IPCC: Carne cultivada e à base de plantas podem desempenhar um papel fundamental na redução pela metade das emissões globais até 2030

O GFI defende mais financiamento público para proteínas alternativas, uma vez que os principais cientistas do mundo reconhecem que as inovações do setor agrícola – especialmente carne à base de plantas e cultivada – mitigam as mudanças climáticas e oferecem co-benefícios nas áreas de biodiversidade e de saúde global O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) lançou seu Sexto Relatório de Avaliação, no qual aponta a carne à base de plantas e cultivada como uma solução transformadora que, junto das transições nos setores de energia e transporte, pode cortar pela metade as emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) até 2030. Comparado com as avaliações anteriores do IPCC, o Sexto Relatório de Avaliação é o que mais aprofunda nas proteínas alternativas e melhor destaca como elas podem reduzir significativamente as emissões em escala. Elaborado pelos principais cientistas do mundo, o relatório afirma que, mesmo se os combustíveis fósseis fossem eliminados da noite para o dia, as emissões do sistema alimentar por si só prejudicariam – a ponto de impedir – o cumprimento da meta do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5°C. Embora o relatório tenha constatado que “o maior potencial (para mitigar as mudanças climáticas) viria da transição para dietas baseadas em vegetais” (TS. 5.8), ele aponta que a crescente demanda por carne convencional deve gerar um aumento de 14% na sua produção até 2029 (TS. 5.8). Com a conclusão do IPCC de que a dieta humana, que é um hábito difícil de ser mudado, precisa migrar com urgência para fontes de alimentos mais sustentáveis (1.4.7), o The Good Food Institute defende que os governos invistam em carnes vegetais e cultivadas como alternativa à convencional. Formuladores de políticas podem tornar essa mudança de comportamento o mais fácil possível para os consumidores ao investirem em pesquisas que tornem essas opções tão deliciosas e acessíveis quanto a carne convencional, garantindo que a transição no sistema alimentar necessária para atender às metas climáticas globais aconteça. O relatório descobriu que tecnologias alimentares emergentes (como fermentação de precisão, carne cultivada e alimentos à base de plantas) podem “prometer reduções substanciais nas emissões diretas de gases de efeito estufa provenientes da produção de alimentos” (TS. 5.6.2). Citando um artigo de co autoria do cientista sênior do GFI Israel, Tom Ben-Arye, o relatório reconhece que, embora ainda esteja em seu princípio e ainda dependa de maiores investimentos, inovações a aprovações regulatórias, a carne cultivada oferece uma alternativa mais sustentável aos atuais sistemas de produção agropecuária e uso da terra (7.3.3). Além das reduções de emissões, o relatório destaca que as proteínas alternativas também “têm menor pegada de terra, água e nutrientes e tratam das preocupações com o bem-estar animal” (TS. 5.6.2). É possível identificar múltiplos co-benefícios associados a uma transição alimentar para carne à base de plantas e cultivada, que vão desde a diminuição do uso de pesticidas, antibióticos e de poluentes (que afetam a saúde e qualidade do solo, da água e do ar) até a redução do risco do surgimento de novas zoonoses (TS-91). “Os principais cientistas do mundo deixaram claro que a transformação do sistema alimentar é necessária para atender às metas climáticas globais e reconheceram a carne à base de plantas e cultivada como soluções de alto impacto para atender à crescente demanda global por carne. O investimento público continua sendo crítico e urgentemente necessário para levar as proteínas alternativas em escala ao mercado. Os governos de todo o mundo devem investir em carnes que sejam produzidas com muito menos terra e água, que gerem uma fração das emissões e que reduzam substancialmente os riscos à saúde global em comparação com a carne convencional. Temos uma chance de mudar a forma como a carne é feita, e agora é a hora de fazer isso.”, afirma Bruce Friedrich, fundador e CEO do GFI. “O ganho de escala da produção de carne à base de plantas e cultivada é fundamental para que a indústria cumpra seu potencial de mitigação climática. O IPCC identificou que o novo aspecto do mercado de proteínas alternativas é a escala proposta, que só pode ser alcançada com uma injeção de investimento público e privado. Esse investimento possibilitará que a carne de origem vegetal e cultivada compita com os produtos animais convencionais em sabor e preço, desencadeando um ciclo virtuoso de demanda do consumidor e mais inovação”, completa Emma Ignaszewski, gerente de projetos de engajamento corporativo do GFI. Mais informações Proteínas alternativas podem desempenhar um papel crucial na redução das emissões do sistema alimentar: 77% das terras agrícolas de todo o planeta são usadas para a pecuária, que fornece apenas 18% das calorias da dieta humana. Diante da escassez hídrica e dos crescentes índices de desmatamento, alternativas à pecuária podem ajudar a alimentar mais pessoas enquanto dependem de muito menos terra e água. De acordo com um relatório apoiado pelo Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido e pela Climate Works Foundation, a diversificação da fonte do suprimento global de proteínas pode resultar na redução de 10% nos preços médios das safras até 2050, ao mesmo tempo em que libera 640 milhões de hectares de terra, uma área maior que a floresta amazônica – criando mais espaços para práticas agrícolas sustentáveis. Uma transição em direção ao consumo de carne à base de plantas reduziria as emissões em 30% a 90%, enquanto a produção da carne cultivada poderia cortar o impacto climático da carne em até 92% e o uso de terra em até 95%.
