O The Good Food Institute (GFI), organização global dedicada ao avanço das proteínas alternativas, tem promovido e fomentado o desenvolvimento de ingredientes de origem vegetal para aplicação em análogos vegetais por meio de pesquisas científicas, articulação com a indústria e programas de financiamento no Brasil e no exterior. Entre as diversas possibilidades de matérias-primas vegetais com potencial para atender a demanda crescente por análogos vegetais, o feijão tem se destacado como um ingrediente promissor, ao lado de alternativas mais estabelecidas como a soja e a ervilha.
O feijão reúne diversos atributos positivos quando comparado à soja e à ervilha, como uma produção nacional já consolidada, menor dependência de importações, custo competitivo, boa adaptação agronômica e maior aceitação entre consumidores sensíveis a alergênicos. Além disso, sua diversidade de espécies e perfis funcionais e nutricionais permite uma ampla adaptação a diferentes contextos produtivos. Isso favorece sua inserção em políticas públicas de alimentação e agricultura familiar. Do ponto de vista nutricional, o feijão se destaca por oferecer proteínas de boa qualidade, fibras, micronutrientes e compostos bioativos relevantes para a saúde e um valor energético moderado. Adicionalmente, o feijão se destaca por seus atributos de sustentabilidade, como baixa pegada de carbono, melhora na qualidade do solo e redução da dependência de insumos. Sua diversidade de cores, texturas e sabores amplia possibilidades de formulação em produtos inovadores, incluindo análogos vegetais. Por fim, o cultivo do feijão reforça o papel da agricultura familiar e contribui para o desenvolvimento da bioeconomia regional, alinhando-se às políticas de segurança alimentar e nutricional e fortalecendo sua relevância estratégica tanto para o mercado quanto para a sociedade.
Nos últimos anos, o GFI apoiou estudos estratégicos voltados à avaliação sensorial, tecnológica e funcional do feijão, como o Projeto Feijão Carioca com a EMBRAPA, Projeto Fracionamento a Seco Feijão-caupi com Neuman & Esser (NEA) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Projeto de Melhoria Sensorial com a UFSC e o Estudo com Feijão Mungo conduzido pelo GFI APAC. Nessas iniciativas, o feijão foi reiteradamente apontado por especialistas como uma leguminosa com elevado potencial para aplicação em análogos vegetais, devido à sua ampla disponibilidade, alto teor proteico e equilíbrio nutricional. No entanto, sua aplicação em larga escala ainda enfrenta desafios tecnológicos relevantes, como presença de off-flavors (ex: beany flavor, amargor e/ou adstringência), presença de antinutricionais, aproveitamento integral do grão (casca, fração proteica e amilácea) e limitações funcionais, que demandam avanços em processamento e formulação para ampliar sua competitividade em análogos vegetais.
Neste contexto, o feijão se posiciona como uma alternativa estratégica para ampliar e diversificar o portfólio de ingredientes vegetais da indústria, especialmente diante da crescente busca por autonomia produtiva, soluções sensoriais aprimoradas e redução de custos. No entanto, para que esse potencial seja plenamente alcançado, ainda são necessárias ações coordenadas de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para enfrentar os desafios tecnológicos atualmente existentes. Este documento reúne estratégias e oportunidades prioritárias de P&D voltadas ao aproveitamento tecnológico do feijão, considerando rotas de processamento seco, úmido e híbrido, bem como, tecnologias emergentes, em consonância com as demandas da cadeia produtiva de proteínas alternativas. Além disso, oferece um panorama abrangente sobre o ingrediente, sistematizando dados técnicos, funcionais, nutricionais e de sustentabilidade, bem como suas aplicações potenciais em formulações vegetais.