Os resultados formais da COP30, reunidos no Pacote de Belém e na chamada Decisão do Mutirão Global, reforçaram compromissos importantes em financiamento climático, adaptação e preservação de florestas. No entanto, apesar da relevância crescente dos sistemas alimentares para a agenda climática global, o tema segue sub-representado nos documentos de decisão.
Enquanto as negociações oficiais mantêm foco em energia, transparência e fluxos financeiros, a transformação dos sistemas de produção de alimentos, responsável por um terço das emissões globais e profundamente ligada à segurança alimentar, à saúde pública e à conservação, apareceu apenas de forma indireta. Os sistemas alimentares e a diversificação das fontes de proteína não integraram o texto final do Mutirão ou do Global Goal on Adaptation.
Por outro lado, a Presidência da COP30 reconheceu de maneira explícita, em sua agenda de ação, que transformar a agricultura e os sistemas alimentares é essencial para acelerar a implementação do Acordo de Paris. O eixo dedicado ao tema inclui restauração de terras, agricultura sustentável e construção de sistemas alimentares mais resilientes e justos.
4ª Carta da Presidência sobre a COP30
| Entre os muitos documentos que cercaram a COP30, a chamada “4ª carta” da Presidência (COP30 4th Letter: Action Agenda / Mutirão) revela a ambição política que o Brasil buscou imprimir ao encontro. Ali, a Presidência delineia seis grandes eixos da mobilização global, e um deles assume papel estratégico: Transformar a Agricultura e os Sistemas Alimentares.Nesse eixo, a carta descreve três frentes que, juntas, formam um roteiro de futuro para o setor: restauração de terras e agricultura sustentável, construção de sistemas alimentares mais resilientes e adaptativos e garantia de acesso equitativo a alimentos adequados e de qualidade. É um reconhecimento de que a transformação dos sistemas alimentares não é apenas necessária, mas central para enfrentar a crise climática, reduzir desigualdades e garantir segurança alimentar para milhões de pessoas.O fato de termos, pela primeira vez em um documento oficial da Presidência da COP30, a citação direta a sistemas alimentares e sistemas alimentares sustentáveis é significativo. Essa inclusão coloca a agricultura e a alimentação dentro da narrativa maior do Mutirão Global, que é o esforço de mobilização planetária proposto pelo Brasil para impulsionar a implementação célere e justa do Acordo de Paris.Mas é importante destacar que essa carta é uma peça de orientação política, uma sinalização de prioridades. Ela não tem o peso jurídico ou negociado das decisões formais da COP, como o Multirão Global ou a Meta Global de Adaptação. Ainda assim, sua força simbólica e estratégica é inegável. Ela mostra onde a Presidência enxerga potencial de transformação e indica caminhos que, mesmo fora do texto final aprovado pelos países, podem influenciar agendas nacionais, movimentos da sociedade civil e expectativas para as próximas rodadas de negociação.Em outras palavras, a carta não decide, mas aponta. E o fato de apontar diretamente para a necessidade de transformar a maneira como produzimos, distribuímos e consumimos alimentos é, por si só, um avanço no debate global sobre clima e sistemas alimentares. |
Esse contraste revela um desafio persistente: a urgência climática já pressionou energia limpa e financiamento climático para o centro do processo multilateral, mas a mudança sistêmica na forma como produzimos e consumimos alimentos ainda não migrou da agenda paralela para o coração das decisões negociadas. Para que a transição global seja de fato compatível com a meta de limitar o aquecimento a 1,5 °C, é fundamental que os sistemas alimentares, incluindo proteínas alternativas, deixem de ser tratados como tema secundário e passem a ocupar o espaço estratégico que deveriam.
A COP30 mostrou que há vontade política e evidência científica suficientes. O próximo passo é transformar essa visão em compromissos formais, claros e mensuráveis, capazes de mobilizar investimentos e orientar políticas públicas. Sem isso, o mundo continuará ignorando uma das alavancas mais poderosas para enfrentar a crise climática.
Principais avanços
- A COP30 aprovou o “Pacote Belém” com 29 documentos unânimes entre os 195 países participantes.
- A proposta RAIZ – Resilient Agriculture Investment for net Zero land degradation, apresentada como parte da agenda da COP30, fala em mutirão global para restauração de terras e agricultura sustentável, com foco em segurança alimentar.
- Foram anunciados mecanismos relevantes, como o fundo Tropical Forests Forever Facility (TFFF), voltado à preservação de florestas tropicais, com aportes acima de US$ 6,5 bilhões e participação de 69 países.