As 7 tendências globais que vão dominar o setor de proteínas alternativas em 2022

Nossos especialistas globais apontam as tecnologias que devem despontar ou se fortalecer este ano com o amadurecimento da indústria e quais delas já estão acontecendo no Brasil Texto: Bruna Corsato Revisão: Camila Lupetti, Guilherme Vilela, Raquel Casselli e Vinícius Gallon Após anos de crescimento constante, a indústria de proteínas alternativas caminha para uma fase de consolidação, com empresas do setor entrando em estágios mais avançados e aprimorando os produtos que chegam ao mercado. Mas ainda há espaço para crescimento e inovação, além de muitas oportunidades a serem exploradas nesse ambiente. O time de especialistas globais do The Good Food Institute apresenta quais são as tendências que devem dominar o setor em 2022. 1- A fermentação vai abrir novos caminhos para os produtos vegetais A utilização de processos de fermentação na indústria plant-based vem crescendo como um dos pilares da produção de alimentos vegetais e a tendência é que essa posição se consolide através de lançamentos que devem chegar ao mercado em 2022. EM 2021, a norte-americana Perfect Day criou uma proteína de soro de leite (whey protein) a partir de fermentação de precisão, técnica que utiliza microorganismos para produzir ingredientes funcionais específicos, como proteínas, moléculas de sabor, vitaminas e até gorduras. O whey fermentado chegou aos consumidores dos Estados Unidos sob a forma do Brave Robot, o serve de base vegetal da Perfect Day. Mas a lista de lançamentos que aderiram ao novo ingrediente não parou por aí: houve também o cream cheese da Modern Kitchen, mistura para bolo da Climate Hero e até novo leite alternativo no Starbucks. A tendência é que a indústria continue a explorar essa tecnologia, aprimorando características sensoriais de produtos já existentes e criando novidades para conquistar o consumidor. As previsões de lançamentos deste ano incluem: A primeira proteína de ovo fermentado do mundo. A responsável pela inovação é a Every Company e chegará ao mercado através dos smoothies da Pressed Juicery. A Motif Foodworks vai licenciar sua mioglobina HEMAMI para que produtores possam refinar o saber de carne em produtos vegetais A empresa de carnes Hormel vai passar a incorporar a microproteína, carne feita a partir de fermentação, em sua linha vegetal por meio de uma parceria com a Better Meat Co. Já no ano passado a Nature´s Fynd conseguiu aprovação do FDA para comercializar sua proteína fermentada Fy, e a previsão é de que chegue às gôndolas ainda esse ano. Esse é só o começo, prepare-se para ouvir falar muito de fermentação no mercado plant-based em 2022. 2- Mix de tecnologias para criar produtos híbridos Quando falamos em proteínas alternativas, estamos nos referindo a uma categoria que inclui diversos processos de produção resultando em produtos à base de plantas, de fermentação e de cultivo de células. A tendência é que esse ano vejamos produtos feitos através da combinação dessas tecnologias chegarem ao mercado, que são conhecidos como produtos híbridos: Por exemplo, o Impossible Burguer é feito à base de plantas mas leva em sua composição do heme (molécula de proteínas rica em ferro) derivado de fermentação, o que confere gosto similar a carne. Muitas empresas de leite e queijo vegetais estão usando técnicas tradicionais de fermentação em nozes e outros ingredientes à base de plantas para obter o sabor lácteo autêntico e cremoso do queijo convencional. Podemos esperar produtos híbridos de carne cultivada e proteínas vegetais, tanto para reduzir custos quanto para atrair consumidores que procuram recursos nutricionais como fibras. Esperamos ver ainda o lançamento de carnes vegetais aprimoradas com gordura cultivada, melhorando as propriedades sensoriais. Além disso, deve se tornar mais comum o uso de machine learning e inteligência artificial no desenvolvimento do perfil de sabor e textura de produtos vegetais para se aproximar mais da experiência sensorial da carne tão desejada pelo consumidor. Empresas como a NotCo, Culture Biosciences e Climax Foods já estão atuando nessa direção. 