O setor energético tem sido um dos maiores responsáveis por agravar a crise climática no último século .No entanto, com o crescimento da população e a necessidade de se produzir comida em escalas industriais cada vez maiores, os sistemas alimentares tradicionais se tornaram o verdadeiro cerne do problema.
“Mesmo se eliminarmos imediatamente os combustíveis fósseis, as emissões provenientes do sistema alimentar, especialmente da agropecuária, impedirão o alcance das metas do Acordo de Paris”, alerta um estudo de alta repercussão publicado na revista científica Science.
A boa notícia é que já existe uma solução sendo incorporada na agenda de empresas, indústrias e governos no mundo todo: as proteínas alternativas. Produzidos à base de plantas, cultivo celular e rotas de fermentação, esses alimentos têm o potencial de reduzir significativamente as emissões do setor agroalimentar.
Além disso, também de acordo com o BCG, sua expansão ajudaria a conter as emissões de metano, que embora fique por menos tempo na atmosfera, é mais agressivo que o CO2 por reter mais calor.
Esses dados ganham ainda mais relevância com a aproximação da COP30, onde ações de mitigação e adaptação climáticas serão discutidas e negociadas. Além disso, com a realização do evento em Belém, os olhos do mundo estarão voltados para o Brasil.
Quanto custa alcançar o potencial máximo de mitigação climática das proteínas alternativas?
Apesar do impacto comprovado, os sistemas alimentares recebem apenas 3% do investimento climático, enquanto contribuem com 33% das emissões de gases. Esse valor é 22 vezes menor do que o recebido pelos setores de energia e transportes, por exemplo.
Ao mesmo tempo, diversas instituições de renome internacional reconhecem as proteínas alternativas como um caminho rápido e viável tanto para reduzir o impacto do setor de alimentos na crise ambiental, quanto para garantir que a indústria alimentícia atue de modo sustentável.
Em outras palavras, financiar as proteínas alternativas é uma estratégia concreta de mitigação climática – termo que define ações destinadas a reduzir ou evitar as causas das mudanças climáticas, principalmente por meio da diminuição das emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Segundo o Banco Mundial, as proteínas alternativas são a segunda intervenção agroalimentar mais promissora na redução de GEE, podendo reduzir as emissões em até 6,1 bilhões de toneladas de CO2 por ano, equivalente a reflorestar uma área um pouco maior que a soma dos 5 maiores estados brasileiros (Amazonas, Pará, Mato Grosso, Minas Gerais e Bahia).
Para se ter uma ideia de impacto econômico – utilizando o mesmo exemplo de cálculo empregado pela Comissão de Mudanças Climáticas da Universidade de Chicago (2023), liderada pelo vencedor do Prêmio Nobel de economia, Michael Kremer –, o potencial de mitigação no cenário de redução de 1% das emissões da pecuária (estimada em 3,5 bilhões de toneladas de CO2 em 2018) corresponderia aproximadamente a USD 6.65 bilhões, considerando o custo social do carbono a USD 190 em 2020.
Confira os dados:
Quanto é necessário investir?
O relatório “Global Innovation Needs Assessment: Food System Methane”, afirma que são necessários $10,1 bilhões em investimentos anuais em proteínas alternativas, com $4,4 bilhões para pesquisa e desenvolvimento e $5,7 bilhões para incentivos ao setor privado.
Valor é inferior à indústria de EV
Parece muito? Mas não é. Recentemente, a Volkswagen anunciou um investimento de 120 bilhões de euros em carros elétricos. De forma semelhante, a General Motors planeja investir US$35 bilhões em veículos elétricos e autônomos, com o objetivo de liderar o mercado norte-americano.
De acordo com Gus Guadagnini, presidente do The Good Food Institute Brasil, com a proximidade da COP30 e a representatividade das emissões dos sistemas alimentares para o Brasil – estimada em 73,7% em 2021 –, esta demanda se torna ainda mais objetiva.

Para o evento, a instituição defende um plano bem estruturado de financiamento em proteínas alternativas, maior ambição dos países-membros do Acordo de Paris nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) em relação ao tema — por meio de metas, compromissos e incentivos nacionais voltados à transição para sistemas alimentares mais sustentáveis —, e a inclusão explícita desses alimentos como prioridade estratégica nos planos climáticos dos governos.
O impacto das proteínas alternativas na adaptação climática e desenvolvimento econômico
Um plano de adaptação climática pode garantir a resiliência de sistemas sociais e econômicos diante de condições já alteradas ou que ainda estão por vir. Nesse sentido, as proteínas alternativas oferecem um modelo seguro e escalável de diminuir a já existente pressão sobre o uso da terra, água e outros recursos finitos do planeta.
Atualmente, cerca de 41% das calorias produzidas pelas principais culturas agrícolas se perdem nos modelos atuais de produção de alimentos, devido ao processo de alimentação animal e usos industriais. Além disso, sem medidas de adaptação às mudanças climáticas, projeta-se que as colheitas globais possam sofrer uma redução de até 5% até 2050, intensificando a pressão por recursos naturais para atender à demanda por alimentos. O investimento em proteínas alternativas surge, portanto, como uma medida estratégica para fortalecer a segurança alimentar global, uma vez que é possível fornecer a mesma quantidade de proteínas utilizando menos recursos.



Adicionalmente, esse investimento é capaz de culminar em retornos significativos: segundo a ClimateWorks, a transição para proteínas alternativas deve ser capaz de criar 83 milhões de novos empregos e alcançar cerca de US$688 bilhões em Valor Agregado Bruto (VAB) para o setor até 2050.
Essas soluções são estratégicas por quatro razões: 1) apontam para um mercado em crescimento, com aumento de fontes de renda à partir de novos postos de trabalho, e favorável a investimentos; 2) aumentam a margem de lucro das empresas, startups e agroindústrias; 3) ajudam a reduzir o preço ao consumidor final; e 4) representam ações concretas para mitigação e adaptação climática.
É necessário apoiar sistemas alimentares mais sustentáveis de forma abrangente, considerando toda a cadeia — desde a produção, passando pela distribuição, até o consumo final — promovendo transformações que conciliem inovação, sustentabilidade, e desenvolvimento. Visando a competitividade e resiliência do setor alimentício e, ao mesmo tempo, a garantia de produtos mais acessíveis e saudáveis aos consumidores, o GFI identifica a necessidade de um plano regulatório e fiscal dedicado às proteínas alternativas. Com isso, é possível diversificar as matrizes de produção do agronegócio e comportar a demanda alimentar de uma população mundial em crescimento.

Entre os dias 10 e 21 de novembro, líderes terão a oportunidade de garantir mais investimentos no setor de proteínas alternativas, assegurando recursos específicos para pesquisas científicas e ações de impacto industrial. Trata-se de uma iniciativa a curto, médio e longo prazo, que reforça a importância de acelerar a inovação e ampliar o uso das proteínas alternativas como parte crucial do futuro do planeta.
Acesse a página de Soluções em Proteínas Alternativas (GFI-US)
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23/05/25
