A hora e a vez do “ouro brasileiro”: soja busca mais destaque na alimentação humana

Quando se fala em “Brasil” e “soja”, a associação é quase imediata: atualmente, o país ocupa a liderança como maior produtor global de soja, alcançando aproximadamente 155 milhões de toneladas na última safra. Esse patamar ultrapassa a produção dos Estados Unidos, estimada em cerca de 113 milhões de toneladas, e da Argentina, com algo em torno de 50 milhões de toneladas — números confirmados por instituições como FAOSTAT, USDA e Conab. Seguindo o seu legado de protagonista no campo brasileiro, a soja pode, agora, ganhar um papel renovado no prato do consumidor — e não apenas como óleo de cozinha. Um relatório recém-lançado pelo The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil) aponta caminhos para que o grão se consolide como a base proteica de uma nova geração de alimentos análogos à carne, produtos vegetais que imitam sabor, textura e aparência de carnes tradicionais. O documento é fruto de um fórum técnico que reuniu pesquisadores, produtores e representantes da indústria para debater como melhorar a qualidade e a competitividade da soja brasileira nesse mercado emergente. Baseado em escuta qualificada com especialistas de 12 instituições que possuem trabalho profundo com o grão – sendo 7 da academia, 3 da indústria de ingredientes e 2 da indústria de alimentos –, foi possível elaborar diretrizes e mapear oportunidades de pesquisa nesse setor. O que torna a soja um ingrediente central para o mercado de carnes vegetais brasileiro? Barreiras e oportunidades Pesquisas de mercado mostram que o preço é o maior obstáculo para a popularização dos análogos cárneos. Em segundo lugar, consumidores apontam sabor e textura insatisfatórios e desconfiança em relação ao uso de soja ou transgênicos. A solução, diante disso, não é negar os problemas, mas usá-los como um impulso: o relatório aponta que os responsáveis pela manufatura podem ampliar a oferta de infraestruturas locais de inovação e investir em pesquisa aplicada para que cientistas, por sua vez, possam criar caminhos tecnologicamente acessíveis para uma melhor experiência sensorial e eficiência produtiva. Ciência e tecnologia no campo e na indústria Nesse cenário, apesar da abundância da matéria-prima, grande parte dos ingredientes derivados de soja usados pela indústria de carnes vegetais no Brasil ainda é importada, a exemplo de proteínas isoladas e concentradas, que apresentam elevado desempenho funcional. No entanto, em contraponto a isso, o relatório enxerga na farinha de soja desengordurada uma alternativa mais acessível e amplamente disponível no Brasil para a produção de ingredientes voltados ao mercado de carnes vegetais análogas. “Trata-se de um insumo versátil e com perfil nutricional relevante — rico em proteínas, fibras e minerais —, além de apresentar menor nível de processamento e custo reduzido em relação aos concentrados e isolados proteicos de soja. Seu caráter mais integral, aliado ao potencial de utilização em produtos voltados para acessibilidade, valor nutricional e apelo clean label, faz dele uma opção de destaque para formulações em grande escala”, afirma Graziele Grossi Bovi Karatay, especialista em Ciência e Tecnologia do The Good Food Institute Brasil. O relatório também destaca a necessidade de criar cultivares com maior teor e qualidade de proteína, perfil nutricional aprimorado e menor presença de compostos antinutricionais, reforçando a necessidade de pesquisa em melhoramento genético, já no processamento, tecnologias como a fermentação aparecem como uma estratégia para melhorar sabor e aroma de produtos finais. Um novo – e sustentável – ciclo para a soja Se bem planejadas e implementadas, essas ideias podem abrir um novo ciclo econômico para a soja brasileira, diversificando seu uso e ampliando seu valor agregado. Para agricultores, significa possibilidade de novos mercados; para a indústria, mais autonomia e competitividade; e para o consumidor, produtos mais saborosos, nutritivos e acessíveis. “Fortalecer o papel da soja nos análogos à carne é uma estratégia que une ciência, agronegócio e inovação para responder a demandas globais por proteínas mais sustentáveis — mantendo o Brasil na liderança, agora também no campo das alternativas vegetais”, conclui Raquel Caselli, Diretora de Engajamento Corporativo do GFI Brasil. Leia o artigo na íntegra
Uma categoria em construção: os caminhos para destravar o mercado brasileiro de carnes vegetais

