Parte planta, parte carne: como os alimentos híbridos suprem duas demandas com um único produto

Texto: Victoria Gadelha Revisão: Vinícius Gallon Novos estilos de vida mais conscientes e preocupados com a saúde e o meio ambiente têm estimulado o surgimento de novos gêneros alimentares, como o flexitarianismo, em que o consumidor diminui o consumo de produtos de origem animal sem interrompê-lo completamente. Enquanto as alternativas à base de plantas já possuem um lugar consolidado na dieta dos veganos e vegetarianos, os alimentos híbridos (blended, em inglês) vieram para atingir um público que se importa com saúde e sustentabilidade mas não quer abrir mão da experiência sensoral e da nutrição associadas à carne animal. Incorporar vegetais em pratos tradicionalmente feitos somente de carne, tornando-os híbridos, é uma forma de mudar a dieta dos consumidores sem a necessidade de grandes mudanças no estilo de vida. Em vez de “plant-based”, é “plant forward”: esse termo guarda-chuva inclui qualquer dieta ou padrão alimentar de quem se compromete a comer mais vegetais e menos carne, mas não busca eliminar todos os produtos de origem animal nem se rotular de forma mais estrita. Os motivos, de acordo com o relatório “The Power of Meat”, lançado em 2020 pela The Food Industry Associaton (FMI), incluem o fato desses produtos facilitarem uma maior ingestão de vegetais e proporcionarem uma maneira mais saudável de comer carne. Além de serem melhores para a saúde do consumidor (por conterem menos gorduras saturadas, colesterol e sódio, mais fibras e vitaminas) os produtos híbridos também são melhores para o meio ambiente, uma vez que a pecuária é uma das atividades que mais poluem, desmatam e emitem gases de efeito estufa na atmosfera. Segundo o World Resources Institute (WRI), os norte-americanos comem 10 bilhões de hambúrgueres todos os anos. De acordo com o instituto, se um terço da carne em cada hambúrguer fosse substituída por cogumelos, seria economizada uma quantidade de água equivalente ao uso anual de água doméstica de 2,6 milhões de americanos. Em relação à poluição atmosférica, seria o equivalente a tirar 2,3 milhões de carros – e suas emissões de CO2 – das ruas por ano. Se tratando de terras, o WRI relata que o “blend” nos hambúrgueres reduziria o uso global de áreas agrícolas em mais de 36.260 km2, uma área que equivale a 4,395 campos de futebol. Fora o impacto ambiental, a estratégia de incrementar vegetais em alimentos de origem animal também pode reduzir os custos de produção e comercialização de vários produtos. No caso da carne cultivada, por exemplo, misturar uma porcentagem de vegetais nas células animais é essencial para baratear sua produção que, apesar de já ser uma realidade, enfrenta desafios relacionados à redução de custos, aumento de escala e regulamentação legal. O único lugar no mundo em que a carne cultivada já está aprovada para venda é em Cingapura. No final de 2020, a marca Eat Just lançou sob o nome de GOOD Meat o primeiro frango cultivado híbrido, usando 70% de frango cultivado e 30% de base vegetal. Enquanto a demanda por carne cresce, ao mesmo tempo em que a demanda por alternativas vegetais também, as empresas que produzem alimentos híbridos se posicionam bem entre as duas categorias. Nos últimos dois anos, gigantes do mercado embarcaram na tendência e adicionaram linhas híbridas aos seus catálogos de produtos. A Tyson, maior processadora de carne dos EUA, lançou pela marca Aidells Whole Blends salsichas e almôndegas de carne com misturas vegetais, como frango com espinafre e queijo feta ou frango com abacaxi desidratado. Já a Applegate criou um hambúrguer híbrido feito de carne de vaca com couve-flor, espinafre, lentilha e abóbora, e outro feito de peru com batata-doce, feijão branco, couve e cebola. Por utilizarem menos carne animal, eles conseguiram utilizar um produto “grass fed”, ou seja, de animais que foram alimentados naturalmente no pasto, sem o uso de rações com grãos e remédios. Cada hambúrguer da marca (106g) entrega por volta de 1⁄3 de xícara de vegetais. A Lisanatti Foods foi além e lançou um queijo híbrido: a mozzarella vegetal, à base de amêndoas, é misturada com caseína (proteína derivada do leite), permitindo