3- Produtos vegetais se tornarão cada vez mais segmentados e fiéis aos produtos animais 3.1 Frutos do mar: o investimento neste setor bateu recorde em 2021, chegando a $116 milhões de dólares. Já são mais de 87 empresas no setor produzindo frutos do mar a partir de plantas, fermentação ou cultivo de células. A expectativa é de que esses produtos cheguem a lojas e restaurantes já em 2022. No Brasil: A Fazenda Futuro lançou no ano passado o primeiro atum à base de plantas do mercado brasileiro. Disponível tanto no Brasil quanto na Europa, o produto vem pronto para consumo e é feito com soja, ervilha, grão-de-bico, azeite de oliva, rabanete e óleo de microalgas para garantir 183 gramas de ômega-3 (por 100g). A linha Incrível Seara conta com iscas de peixe. Cada porção tem 12 gramas de proteína vegetal, além de ser fonte de ferro e vitamina B12, e não conter gordura trans. A The New dispõe de análogos vegetais de salmão e bacalhau em sua linha de produtos. A startup Sustinere Piscis, fundada pelo biólogo Marcelo Szpilman, atua para criar a primeira carne de peixe cultivada. 3.2 Cortes inteiros de carne: 2022 deve ser o ano em que vamos ver cortes inteiros de carnes vegetais se tornar realidade, contemplando uma variedade maior de preparos na cozinha. Já está no mercado o filet mignon vegetal da Juicy Marbles e a Umiami está desenvolvendo uma nova tecnologia para produzir cortes inteiros em escala. No Brasil: Incrível Seara já conta com uma linha de cortes inteiros que incluem bife, tiras de carne, cubos e filé de frango. A Sadia Veg & Tal tem uma linha de frango vegetal nas opções em cubos ou em tiras. A linha de produtos da Verdali inclui frango em tiras, costelinha, mignon e steak. Fazenda Futuro tem uma opção de frango em cubos. The New tem filé de frango e salmão. 3.3 Ovos: esta é uma das categorias plant-based que cresce mais rapidamente, com espaço para produtos como ovo cozido, clara de ovos e uma mistura para que sirva para o preparo de diversos pratos. Vemos grande potencial no uso da fermentação para produzir ingredientes de ovo que melhorem
R & S BLUMOS lança primeira carne vegetal bovina à base de proteína de feijão carioca, custando menos de R$30,00 o kg

A novidade foca no food service e foi lançada no Dia Mundial das Pulses, durante feira do agronegócio, em Cascavel-PR Texto: Bruna Corsato Revisão: Vinícius Gallon Créditos de imagem: R & S BLUMOS Anos de crescimento da indústria plant-based no país levaram ao surgimento de uma demanda entre as empresas do setor: o desenvolvimento de matérias-primas nacionais para serem utilizadas na composição de produtos feitas de planta. Pesquisa realizada pelo The Good Food Institute Brasil mostrou que 84% das empresas de proteína vegetal brasileiras considera essa uma prioridade alta. A R & S BLUMOS, empresa que fornece ingredientes e tecnologias inovadoras para a indústria, mostra que é possível fazer uso da biodiversidade do país para atender às demandas da indústria. A Carnevale WUT, proteína vegetal feita a partir de matérias-primas 100% nacionais como a soja não-transgênica e concentrado de feijão carioca, foi desenvolvida utilizando extrusão úmida, tecnologia que possibilita produzir fibras de carne vegetal análogas às de animais. O produto será lançado custando menos de R$30,00 o kg para o food service, antecipando as previsões do setor de proteínas alternativas de vender carne vegetal mais barata do que a convencional em 2023. “O produto promete chegar ao consumidor a um preço bastante competitivo. Sem dúvida, esse lançamento está alinhado com o que temos observado sobre os anseios do consumidor a respeito desse novo mercado”, pondera Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo do GFI Brasil. As vantagens do Carnevale WUT vão além de preço acessível e ingredientes nacionais. Ao passar pelo processo de extrusão úmida, o produto já é cozido, o que significa mais praticidade no preparo sem perda de rendimento do prato final. “Pela primeira vez, estamos criando uma proteína 100% brasilera com com aptidão para análogos de carne bovina de panela.” conta Fernando Santana, da R & S BLUMOS. A ideia é de que encontre um grande mercado no food service e entre chefs de cozinha e depois, com algumas atualizações, que chegue aos açougues”, conta Fernando Santana, diretor de vendas da R & S BLUMOS. O lançamento aconteceu durante o Show Rural Coopavel, evento anual com foco em inovação tecnológica e sustentabilidade para o agronegócio, explicitando as oportunidades de colaboração entre produtores rurais