Apesar dos avanços tecnológicos e da crescente presença de produtos nas gôndolas desde 2019, a categoria de carnes vegetais ainda enfrenta barreiras para se consolidar no prato do consumidor. O novo estudo “Uma Categoria em Construção”, conduzido pelo Good Food Institute Brasil (GFI Brasil) em parceria com a consultoria Consumoteca, revela que o desafio não é apenas técnico ou de preço, mas cultural e estratégico: a carne vegetal precisa deixar de ser percebida como substituto restritivo para se tornar uma adição positiva e relevante no cotidiano alimentar do brasileiro. A pesquisa partiu de um tripé metodológico composto por desk research, entrevistas em profundidade com consumidores de diferentes perfis e conversas com especialistas de categorias que conseguiram se consolidar no mercado. O objetivo foi entender como o brasileiro se relaciona com a alimentação, quais símbolos sustentam a centralidade da carne no prato e de que forma a categoria de carnes vegetais pode conquistar relevância sem impor renúncias. Principais achados da pesquisa O diagnóstico é claro: no Brasil, comer é um ato carregado de significados. Mais do que nutrientes, buscamos sabor, prazer, união familiar e sustância. A carne, nesse contexto, ocupa lugar de destaque — é fonte de saciedade, símbolo de status e elemento de pertencimento social. Tirar a carne do prato, para muitos, significa abrir mão de identidade, prazer e saciedade. Essa dimensão simbólica explica por que o vegetarianismo e o veganismo enfrentam resistência, sendo ainda percebidos como estilos de vida restritivos. E, por associação, as carnes vegetais acabam sendo vistas como produtos “de nicho”, exclusivos para aqueles que, por diversas razões, rejeitam a carne animal, e não porque consideram as opções plant-based melhores. O estudo mostra, porém, que há um público em expansão que já reconhece valor nas alternativas vegetais. São consumidores que buscam saúde, leveza e equilíbrio na alimentação. Para eles, a carne vegetal é um aliado funcional: preserva a experiência do sabor, mas com menos gordura e sem a “culpa” associada ao excesso de carne vermelha. Ainda assim, a recompra depende de três fatores centrais: sabor que surpreende, preparo descomplicado e preço competitivo. Desvendando categorias de sucesso “Quando analisamos o histórico de outras categorias que conseguiram vencer resistências culturais, encontramos elementos comuns: clareza de benefícios, definição de ocasiões de consumo, forte exposição no mercado, narrativas simbólicas consistentes e acesso facilitado. Cervejas sem álcool, por exemplo, prosperaram ao resolver a tensão entre socialização e moderação, comunicando prazer sem ressaca. Bebidas proteicas cresceram ao associar conveniência à busca por saúde e performance. Já o leite condensado conquistou relevância ao se tornar parte do repertório afetivo das sobremesas brasileiras”, explica a autora do Estudo, Camila Lupetti, especialista em Inteligência de Mercado no GFI Brasil. Direcionais estratégicos para a categoria Inspirado nesses cases, o GFI Brasil propõe sete direcionais estratégicos para as carnes vegetais. Entre eles, posicionar os produtos como resposta a tensões reais — como a busca por prazer sem culpa —; comunicar benefícios de forma emocional e não apenas técnica; ampliar o portfólio para além de hambúrgueres e nuggets; definir ocasião e formado de consumo; expandir marketing e distribuição; transmitir status e escolher influenciadores que transmitam modernidade e saúde em vez de radicalismo ideológico. A categoria, defendem os autores, deve ser reconhecida pelo que ela oferece de benefícios e não por representar uma restrição ou um sacrifício em relação ao que se deseja comer. As recomendações finais do relatório reforçam a necessidade de políticas públicas e investimentos estratégicos para acelerar esse processo. Incentivos à produção nacional de proteínas vegetais, apoio à inovação científica e financiamento climático são apontados como caminhos para que o Brasil consolide sua posição de liderança global no setor. Para Gustavo Guadagnini, CEO do GFI Brasil, a oportunidade é única: “Temos biodiversidade, capacidade produtiva e relevância geopolítica. Fortalecer a cadeia de proteínas alternativas é mais do que uma questão ambiental: é um vetor de competitividade industrial, geração de empregos e segurança alimentar.” A mensagem central do estudo é que o futuro das carnes vegetais no Brasil não depende apenas de tecnologia ou preço, mas de relevância cultural e conexão direta com os anseios dos consumidores. O desafio é conquistar esse consumidor pelo sabor, conveniência e prazer — entregando ganhos reais em vez de pedir (ou destacar) renúncias. Só assim a categoria poderá deixar de ser promessa e se consolidar como parte estruturante da alimentação brasileira e da indústria de alimentos no país. Leia o estudo completo.