que o queijo vegetal imite bem a textura do queijo animal. Dessa forma, o produto é apto para vegetarianos, flexitarianos e para o consumidor comum, mas não para quem é vegano ou tem alergia à proteína do leite de vaca (APLV). A Misfit Foods, que até 2019 era uma empresa que produzia sucos prensados a frio a partir de frutas imperfeitas (que seriam jogadas fora), decidiu entrar no ramo das carnes híbridas. Motivada pela urgência ambiental aliada à crescente demanda do mercado, a marca criou produtos misturados (como hambúrguer bovino com beterraba ou salsicha de frango com cenoura e curry) que vêm numa proporção de 50 a 60% carne e 40 a 50% vegetais, oferecendo ao consumidor um bom “empurrão” para longe da carne, mesmo enquanto ele come carne. A Perdue, que está entre as principais empresas de grãos e de processamento de frango, peru e porco nos EUA, lançou também em 2019 a Chicken Plus, uma linha voltada para o público infantojuvenil que oferece nuggets híbridos, feitos de frango com couve-flor, grão de bico e proteínas vegetais. Essas formulações, feitas com ingredientes naturais, permitem que no mínimo 1⁄3 da carne animal seja substituída pela proteína à base de plantas, aumentando tanto o rendimento quanto o valor nutricional do produto (adicionando mais fibras e minerais, mantendo o nível de proteína e reduzindo calorias, gorduras e colesterol). Por mais que a presença de produtos híbridos seja relativamente nova nos supermercados, o conceito não é novidade entre chefs e cozinheiros. A James Beard Foundation é uma organização sem fins lucrativos que defende um padrão de qualidade baseado no talento e na sustentabilidade, apoiando pessoas que formam a cultura alimentar da América através de seus Programas de Impacto. E um dos programas de maior sucesso é o Blended Burger Project: desde 2015, a fundação, em parceria com o Mushroom Council, desafia chefs de todos os Estados Unidos a criarem hambúrgueres que sejam mais saudáveis e sustentáveis, substituindo 25% da carne
GFI Brasil organiza workshop sobre carne cultivada para representantes da ANVISA e do MAPA

Em março deste ano, a BRF anunciou uma parceria com a startup israelense Aleph Farms para produzir carne cultivada no Brasil, com a promessa de comercializar produtos nos supermercados já em 2024. A notícia foi recebida com entusiasmo pelo setor de proteínas alternativas, mas também levantou inúmeras questões, especialmente relacionadas ao processo de produção e regulação da tecnologia de cultivo celular. Por isso, o The Good Food Institute Brasil organizou um workshop para reguladores brasileiros, com foco nas equipes do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (DIPOA/MAPA) e da Gerência Geral de Alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (GGALI/Anvisa). Durante os dois primeiros dias de evento, realizados em 17 e 22 de junho, foram apresentadas informações sobre a técnica de cultivo celular para a obtenção de produtos cárneos, além de pontos de atenção que devem ser considerados no processo de regulação, com especial atenção às questões de segurança do processo e do produto final. O público, formado por 70 profissionais, teve a oportunidade de assistir às exposições da física e professora do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, Dra. Aline Bruna da Silva; do biólogo e professor da UniSociesc, Dr. Bruno Bellagamba; do cientista do The Good Food Institute Estados Unidos, Dr. Elliot Swartz; e do engenheiro químico e professor da Universidade Federal de Santa Catarina, Dr. Luismar Porto. As instalações e os desafios de escala A fim de alinhar o conhecimento sobre a técnica e deixar todos na mesma página, o professor Luismar fez um breve resumo sobre como é o processo de cultivo celular para a obtenção da carne cultivada. “Tecnicamente, estamos falando de um produto à base de agregados de células animais produzidas em biorreatores. Fundamentalmente, o processo envolve a coleta de células, que podem vir de uma biópsia ou de uma célula embrionária. Essas linhagens celulares primárias eventualmente serão utilizadas para bancos de células, para posterior expansão ou multiplicação celular em biorreatores específicos”, explicou. Comparando a produção