nacionais e o mercado plant-based. “O agro brasileiro vai se beneficiar muito pois este produto tem um potencial gigante tanto de exportação quanto de consumo no mercado local.”, explica Fernando. Lançamentos como este sinalizam a consolidação do mercado de proteínas alternativas no Brasil, que segue crescendo de forma mais madura à medida que as empresas investem em novas tecnologias e conquistam ainda mais os consumidores. “O lançamento de hoje une diversos aspectos que o consumidor brasileiro vem demonstrando procurar em produtos vegetais. O seu formato pronto para ser utilizado em receitas do dia dia, utilizando ingredientes nacionas, aproveitando a nossa biodiversidade, ingredientes produzidos pelo nosso agronegócio e também a questão do custo, cada vez mais decisivo na decisão de compra do consumidor.”, conclui Raquel.
Proteínas alternativas são aliadas na garantia de um futuro mais sustentável

Na contramão das inovações alimentares, iniciativas tentam barrar o desenvolvimento do setor, mas este é um mercado do “e” e não do “ou”. Há espaço e demanda para toda a indústria. Texto: Alexandre Cabral Revisão: Vinícius Gallon Mais um ano se inicia. Deixamos para trás um ano complexo, onde a vida em geral foi novamente pautada pela pandemia, onde experimentamos o alívio da vacinação de grande parte da população e a incerteza sobre novas variantes do vírus e seus efeitos. Abrimos um ano onde temos a sensação de estarmos na segunda metade da luta contra a Covid-19 e a certeza de que algo de novo precisa ser feito na relação entre o homem e o planeta. Hora de ouvir os ecos das discussões sobre sistemas alimentares (UNFSS) e suas conexões com os desafios da sustentabilidade (COP26). Hora de olhar para os números crescentes da fome no mundo. Hora de convergir as forças em prol de um tema crucial que atravessa diversas dessas questões: a oferta de proteína obtida de forma sustentável para consumo humano, não importa a fonte. A indústria da proteína de origem animal intensificou o debate nessa direção, anunciando diversos programas em busca da neutralidade de suas emissões nas próximas décadas, dentre elas Danone, JBS e BRF. A indústria de proteínas alternativas pode colaborar muito neste debate. Está provado que é possível juntar alguns ingredientes usuais na indústria de alimentos com outros desenvolvidos especificamente para esse mercado e criar um alimento gostoso, sustentável e seguro, que pode ser preparado e consumido da mesma forma que o produto de origem animal, mas utilizando uma quantidade radicalmente menor de terra e água em seu processo produtivo. Essa é uma corrida tecnológica que está acontecendo em diversas partes do mundo e tanto as empresas quanto os cientistas brasileiros estão muito bem posicionados. Trata-se de um campo fértil para a inovação e o Brasil sempre se destacou em avançar tecnologias que já dominava antes. Somos uma potência em alimentos e temos tudo para sermos uma potência também em alimentos de alta tecnologia, como os produtos plant-based e as carnes cultivadas. Somos hoje o celeiro do mundo, imbatíveis e fundamentais no fornecimento de commodities agrícolas. Como disse um importante executivo do setor, podemos nos tornar rapidamente o supermercado do mundo, fornecendo produtos de alto valor agregado desenvolvidos e fabricados no Brasil. Reimaginarmos a forma como obtemos proteína para consumo humano é urgente e fundamental. As proteínas alternativas, como chamamos os produtos análogos aos de origem animal obtidos a partir de plantas, por processos de fermentação ou por cultivo de células, é uma das alternativas concretas para ajudarmos o Brasil na sua transição para uma agricultura de baixo carbono. Lado a lado com as proteínas sustentáveis de origem animal, podemos formar uma resposta consistente do nosso país e da nossa economia agrícola ao novo cenário de médio prazo, onde diferentes fontes de obtenção de proteína para consumo humano conviverão. Esse é um mercado “E”, e não um mercado “OU”: há espaço e demanda para atuação de todos. O papel do GFI é ser um catalisador dessa mudança, estimulando a produção de proteína sustentável para consumo humano através de análogos aos produtos de origem animal. Hora de rever o que foi feito ou deixou de ser feito e alinhar ideias e atitudes para o ano que se inicia. O mercado de produtos análogos