- Inclusão mais expressiva de povos indígenas e comunidades tradicionais no debate climático: foi recorde de participação e os direitos territoriais indígenas apareceram em três textos oficiais.
Reconhecimento e mobilização em torno da adaptação ao clima: a meta de triplicar o financiamento para adaptação até 2035 (US$ 120 bilhões) foi adotada. - A COP30 concluiu um conjunto de 59 indicadores voluntários para acompanhar o avanço da Meta Global de Adaptação, cobrindo água, alimentos, saúde, ecossistemas, infraestrutura, meios de subsistência, financiamento e tecnologia
- As Partes aprovaram um mecanismo de transição justa (Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada nas Pessoas) que coloca equidade e pessoas no coração da ação climática, fortalecendo cooperação internacional, assistência técnica, capacitação e troca de conhecimento para apoiar países e comunidades na transição.
- Abertura para vias paralelas como os roteiros de combate ao desmatamento e ao uso de combustíveis fósseis anunciados pela presidência brasileira, ainda que não integrados ao texto final.
Principais lacunas e críticas
- Apesar dos avanços, os acordos foram considerados insuficientes diante da urgência científica para limitar o aquecimento a 1,5 °C.
- Não foram incluídos no texto final roteiros claros para a transição para sistemas alimentares mais sustentáveis e resilientes (o que deveria incluir a diversificação das fontes de proteína), nem para o fim do uso de combustíveis fósseis ou para o fim do desmatamento até 2030, temas fortemente apoiados por mais de 80 países, mas bloqueados por nações como Arábia Saudita e Rússia.
- O valor e o prazo para o financiamento da adaptação ainda são considerados aquém das necessidades reais.
- Falta de avanço mais profundo na implementação das metas nacionais de clima (NDCs): embora mais de 118 países tenham atualizado suas metas até 2035, a ciência alerta que não há trajetória compatível com o limite de 1,5 °C.
GFI na COP30
Ao longo das duas semanas do evento, uma mensagem ficou evidente: o investimento tem um papel decisivo na transformação do sistema agroalimentar e na diversificação das fontes de proteína. O GFI foi uma das organizações que levaram esse debate para o foco das discussões. Confira a seguir os principais destaques.
12 de novembro: Jantar com negociadores

O GFI Brasil participou da organização do tradicional jantar plant-based para negociadores agrícolas (com 38 delegados), apresentando um produto de proteína alternativa desenvolvido com tecnologia da Embrapa, apoiado pelo programa de grants do GFI. Este jantar serviu para demonstrar a narrativa do GFI Brasil sobre inovação no Sul Global, promovendo soluções feitas com ingredientes nativos (fibra de caju).
13 de Novembro: Aligning Agriculture Finance and Fiscal Measures with Climate and Nature Goals

O evento reuniu formuladores de políticas públicas, investidores e organizações da sociedade civil para discutir como instrumentos financeiros e fiscais podem impulsionar uma transformação global dos sistemas alimentares alinhada ao clima e à natureza. Nossa analista de políticas públicas, Mariana Bernal, participou do painel juntamente com Megan Waters e Changtong Huang (FAIRR), Prof. Shenggen Fan (China Agricultural University), Hongyu GUO (Greenovation Hub), Jeroom Remmers (TAPP Coalition), Rune-Christoffer Dragsdahl, Leonardo Gava Mataram (International Vegetarian Union) e Virginia Antonioli (WRI Brasil).
Mariana comenta que durante o painel houve um consenso sobre a necessidade de que os investimentos em soluções agroalimentares sejam feitos por várias fontes. “As blended finances ajudam a estimular investimentos em soluções agroalimentares, que ainda são tidas como inovações de risco, especialmente para o setor privado e os produtores rurais.
A analista do GFI também chamou a atenção para as políticas públicas e medidas fiscais que podem ajudar a democratizar o acesso às proteínas alternativas. “As proteínas alternativas ainda enfrentam resistência do mercado e têm desafios de preço que afastam os consumidores. Medidas fiscais podem auxiliar toda a cadeia de produção de alimentos a ingressar nesse mercado e ofertar produtos de qualidade a um preço justo para as pessoas”.
Principais destaques:
A diversificação de proteínas oferece às empresas com alta dependência de proteínas animais a oportunidade de proteger suas cadeias de suprimento de ingredientes e, ao mesmo tempo, construir portfólios de produtos mais resilientes — especialmente em um cenário macroeconômico incerto.