convencional com a produção de carne cultivada, Luismar destacou entre os principais benefícios que podem ser alcançados com a técnica, a produtividade. “O tempo que se leva para obter carne bovina é da ordem de dois anos, com uma baixa conversão nesse processo. Uma pequena parte dos nutrientes e da energia utilizada para obter essa carne é disponibilizada no final como proteína para alimentação humana. Enquanto que, para a carne cultivada, é possível obter proteína para consumo em cerca de duas semanas”. E os impactos apontados não se limitam a isso. Segundo o professor, há também vantagens para o meio ambiente. “Além do ganho de tempo, teremos ganhos indiretos, como a diminuição do uso de terras, não só para a criação de gado, por exemplo, mas para a plantação de alimentos para esses animais. Deixa de ser necessária a criação, o confinamento, o abate e o transporte e vai direto para o processamento, a partir dessa base biotecnológica que está muito centrada nos biorreatores”. Apesar de soar futurista, os biorreatores são equipamentos amplamente utilizados na indústria de bebidas e alimentos. Por exemplo, para a produção de cerveja e produtos lácteos. No entanto, os biorreatores teciduais são diferentes dos utilizados para fermentação, pois normalmente precisam atender à necessidade de que as células animais, sobretudo quando cultivadas de forma isolada, são muito sensíveis aos esquemas de agitação e mistura. “Temos biorreatores de parede rotativa, de movimento ondulatório, de cultura celular e bioimpressora. No entanto, são biorreatores comerciais, o desafio é criar um biorreator de escala industrial”. Como resultado final desse processo industrial, espera-se obter um produto que mimetize a experiência sensorial da carne convencional em aparência, textura e sabor. No entanto, para o professor Luismar, a tecnologia de cultivo celular pode ir além. “Eu quero crer que, no futuro, não haverá um comprometimento da indústria em apenas mimetizar a carne convencional. Eu gosto da analogia de que “sorvete não dá em árvore”, e, no entanto, as pessoas preferem comer o sorvete do que os seus componentes naturais. Então, é muito possível que essa tecnologia gere um conjunto de novas estruturas à base de proteínas animais, e que não necessariamente mimetizam a carne obtida pelo processo convencional”. No entanto, para que tudo isso aconteça no Brasil, ao ponto de colocar o país no mapa da tecnologia de cultivo celular, é preciso acelerar as inovações e as pesquisas neste campo. “Atualmente, as iniciativas estão mais concentradas nos Estados Unidos, Europa, Israel, alguns países da Ásia, como Cingapura e China, além da Austrália. O maior gap está na África e na América Latina, com poucas iniciativas em andamento. Estamos, aparentemente, perdendo o compasso”, conclui o professor. Da biópsia ao biorreator Seguindo com as exposições, o professor Bruno Bellagamba enfatizou a importância do evento. “Poder discutir todos esses assuntos do ponto de vista regulatório, com as agências reguladoras, é um momento histórico para o país.”. Em sua fala, Bellagamba apresentou aspectos relevantes sobre as primeiras etapas do processo de cultivo celular. A partir de dados do grupo de estudos do professor Mark Post, conhecido por produzir o primeiro hambúrguer cultivado em 2013, o pesquisador apresentou as duas formas de fazer a biópsia para retirada de células do animal: por agulha ou por incisão. De acordo com o professor, a biópsia por agulha gera pouco ou nenhum desconforto ao animal e exige pouca sedação e analgesia. No entanto, obtém-se pouca quantidade de amostra de células, cerca de 0,5g, exigindo várias amostragens. Já a incisão, processo para obter músculo e tecido adiposo, garante maior quantidade de tecido, cerca de 10g a 15g, resultando em apenas uma amostragem por animal. Contudo, gera maior desconforto e exige maior dose de analgésicos e sedativos. “Portanto, também há uma questão de bem-estar animal para escolher entre um método e outro”, afirma. Além disso, há, ainda, a questão do risco de contaminação que pode sofrer o material biológico coletado. No procedimento de coleta por agulha o potencial de contaminação é baixo porque a incisão é bem menor. Já na
