Maior responsável pelas emissões de gases de efeito estufa, sistema alimentar deve ser foco na contenção da crise climática

Os próximos 6 anos definirão se a humanidade será capaz de cumprir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global em 1,5ºC. Gustavo Guadagnini, Presidente do GFI Brasil. Setembro de 2023 foi um mês marcado por eventos climáticos extremos: em apenas 12 dias, dez países foram assolados por tufões, inundações, tempestades, ondas de calor e ciclones. No hemisfério norte, recordes de temperatura foram registrados entre os meses de junho a agosto. O Brasil teve o inverno mais quente dos últimos 61 anos, com ciclones extratropicais no Rio Grande do Sul e 150 botos mortos no Amazônas, depois que o Lago de Tefé e o Baixo Solimões alcançaram os 40ºC. De acordo com o Observatório europeu Copérnicus, 2023 deve ser o ano mais quente da história. Catástrofes climáticas sempre ocorreram, mas, à medida que o nosso mundo aquece, esses eventos extremos – que antes contavam com anos, às vezes décadas de intervalo – estão se tornando cada vez mais frequentes e intensos. A maioria dos países não possui estrutura para lidar com esses desastres e isso resulta em centenas de milhares de mortes, pessoas desabrigadas e refugiados climáticos pelo mundo. Os governos precisam se preparar para melhorar a capacidade de resposta frente a essas situações, mas é igualmente urgente que ações sejam tomadas não somente para se adaptar, mas também para mitigar os efeitos da crise climática. É por esse motivo que tratados e acordos internacionais sobre o clima passaram a existir: sem metas e compromissos a serem estabelecidos e cumpridos por todos os países, nenhuma ação isolada será suficiente para um impacto climático positivo. O Acordo de Paris foi assinado em 2015 com o objetivo principal de não permitir que o planeta aqueça além de 2Cº até o final do século 21 e representou uma grande mudança nas negociações sobre o clima, ao criar uma abordagem universal para alcançar objetivos coletivos com um mecanismo de monitoramento do progresso global. Cada país signatário auto definiu metas de curto a médio prazo para reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE), chamadas de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), que devem ser atualizadas – para metas mais ambiciosas – a cada cinco anos a partir de 2020. Coletivamente, as NDCs demonstram o quão perto ou longe o mundo está de atingir os objetivos climáticos. A primeira geração das NDC, que fez parte da adoção inicial do Acordo de Paris em 2015, refletiu uma redução agregada da meta de temperatura média global para 3,7ºC. Já a segunda geração, atualizada em 2020 para metas mais ambiciosas, reduziu esse valor para 2,7ºC, ainda insuficiente. Brasil A NDC brasileira de 2015 estabeleceu que o Brasil deveria reduzir suas emissões em 37% até 2025 e 43% até 2030 em relação às emissões de 2005. Em 2021, essas metas foram ampliadas para 50% de redução até 2030 e, recentemente, a ministra Marina Silva elevou os compromissos brasileiros de redução de emissão para 48% até 2025 e para 53% até 2030. Os sete setores contemplados pela NDC nacional incluem energia, mobilidade urbana, florestas, biocombustíveis, resíduos sólidos, iluminação pública e transportes. Como é possível ver, os sistemas alimentares, mais especificamente a agropecuária, não aparecem como foco estratégico e o mesmo vale para muitos outros países. É um erro estratégico não colocar os sistemas alimentares no centro do debate climático O atual sistema alimentar é responsável por 34% de todas as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e é preciso encontrar maneiras mais eficientes de produzir alimentos, principalmente as proteínas. Isso porque a produção de proteína animal, sozinha, gera mais da metade do total de emissões do sistema alimentar. Além disso, a pecuária ocupa 77% das terras agrícolas do mundo. Mesmo assim, a carne animal fornece apenas 18% do suprimento alimentar da humanidade e 37% das proteínas na dieta humana – o resto vem de alimentos vegetais. O setor agropecuário é, ainda, responsável por mais de 90% do consumo global de água, e 41% disso se destina à irrigação e crescimento de grãos para ração e pasto para bois, porcos e galinhas. O Sexto Relatório de Avaliação do IPCC, elaborado pelos principais especialistas e cientistas do mundo e lançado em 2021, afirma que, mesmo se os combustíveis fósseis fossem eliminados da noite para o dia, as emissões do sistema alimentar por si só impediriam o cumprimento da meta do Acordo de Paris. Por isso, diversificar a atividade agropecuária é uma solução de impacto excepcionalmente elevado para a crise climática global. Na prática, isso implica em liberar terras e recursos como a água para atividades altamente benéficas para o planeta e que também podem ser lucrativas para o agronegócio. Estamos falando de bioeconomia, agroflorestas e agricultura regenerativa, por exemplo. Um sistema de produção baseado nestas práticas é capaz de, em um mesmo espaço, alimentos diversos, insumos industriais, energia e reflorestamento. alimento, fibra, madeira e até mesmo energia, aumentando assim a produtividade. O impacto ambiental também é considerável. Segundo o EOS DATA ANALYTICS, este sistema pode reduzir de 20 a 30% as emissões de gases de efeito estufa e sequestrar em torno de 8 toneladas de CO2 por hectare a cada ano. As proteínas alternativas também são uma das maiores apostas na mitigação da crise climática. Segundo relatório do Boston Consulting Group, se as proteínas à base de vegetais, cultivadas e obtidas por fermentação representarem 11% de todo o consumo de proteínas até 2035, podemos reduzir 0,85 gigatoneladas de CO2 equivalente (CO2e) em todo o mundo até 2030, o que equivale à descarbonização de 95% da indústria da aviação. Além disso, qualquer mudança significativa na dieta global para mais proteínas alternativas produzirá um efeito de arrefecimento imediato no planeta, uma vez que a criação de animais é responsável por até 50% das emissões de metano, que tem um potencial de aquecimento muito maior do que o CO2 e uma vida atmosférica muito mais curta. Consequentemente, a redução dos níveis de metano na atmosfera não apenas evitaria um maior aquecimento, mas também traria um efeito de resfriamento à Terra. Apesar