A escala da China é determinante: com uma produção massiva de gado e ração, qualquer transformação significativa dos sistemas alimentares globais precisa considerar a China como um ator central.
O Brasil está fortalecendo sua resiliência ao ampliar o desenvolvimento de proteínas vegetais nativas e investir em sistemas agroflorestais para apoiar a restauração de áreas degradadas ou desmatadas.
Taxonomias agrícolas específicas ao contexto são essenciais: ao criarem taxonomias próprias que refletem seus contextos agrícolas locais, Colômbia e Brasil demonstram que agricultura sustentável assume formas diferentes em cada país — e reforçam a falta de consenso sobre uma definição universal de “sustentável”. O apoio governamental por meio de instrumentos fiscais é fundamental para reduzir riscos do setor e viabilizar investimentos de longo prazo.
Compartilhamento de riscos e inovação fiscal são cruciais para uma agricultura sustentável: países como o Brasil, que têm papel significativo na agricultura global, precisam enfrentar os riscos financeiros e reestruturar mecanismos de crédito para apoiar a transição do setor.
14 de Novembro: Nourishing Climate Action: Policy Tools for Climate-aligned and Resilient Food Systems

Co-organizado pela UNFCCC, Good Food Institute, ProVeg International, Humane World for Animals, Compassion in World Farming, Mercy for Animals, Foodrise e Food Tank, o evento paralelo levou para a COP30 um conjunto de iniciativas e políticas públicas para tornar os sistemas alimentares mais resilientes e alinhados às mudanças climáticas.
Principais destaques
O apoio ampliado à adaptação e à resiliência é fundamental: fortalecer produtores agrícolas com ferramentas técnicas e financeiras permite reduzir vulnerabilidades, garantir continuidade produtiva e responder de forma mais eficaz aos impactos do clima.
A segurança alimentar e nutricional depende de políticas públicas robustas: sistemas de proteção social e mecanismos de compras públicas podem criar mercados estáveis, reduzir desigualdades e acelerar a oferta de alimentos adequados para populações em situação de risco.
A integração entre estratégias alimentares, agrícolas e climáticas é indispensável: alinhar esses três pilares em nível nacional e internacional cria coerência política, evita esforços isolados e potencializa o impacto das ações de descarbonização.
A coordenação entre agendas climáticas, humanitárias e de desenvolvimento precisa avançar: aproximar essas áreas permite respostas mais rápidas e eficientes, especialmente em regiões onde eventos climáticos já se traduzem em crises sociais e econômicas.
Investimentos em sistemas de alerta precoce são determinantes para a adaptação: tecnologias de monitoramento e previsão reduzem perdas, protegem comunidades vulneráveis e ajudam governos a agir com antecedência.
O financiamento baseado em avaliação de riscos é uma alavanca estratégica: ao direcionar recursos de acordo com vulnerabilidades reais e cenários climáticos, países e instituições financeiras podem estimular soluções de longo prazo e evitar custos maiores no futuro.
Stephanie Maw, gerente sênior de Políticas e Advocacy da ProVeg, celebrou que 94% das NDCs atualizadas em 2024 incluíam alguma medida relacionada aos sistemas alimentares, mas lembrou que apenas 7% (o equivalente a 10 países com NDCs) tinham metas relacionadas às dietas. “É realmente um progresso, mas podemos ver claramente a lacuna que ainda existe quando se trata de governos aproveitarem o potencial das mudanças alimentares nas estratégias de adaptação e mitigação climática”.
Já a deputada federal Duda Salabert, que também presidiu a Subcomissão da Câmara para a COP30, defendeu que as proteínas alternativas não podem ficar restritas a um nicho e que medidas e incentivos fiscais são necessários para democratizar o seu acesso. “Com incentivos fiscais e com governos incluindo opções vegetais na alimentação escolar pelo menos um dia por semana, elas viram política pública de combate à insegurança alimentar e à crise climática.
A congressista foi além, afirmando que a transição para dietas mais sustentáveis e com diversidade de proteínas não beneficia apenas o planeta. “As proteínas vegetais ajudam a construir uma nova consciência, que supera o antropocentrismo e reconhece humanos, animais, rios e florestas como parte do planeta. E fazem isso com uma pegada hídrica e de carbono muito menor do que os produtos de origem animal.”