UFPR abre inscrições para novo curso sobre carne cultivada e empreendedorismo, em parceria com GFI Brasil e ANEGEPE

A Universidade Federal do Paraná abriu as inscrições para um novo curso sobre carne cultivada, em parceria com o The Good Food Institute e a Associação Nacional de Estudos em Empreendedorismo e Gestão de Pequenas Empresas. A programação inclui conceitos básicos sobre a técnica do cultivo celular para obtenção de carnes, além de apresentar um estudo de caso para discutir oportunidades e desafios deste tipo de produção na prática. Também serão discutidos ecossistemas empreendedores e sua relevância para um setor experimental e baseado em inovação tecnológica como é o da carne cultivada. O curso será ministrado por: – Fernando Gimenez (Escola de Administração da UFPR e ANEGEPE); – Raquel Casselli (Gerente de engajamento corporativo do The Good Food Institute Brasil); – Carla Forte Maiolino Molento (Coordenadora do LABEA e Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária/UFPR); – Alexandre Cabral (Assessor de políticas públicas do The Good Food Institute Brasil); – Eduardo Villar (Escola de Administração da FURB); – Germano Glufke Reis (Escola de Administração da UFPR); A carne cultivada é produzida a partir da reprodução de células em bioreatores em ambiente fabril. É a mesma carne de sempre, mas sem necessidade de criar um grande número de animais nem abatê-los. O impacto ambiental e risco de contaminação por zoonoses também é menor, pois o processo acontece em ambiente controlado. Por ser uma nova técnica no mundo todo, existe a necessidade de mais profissionais para atuar nessa área que está à frente da transformação do sistema de produção de alimentos como conhecemos hoje. É previsto que os primeiros produtos de carne cultivada cheguem ao consumidor brasileiro já em 2024, como anunciado pela multinacional BRF, primeira empresa brasileira a anunciar que desenvolverá o produto no Brasil. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas acessando este link. Dúvidas e solicitação de informações devem ser encaminhadas para o e-mail: carnecultivada2@gmail.com
Novos estudos mostram que a carne cultivada pode ter enormes benefícios ambientais até 2030

Se a energia renovável for usada em sua produção, a carne cultivada provavelmente competirá em custos e terá uma pegada ambiental menor em comparação com a produção de carne convencional em menos de 10 anos. Parece bom demais para ser verdade? Dois novos estudos que analisam o ciclo de vida e a tecno-economia da produção de carne cultivada em escala comercial apóia a afirmação. Esses relatórios recém-lançados, uma avaliação do ciclo de vida (LCA) e uma avaliação técnico-econômica (TEA), são os primeiros relatórios a serem informados por dados fornecidos por empresas envolvidas na cadeia de abastecimento de carne cultivada. Mais de 15 empresas e um órgão científico do governo (de Cingapura) participaram, incluindo cinco fabricantes de carne cultivada. Os estudos usaram dados da indústria para modelar como a carne cultivada pode ser produzida até o ano de 2030 e avaliaram os custos e impactos ambientais de uma instalação em escala comercial que produz 10.000 toneladas métricas de um produto de carne cultivada no solo por ano. Leia o relatório TEA Leia o relatório LCA A energia renovável é crítica para realizar todo o potencial da carne cultivada O LCA foi o primeiro estudo a analisar cenários de produção de carne cultivada alimentada por uma matriz energética convencional média versus uma matriz energética renovável. Se as energias renováveis forem usadas, a pegada de carbono da produção de carne cultivada cai em 80%. Mesmo quando comparado a um cenário extremamente otimista projetando impactos ambientais reduzidos da agricultura animal convencional (incluindo energia renovável em fazendas e operações de ração), a carne cultivada produzida com energia renovável reduz os impactos do aquecimento global em 17%, 52% e 85% a 92% em comparação à produção convencional de frango, porco e boi, respectivamente. Espera-se que essas conclusões sejam altamente robustas, já que o estudo também considera a incerteza na produção de carne cultivada, assumindo de forma conservadora o alto uso de energia na