos desejados. Neste sentido, algumas empresas de carne cultivada tem optado por inicialmente desenvolver análogos de carnes raras de baixo volume e alto valor de mercado. Exemplo semelhante ocorreu com a recomendação para o setor de biocombustíveis e química de renováveis considerar a produção de especialidades em vez de commodities durante o processo de escala de produção.  Como procuramos demonstrar, há paralelos importantes entre o momento atual do setor de alimentos feitos a partir de proteínas alternativas e o cenário do setor de biocombustíveis e química de renováveis no início deste século. Entre os aprendizados mais relevantes que podem ser trazidos de um cenário para o outro está a necessária capacidade de adaptação dos modelos de negócio e suas cadeias produtivas. Isso implica em diversificar as opções tecnológicas, antecipando e mitigando eventuais falhas ou mudanças de percurso durante o processo de escala. Além disso, desenvolver uma cadeia de fornecimento robusta em vez do desenho de negócios verticalizados pode ser uma opção capaz de minimizar a necessidade de investimentos fixos e ao mesmo tempo ajudar a lidar com variações inesperadas de preço dos produtos análogos, operados hoje dentro das regras dos mercados de commodities. O Brasil pode se tornar protagonista no cenário atual das proteínas alternativas, desenvolvendo novas cadeias produtivas no setor de alimentos, intensivas em tecnologia e de alcance global. Os alimentos de base vegetal e os obtidos por multiplicação celular representam uma enorme oportunidade para produtores, empresários e o setor produtivo como um todo. O futuro da alimentação passa por pensarmos o alimento do futuro sob a ótica da bioinovação. Autores Raquel Casselli – Comunicadora Social, especialista em Sustentabilidade e gerente de Engajamento Corporativo no The Good Food Institute Brasil Alexandre Cabral – Sociólogo, Mestre em Propriedade Intelectual e Inovação, assessor de políticas públicas no The Good Food Institute Brasil Texto originalmente publicado no site da ABBI – Associação