Todos os planos climáticos devem considerar o setor de alimentos. Saiba o que diferentes setores podem fazer para contribuir

Quando pensamos em mudanças climáticas, a atenção costuma recair sobre energia, transportes e desmatamento. No entanto, o sistema agroalimentar, especialmente a produção de carne, é igualmente determinante e muitas vezes permanece à margem das grandes estratégias. Hoje, ele responde por ⅓ das emissões globais de gases de efeito estufa, pela perda de biodiversidade e pela pressão sobre recursos hídricos e terras cultiváveis. A boa notícia é que já existe um caminho capaz de transformar esse cenário: as proteínas alternativas. Desenvolvidas a partir de plantas, por fermentação ou por cultivo celular, essas tecnologias oferecem não apenas uma forma mais sustentável de produzir proteína, mas também um poderoso instrumento para alinhar metas de segurança alimentar, saúde pública e clima. Relatórios do Banco Mundial e da Universidade de Chicago mostram que as proteínas alternativas podem evitar até 6,1 gigatoneladas de CO₂ equivalente por ano — o mesmo que reflorestar seis vezes a área do estado do Amazonas — além de contribuir para o combate à desnutrição e para a redução do preço dos alimentos. Em outras palavras, nenhum plano climático estará completo sem considerar esse setor. Para que isso aconteça, é fundamental que diferentes atores estratégicos incorporem as proteínas alternativas em seus planos, investimentos e políticas públicas. A seguir, exploramos o papel de cinco setores-chave nesse processo: Academia, Setor Privado, Governos, Filantropia, Bancos e Instituições Multilaterais. Academia: ciência e inovação a serviço do clima O papel das universidades e dos centros de pesquisa é insubstituível. São eles que produzem conhecimento, formam profissionais e oferecem a base científica para políticas públicas eficazes. Ao investir em proteínas alternativas, a Academia fortalece a liderança científica em ciências da vida, engenharia e tecnologia, ciências sociais e políticas. Isso significa formar pesquisadores e profissionais capazes de sustentar o crescimento desse novo setor, além de gerar evidências sobre segurança alimentar, nutrição, consumo e impacto socioambiental. Integrar a diversificação de proteínas às agendas de pesquisa e ensino — seja em linhas de pesquisa, cursos de pós-graduação ou hubs de inovação — é essencial para transformar potencial em impacto real. Setor Privado: inovação, escala e novos mercados Empresas de alimentos e tecnologia são as grandes alavancas para levar essas inovações ao mercado. Ao investir em proteínas alternativas, a indústria não apenas diversifica seu portfólio, mas também responde a uma demanda crescente por produtos mais sustentáveis e alinhados às preocupações climáticas e de saúde. Para os líderes empresariais, trata-se de uma oportunidade estratégica: reduzir riscos relacionados à dependência de cadeias de suprimentos vulneráveis, inovar em produtos de alto valor agregado e conquistar consumidores cada vez mais atentos ao impacto ambiental de suas escolhas. Bancos e Instituições Multilaterais: canalizando capital para soluções climáticas Nenhuma