instalação, o que é representativo de uma estimativa superior. Comparação do impacto ambiental da carne cultivada (quando produzida por meio de energia renovável) Ganhos semelhantes não são esperados na indústria de carne convencional, onde os combustíveis fósseis são responsáveis por aproximadamente 20% das emissões de carbono em toda a cadeia de abastecimento. Os países que visam reduzir sua pegada de carbono podem, portanto, alcançar uma taxa maior de redução de emissões se substituírem cada vez mais sua produção de carne por carne cultivada. Os benefícios vão além das emissões de carbono A LCA mostra que a carne cultivada é 3,5 vezes mais eficiente do que o frango convencional (a forma mais eficiente de produção de carne convencional) na conversão de ração em carne. Como consequência, a produção de carne cultivada reduz o uso da terra em 63% a 95% em comparação com a carne convencional. Se esta terra for cuidadosamente reaproveitada para reconstruir ecossistemas e sequestrar carbono ou simplesmente cultivar mais alimentos comestíveis para humanos, podemos compensar significativamente as emissões de carbono (um benefício não incorporado à LCA) e enfrentar os desafios globais de segurança alimentar. Reproduzido da Tabela 6 do relatório LCA. * A taxa de conversão de alimentação é <1 devido à diferença no conteúdo de água entre entradas e saídas. ** Não inclui gramíneas não comestíveis humanas no cálculo. Em alinhamento com estudos anteriores, a carne cultivada também deve ser menos poluente (redução de 29% a 93%) em comparação com todas as formas de carne convencional e usar significativamente menos água azul (redução de 51% a 78%), encontrada em reservatórios de água superficial e subterrânea, do que a produção convencional de carne bovina (quase o mesmo que frango e porco). Mudar para carne cultivada pode trazer outros benefícios positivos, incluindo mitigação de resistência a antibióticos, doenças transmitidas por alimentos e risco de doenças zoonóticas associadas à agricultura animal convencional, restauração de habitats terrestres e marinhos e uma diminuição da taxa de perda de biodiversidade. Um roteiro para o sucesso Esses estudos apresentam o quadro mais completo dos custos e impactos ambientais da produção de carne cultivada em grande escala até o momento. No entanto, existem lacunas de dados e as suposições podem mudar à medida que a nascente indústria de carne cultivada amadurece. As descobertas não devem ser tomadas como verdades imutáveis ou como limites inferiores absolutos de custos e impactos ambientais da carne cultivada. Em vez disso, os insights dos relatórios podem ser usados para abordar gargalos técnicos e econômicos e servir como orientação para as partes interessadas para promover o desenvolvimento e a implantação de carne cultivada. Leia os resumos dos relatórios do GFI para públicos técnicos e principais interessados. Resumo técnico do público Recomendações para stakeholders Sobre os parceiros e funções do estudo: O estudo LCA foi encomendado pelo GFI e GAIA, que emprestaram sua experiência para auxiliar no processo de pesquisa e se conectar aos parceiros de dados. CE Delft foi independente na realização da análise e redação dos relatórios. Dados brutos de empresas não foram compartilhados com GFI ou GAIA. O estudo TEA foi encomendado pelo GFI. Todas as outras funções do projeto foram as mesmas mencionadas acima. Esses relatórios foram possíveis graças ao apoio da família de doadores da GFI.
GFI Brasil celebra parceria entre BRF e Aleph Farms para produzir carne cultivada no Brasil

O The Good Food Institute Brasil celebrou esta semana a parceria firmada entre a multinacional BRF e a foodtech israelense Aleph Farms para o desenvolvimento da carne cultivada brasileira. A colaboração entre as empresas, que conta com o apoio e expertise do GFI Brasil, visa produzir em larga escala, preço acessível e competitividade a carne feita através de células animais para complementar o mercado de proteínas animais. A BRF, que é a segunda maior produtora de aves do mundo, quer oferecer o produto nos supermercados em 2024. “Esse é um dia importante, não só para o mercado de carnes e de proteínas alternativas, mas também para o agronegócio