GFI na Bonn Climate Change Conference

Entre os dias 5 a 15 de junho, acontece na cidade de Bonn, na Alemanha, o Bonn Climate Change Conference (SB58). O evento foi projetado para preparar as tomadas de decisões relacionadas à contenção da crise climática, a serem adotadas na COP28 nos Emirados Árabes Unidos em dezembro. A conferência convocará a 58ª sessão dos órgãos subsidiários das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), incluindo discussões de importância crítica, como o Balanço do Objetivo Global de Adaptação. Esse documento subsidia uma análise profunda sobre como o mundo está em ação ao clima, identificando as lacunas e trabalhando de forma articulada para chegar a um acordo sobre os caminhos das soluções, até 2030 e além. O GFI é uma das organizações observadoras das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), podendo participar de eventos, acompanhar negociações e submeter contribuições técnicas aos grupos de trabalho que se juntam para analisar e definir resoluções da Conferência das Partes, a COP. Por isso, Mariana Bernal, Analista de Políticas Públicas do GFI Brasil, estará presente participando do evento paralelo Unlocking the Potential of Alternative Proteins and Plant Rich Diets, das 16h15 às 17h30 (CEST) | 11h15 às 12h30 (GMT-3), a fim de mostrar o papel que as proteínas alternativas podem desempenhar no debate climático. Você pode assistir ao evento através deste link. “Queremos mostrar que, por meio do desenvolvimento de ingredientes vegetais como o feijão e espécies vegetais nativas da Amazônia e do Cerrado, podemos contribuir para a preservação da biodiversidade desses biomas. Uma das formas de fazer isso é apoiar pequenos e médios produtores de alimentos a diversificarem suas produções por meio da bioinovação”.
O que a nossa comida tem a ver com a crise climática?

No Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, celebrado hoje (16/3), o GFI Brasil aponta algumas correlações importantes. Desde a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro, países do mundo todo têm se dedicado a enfrentar a crise climática. Na ocasião, foi criada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), que entrou em vigor em 1994. Desde então, 27 Conferências das Partes (ou COP) foram realizadas em diferentes países, resultando em compromissos globais como o Protocolo de Quioto, o Acordo de Paris, o Acordo de Copenhague, entre outros. Dois pontos principais definem o foco das iniciativas: financiar projetos climáticos em países em desenvolvimento e limitar o aquecimento da temperatura global para abaixo de 2ºC. Hoje (16/3), no Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, te convidamos a refletir sobre o impacto dos sistemas alimentares no agravamento da crise climática. O tema surgiu pela primeira vez na COP 27, realizada em 2022 no Egito, e deve seguir como ponto-chave para garantir que as metas sejam alcançadas antes do colapso planetário. Sistema alimentar sustentável é a chave para frear a crise climática Nos últimos anos, vários eventos extremos (desastres naturais, desmatamento recorde da Amazônia e do Cerrado, pandemia da Covid-19, guerra na Ucrânia, peste suína africana, doença da vaca louca…) evidenciaram a fragilidade dos nossos sistemas, principalmente o alimentar. Sabemos que ele já não é capaz de alimentar toda a população global, não garante plenamente a segurança dos alimentos, facilita a transmissão de doenças, explora cada vez mais animais para consumo humano, demanda recursos naturais como nunca e é o setor econômico que mais emite gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera. Mesmo assim, a transição energética sempre foi o foco do debate sobre as mudanças climáticas. Só agora a discussão começa a se voltar também para a transição alimentar, porque fica cada vez mais claro que uma mudança na forma de produzir alimentos (sobretudo de origem animal, como carne, leite, ovos) poderia atenuar e até reverter a trajetória da crise climática. Veja nos dados abaixo como a produção de proteína animal desloca recursos naturais de humanos para animais de consumo: COP 28: Proteínas alternativas devem ser incorporadas ao setor de alimentos como uma das soluções para a crise do clima Como já dissemos, a COP 27, que aconteceu ano passado no Egito, foi a primeira edição que teve um espaço inteiramente dedicado a discutir o papel do sistema de produção de alimentos no enfrentamento da crise climática. O Food System Pavilion foi resultado de um trabalho articulado de uma coalizão de 9 organizações, entre elas o GFI, com o objetivo de levantar essa pauta no lugar mais importante de negociações internacionais sobre o clima, além de apresentar soluções e firmar compromissos para cumprir as metas do Acordo de Paris. Na COP 28, que acontece em novembro de 2023 em Dubai, o GFI estará presente novamente e com objetivos ainda mais ambiciosos, focado em ampliar a exposição do setor de proteínas alternativas. Entenda porque os alimentos feitos de planta e cultivados são cruciais para conter a emissão de GEE e outros poluentes, liberar terras para produção de alimentos diretamente para as pessoas e reduzir o uso de recursos naturais. As proteínas alterantivas devem ser incorporadas ao setor de alimentos para garantir maior resiliência ao sistema alimentar e para ajudar a solucionar a crise do clima. E, no Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, nós reforçamos nosso compromisso de trabalhar para tornar a cadeia de produção de alimentos mais sustentável, segura, justa, saudável e acessível para todos. Muitas vezes esquecemos disso no dia a dia, mas nossa comida está intimamente ligada com a crise do clima e o que colocamos no prato é crucial para definir nosso futuro! As discussões voltadas para apontar soluções para a forma como produzimos e distribuímos alimentos só vai se intensificar e o GFI irá contribuir em todas essas frentes, ajudando a apresentar, viabilizar e implementar essas soluções. Neste ano, na COP 28, também vamos mostrar o papel crucial do Brasil, que será palco da COP 30 em 2025, no cenário ambiental.