transição acontece sem financiamento. Bancos de desenvolvimento, fundos de investimento e instituições multilaterais têm um papel crucial em incluir proteínas alternativas em seus portfólios de financiamento climático. Hoje, bilhões de dólares são direcionados para energias renováveis e mobilidade sustentável. Mas se o setor de alimentos representa quase um terço das emissões globais, por que não direcionar recursos também para inovações que podem transformar radicalmente essa equação? Incorporar proteínas alternativas aos planos de financiamento verde significa alinhar investimento ao impacto real, acelerando a descarbonização do setor. Governos: políticas públicas e planos climáticos nacionais (NDCs) Sem políticas públicas, a inovação não escala e não beneficia toda a sociedade igualmente. Os governos precisam reconhecer oficialmente as proteínas alternativas como soluções climáticas e incluí-las em seus Planos Nacionais de Ação Climática (NDCs). Isso envolve desde criar regulamentações claras e baseadas em ciência até oferecer incentivos fiscais, apoio à pesquisa e programas de fomento à indústria. Ao adotar medidas assim, os países não apenas reduzem suas emissões, mas também geram empregos de qualidade, fortalecem a segurança alimentar e se posicionam como líderes em inovação sustentável. Filantropia: catalisando impacto e reduzindo riscos O capital filantrópico tem o poder de abrir caminho onde o risco ainda afasta investidores privados. Ao financiar pesquisa, campanhas de conscientização e programas-piloto, a filantropia reduz incertezas e acelera a entrada de novas tecnologias no mercado. Mais do que nunca, é hora de fundações e doadores estratégicos apoiarem o desenvolvimento das proteínas alternativas como parte de sua agenda climática. O retorno é múltiplo: além de reduzir emissões, essas iniciativas contribuem para sistemas alimentares mais justos, acessíveis e resilientes. Da promessa à ação O desafio climático é tão grande que nenhuma solução isolada será suficiente. Precisamos de um conjunto robusto de estratégias — e as proteínas alternativas devem estar no centro dessa agenda. Integrá-las a planos e financiamentos climáticos não é apenas uma opção visionária: é uma necessidade urgente. A próxima década será decisiva para o clima e a segurança alimentar global. Cabe a todos nós — governos, empresas, universidades, bancos, organismos multilaterais e sociedade civil — garantir que a transição alimentar esteja plenamente incluída na transição climática. Se você compõe um desses setores e quer saber como pode contribuir, entre em contato conosco. Veja em detalhes o que cada um dos atores citados no artigo pode fazer para contribuir e para se beneficiar com a inclusão das proteínas alternativas em seus planos climáticos
O mundo precisa de (proteínas) alternativas: transição alimentar como estratégia de mitigação e adaptação climática na COP 30

Proteínas alternativas reduzem emissões, fortalecem a segurança alimentar e impulsionam a economia, sendo essenciais para a agenda climática da COP30.
Não existe futuro climático sem um sistema alimentar resiliente: o que aprendemos em Bonn, no “esquenta” para a COP 30?