aos produtos de origem animal vem crescendo muito. Nascido em 2019 a partir do movimento de algumas poucas empresas, veio tomando corpo em 2020 e se consolidou em 2021. Diversas empresas de diferentes portes passaram a operar no mercado nacional e hoje tanto o consumidor brasileiro tem acesso a produtos saborosos e seguros em qualquer supermercado quanto ele já é exportado para mais de 25 países, incluindo Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Alemanha, Emirados Árabes, África do Sul, México, Colômbia e tantos outros. O principal desafio para as empresas em 2022 é caminhar na direção do aumento ao mesmo tempo da escala de produção e do número de ingredientes nacionais utilizados. Isso poderá permitir a produção a um custo cada vez mais baixo, para um público cada vez maior. E permitirá produtos de alcance global cheios de “brasilidade” na sua composição. É hora de consolidar a tendência de que o Brasil passe a utilizar em seus análogos de base vegetal seus próprios feijões e pulses como fonte principal de proteína e ingredientes naturais extraídos de forma sustentável da biodiversidade brasileira por meio da agregação de valor local. Assim como no mercado de proteína de origem animal para consumo humano, onde o Brasil é indiscutivelmente protagonista no cenário internacional, a tendência ao protagonismo também no mercado de proteínas alternativas parece ser apenas uma questão de tempo. O mapeamento das empresas mostra desde gigantes do mercado de proteína animal que anunciaram ou iniciaram seus negócios em proteínas de origem vegetal até empresas de médio porte que se posicionaram no setor, passando pelas inúmeras startups que já nasceram com foco neste mercado. Sem esquecer de como o Brasil vem se posicionando no promissor território das carnes obtidas por cultivo celular, com os anúncios da JBS e BRF e o surgimento das primeiras startups no segmento, Ambi e Sustineri. E quando a indústria se move, a pesquisa científica precisa ser chamada a caminhar junto, desenvolvendo a tecnologia necessária para as inovações a serem introduzidas no mercado. A ciência é fundamental para encontrar respostas aos desafios do mercado. O mapeamento das instituições de pesquisa envolvidas com o tema mostra também um engajamento em universidades e institutos de pesquisa de todo o país. Assistimos a um crescimento exponencial do número de empresas atuantes no setor de proteínas alternativas no Brasil e a uma mobilização acadêmica que pode sustentar um cenário muito favorável de crescimento. Mas nem tudo são flores nesta cena. E nem esperávamos que fossem. Fechamos 2021 e estamos abrindo 2022 com algumas ações contrárias ao desenvolvimento deste setor no Brasil. Descontentes com o nosso discurso, alguns movimentos e associações se posicionaram na mídia e judicialmente tentando
BRF cria três opções de frango vegetal feitos com tecnologia CARNEVALE da R & S BLUMOS

Uma pesquisa liderada pelo The Good Food Institute em parceria com o IBOPE e 11 empresas do setor de alimentos, revelou que 50% dos brasileiros diminuiu seu consumo de carne em 2020. Os flexitarianos, como são chamadas as pessoas que reduzem o consumo de produtos de origem animal sem interrompê-lo por completo, estão em busca de uma vida mais saudável, mas sem abrir mão do paladar. Esta mudança nos costumes alimentares fez com que a indústria de proteínas alternativas crescesse vertiginosamente no último ano. Em franca expansão e de olho neste progresso, a multinacional brasileira BRF acaba de lançar três opções de frango através da sua linha Sadia Veg&Tal: desfiado, em tiras e em cubos. O mais formidável: os produtos são feitos com proteínas de soja, ervilha e o original feijão carioca que, pela primeira vez, foi utilizado com êxito como um ingrediente na produção de carne vegetal no Brasil. O produto é resultado de uma parceria técnica entre a multinacional BRF e o hub de ingredientes e processos, R & S BLUMOS que, assessoradas pelo GFI Brasil, utilizaram a inovadora técnica de extrusão úmida CARNEVALE. O método consiste na adição de calor e pressão sobre uma combinação de proteínas vegetais que produz fibras proteicas longas conferindo a percepção e aparência da proteína animal. Além da semelhança em textura, sabor e cor, os lançamentos ainda garantem o mesmo valor proteico do peito de frango tradicional. Para