GFI Brasil na COP27: confira a programação do Pavilhão dos Sistemas Alimentares

Começa hoje (6/11), no Egito, a COP27, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC). O The Good Food Institute estará presente como uma das 15 organizações responsáveis pelo primeiro espaço dedicado a discutir o papel do sistema de produção de alimentos no enfrentamento da crise climática, o Food System Pavilion. O GFI Brasil vai liderar dois dias temáticos, repletos de sessões informativas, plenárias e apresentações de estudos de caso. O primeiro, no dia 6 de novembro, será voltado para discussões em torno da construção de sistemas alimentares climaticamente resilientes e apresentação das mais diversas soluções, considerando a multiplicidade de atores envolvidos nos sistemas alimentares globais. No dia 16 de novembro, o foco será nas estratégias para proteger e restaurar a natureza por meio de soluções trazidas especialmente pela biodiversidade e com envolvimento ativo de comunidades locais. Neste dia, o GFI vai apresentar o trabalho que tem desenvolvido na Amazônia e no Cerrado, promovendo pesquisas para o desenvolvimento de ingredientes da a partir de espécies nativas destes biomas. O GFI também é parceiro em outras datas temáticas no Pavilhão, como o dia da Adaptação Climática e o dia da Água. Confira abaixo nossa participação no evento: Designing food systems resilience in a warming world for global securityHow both global and regional solutions can lessen risks, increase supply chain stability, and improve livelihoods6 de novembro, das 11h30 às 13h30 GMT | Participação do Presidente do GFI Brasil, Gus Guadagnini Zero-conversion foodFeeding a growing world in ways that enable recovery of biodiverse lands and waters16 das 14h15 às 15h45 | Participação do Presidente do GFI Brasil, Gus Guadagnini. Food system careers of the futureInsights and aspirations from youth leaders16 de novembro, das 18h10 às 19h | mediação: Analista de Políticas Públicas do GFI Brasil, Mariana Bernal. Acompanhe as nossas redes pra saber os principais destaques do evento.
Proteínas alternativas são mesmo mais sustentáveis?

GFI e FAIRR lançam modelos de relatórios para que empresas de proteínas alternativas possam medir e revelar seus impactos ambientais, sociais e de governança. Da carne à base de plantas ao leite de macadâmia, produtores de alimentos, varejistas e fabricantes podem, graças ao lançamento de dois novos modelos de relatório, passar a relatar com precisão o impacto de sustentabilidade de seus negócios de proteínas alternativas. Projetados pela rede de investidores da Iniciativa FAIRR, apoiada por US$ 68 trilhões, e pelo The Good Food Institute (GFI), uma organização internacional sem fins lucrativos que atua para transformar o sistema de produção de alimentos, investindo em proteínas alternativas vegetais, cultivadas e obtidas por fermentação, os modelos são apoiados por investidores e líderes da indústria. A FAIRR e o GFI desenvolveram os dois novos modelos de relatório com contribuições de diversos investidores, empresas e ONGs, incluindo Unilever, Eat Just Inc., Newton Investment Management, PIMCO, Blue Horizon e WWF-UK, bem como de especialistas em ESG e Avaliação de Ciclo de Vida (ACV). Após o lançamento, os autores dos modelos vão trabalhar com marcas de proteínas alternativas que desejam usá-los para relatar fatores ambientais, sociais e de governança (ESG da sigla em inglês), como emissões de carbono, uso do solo, da água e impactos nutricionais. Proteínas alternativas, incluindo carne, frutos do mar, ovos e laticínios à base de plantas, obtidas por fermentadas e cultivadas devem proporcionar um caminho para descarbonizar a produção de alimentos, ao mesmo tempo em que atendem a demanda global por alimento. Nos últimos anos, o investimento em proteínas alternativas aumentou 91% em uma taxa média de crescimento de 5 anos até 2021 (de acordo com a análise feita pelo GFI a partir dos dados da PitchBook Data), e estima-se que as vendas aumentem em até US$ 1,1 trilhão até 2040 e ocupem até 60% do mercado total de carnes. Pesquisas mostram que muitos produtos à base de plantas têm de um quinto a um décimo do impacto ambiental que seus equivalentes feitos de proteína animal. No entanto, até hoje, não existiam padrões abrangentes para empresas que fabricam e vendem proteínas alternativas poderem avaliar e divulgar os dados robustos de ESG que investidores, empresas e consumidores precisam para tomar decisões informadas. O Modelo de Relatório ESG de Proteínas Alternativas para Empresas Especializadas (“Modelo Especializado”) e o Modelo de Relatório ESG de Proteínas Alternativas para Empresas Diversificadas (“Modelo Diversificado”) oferecem aos investidores, governos e consumidores um caminho para receber