Em junho, a cidade de Bonn, na Alemanha, foi palco da 62ª sessão da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (SB62), uma espécie de “ensaio diplomático” que antecede a realização da trigésima Conferência das Partes (COP) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), marcada para novembro, em Belém (PA). Representado por Mariana Bernal, analista sênior de políticas públicas, o The Good Food Institute Brasil esteve presente como um dos observadores da UNFCCC. Confira os principais destaques. Bonn 2025: bastidores dos processos de negociação O GFI Brasil continuou seu trabalho no âmbito do Sharm el-Sheikh Joint Work on Agriculture (SSJWA), onde já havia contribuíndo, em parceria com organizações animalistas aliadas, com submissões em parceria para políticas de alimentação baseada em vegetais. Mas o que é o SSJWA? Essa iniciativa de quatro anos – estabelecida em 2022, em Sharm el-Sheikh, no Egito (durante a COP 27) – dedica-se à implementação de ações climáticas no setor agrícola e de segurança alimentar. Durante a COP29, no Azerbaijão, as entidades vinculadas apresentaram um portal online para exibir essas ações. Países-membro e Organizações da Sociedade Civil (CSOs), como o GFI, foram convidados a participar. Em Bonn, por sua vez, o foco do SSJWA baseou-se em abordagens sistêmicas e holísticas para implementar ação climática em agricultura, sistemas alimentares e segurança alimentar, assim como compreensão, cooperação e integração em planos. Para o SB64, programado para junho de 2026, o segundo workshop do grupo será sobre acesso a meios de implementação para ações climáticas na agricultura e segurança alimentar, incluindo o compartilhamento de melhores práticas. No dia a dia dos países, isso inclui temas como: Finanças e tecnologia; Abordagens sustentáveis (agroecologia, agricultura climaticamente inteligente, práticas regenerativas, etc.); Integração em estruturas nacionais (NDCs, NAPs, TNAs, etc.); Capacitação e acesso a financiamento; Coordenação entre órgãos e fundos da UNFCCC; Gestão de riscos, incluindo sistemas de alerta precoce; Sustentabilidade do sistema alimentar vinculada à mitigação. Cabe destacar que o trabalho junto ao SSJWA é essencial para o futuro das proteínas alternativas a nível global. Durante o workshop, o GFI Brasil articulou-se com negociadores da agricultura, além de apoiar uma redação que fosse, de fato, capaz de considerar o sistema alimentar em sua totalidade – incluindo o avanço das proteínas alternativas como estratégia climática fundamental. “Essa perspectiva representa um avanço nas discussões da UNFCCC. Em vez de tratar apenas setores isolados, buscamos integrar áreas como agricultura, energia, transporte e indústria, além de todos os estágios da cadeia alimentar — do plantio e processamento à manufatura, armazenamento, comercialização e consumo” Mariana Bernal Analista sênior de políticas públicas do GFI Brasil O evento em Bonn também foi marcado por discussões sobre o Global Goal on Adaptation (em tradução livre, “Meta global de adaptação”), nas quais o GFI atuou junto a grupos de negociadores para manter indicadores relacionados a sistemas alimentares no radar — ainda que o texto final tenha ficado sem consenso. Além disso, a 4ª Carta da Presidência da COP 30 foi publicada durante a SB62, apoiada por um briefing da Presidência sobre a Agenda de Ação e um briefing logístico durante as sessões. A agricultura e os sistemas alimentares foram incluídos no item 3 da agenda oficial, apresentando os seguintes subtópicos: restauração da terra e agricultura sustentável, sistemas alimentares mais resilientes, adaptáveis e sustentáveis e acesso equitativo a alimentos e nutrição adequados para todos. Conferência coproduzida pelo GFI Brasil No segundo dia de evento, em parceria com Proveg e PAN International, o GFI Brasil coorganizou a conferência Future proofing