Neste Dia Internacional das Mulheres, GFI Brasil destaca o protagonismo feminino em iniciativas que devem acelerar inovações no setor de proteínas alternativas

por Vinícius Gallon Em um campo emergente como as proteínas alternativas, o financiamento de pesquisa tem um papel crucial. Estudos sobre carne cultivada, alimentos feitos de plantas e obtidos por fermentação geram avanços na oferta de produtos saborosos, acessíveis e seguros, além de impactar positivamente o clima, a saúde global, a oferta de alimentos para toda a população e o respeito aos animais. Identificar lacunas de conhecimento e articular soluções tecnológicas requer uma compreensão profunda da ciência em proteínas alternativas e em campos relacionados. E no Brasil, quem tem assumido esse desafio, em grande número, são as mulheres. Como uma organização sem fins lucrativo, o GFI se dedica ao avanço da pesquisa de acesso aberto em proteínas alternativas e à criação de um ecossistema de pesquisa e formação. O Programa de Incentivo à Pesquisa distribui recursos para apoiar cientistas a fim de garantir a viabilidade comercial de seu trabalhos. Na chamada de 2021, o objetivo foi o de produzir conhecimento e tecnologia para replicar cortes inteiros de carne, como bife, peito de frango, costeleta de porco, filé de salmão e frutos do mar. Foram selecionados 22 projetos, dos quais 5 são brasileiros e, desses, 3 liderados por mulheres. Conheça as pesquisadoras brasileiras contempladas pelo Programa de Incentivo à Pesquisa No campo de alimentos híbridos, a Dra. Aline Bruna da Silva, professora no departamento de engenharia de materiais do CEFET-MG, lidera uma pesquisa para produzir cortes inteiros de carne de frango através da combinação de tecnologias de cultivo celular e plant-based. O produto final deverá ter textura e sabor de frango convencional, mas com gordura mais saudável do que a de origem animal. Já a pesquisa da Dra. Olga Lúcia Mondragón-Bernal, pesquisadora da Universidade Federal de Lavras, vai desenvolver protótipos de análogos de peixe (semelhantes a salmão, truta e tilápia) utilizando proteína texturizada de cogumelo ostra. A equipe da cientista vai utilizar como matéria-prima cogumelos de agricultura orgânica e familiar da própria região de Lavras (MG) e pretende estabelecer parcerias para transferir parte da tecnologia para esses pequenos produtores. A Dra. Vivian Feddern, pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves, lidera uma pesquisa para produzir pedaços inteiros de carne cultivada de frango (similar ao filé de peito desossado) a partir de céulas musculares de frango cultivadas em scaffold, além de estabelecer uma linha de células-tronco de frango que poderão ser expandidas, semeadas e diferenciadas em novos tipos de scaffolds para produção de cortes inteiros de carne. Neste mesmo Programa, mas na edição de 2019, o Brasil foi contemplado com três financiamentos, todas para pesquisadoras mulheres: Dra. Ana Carla Sato, da Unicamp (folha de mandioca), Dra. Ana Paula Dionísio, da Embrapa (fibra de caju), e Dra. Caroline Mellinger, da Embrapa (feijão carioca). As três pesquisas estão avançando para a fase final e já colhem excelentes resultados. Em outra iniciativa, desta vez do GFI Brasil, o fomento visa financiar estudos sobre o uso de espécies nativas que podem ser base para análogos vegetais de produtos de origem animal. A expectativa é que espécies da Amazônia e do Cerrado – babaçu, baru, castanha do Brasil, cupuaçu, guaraná, macaúba e pequi – sejam fonte de proteínas, pigmentos e fibras que integrem outras matrizes já usadas na indústria. Das 14 pesquisas contempladas pelo Programa Biomas, 7 são lideradas por mulheres. Conheça as pesquisadoras contempladas pelo Programa Biomas Focando suas pesquisas no baru, tanto a Dra. Ana Paula Rebellato, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), quanto a Dra. Mariana Egea, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano (IFGoiano), visam obter ingredientes para a produção de alimentos feitos de planta. Enquanto a primeira pretende obter ingrediente extrusado com elevado teor proteico e rico em fibras a partir do subproduto da extração do óleo da amêndoa do baru, a segunda quer obter ingredientes a partir de resíduos do produto nativo. A Dra. Luiza Helena Meller da Silva, da Universidade Federal do Pará, vai desenvolver ingredientes a partir dos resíduos do processamento do cupuaçu e do guaraná para aplicação em produtos plant-based. Já a Dra. Fabiana