informações precisas de cada negócio de proteínas alternativas. Raquel Casselli, Diretora de Engajamento Corporativo do The Good Food Institute Estados Unidos, afirma que a ferramenta permitirá que empresas de proteínas alternativas mostrem as muitas vantagens em ESG que seus modelos de negócios atuais possuem. “Se comparadas à proteína animal convencional, proteínas alternativas emitem quantidades significativamente menores de gases de efeito estufa e apresentam consideráveis vantagens nutricionais e de segurança alimentar. À medida que essa indústria continua a fazer parceria com o setor privado para construir negócios responsáveis e sustentáveis para o futuro, esses modelos vão permitir que as empresas reivindiquem seu papel natural de liderança em ESG.”. Jeremy Coller, presidente e fundador da FAIRR e diretor de investimentos da Coller Capital, disse que a FAIRR a parceria com o GFI na elaboração dos dois modelos de relatório são um marco para a indústria de proteínas alternativas. “Não é possível gerenciar o que não se pode medir. Esses novos modelos fornecem aos investidores e às empresas uma linguagem comum e um conjunto de padrões para medir e divulgar como eles estão gerenciando seus impactos ESG e abordando as metas climáticas. Esperamos que os membros da FAIRR, representando US $68 trilhões de ativos sob gestão (AUM), recebam os modelos como mais uma ferramenta nos seus processos de investimentos. Também esperamos que tanto grandes produtores de proteínas quanto pequenas empresas especializadas em proteínas alternativas adotem os novos modelos, o que vai beneficiar o mercado como um todo”. O novo Modelo Especializado é projetado para fabricantes e fornecedores de ingredientes cujo foco principal são proteínas alternativas, como carne, laticínios, proteína de soro de leite ou gelatina. Ele engloba os riscos e oportunidades mais relevantes em todo o espectro E, S e G, por exemplo, em fornecimento, certificação, envolvimento do consumidor, saúde do solo, resíduos plásticos, consumo de água e nutrição. Em resposta ao lançamento do Modelo Especializado, Lisa Wetstone, Diretora Sênior de Marketing, Inovação e Estratégia de Crescimento da empresa de ingredientes especializada em cogumelos, MycoTechnology, Inc, comenta que o modelo vai permitir que as empresas meçam e comuniquem seus impactos positivos de maneiras que façam sentido e tenham importância – para a estratégia interna, para o processo de tomada de decisão e também para os consumidores. “De pequenas startups a startups em estágio de crescimento (como a MycoTechology) a players estabelecidos do setor, há muitas maneiras de coletar e interpretar dados ESG. Isso é especialmente verdade dadas as nuances de nossa indústria. Nos falta uma linguagem comum! Por isso, estabelecer as bases para padronizar essas informações pode ser um guia para todos nós e pode elevar a indústria como um todo.” Já o novo Modelo Diversificado foi projetado para empresas de alimentos, varejistas, fabricantes e produtores de proteína animal e com portfólios de produtos que incluem tanto proteínas convencionais quanto alternativas. Esse modelo orienta a geração de relatórios sobre os dados ESG relativos à porção de proteínas alternativas das empresas (como lobby/advocacy, gestão da água, circularidade e acessibilidade), para que eles complementem os outros dados que provavelmente já são reportados por meio de outros modelos. Ao possibilitar que os tomadores de decisão façam comparações entre seus negócios de proteínas animais e alternativas, o Modelo Diversificado apoia e incentiva as empresas enquanto elas fazem a transição de suas práticas para atender uma série de metas relacionadas ao clima, biodiversidade e governança. Beatriz Hlavnicka, Head de Marketing para América do Sul da PlantPlus Foods, joint venture entre Marfrig e ADM disse, em relação ao lançamento do Modelo Diversificado que “o modelo abrangente permite comparar e abordar as oportunidades e
COP27 terá Pavilhão exclusivo sobre Sistemas Alimentares

GFI é parceiro da iniciativa e vai liderar discussões sobre proteínas alternativas da 27ª Conferência das Partes, principal evento do Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climáticas (UNFCCC) Faltando menos de 50 dias para o início da COP27, uma coalizão de organizações focadas em ações pela produção e consumo de alimentos mais sustentáveis, anunciou seus planos para sediar o primeiro Pavilhão de Sistemas Alimentares na COP27. O Pavilhão de Sistemas Alimentares reúne mais de 15 líderes internacionais no setor de alimentos, abrangendo os setores público, privado e sem fins lucrativos, de agricultores e jovens a formuladores de políticas e cientistas. Essa diversidade de conhecimentos e perspectivas o destaca entre outras coalizões, com