food: Is protein diversification the key to healthier and sustainable food policies? (em tradução livre, “Alimentos à prova de futuro: a diversificação de proteínas é a chave para políticas alimentares mais saudáveis e sustentáveis?”). Apesar do espaço menor oferecido pela UFCCC na programação dedicada a conferências paralelas, o Future Proofing Food reuniu representantes do EIT Food, do Ministério da Alimentação, Agricultura e Pesca da Dinamarca e da Proveg, além de 30 participantes na plateia (incluindo representantes da Fundação das Nações Unidas e da própria Convenção-Quadro da ONU). Na apresentação, destacamos a importância do texto Carne de origem vegetal e alimentos ultraprocessados: o que os profissionais de saúde precisam saber, elaborado pelo GFI Europa e a PAN Internacional. Enfatizamos, também, os desafios e oportunidades para ampliar a adoção de proteínas alternativas no Brasil, em um contexto de políticas alimentares mais saudáveis e sustentáveis. Side Event Future proofing food: Is protein diversification the key to healthier and sustainable food policies? (Bonn, 2025). Caminhos para a COP e a Declaração de Belém por Dietas Ricas em Plantas Por fim, junto a diversas organizações que atuam no setor – a ProVeg International e Plant Based Canada são alguns desses nomes –, o GFI Brasil assinou a Declaração de Belém por Dietas Ricas em Plantas. A carta divide-se em 5 pontos essenciais: 1) Mitigação da crise climática; 2) Benefícios na saúde pública; 3) Proteção à biodiversidade; 4) Segurança e resiliência alimentar; e 5) Benefícios econômicos. Ela também chama atenção de governos para o fato de que dietas tradicionais do Sul Global são responsáveis por alimentos ricos em fibras e à base de plantas, e cobra ações diretas que ajudem a promover sistemas alimentares mais saudáveis e resistentes ao clima. “Com a próxima COP acontecendo no Brasil, temos a chance de liderar o debate global sobre sistemas alimentares resilientes ao clima. A Declaração de Belém é um chamado claro para que os governos apresentem compromissos e planos concretos até 2027”, enfatiza Bernal. Essa declaração ganha uma urgência ainda maior quando se considera que os sistemas alimentares geram cerca de um terço (34%) das emissões de gases de efeito estufa no mundo e representam 74% das emissões totais do Brasil. Nessa conjuntura, as proteínas alternativas têm a capacidade real de adaptação climática, podendo poupar 12% das terras agrícolas do mundo e frear o desmatamento. Confira um trecho: “Tendo em vista a próxima Conferência das Partes da UNFCCC no Brasil, apelamos aos Estados-Membros da ONU para que: Estabeleçam Planos de Ação Nacionais para Alimentos à Base de
GFI Brasil e Fundação Araucária anunciam R$ 2 milhões em investimentos para Programa de Pesquisa em Proteínas Alternativas

O GFI Brasil e a Fundação Araucária anunciam R$ 2 milhões para apoiar pesquisas em proteínas alternativas no Paraná. A iniciativa busca desenvolver tecnologias inovadoras em fermentação e cultivo celular para criar alimentos mais acessíveis, sustentáveis e nutritivos. Com prazo de submissão até 25 de julho de 2025, o edital reforça o protagonismo do estado na produção de alimentos do futuro.
No Dia Mundial da Segurança de Alimentos, o GFI Brasil apresenta estudos sobre carne cultivada e proteínas vegetais

No Dia Mundial da Segurança de Alimentos, o GFI Brasil apresenta dois estudos técnicos inéditos que reforçam a importância da segurança no setor de proteínas alternativas. Um deles traz uma análise aprofundada dos riscos e medidas de controle na produção de alimentos vegetais análogos à carne, incluindo planos APPCC para hambúrguer, frango, linguiça e peixe vegetal. O outro estudo, focado em carne cultivada, propõe um plano de segurança alimentar baseado em uma linha piloto de hambúrguer, identificando perigos e lacunas que exigem mais pesquisa.