e o Brasil de maneira mais ampla. É mais um passo que nós damos em direção a uma produção cada vez mais sustentável de carne. A parceria anunciada pela BRF e Aleph Farms para produção e comercialização de carne cultivada no país só reforça o potencial desse setor, que vem crescendo muito nos últimos anos.”, analisa a gerente de engajamento corporativo do GFI Brasil, Raquel Casselli. Inicialmente, as empresas deverão adaptar a tecnologia de carne cultivada desenvolvida pela Aleph Farms ao gosto dos consumidores brasileiros. Assim que for encontrada uma produção viável, as empresas passarão para a próxima etapa que é construir uma unidade no Brasil. Um dos principais desafios do projeto será criar um produto acessível ao consumidor. O CEO da Aleph, Didier Toubia, disse em entrevista à Bloomberg que espera que a carne cultivada encontre paridade de custo com a carne tradicional mais rapidamente do que a primeira geração de carne feita à base de plantas. Uma produção comercial a custo competitivo incluiria biorreatores capazes de produzir carne equivalente a 40.000 cabeças de gado em menos de 2 semanas. Isso também permitiria à BRF aumentar a produção rapidamente, caso a demanda cresça depressa. A parceria com a Aleph Farms faz parte de um plano de expansão mais amplo da BRF que visa melhorar os ganhos da empresa por meio da fabricação de produtos de maior valor agregado. A meta do grupo é mais do que dobrar suas vendas atuais de R$39 bilhões para R$100 bilhões em dez anos. Como os rivais globais JBS e Tysson Foods, a BRF montou suas próprias marcas de carnes vegetais, enquanto a entrada no mercado de carne cultivada significa um aumento da aposta da empresa em um mercado alternativo promissor. “ A AT Kurney tem uma projeção de que a carne cultivada deve ocupar 35% do mercado global de carnes até 2040, algo em torno de US $630 bilhões, e o Brasil está olhando para essa oportunidade a fim de se tornar líder desse setor. É um dia para celebrar.”, conclui Raquel.
Carne de peixe cultivada está mais próxima de chegar ao mercado

Depois de duas rodadas de financiamento bem sucedidas, a BlueNalu, empresa americana com sede na Califórnia, anunciou que recebeu novo investimento no valor de US$60 milhões. O novo aporte, inédito até então no setor de pescados cultivados, vai possibilitar com que a empresa siga expandindo suas operações. Entre as próximas atividades previstas, está a construção de fábrica própria e o início de testes de aceitação do produto ainda em 2021. Esses são passos importantes em direção à carne de peixe cultivada chegar ao mercado. O mercado de frutos do mar, avaliado em US$200 bilhões, encontra- se em uma posição extremamente vulnerável por conta do consumo de recursos naturais e das variações do ambiente. Escalar a produção de pescados a partir do cultivo celular vem para introduzir soluções nesse sentido. A BlueNalu está se dedicando a aperfeiçoar a produção de carne de peixe por meio dessa tecnologia para desenvolver produtos sustentáveis. Para isso, planejam introduzir uma grande variedade de frutos do mar cultivados no mercado, começando com as carnes de mahi mahi e atum no fim deste ano. Também estão firmando parcerias-chave nos mercados onde pretendem operar, para que os produtos cheguem às gôndolas mais rápido e a um custo mais acessível. Olhando para o panorama dos pescados vegetais O anúncio da BlueNalu é um feito inédito para a indústria de pescados cultivados. O investimento de US$60 milhões representa o maior aporte que esse setor já recebeu até agora e solidifica a tendência de crescimento que vemos acontecendo no ecossistema de alternativas aos frutos do mar. E a BlueNalu não é a única empresa de frutos do mar alternativos a arrecadar fundos com sucesso em 2021. Na primeira semana de janeiro, a New Wave Foods anunciou a conclusão de uma rodada de $18 milhões da Série A para levar seu camarão vegetal ao mercado. Esses são sinais claros de que os resultados encontrados pelas empresas e pesquisadores estão inspirando a confiança de investidores em injetar recursos significativos em seu crescimento. Restaurantes também expressam a mesma confiança, demonstrando interesse em incorporar a carne de peixe cultivada em seus menus.