co-anfitriões e parceiros comprometidos a trabalhar de forma colaborativa para chegar a compromissos, apresentar soluções e superar barreiras para alcançarmos as metas estabelecidas pelo Acordo de Paris. As organizações participantes incluem os co-anfitriões Clim-Eat, Coalizão de Ação para a Saúde do Solo (CA4SH), EIT Alimentos, Fundo de Defesa Ambiental, FOLU, The Good Food Institute, Infarm, SNV e Yara International; parceiros de paineis Aleph Farms, Food Tank, Just Rural Transition, One Acre Fund e Rabobank; e parceiros apoiadores World Farmers’ Organization, World Food Forum, YPARD, IAAS World e YOUNGO. Para Gustavo Guadagnini, presidente do GFI Brasil, a COP27 representará um ponto de virada crítico para os sistemas alimentares. Com a agricultura e os sistemas alimentares contribuindo com mais de um terço das emissões de gases de efeito estufa, há muitos desafios complexos a serem superados, mas também enormes oportunidades. Transformar os sistemas alimentares globalmente pode gerar US$ 4,5 trilhões anualmente em novas atividades econômicas, além de criar um mundo com emissões neutras de carbono e positivo para a natureza e, ao mesmo tempo, garantir justiça socioambiental e a segurança alimentar e nutricional.”. Na COP26, em Glasgow, formuladores de políticas deram os primeiros passos para reconhecer o papel crítico dos alimentos e da agricultura na redução das emissões de gases de efeito estufa. Este ano, os co-anfitriões do Food Systems Pavilion querem avançar essa agenda significativamente e colocando os a agricultura e a produção de alimentos no centro das discussões. A Dra. Agnes Kalibata, Presidente da Aliança para uma Revolução Verde na África (AGRA), Enviada Especial do Secretário-Geral da ONU para a Cúpula de Sistemas Alimentares de 2021 e Embaixadora da FOLU, disse que é preciso garantir que os alimentos dominem a agenda da COP27. “Tem sido a peça que faltava nas negociações climáticas por muito tempo, e a África está fazendo grandes apostas em uma COP no continente. Esperamos que o mundo reconheça que nossa capacidade de produzir alimentos está sendo erodida rapidamente, nossa capacidade de adaptação é a mais fraca e como os alimentos são produzidos em outras partes do mundo temos problemas urgentes que devemos resolver.”. Dra. Agnes ainda complementou que sem ações imediatas, mais 100 milhões de pessoas na África podem ser levadas à pobreza extrema nas próximas oito estações – são mais de 10 milhões de pessoas por ano entre agora e 2030. O Food Systems Pavilion se concentrará em ações, estratégias e soluções práticas que abrangem toda a cadeia de valor de alimentos que oferecem o potencial de acelerar a transição para sistemas alimentares mais saudáveis, sustentáveis e justos para todos. Para saber mais, visite FoodSystemsPavilion.com ou busque pela hashtag #ActionOnFood nas redes sociais.
GFI lança carta de compromissos às eleições em 2022

Candidaturas devem subscrever a carta, por meio de e-mail, até o dia 30 de setembro; documento tem como principal preocupação a segurança alimentar e o meio ambiente O mundo vive uma das maiores crises alimentares em décadas. De acordo com a FAO (Agência da ONU Alimentação e a Agricultura), 690 milhões de pessoas passam fome no mundo diariamente. Em 2021, 116,8 milhões de brasileiros conviviam com algum grau de Insegurança Alimentar e, destes, 43,4 milhões não tinham alimentos em quantidade suficiente e 19 milhões passavam fome. O Good Food Institute Brasil (GFI Brasil) acredita que a Segurança Alimentar da população conversa diretamente com a busca por novos alimentos e métodos produtivos, mais sustentáveis e universalizados. Nesse sentido, as proteínas alternativas são a grande aposta não apenas para o futuro, mas também para o presente. Diante desses desafios e com o objetivo de incentivar uma agenda política propositiva para o mercado de proteínas alternativas nos próximos anos, o GFI Brasil está convidando candidaturas às eleições de 2022 a fazer um compromisso público, caso seja eleito, defendendo as seguintes propostas: “Se o candidato se identificar com esses compromissos, ele terá responsabilidade de levar essas propostas adiante nos anos seguintes. São compromissos importantes que irão impactar não só a questão alimentar, mas também o meio ambiente e a renovação de recursos naturais. Esperamos uma grande adesão”, afirma o vice-presidente Políticas Públicas do GFI Brasil, Alexandre Cabral. A subscrição vai até o dia 30 de setembro. Qualquer candidatura pode participar da subscrição dos compromissos. Para isso, basta enviar um e-mail com as informações abaixo para o e-mail politicas@gfi.org. As candidaturas subscritas serão divulgadas semanalmente no site, blog e mídias sociais do GFI Brasil. Leia aqui a carta na íntegra.