Utilizada há milênios na gastronomia, a fermentação pode, mais uma vez, revolucionar a alimentação

A próxima grande revolução alimentar já está em curso — e o Brasil tem todas as condições para liderá-la. Estamos falando do avanço das proteínas alternativas produzidas por fermentação, uma tecnologia inovadora que pode transformar profundamente a forma como produzimos alimentos, tornando o sistema alimentar global mais sustentável, seguro e eficiente. Para ajudar a traçar os caminhos desse futuro promissor, o GFI Brasil acaba de lançar a publicação Fermentação no Brasil: oportunidades e caminhos para o desenvolvimento do setor de proteínas alternativas. O estudo reúne dados inéditos sobre o estado da arte da fermentação no país, identifica as capacidades técnicas e industriais já existentes, e propõe ações concretas para alavancar esse setor estratégico. Um novo uso para um saber antigo A fermentação é uma tecnologia conhecida há milênios — pão, vinho, tofu, tempeh e iogurte são produtos fermentados. Mas, nas últimas décadas, ela vem ganhando novas aplicações por meio da biotecnologia moderna. Hoje, é possível usar micro-organismos como “fábricas celulares” para produzir ingredientes funcionais, proteínas com alto valor nutricional e até estruturas com textura e sabor semelhantes aos de produtos de origem animal. Trata-se de uma tecnologia versátil, com aplicações que vão desde a formulação de alimentos plant-based mais atrativos até a produção de proteínas completas e ingredientes para a carne cultivada. E o melhor: com menor impacto ambiental e maior eficiência no uso de recursos naturais. “O Brasil tem um papel fundamental na produção de alimentos e pode liderar a construção de um sistema alimentar mais sustentável. Com o aumento da demanda por proteínas e os desafios ambientais da produção convencional, a fermentação surge como uma solução promissora para a obtenção de ingredientes com melhores aspectos sensoriais, nutricionais e tecnológicos.”, afirma Isabela Pereira, uma das autoras do estudo. Isabela Pereira Analista de ciência e tecnologia do GFI Brasil Esse processo tecnológico, segundo Isabela, pode ser utilizado para desenvolver proteínas alternativas por meio da fermentação tradicional (que usa bactérias e fungos para transformar ingredientes em alimentos como tofu, tempeh e iogurtes), de biomassa (que utiliza, por exemplo, fungos filamentosos para produzir micoproteínas com textura semelhante à carne) ou de precisão (que aplica engenharia genética para programar microrganismos a produzirem proteínas e ingredientes idênticos aos de origem animal), permitindo a criação de produtos e insumos de forma eficiente, em virtude do crescimento rápido e alta produtividade dos microrganismos. O que torna o Brasil tão bem posicionado para se destacar nessa indústria? Nosso país já conta com uma base sólida para impulsionar esse novo setor. A experiência acumulada nas últimas décadas com a indústria de biocombustíveis — especialmente o etanol — e com a produção de enzimas industriais é uma vantagem competitiva real. Temos infraestrutura instalada, mão de obra qualificada, capacidade de produção de insumos e uma rede de pesquisa científica robusta. O estudo do GFI Brasil identificou mais de 60 instituições relevantes no ecossistema de fermentação no Brasil, incluindo 40 universidades, além de centros de pesquisa com know-how técnico e científico. É um retrato de um país que já possui as peças-chave para ativar uma nova cadeia produtiva — com potencial de geração de valor, empregos e inovação. Um setor estratégico para o futuro do Brasil Investir no setor de fermentação para proteínas alternativas é investir em soberania tecnológica, segurança alimentar, bioeconomia e desenvolvimento sustentável. É posicionar o Brasil não apenas como celeiro do mundo, mas como laboratório de soluções alimentares para o planeta. Para que o Brasil se consolide como líder global em fermentação para proteínas alternativas, o estudo recomenda o estabelecimento de parcerias entre universidades, startups e empresas para compartilhamento de infraestrutura e conhecimento; investimento público e privado em CMO (Contract Manufacturing Organizations); engajamento de agroindústrias como fornecedoras de insumos fermentescíveis; promoção da pesquisa em novos microrganismos e rotas biotecnológicas; e fortalecimento de políticas públicas que estimulem a inovação e a bioeconomia. “Com políticas públicas adequadas, apoio à inovação, incentivo à formação de talentos e articulação entre governo, academia e setor privado, podemos acelerar esse desenvolvimento e colher frutos em médio prazo”, argumenta Isabela. Com este estudo, convidamos empresas, pesquisadores, investidores e formuladores de políticas a construírem juntos um futuro em que a comida boa para todos também seja boa para o planeta.
GFI Brasil realiza Trilha de Capacitação sobre o setor de proteínas alternativas. Inscreva-se agora!