Israel tem o primeiro chefe de Estado a experimentar carne cultivada

O feito inédito aconteceu em visita oficial do político à Aleph Farms, empresa israelense de carne cultivada. Provar pela primeira vez um bife de carne de verdade, cultivado inteiramente fora do animal, coloca Israel à frente do movimento de desenvolvimento de proteína animal em ambiente fabril. A empresa sediada em Rehoot é pioneira no desenvolvimento em escala da tecnologia em que uma cultura de células é retirada do gado para fazer com que se desenvolvam sob condições controladas. O processo torna tanto o abate de animais quanto o uso de antibióticos desnecessário, além de usar muito menos recursos naturais como terra e água. Israel vem apostando na tecnologia para prover uma fonte de alimentação segura e estável para sua população e além de ser uma fonte de crescimento econômico especialmente promissora em um momento em que o mundo todo busca por soluções mais sustentáveis para a cadeia de produção de alimentos. A visita, que foi acompanhada pelo diretor do The Good Food Israel Nir Goldstein, passou pelas instalações pelas instalações da fábrica para que o primeiro ministro conhecesse o processo de perto, antes de terminar na degustação da carne cultivada. “É deliciosa e livre de culpa, consigo sentir a diferença”, comentou Benjamin Netanyahu. O primeiro-ministro disse ainda que Israel está a caminho de se tornar uma grande força na liderança dos setores de proteínas alternativas. O país já é visto como terreno fértil para Food Techs em decorrência das inovações na área que nasceram no país, através da articulação da indústria, academia e governo. A própria Aleph Farms nasceu de uma iniciativa conjunta entre duas incubadoras da área de alimentos, The Kitchen Hub e Fresh Start, o Instituto de Tecnologia de Israel e apoio da Autoridade Israelense de Inovação. Resultados como esse comprovam que diversas áreas da cadeia produtiva trabalhando juntas conseguem avançar o setor de alimentos de forma consistente e transformadora, o que pode ser um bom indicativo do que o mercado brasileiro pode se tornar. Na semana passada, Singapura se tornou o primeiro país a estabelecer um marco regulatório específico para carne cultivada, que trará carne cultivada para o mercado. Isso transformará o movimento da carne cultivada de uma visão de longo prazo em uma solução prática concreta que aborda alguns dos desafios mais urgentes do mundo hoje. Aleph Farms, SuperMeat, MeatTech and Future Meat Technologies são algumas das líderes mundiais em carne cultivada, todas estão sediadas em Israel. O Covid-19 e a emergência climática têm servido para apontar como os sistemas alimentares são vulneráveis frente a crises e rupturas, destacando a urgência de estabelecer cadeias de produção de alimentos mais sustentáveis e resilientes. O processo de cultivar carne em ambientes controlados é um importante passo nessa direção, além do potencial para gerar milhares de novos empregos e aquecer a economia. Segundo o Goldstein, “com o apoio do governo, é possível gerar 11.000 novos postos de trabalho e gerar bilhões de retorno para a economia através de exportações tanto de matérias-primas quanto de tecnologias de proteínas alternativas.” Sobre a Aleph Farms A empresa de alimentos Aleph Farms está abrindo um novo caminho como pioneira do ecossistema global de alimentos sustentáveis, trabalhando para cultivar bifes a partir de células não geneticamente modificadas, isoladas de uma vaca, usando uma fração dos recursos necessários para criar um animal para carne e sem antibióticos e que são deliciosos. Em maio de 2019, a empresa levantou US $12 milhões em uma rodada de investimentos da Série A, com participação de parceiros estratégicos e grupos de venture capital. A Aleph Farms foi co-fundada pelo The Kitchen Hub do Strauss Group e o Professor Shulamit Levenberg do Technion – Instituto de Tecnologia de Israel. A empresa é apoiada por alguns dos produtores de alimentos mais inovadores do mundo, como Cargill, Migros e o Grupo Strauss.