IPCC: Carne cultivada e à base de plantas podem desempenhar um papel fundamental na redução pela metade das emissões globais até 2030

O GFI defende mais financiamento público para proteínas alternativas, uma vez que os principais cientistas do mundo reconhecem que as inovações do setor agrícola – especialmente carne à base de plantas e cultivada – mitigam as mudanças climáticas e oferecem co-benefícios nas áreas de biodiversidade e de saúde global O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) lançou seu Sexto Relatório de Avaliação, no qual aponta a carne à base de plantas e cultivada como uma solução transformadora que, junto das transições nos setores de energia e transporte, pode cortar pela metade as emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) até 2030. Comparado com as avaliações anteriores do IPCC, o Sexto Relatório de Avaliação é o que mais aprofunda nas proteínas alternativas e melhor destaca como elas podem reduzir significativamente as emissões em escala. Elaborado pelos principais cientistas do mundo, o relatório afirma que, mesmo se os combustíveis fósseis fossem eliminados da noite para o dia, as emissões do sistema alimentar por si só prejudicariam – a ponto de impedir – o cumprimento da meta do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5°C. Embora o relatório tenha constatado que “o maior potencial (para mitigar as mudanças climáticas) viria da transição para dietas baseadas em vegetais” (TS. 5.8), ele aponta que a crescente demanda por carne convencional deve gerar um aumento de 14% na sua produção até 2029 (TS. 5.8). Com a conclusão do IPCC de que a dieta humana, que é um hábito difícil de ser mudado, precisa migrar com urgência para fontes de alimentos mais sustentáveis (1.4.7), o The Good Food Institute defende que os governos invistam em carnes vegetais e cultivadas como alternativa à convencional. Formuladores de políticas podem tornar essa mudança de comportamento o mais fácil possível para os consumidores ao investirem em pesquisas que tornem essas opções tão deliciosas e acessíveis quanto a carne convencional, garantindo que a transição no sistema alimentar necessária para atender às metas climáticas globais aconteça. O relatório descobriu que tecnologias alimentares emergentes (como fermentação de precisão, carne cultivada e alimentos à base de plantas) podem “prometer reduções substanciais nas emissões diretas de gases de efeito estufa provenientes da produção de alimentos” (TS. 5.6.2). Citando um artigo de co autoria do cientista sênior do GFI Israel, Tom Ben-Arye, o relatório reconhece que, embora ainda esteja em seu princípio e ainda dependa de maiores investimentos, inovações a aprovações regulatórias, a carne cultivada oferece uma alternativa mais sustentável aos atuais sistemas de produção agropecuária e uso da terra (7.3.3). Além das reduções de emissões, o relatório destaca que as proteínas alternativas também “têm menor pegada de terra, água e nutrientes e tratam das preocupações com o bem-estar animal” (TS. 5.6.2). É possível identificar múltiplos co-benefícios associados a uma transição alimentar para carne à base de plantas e cultivada, que vão desde a diminuição do uso de pesticidas, antibióticos e de poluentes (que afetam a saúde e qualidade do solo, da água e do ar) até a redução do risco do surgimento de novas zoonoses (TS-91). “Os principais cientistas do mundo deixaram claro que a transformação do sistema alimentar é necessária para atender às metas climáticas globais e reconheceram a carne à base de plantas e cultivada como soluções de alto impacto para atender à crescente demanda global por carne. O investimento público continua sendo crítico e urgentemente necessário para levar as proteínas alternativas em escala ao mercado. Os governos de todo o mundo devem investir em carnes que sejam produzidas com muito menos terra e água, que gerem uma fração das emissões e que reduzam substancialmente os riscos à saúde global em comparação com a carne convencional. Temos uma chance de mudar a forma como a carne é feita, e agora é a hora de fazer isso.”, afirma Bruce Friedrich, fundador e CEO do GFI. “O ganho de escala da produção de carne à base de plantas e cultivada é fundamental para que a indústria cumpra seu potencial de mitigação climática. O IPCC identificou que o novo aspecto do mercado de proteínas alternativas é a escala proposta, que só pode ser alcançada com uma injeção de investimento público e privado. Esse investimento possibilitará que a carne de origem vegetal e cultivada compita com os produtos animais convencionais em sabor e preço, desencadeando um ciclo virtuoso de demanda do consumidor e mais inovação”, completa Emma Ignaszewski, gerente de projetos de engajamento corporativo do GFI. Mais informações Proteínas alternativas podem desempenhar um papel crucial na redução das emissões do sistema alimentar: 77% das terras agrícolas de todo o planeta são usadas para a pecuária, que fornece apenas 18% das calorias da dieta humana. Diante da escassez hídrica e dos crescentes índices de desmatamento, alternativas à pecuária podem ajudar a alimentar mais pessoas enquanto dependem de muito menos terra e água. De acordo com um relatório apoiado pelo Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido e pela Climate Works Foundation, a diversificação da fonte do suprimento global de proteínas pode resultar na redução de 10% nos preços médios das safras até 2050, ao mesmo tempo em que libera 640 milhões de hectares de terra, uma área maior que a floresta amazônica – criando mais espaços para práticas agrícolas sustentáveis. Uma transição em direção ao consumo de carne à base de plantas reduziria as emissões em 30% a 90%, enquanto a produção da carne cultivada poderia cortar o impacto climático da carne em até 92% e o uso de terra em até 95%.
Por que acreditamos que as proteínas alternativas devem compor as soluções para transformar o sistema de produção de alimentos e conter as mudanças climáticas?