O GFI Brasil lançará a Trilha de Capacitação, uma série de eventos online e gratuitos entre maio e outubro, com o objetivo de formar profissionais para o setor de proteínas alternativas. A programação inclui workshops técnicos e de mercado, com foco em inovação, ciência e tendências do setor. O primeiro evento será em 29 de maio e abordará meios de cultivo celular para carne cultivada, em parceria com o MCTI.
Buscando financiamento de pesquisa? Conheça as novas chamadas do GFI Brasil e envie a sua proposta até 15 de junho!

Com o objetivo de levar a indústria nacional de proteínas alternativas a um novo patamar, o The Good Food Institute Brasil lança duas novas chamadas para Estudos Direcionados e convida pesquisadores de instituições de pesquisa, startups e empresas a enviarem propostas – inclusive em parceria! A primeira RFP (Request for Proposal) foca na utilização de subprodutos agroindustriais para fermentação e cultivo celular. A segunda, por sua vez, privilegia a obtenção de ingrediente protéico otimizado a partir da farinha de soja desengordurada. Esses dois temas buscam fortalecer o setor, reduzindo o custo e expandindo com qualidade a produção e comercialização dos produtos plant-based no Brasil. Acesse o edital completo por meio deste link, e envie a sua proposta até 15/06/2025, pelo e-mail ciencia@gfi.org. Conheça os detalhes de cada linha: Estudo para estabelecer rotas tecnológicas para utilização de subprodutos da cadeias agroindustriais para produção de proteínas alternativas por fermentação e cultivo celular O principal objetivo desta linha é avaliar o potencial de cadeias produtivas e a viabilidade técnico-econômica da conversão de subprodutos agroindustriais – como cana-de-açúcar, milho e laranja. Além disso, o projeto selecionado deve propor ações para engajar pesquisadores, indústrias, setor público e reguladores. Confira os objetivos específicos: 1. Identificar subprodutos nas principais cadeias produtivas e selecionar ao menos duas com maior potencial de aproveitamento, considerando viabilidade tecnológica e barreiras existentes. 2. Desenvolver roadmaps tecnológicos para ao menos duas cadeias, categorizando as tecnologias de conversão por escala, custo e uso de recursos, com fluxogramas voltados à produção por fermentação ou carne cultivada. Estudo para Identificar Rotas Tecnológicas de Obtenção de Ingrediente Proteico Otimizado a Partir de Farinha de Soja Desengordurada Esta chamada objetiva aprimorar o sabor e custo-benefício dos análogos cárneos produzidos com ingrediente otimizado obtido da farinha de soja desengordurada, uma matéria-prima com grande versatilidade e potencial de escalonamento no cenário brasileiro. Entenda as metas específicas: 1. Aprimorar o perfil sensorial e nutricional da farinha de soja desengordurada, analisando como diferentes tecnologias afetam suas propriedades tecnofuncionais. 2. Compreender as propriedades deste insumo, de modo a orientar sua aplicação ideal em diferentes formulações. 3. Elaborar um roadmap com foco em tecnologias escalonáveis e compatíveis com a realidade produtiva nacional, comparando a viabilidade econômica dessas inovações. Instruções para inscrição As propostas devem focar em soluções para a indústria, com atenção à viabilidade técnico-financeira durante a execução. Encaminhe seu projeto em PDF para o e-mail ciencia@gfi.org até o dia 15/06/2025. Os resultados serão divulgados até 01/07/2025. O início do projeto está previsto para outubro de 2025. Por que se inscrever? Essas chamadas são uma oportunidade estratégica para que centros de pesquisa, empresas e universidades ajudem a transformar o setor plant-based e de carne cultivada no Brasil, fortalecendo o posicionamento do país na oferta de produtos mais competitivos, acessíveis e nutritivos.Para conhecer os detalhes da submissão, acesse o edital! Em caso de dúvidas, contate nossa equipe: ciencia@gfi.org.