Queiroz, da Universidade Federal de Lavras – MG, pretende obter ingredientes a partir da extração integral da polpa, amêndoa e casca do pequi para aplicação em produtos vegetais análogos. Para conhecer as outras três pesquisadoras e seus temas de pesquisa, acesse o site. Proteínas Alternativas: um campo com protagonismo feminino Para além dos programas de incentivo do GFI, que financiam pesquisas em carne cultivada lideradas por mulheres, também há protagonismo feminino em outras iniciativas. A começar por nossa própria equipe de ciência e tecnologia, formada 100% por mulheres. Liderada pela Dra. Katherine de Matos, a equipe conta, ainda, com Ma. Cristiana Ambiel, Dra. Amanda Leitolis, Dra. Luciana Fontinelle, Dra. Lorena Silva Pinho, e a doutoranda Mariana Demarco. Também contribuindo com a produção de conhecimento e formação, a Universidade Federal do Paraná lançou, em 2020, a primeira disciplina brasileira sobre carne cultivada ofertada em um programa de pós-graduação. Coordenado pela professora Dra. Carla Molento, a disciplina Introdução à Zootecnia Celular foi criada com o objetivo de colaborar na formação de novos profissionais para atuarem no mercado de carne cultivada. Graduada em medicina veterinária pela UFPR, a Dra. Carla tem se dedicado especialmente a iniciativas que promovem o bem-estar animal, coordenando, ainda, o LABEA – Laboratório de Bem-Estar Animal da mesma universidade. Outro nome que vem despontando no setor é o da pesquisadora Dra. Bibiana Matte, diretora científica da Núcleo Vitro, que está desenvolvendo a primeira carne cultivada brasileira, com investimento de R$ 5 milhões disponibilizados pelo edital da Fapergs (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul). Dra. Bibiana é, ainda, fundadora da primeira startup de carne cultivada do país, a Ambi Real Food. No final de 2021, a JBS anunciou um investimento recorde de US$ 100 milhões no mercado de carne cultivada. Com o valor, a empresa firmou acordo para aquisição do controle da empresa espanhola BioTech Foods, investimento na construção de uma nova unidade fabril na Espanha, além da implantação do primeiro Centro de Pesquisa & Desenvolvimento
Cientistas estudam aplicação de espécies nativas do Cerrado e da Amazônia no mercado de proteínas alternativas. Conheça os projetos

Fomentado pelo The Good Food Institute Brasil, Programa Biomas tem início com estudos de sete espécies nativas que podem substituir produtos de origem animal A diversidade dos Biomas brasileiros pode colocar o país no centro da produção sustentável de matérias-primas do setor de proteínas alternativas. Com o crescimento do mercado interno de produtos feitos de plantas, 14 pesquisadores iniciam neste ano estudos sobre o uso de espécies nativas que podem ser base para análogos de produtos de origem animal. A expectativa é que espécies da Amazônia e do Cerrado – Babaçu, Castanha do Brasil, Cupuaçu, Guaraná, Baru, Macaúba e Pequi – sejam fonte de proteínas, pigmentos e fibras que integrem outras matrizes já usadas na indústria. As pesquisas ocorrem no âmbito do Programa Biomas, criado pelo The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil). As espécies foram selecionadas a partir de seu potencial econômico e técnico. Mais do que apenas encontrar alternativas às fontes protéicas, o programa selecionou investigações que pensam todo o ciclo econômico da produção do ingrediente, passando pelo uso de resíduos normalmente descartados, aplicação de tecnologias limpas, e fomento às comunidades locais. Nesta edição do programa, mais de 80 propostas de pesquisa foram recebidas de cerca de 34 instituições de 14 estados brasileiros. O número mostra o avanço da pesquisa brasileira na área. Desses, o GFI Brasil selecionou 14 pesquisas. Os resultados das investigações que duram um ano serão divulgados abertamente a fim de tornar possível a aplicação e escalonamento das tecnologias desenvolvidas. As pesquisas contribuem para consolidar a tendência de consumo de proteínas alternativas à carne, peixes e frutos do mar, leite e laticínios e ovos no Brasil, cuja demanda cresce a cada ano. O objetivo é encontrar o potencial real de aplicação desses ingredientes na indústria, desenvolvendo o mercado nacional, agregando valor às espécies nativas e promovendo o uso sustentável dos recursos naturais – caminho que leva à conservação da floresta. Além disso, os pesquisadores buscarão identificar as características de sabor, textura, experiência de consumo, custo e nutrição de