Disciplina inédita oferecida pela UFPR vai abrir portas para a produção de alimentos do futuro

Parece ficção científica, mas já é realidade: pesquisadores estão cultivando células em laboratório a fim de produzir carne animal para consumo. A carne cultivada, como é mais comumente chamada, é o foco do debate da nova disciplina ofertada pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com o The Good Food Institute, “Introdução à Zootecnia Celular”. As inscrições vão até o dia 17 de julho deste ano. De acordo com a consultora de ciência e tecnologia do GFI Brasil e uma das professoras da disciplina, Dra. Katherine de Matos, a disciplina ofertada pela UFPR contribuirá com a formação de profissionais capazes de responder aos grandes desafios da atualidade. “Além de alimentar uma população que deve chegar a quase 10 bilhões de pessoas até 2050, temos que aprender a produzir alimentos com menos impacto ambiental e danos à saúde humana. Nesse sentido, o curso de Zootecnia Celular apresentará para os alunos uma série de conhecimentos relevantes no processo de inovação da produção de alimentos, com foco na carne cultivada.”, comenta a consultora. O que chega ao prato não muda, é carne mesmo. A diferença está no processo de obtenção do alimento final. Do jeito tradicional, a produção é feita através da criação, reprodução e abate dos animais. Já a carne cultivada é produzida por meio de uma amostra inicial de célula animal, que depois é inserida em um biorreator, semelhante aos de produção de cerveja, onde são alimentadas com uma mistura de ingredientes que permite que as células cresçam e ganhem estrutura. Segundo previsões da consultoria AT Kearney, até 2040, 35% do mercado global de carne será abastecido por carne cultivada. Essa nova área está em franca expansão e cultivar células será um conhecimento valioso na produção de alimentos em um futuro próximo. O mercado de trabalho vai precisar de profissionais qualificados. “Estamos construindo a possibilidade de participação dos profissionais tradicionalmente envolvidos com a produção de carne nesta nova cadeia. O que era percebido como risco de perda de oportunidades de emprego passa a ser percebido como mais uma atribuição profissional”, diz a doutora Carla Molento, professora responsável pela criação da disciplina na UFPR. As mudanças do mercado estão trazendo novas demandas na indústria da carne e com elas vem grandes oportunidades para os precursores deste processo. A zootecnia celular vem para fazer a ponte entre os novos profissionais e o futuro da alimentação. SERVIÇO Disciplina de Introdução à Zootecnia Celular Inscrições: de 6 a 17 de julho de 2020 Aulas: 28/07, 30/07, 11/08 e 13/08, das 8h30 às 12h30. Modalidade: à distância Carga Horária: 15h Idioma: Inglês Tire suas dúvidas: ppgcv.ufpr@gmail.com Clique aqui e inscreva-se!
O futuro da carne cultivada: desafios e oportunidades no Brasil

O The Good Food Institute, em parceria com o FoodTech Hub Brasil e a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA), realizam no próximo dia 7 de julho, das 16h30 às 17h30 o webinar internacional “O Futuro da Carne Cultivada: Desafios e Oportunidades no Brasil”. O evento é online, em português, e contará com a participação das startups Memphis Meat e Just. A carne cultivada é uma nova frente tecnológica que utiliza técnicas de reprodução de tecidos para obtenção de carne com a mesma estrutura molecular do produto convencional. Deve chegar no mercado em até 3 anos, e será uma frente com enorme potencial no setor de proteínas alternativas. Apesar dessa inovação já estar bem mais desenvolvida em outros países, já existindo startups com investimento pós Séries A garantidos, o Brasil tem as condições necessárias para começar a investir no setor. A carne cultivada é uma nova frente tecnológica que utiliza técnicas de reprodução de tecidos para obtenção de carne com a mesma estrutura molecular do produto convencional. Deve chgar no mercado em até 3 anos, e será ma frente com enorme potencial no setor de proteínas alternativas. Apesar dessa inovação já estar bem mais desenvolvida em outros países, já existindo Por isso, o objetivo do evento é ampliar o conhecimento do público brasileiro sobre o tema e inspirar novos empreendedores a também pensarem sobre essa oportunidade de negócio a partir das experiências das startups convidadas e do conhecimento técnico dos realizadores. Conheça as Startups A Memphis Meat está baseada em San Leandro, CA, USA e foi fundada em 2015 pelos empreendedores Uma Valeti, Nicholas Genovese e Will Clem, e já recebeu aportes de USD 22 MM (Series A) e no início de 2020 recebeu mais USD 186 MM (Serie B), totalizando mais de USD 200 MM de investimentos. Produzem carne cultivada tais como: carne de vaca, frango e pato. A Just está baseada em São Francisco, CA, USA, e foi fundada em 2011 pelos empreendedores Josh Tetrick e Josh Balk e já recebeu aportes de USD 372 MM (Series E), produzem diversos produtos de frango de proteína vegetal. Confira a Programação: 16h30 – Abertura: Felipe Krelling – GFI Brasil; 16h40 – Introdução & Cadeia de Alimentos no Brasil. Paulo Silveira, Food Tech Hub Brasil 16h45 – Memphis Meat – Maria Macedo 16h55 – Just – Vitor Santo 17h05 – Alexandre Novachi – ABIA 17h15 – Q&A 17h30 – Encerramento Inscreva-se