por The Good Food Institute Brasil O ano de 2030 é considerado crucial para a trajetória do nosso planeta. As metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são tão ambiciosas quanto necessárias para a manutenção da vida na terra. Faltando menos de 8 anos para a sua chegada, não há dúvidas de que medidas urgentes devem ser tomadas em escala global para conter as mudanças climáticas antes que sejam irreversíveis. Outro desafio que bate a nossa porta e que não pode mais esperar é o de acabar com a fome global que já atinge pelo menos 811 milhões de pessoas no mundo. Entre as medidas necessárias para enfrentar essas questão está a de transformar o atual sistema alimentar, incorporando práticas mais sustentáveis e eficientes de produção de alimentos. Nesta quinta-feira (7), um estudo (Proteínas e Política: mitos e fatos sobre carne, peixe, proteínas alternativas e sustentabilidade) produzido pelo Painel Internacional de Especialistas em Sistemas Alimentares Sustentáveis (IPES-Food) foi divulgado trazendo importantes reflexões para este debate. O documento reconhece que o atual modelo de produção agropecuário precisa ser revisto e que é preciso promover discussões mais equilibradas sobre quais medidas devem ser adotadas para promover as mudanças necessárias em prol de um sistema alimentar mais sustentável. Contudo, o estudo também questiona a adoção das proteínas alternativas como parte da solução. Dentre outros pontos, segundo o IPES-Food, há uma ênfase excessiva na necessidade de consumo de proteínas e na redução dos gases de efeito estufa (GEE). Embora seja verdade que não há deficiência protéica na dieta da população global, a produção de carne deve aumentar 14% e o consumo per capta deve chegar a 35,4 kg até 2030, impulsionada pela crescente demanda global por carne. Não se trata de uma deficiência nutricional, mas de uma tendência de consumo guiada pelos hábitos e tradições alimentares, que colocam a carne no centro das refeições. Então a grande questão é, como faremos essa entrega para o consumidor de maneira a não impactar negativamente as mudanças climáticas? “Assim como o IPES-Food, também acreditamos que a agroecologia e a agricultura regenerativa devem compor as estratégias para transformar o sistema alimentar. Da mesma forma, temos certeza de que a cultura alimentar é parte fundamental dessa equação. Nesse sentido, as proteínas alternativas têm um papel importante. Nenhuma dessas atividades, sozinha, será capaz de alimentar toda a população nem frear as mudanças climáticas na rapidez que se espera. Também não conseguiremos garantir a soberania e a cultura alimentar se não encontrarmos novas formas de se produzir a comida que as pessoas já consomem e vão continuar a consumir”, comenta o presidente do The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil), Gustavo Guadagnini. A adoção das proteínas alternativas na dieta também não serve exclusivamente aos propósitos da grande indústria, como alega a pesquisa. Esse é um debate em que não podemos excluir nenhum elo da cadeia de produção de alimentos. Do produtor rural à grande indústria, todos têm um papel a cumprir. Acreditamos que é fundamental plantar a ideia da diversificação das fontes de proteína, da mesma forma, defendemos a diversificação das indústrias de carne, leite e ovos, que podem diminuir sua pegada ambiental (uso de terra, água e emissões) ao incorporar em seus portfólios análogos vegetais e cultivados dos produtos de origem animal que já produzem. É impossível garantir comida para toda a população sem esses elos que garantem escala e acesso. Além disso, a Organização Internacional do Trabalho, em parceria com o Banco de Desenvolvimento Interamericano, afirma que a adoção de alimentos vegetais cultivados com métodos agrícolas sustentáveis pode gerar 19 milhões de novas oportunidades de emprego. O problema de concentração não é exclusivo do setor de proteínas alternativas. Ao contrário: é uma característica da indústria de alimentos mundial, que acaba impactando também o mundo das proteínas alternativas. “Atualmente, a indústria de alimentos já é concentrada em grandes empresas – mudar a origem do ingrediente de origem animal para vegetal não vai automaticamente mudar a lógica de todo o sistema produtivo que já existe. Porém, existe um ponto que está sendo ignorado pela discussão do IPES: a monocultura é um sistema que atende diretamente a produção de animais. Hoje produzimos grãos para alimentar animais que geram comida para humanos numa proporção muito ineficiente”, aponta a diretora de engajamento corporativo do GFI Brasil, Raquel Casselli. Para se ter uma ideia, o gado leiteiro precisa de cerca de 12kg de ração ou grãos para produzir 1kg de produtos lácteos. Com relação ao gado de corte, são necessários em torno de 6kg de ração ou grãos para produzir 1kg de peso vivo. Vale dizer que 64% do peso vivo do animal corresponde a ossos, sangue e subprodutos (comestíveis ou não). Ou seja, apenas 36% do peso vivo do gado de corte é carne. Para cada 9 calorias (aproximadamente) produzidas para alimentar o frango, apenas 1 é convertida para consumo humano. É importante mencionar que os valores de taxa de conversão alimentar podem variar dependendo da raça do animal, tipo de alimentação e do sistema produtivo utilizado. “Um sistema produtivo que não dependa tanto de animais libera para o uso humano as imensas áreas em que hoje são plantadas soja e milho para ração. Então, por mais que a indústria que vende a carne vegetal seja concentrada, o uso de proteínas alternativas muda a cadeia de produção como um todo e libera terras para plantio de comida vegetal de qualidade para todas as pessoas. Se queremos ver mais arroz, feijão, cenoura, tomate na refeição brasileira, é preciso mudar a equação de uso de terras da produção animal para a produção vegetal”, completa Gustavo Guadagnini. O Programa Biomas, financiado pelo GFI Brasil, estuda como espécies da nossa biodiversidade, podem se tornar ingredientes de produtos feitos de plantas, como as carnes vegetais. A iniciativa tem o potencial de criar novas cadeias de suprimentos, fortalecer comunidades locais e trazer mais diversidade para a mesa dos brasileiros. Além disso, pesquisas também apoiadas pela instituição com organizações como a Unicamp e a Embrapa buscam encontrar novas fontes de proteínas capazes