seus produtos, com foco em criar possibilidades reais de uso e consumo. “Nada melhor para a valorização do produto do que colocá-los no nosso prato e transformá-los em produtos do nosso dia a dia. Que o brasileiro possa se apropriar da riqueza que temos, que poucos têm acesso”, defende a gerente de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil, Cristiana Ambiel. Segundo estudo do GFI Brasil, 84% das empresas querem mais ingredientes nacionais. Na prática, os resultados podem apresentar alternativas às matrizes importadas para produtos à base de plantas, como a ervilha, que assim como a soja, domina a produção plant-based no Brasil. No cerrado, por exemplo, se estuda a possibilidade de produção de um hambúrguer totalmente feito com base no Baru. Na Amazônia, a castanha do Brasil pode ser uma fonte de proteína com maior diversidade de aminoácidos que os concorrentes estrangeiros. “A gente vê o quanto o Brasil pode ser referência em proteínas alternativas para o mundo. Lançando tendências de proteínas. Temos como desenvolver alternativas nacionais, que sejam mais competitivas, levar isso para fora do país e servir como modelo e referência no mercado”, completa a especialista em ciência e tecnologia do GFI Brasil, Luciana Fontinelle. Cristiana Ambiel também destaca que uma diversidade maior de ingredientes pode equilibrar a sustentabilidade de produtos plant-based. “O GFI já tem esse propósito da sustentabilidade, tanto é que fomenta produtos vegetais por serem mais sustentáveis que a produção animal. Mas conseguimos uma sustentabilidade ainda maior quando olhamos para a obtenção de ingredientes da nossa biodiversidade, em especial, quando visamos o aproveitamento completo das espécies nativas agregando valor às partes que são subaproveitadas como cascas, sementes e resíduos de processo”. No contexto brasileiro, desenvolver o setor de proteínas alternativas significa gerar mais empregos com a diversificação da matriz econômica. É também um passo em direção a processos economicamente viáveis de produtos protéicos alternativos inovadores, que podem ser compartilhados com os atuais processos de produção de proteína animal para superar o desafio de alimentar de forma sustentável 10 bilhões de pessoas em 2050. Fabiana Queiroz, pesquisadora da Universidade Federal de Lavras, uma das contempladas pelo edital, ressalta que o Programa é fundamental para o país e que também leva à preservação dos biomas. “A preservação desses frutos depende que a gente tenha a tecnologia de processamento para que seja interessante continuar a produção deles e impedir o desmatamento”, lembra. Em qualquer cenário, é consenso entre os pesquisadores que as pesquisas devem deixar um legado de viabilidade ambiental, técnica, econômica e social para cada ingrediente, produto e processo desenvolvido. Conheça algumas das pesquisas aprovadas: PEQUI Fabiana Queiroz, Universidade Federal de Lavras – MG Tema da pesquisa: Obtenção de ingredientes a partir da extração integral da polpa, amêndoa e casca do Pequi para aplicação em produtos plant-based Apesar de estar presente em muitos estados do Brasil, o pequi, fruto chamado de “ouro do cerrado”, pode passar despercebido e não ter suas potencialidades aproveitadas se não for resgatado na pesquisa. É o que lembra a pesquisadora Fabiana Queiroz, professora do departamento de ciência de alimentos da Universidade Federal de Lavras, que propõe extrair diferentes compostos do pequi e usá-los na produção de um hambúrguer vegetal. Considerado carro-chefe do bioma, o pequi é rico nutricionalmente: a casca é fonte de fibras e a polpa é rica em carotenóides, com porcentagem grande de carboidratos. Na amêndoa, a abundância de óleo é acompanhada de um complexo protéico, cuja farinha desengordurada pode ser usada na produção de produtos vegetais. Essas propriedades tecnológicas serão estudadas pela pesquisadora e avaliadas para a fabricação de produtos alimentícios. “O pequi já é explorado por cooperativas, em termos de conservas e farinhas. Estamos entrando mais na possibilidade de processamento em grande escala”, explica Fabiana. Um dos focos da equipe é também contribuir com uma produção limpa, de aproveitamento integral do fruto e capaz de atingir escala sem afetar o meio ambiente. “Essa exploração ao máximo de todo o potencial do fruto de uma maneira ambientalmente correta é o diferencial”, afirma Fabiana. “Não é
Consumo de carne vegetal vai continuar crescendo nos próximos anos, mas a indústria precisa se preparar para atender a demanda