17 de Novembro: A Just Transition for Global Protein: Aligning Supply, Demand, and Emissions within Planetary Boundaries
O evento, organizado por Food Systems for the Future (FSF) Institute, Environmental Defense Fund (EDF) e International Livestock Research Institute (ILRI), reuniu representantes de governos, pesquisadores, produtores, investidores e organizações da sociedade civil para avançar uma visão plural e baseada em ciência sobre a transição global de proteínas. O diálogo partiu do reconhecimento de que alimentar quase 10 bilhões de pessoas dentro dos limites planetários requer múltiplas soluções, integrando, dentre outras possibilidades, proteínas alternativas cultivadas, vegetais, híbridas e derivadas de fermentação.
19 de novembro: O Pavilhão de Singapura dedicou um dia inteiro para debater sistemas alimentares
A transformação dos sistemas alimentares ganhou força renovada nos debates internacionais, refletida em três painéis complementares que abordaram desde financiamento e inovação até colaboração regional. Juntos, eles reforçaram que não há resposta climática eficaz sem repensar profundamente a maneira como produzimos, financiamos e distribuímos alimentos.
Unlocking adaptation finance for sustainable food system transformation

O primeiro painel, dividido em dois momentos, expôs um paradoxo central da ação climática: embora agricultura e alimentação respondam por um terço das emissões globais, o setor recebe menos de 5% do financiamento climático disponível. Para superar essa lacuna, especialistas defenderam mecanismos de financiamento inovadores — combinando capital público, privado e blended finance — inspirados em modelos que já impulsionaram a expansão da energia limpa em escala global.
Na primeira parte, durante o bate-papo com a diretora executiva do GFI APAC, a ministra de Sustentabilidade de Singapura, Grace Fu, argumentou que, ainda que a agricultura de hoje seja uma das causas, também é uma vítima do que chamou de “estresse climático”. “Os produtores estão passando por bons bocados, mas todos precisamos de comida. Não temos como nos isolar das consequências dos sistemas alimentares globais. Estamos falando de governança, escala e logística.”
A ministra também apresentou as razões que levam Singapura a investir em tecnologias e soluções agroalimentares disruptivas. “Se formos olhar para o cenário em Singapura, podemos dizer que somos forçados pelas limitações; muitas das estratégias que usamos vêm do fato de não termos nada, como terra ou água abundante. Então temos que lidar com nossas circunstâncias e encontrar caminhos.”.
Em seguida, Mirte se juntou a representantes de governo, filantropia e organizações não governamentais para explorar alternativas de desbloqueio de recursos. O diretor do Secretariado Nacional de Mudanças Climáticas de Singapura, Joel Tee, disse que em setores como o de proteínas alternativas, as soluções existem. “Desbloquear esse fluxo de financiamento, esse capital, é a grande inovação que devemos buscar.”
Já Andy Jarvis, diretor do programa Future of Food, da Bezos Earth Fund, acrescentou que o capital filantrópico deve ser direcionado para onde o livre mercado não está conseguindo entregar resultados: “O financiamento climático precisa abraçar a complexidade dos sistemas alimentares. Eu adoraria ver uma coalizão real e significativa em torno de proteínas sustentáveis surgir no mundo — onde a indústria da carne, as proteínas alternativas, os governos e todo o setor financeiro se unam e percebam que isso não é algo a ser visto como um ‘problema’, mas sim como uma área com ‘grande potencial de solução’.”
Jarvis enfatizou que a Bezos Earth Found enxerga o setor de proteínas alternativas como ‘um divisor de águas’ nos sistemas alimentares. “Não há como atingir a meta de Paris sem uma transformação do sistema alimentar, e não acredito que haja qualquer chance de transformação desse sistema sem analisarmos as proteínas. Isso é fundamental para o planeta Terra”, concluiu.
APAC-Brazil: Enabling Ecosystems for Food Innovation

Na sequência, na abertura do painel APAC–Brasil, a diretora executiva do GFI APAC, Mirte Gosker, trouxe dados que justificam os esforços para transformar os sistemas alimentares. Segundo ela, a produção de alimentos, por si só, torna inalcançáveis as metas climáticas do Acordo de Paris, mesmo que todas as outras grandes fontes de emissões fossem eliminadas. “Precisamos repensar a forma como produzimos alimentos. As proteínas alternativas podem reduzir em até 98% as emissões de gases de efeito estufa, em 96% a área agrícola necessária para a produção de alimentos e em 99% o uso de água”, afirmou.
O painel mostrou que o avanço da inovação alimentar depende de ecossistemas capazes de conectar ciência, políticas públicas e investimentos. Como disse o professor da Universidade Agrícola da China, Shenggen Fan, “investir em pesquisa e desenvolvimento, em cadeias de valor mais sustentáveis e de menor emissão de carbono, e na educação dos consumidores será essencial para transformar nossos sistemas alimentares em direção a alimentos mais saudáveis, nutritivos e sustentáveis.”