Alimentação à base de vegetais pode reverter a trajetória das mudanças climáticas

por Victoria Gadelha para o GFI Brasil No final de 2020, uma pesquisa publicada na revista Science mostrou que, mesmo se todas as emissões de combustíveis fósseis fossem imediatamente zeradas, seria impossível cumprir a meta estabelecida pelo Acordo de Paris (de limitar o aumento da temperatura terrestre a 1,5°C ou até 2°C acima dos níveis pré-industriais) por conta das emissões geradas pelo sistema alimentar global sozinho. Um artigo publicado na Nature Food indicou que se as 54 nações mais ricas do planeta (17% da população mundial) adotassem a dieta EAT-Lancet, que é baseada majoritariamente em vegetais, elas poderiam reduzir suas emissões de CO2 em dois terços ou 61%. Em fevereiro de 2022, um novo estudo publicado pela PLOS Climate mostra que, se a produção global de carne e laticínios for gradualmente reduzida até zerar durante os próximos 15 anos, será o mesmo que “cancelar” as emissões de gases de efeito estufa (GEE) geradas por todos os outros setores econômicos por 30 a 50 anos. Ou seja: uma transição progressiva para um sistema alimentar global baseado em vegetais tem a capacidade de, em pouco mais de uma década, zerar a quantidade de GEE que todas as indústrias, transportes e o setor energético, combinados, levariam até mais de meio século para emitir na atmosfera. O sistema alimentar vigente é responsável por 34% de todas as emissões de GEE e a produção de proteína animal, sozinha, gera mais da metade (ou 15%) desse valor. Essas emissões vêm de várias fontes, mas principalmente da fermentação entérica (processo digestivo que ocorre em animais ruminantes) e do esterco dos ruminantes (que, juntos, também são responsáveis por 32% das emissões de metano no mundo), da queima de combustíveis fósseis na cadeia de produção e abastecimento dos alimentos, e do desmatamento intensivo e extensivo (para abrir pastagens e para plantar os grãos que viram ração para os animais de abate). Mais de 70% de todas as terras agrícolas do mundo são focadas na produção de alimentos para animais e 30% da superfície terrestre são ocupadas pela pecuária. Isso significa que um terço de toda a terra existente no planeta é usada para abrigar e/ou alimentar animais que, dentro de muito pouco tempo – e em escala industrial – são abatidos e chegam até nós como hambúrguer, bife, filé, coxa, linguiça e inúmeros outros tipos de formatos e cortes. Segundo o estudo, para sustentar um sistema alimentar baseado em vegetais, seria necessário usar apenas 7% das terras do nosso planeta. Quando se trata da contribuição da pecuária para o aquecimento global, a maioria das análises tende a olhar diretamente para as emissões do setor e deixam de lado a questão do uso da terra, que é extremamente relevante. Isso porque, ao interromper a prática da pecuária e restaurar ou “renaturalizar” (rewild, em inglês) essas terras, todo o carbono que seria emitido passa a ser capturado e armazenado. O estudo publicado no início deste mês na PLOS Climate é uma colaboração entre o professor de biologia molecular e celular da Universidade da Califórnia, Michael Eisen, e o professor de bioquímica da Universidade de Stanford e CEO da Impossible Foods Inc, Patrick Brown. Importante mencionar que a Impossible Foods é uma das grandes fabricantes de produtos vegetais substitutos de carne dos Estados Unidos, avaliada em US$4 bilhões em 2020. Os autores expõem esse conflito de interesse no início do artigo, mas garantem que a ciência é sólida. Mas a diminuição gradual na produção de carnes e laticínios é viável? Para Brown, as mudanças necessárias devem ser orientadas pelo mercado, que segundo ele, é a instituição de ação mais rápida na Terra. “Esse movimento será impulsionado pela escolha do consumidor do lado da demanda. Se existem produtos que fazem um trabalho melhor em entregar o que eles desejam, nada pode impedir isso”. Comprovando o que Brown diz, de acordo com o relatório da Research and Markets, o mercado global de carne e laticínios à base de plantas pode alcançar US$68,7 bilhões até 2025, com um crescimento anual (CAGR) de 17,42%. O mercado de proteína animal também deve crescer, mas numa taxa menor do que 4% ao ano. AT Kearney, empresa líder em consultoria de gestão, projeta que as carnes à base de plantas representarão 10% do mercado de carnes já em 2025. Os desafios já começam a aparecer. Um novo relatório do The Good Food Institute aponta que o setor de alternativas vegetais pode ter problemas para suprir a demanda projetada para 2030. A pesquisa identificou entraves sobre a disponibilidade de volume para o fornecimento global de ingredientes essenciais para a indústria (como óleos, gorduras e proteínas). O estudo concluiu ainda a necessidade de investimento em infraestrutura, modernização das instalações de processamento existentes e colaboração entre os stakeholders do setor para que esse mercado prospere. O CEO da Impossible Foods admite no estudo que uma transição completa para um sistema alimentar à base de plantas enfrentará, sim, vários obstáculos e desafios porque carne, laticínios e ovos são um componente importante da dieta humana e a criação de gado é parte integrante das economias rurais em todo o planeta. Quase 2 bilhões de pessoas, a maioria no Sul Global, criam seus próprios animais para alimentação e renda – embora comam muito menos carne do que os consumidores de nações ricas. Essas pequenas fazendas produzem cerca de 80% dos alimentos consumidos na Ásia e na África Suubsaariana, mas estas regiões apresentam os menores índices de consumo per capita por ano de carne do globo (Ásia: 26.6kg e África (toda): 13kg). Por esses motivos, Brown e Eisel apontam o Ocidente como o principal responsável pelas altas emissões do setor de alimentos e, assim como o estudo da Nature Food, concluem que o foco da transição alimentar deve estar nesses países que, representando 68% do PIB global, é onde a mudança causaria o maior impacto positivo para o clima. Contudo, é importante dividir a responsabilidade dessa transição alimentar globalmente. Essa é uma mudança que, para ser efetiva, precisa acontecer do lado de quem produz e