Estudo do The Good Food Institute revela requisitos globais para atingir as metas de 2030 relativos à colheita, infraestrutura e investimentos para a indústria. No ano de 2020, as vendas de alternativas vegetais cresceram duas vezes mais rápido do que as vendas gerais de alimentos nos EUA. Em 2019, o mercado de alimentos à base de plantas valia US$ 5 bilhões. Hoje, já vale mais de US$7 bilhões. A categoria de leites vegetais continua como a mais desenvolvida do setor, representando 35% do mercado de alimentos à base de plantas e 15% do mercado de leite em geral. Mas, quando falamos de carnes vegetais, o aumento das vendas dessa categoria supera o de todas as outras: enquanto a procura por leites vegetais cresceu 27% nos últimos dois anos, por exemplo, as vendas de carnes vegetais aumentaram 72% no mesmo período. O boom na procura por essas alternativas está influenciando e remodelando todo o setor alimentício. Dados os aumentos previstos na demanda global por proteína e nas mudanças nos hábitos dos consumidores nas próximas décadas, a indústria de proteínas à base de plantas precisará de grandes investimentos – em todas as áreas – para que a cadeia de suprimentos e a capacidade de fabricação consiga saciar a demanda. Pensando nisso, o The Good Food Institute lançou o relatório “Plant-based Meat: Anticipating 2030 Production Requirements”. A partir de levantamentos de dados e análises da utilização atual de ingredientes, o estudo prevê os requisitos globais de volume de produção para atingir as metas de 2030 relativos à colheita, infraestrutura e investimentos para a indústria. Com estimativas de abrangência global, o estudo traz orientações para investidores, processadores de ingredientes, fornecedores de equipamentos e fabricantes de carne vegetal quanto às urgências, oportunidades, obstáculos e níveis de investimentos necessários para suprir a demanda prevista para 2030. Em relação ao volume global de ingredientes, o relatório calcula que a indústria precisará produzir no mínimo 25 milhões de toneladas métricas (MMT) de carne à base de plantas para conseguir atender ao mercado anual. O estudo também examina outros pontos como, por exemplo, a futura pegada de fabricação do setor. Com base em instalações de produção hipotéticas usadas para produzir proteínas vegetais estruturadas (SPP), o material base da carne vegetal, estima-se que pelo menos 810 fábricas devam entrar em operação até 2030 para suprir a demanda, o que deve custar aproximadamente US $27 bilhões em despesas de capital global (CapEx) e pelo menos US $17 bilhões de custos operacionais por ano. A pesquisa identificou potenciais entraves sobre o fornecimento global de ingredientes fundamentais (como óleo de coco e proteína de ervilha) nos próximos anos. No entanto, demonstrou que a capacidade de fabricação, e não a disponibilidade de volume suficiente de ingredientes, é que provavelmente será o elo limitante da cadeia de suprimentos de carne vegetal a nível global. A análise do GFI indica que a modernização de instalações de processamento de alimentos existentes, a formação de parcerias, a estreita colaboração entre os stakeholders do setor e, principalmente, o investimento inicial em infraestrutura são as medidas necessárias para evitar um cenário de escassez e conseguir expandir o aporte de produção com mais eficiência na próxima década. Cenário Brasileiro Apesar da previsão ser de abrangência mundial, a nível regional ela também se confirma. Cristiana Ambiel, gerente de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil, enxerga que essa questão é também um gargalo no país. “Nós precisamos desenvolver empresas interessadas em processar ingredientes (proteína concentrada, texturizada e isolada) para podermos atender a futura demanda”, afirma. Inclusive, a pesquisa “Oportunidades e Desafios na Produção de Produtos Feitos de Plantas Análogos aos Produtos Animais”, lançada pelo The Good Food Institute Brasil no final de 2021, possui muitos pontos de contato com o relatório “Anticipating 2030 Production Requirements”. Pensando em acelerar a inovação na indústria de proteínas alternativas, o GFI Brasil ouviu profissionais das indústrias de ingredientes e processamento de produtos vegetais no país, identificou os maiores desafios no desenvolvimento de alternativas à base de plantas (com a qualidade, preço e características buscadas pelos consumidores) e definiu sete linhas de pesquisa prioritárias para o