Singapura, China e Brasil, apesar de suas realidades distintas, vêm utilizando suas vantagens estratégicas para acelerar a produção de proteínas alternativas e outros alimentos de baixo impacto. Os três países demonstraram que a diversificação das fontes de proteína é um componente essencial de qualquer trajetória real de descarbonização.
“Sabemos que todos precisam de proteína, mas ela pode vir de diferentes fontes. As proteínas de origem vegetal geralmente são mais sustentáveis e, em muitos casos, também mais saudáveis. E se alguns ainda (os consumidores) quiserem o sabor da carne, tudo bem. Podemos oferecer proteínas inovadoras. Isso pode incluir carne cultivada. Esses tipos de proteínas têm emissões de carbono muito menores e oferecem opções saudáveis para os consumidores”, argumentou Shenggen Fan.
Por fim, o debate sobre colaboração regional destacou soluções integradas que unem biodiversidade, clima e segurança alimentar. O Programa Biomas, coordenado pelo GFI Brasil, foi lembrado pelo Prof. Germano Reis, da Universidade Federal do Paraná, e por Marion Adeney, diretora do Programa Amazônia e Incêndios, da Conservation X Labs. Ambos destacaram o potencial da união entre academia e setor privado, ao investirem em pesquisas que valorizem a biodiversidade, ao mesmo tempo em que criam oportunidades de negócio para a indústria.
A sessão também mostrou como parcerias regionais e mercados dinâmicos podem acelerar a adoção de tecnologias agrícolas e apoiar agricultores e comunidades na transição frente aos impactos da mudança do clima.
Um estudo liderado pelo Prof. Germano que buscou compreender a percepção de 14 cooperativas agrícolas do estado do Paraná identificou que os produtores rurais identificam oportunidades que nascem junto com as proteínas alternativas e que podem ser exploradas como diversificação de portfólio. “Queríamos entender o que empresas e produtores do setor da carne pensam sobre proteínas alternativas, como a carne cultivada? Já vemos grandes empresas e cooperativas se movimentando e também cooperativas percebendo que isso pode dar retorno. Por outro lado, ainda precisam de mais informação sobre o que são proteínas alternativas e como elas são usadas”, concluiu.
Em conjunto, os três painéis apontaram para a mesma direção: transformar os sistemas alimentares é essencial para atingir metas climáticas e garantir um futuro mais justo, resiliente e sustentável — e isso exige inovação, financiamento direcionado e cooperação entre países e regiões.
Asia Climate Solution Pavilion: Beyond Factory Farming: Accelerating Global Protein Transition for Climate and Forests

O evento reuniu especialistas globais para discutir como a transição para proteínas sustentáveis pode reduzir o desmatamento, proteger a biodiversidade e alinhar os sistemas alimentares às metas climáticas de 1,5°C. As discussões deixaram claro que, embora a pecuária siga como um dos principais motores da perda de biodiversidade e do aumento das emissões, as proteínas alternativas já oferecem um caminho viável para atender à crescente demanda global por alimentos sem ampliar a pressão sobre florestas e terras. Ainda assim, os participantes ressaltaram que políticas públicas, padrões regulatórios e investimentos em pesquisa permanecem muito aquém do necessário para acelerar essa transformação.
Ao longo das sessões, foram analisadas oportunidades concretas para incorporar a diversificação das fontes de proteína às estratégias climáticas nacionais, desde incentivos fiscais e marcos regulatórios mais claros até programas de inovação e cooperação internacional. “É urgente uma mudança de rumo. Não pedindo aos consumidores que parem de comer carne, mas sim modernizando a forma como a carne é produzida”, disse Bruce Friedrich, presidente e fundador do GFI.
Os debates também destacaram a importância de articular governos, sociedade civil e setor privado para construir sistemas alimentares de baixo carbono capazes de fortalecer a segurança alimentar global. A necessidade de uma governança mais integrada foi apontada como condição essencial para que o potencial climático das proteínas alternativas se converta em impacto real.
A Ásia apareceu como protagonista nessa agenda, tanto por concentrar grande parte do crescimento futuro na demanda por proteínas quanto por liderar esforços de descarbonização agrícola. O consenso final foi claro: quanto mais rápido os países se moverem para transformar os sistemas alimentares, incluindo a diversificação das fontes de proteína, maiores serão os benefícios para o clima, para as florestas e para a segurança alimentar no longo prazo.