isso, a BRF investiu na tecnologia, desenvolveu uma formulação própria e adquiriu dez novas máquinas. “O GFI vem destacando há algum tempo a importância de novos maquinários, como a extrusão úmida. Ficamos extremamente animados quando os parceiros da R & S BLUMOS compraram essa ideia e decidiram investir na tecnologia. Agora, é possível consumir produtos feitos com ingredientes brasileiros processados por essa tecnologia de ponta e isso representa um grande avanço para a nossa indústria”, conta Gustavo Guadagnini, diretor executivo do GFI Brasil. As empresas criadoras do produto elegeram a proteína de feijão carioca no segmento das leguminosas para protagonizar o novo frango vegetal por ser um ingrediente presente nos pratos e lares dos brasileiros. O grão nacional ainda apresenta excelentes benefícios nutricionais e é de fácil assimilação do consumidor. “O feijão sempre foi considerado um produto acabado, sem produtos derivados. No entanto, com o crescimento da indústria plant-based, constatamos que o ingrediente pode gerar diversos produtos, especialmente o feijão carioca, que é a variedade mais produzida no Brasil”, afirma Marcelo Eduardo Lüders, presidente do IBRAFE – Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses. Além disso, a indústria nacional e o produtor rural também são beneficiados, por meio do incentivo a uma maior diversidade agrícola. “O Brasil pode ter importante papel no fornecimento de ingredientes proteicos ao mundo que vai além da soja. Acredito que as leguminosas salvarão o mundo”, explica Fernando Santana, diretor de estratégia e desenvolvimento da R & S BLUMOS. “O GFI acredita que o crescimento do setor de proteínas alternativas vai, necessariamente, passar pelo desenvolvimento de novos ingredientes brasileiros. O mercado busca matérias-primas abundantes, com custo competitivo, menor pegada ambiental e com impacto socioeconômico em nosso país. Todos só têm a ganhar, pois além de entregarmos um alimento de extrema qualidade para os consumidores, agora os produtores rurais brasileiros têm mais uma oportunidade de lucrar com o setor de proteínas vegetais! É renda para o produtor brasileiro, emprego sendo gerado e impostos colaborando com nossa economia local”, comemora Gustavo Guadagnini. O lançamento do primeiro produto brasileiro plant-based feito com a proteína de feijão proporciona mais qualidade, diversidade e acessibilidade de fontes alternativas de proteína ao consumidor final brasileiro. O momento atual do mercado nacional é estratégico pois há grande consciência por parte do consumidor em relação às vantagens da carne vegetal e espaço para aprimorar os produtos existentes. “Esta é uma grande oportunidade: o mercado de carnes vegetais está em franca expansão e teremos um convívio das proteínas animal, vegetal e cultivada. A nosso ver, a proteína é um produto relevante na produção de riqueza nacional. E seguirá sendo, com suas novas origens vegetais e cultivada. Estamos vivendo a maior revolução alimentar de nossa era”, afirma Sérgio Pinto, diretor de inovação da BRF. Pesquisas similares contam com o apoio do The Good Food Institute A pesquisadora da EMBRAPA, Dra. Caroline Mellinger Silva, desenvolve uma pesquisa, financiada pelo Programa de Incentivo à Pesquisa do The Good Food Institute, que visa a produção de ingredientes com alta concentração de proteínas (concentrados e isolados proteicos) a partir do feijão carioca a fim de utilizá-los na formulação de produtos “tipo cárneos” que se pareçam com produtos de origem animal, como hambúrgueres, almôndegas e outros produtos de conveniência. De acordo com a Dra. Caroline, o tema é relevante, pois o Brasil só produz proteínas de soja e o mercado tem buscado outras fontes proteicas, a partir de outros vegetais. “A proteína de ervilha tem sido cada vez mais usada para esse tipo de produto, mas como é importada, torna-se um ingrediente caro para a indústria nacional. O Brasil é um dos maiores produtores de feijão do mundo e tem a possibilidade de ter essa cadeia desenvolvida nos próximos anos, passando de consumidor a produtor de proteínas alternativas vegetais a partir do grão. Isso gera emprego e renda para o país, além de prover ingredientes de menor custo para a indústria de alimentos, que poderá desenvolver produtos mais acessíveis ao consumidor final”, explica a pesquisadora.