avanço desse mercado no Brasil. O desenvolvimento de matérias-primas e ingredientes nacionais foi apontado como a principal demanda por 84% das empresas que participaram da pesquisa. Por causa da pouca oferta de opções nacionais no mercado, onde a soja ainda predomina, a busca por ingredientes importados é alta. Essa dependência na importação (vulnerável à volatilidade da cotação de moedas estrangeiras e ao tempo de espera pela entrega, por exemplo) eleva os custos de produção e, consequentemente, o preço final do produto, que acaba se tornando inacessível para muitos brasileiros. Tal realidade parece incompatível com o Brasil, berço de 20% de toda a biodiversidade do planeta. O país possui, de fato, inúmeras espécies nativas que podem agregar características sensoriais e nutricionais únicas a um produto, além de ser um grande produtor de matérias-primas vegetais (como feijões, arroz, aveia, gergelim, trigo, centeio, milho, cevada, sorgo e amendoim) com potencial de se tornar fonte de proteína para a indústria plant-based. O elo que falta para começar a transformar esse potencial em realidade é a pesquisa científica: tempo e investimentos são necessários para definir os processos de extração mais adequados de cada proteína, caracterizar e melhorar suas funcionalidades proteicas, aprimorar as características sensoriais e reduzir custos finais. O GFI Brasil trabalha para preencher essa lacuna com o Programa Biomas, voltado a universidades, instituições de pesquisa e empresas privadas que financia pesquisas com potencial para transformar produtos nativos da Amazônia e Cerrado em ingredientes alimentícios demandados pela indústria de proteínas alternativas, agregando valor às espécies brasileiras, gerando oportunidades de renda para as comunidades locais e promovendo a preservação da biodiversidade. O relatório “Anticipating 2030 Production Requirements” corrobora que a pesquisa de ingredientes alternativos é uma frente importante – e especialmente interessante – para o Brasil. Isso por que, apesar da capacidade de fabricação e processamento ter sido identificada pela análise como a principal barreira a ser enfrentada pela indústria, a pressão sobre o fornecimento global de
As 7 tendências globais que vão dominar o setor de proteínas alternativas em 2022

Nossos especialistas globais apontam as tecnologias que devem despontar ou se fortalecer este ano com o amadurecimento da indústria e quais delas já estão acontecendo no Brasil Texto: Bruna Corsato Revisão: Camila Lupetti, Guilherme Vilela, Raquel Casselli e Vinícius Gallon Após anos de crescimento constante, a indústria de proteínas alternativas caminha para uma fase de consolidação, com empresas do setor entrando em estágios mais avançados e aprimorando os produtos que chegam ao mercado. Mas ainda há espaço para crescimento e inovação, além de muitas oportunidades a serem exploradas nesse ambiente. O time de especialistas globais do The Good Food Institute apresenta quais são as tendências que devem dominar o setor em 2022. 1- A fermentação vai abrir novos caminhos para os produtos vegetais A utilização de processos de fermentação na indústria plant-based vem crescendo como um dos pilares da produção de alimentos vegetais e a tendência é que essa posição se consolide através de lançamentos que devem chegar ao mercado em 2022. EM 2021, a norte-americana Perfect Day criou uma proteína de soro de leite (whey protein) a partir de fermentação de precisão, técnica que utiliza microorganismos para produzir ingredientes funcionais específicos, como proteínas, moléculas de sabor, vitaminas e até gorduras. O whey fermentado chegou aos consumidores dos Estados Unidos sob a forma do Brave Robot, o serve de base vegetal da Perfect Day. Mas a lista de lançamentos que aderiram ao novo ingrediente não parou por aí: houve também o cream cheese da Modern Kitchen, mistura para bolo da Climate Hero e até novo leite alternativo no Starbucks. A tendência é que a indústria continue a explorar essa tecnologia, aprimorando características sensoriais de produtos já existentes e criando novidades para conquistar o consumidor. As previsões de lançamentos deste ano incluem: A primeira proteína de ovo fermentado do mundo. A responsável pela inovação é a Every Company e chegará ao mercado através dos smoothies da Pressed Juicery. A Motif Foodworks vai licenciar sua mioglobina HEMAMI para que produtores possam refinar o saber de carne em produtos vegetais A empresa de carnes Hormel vai passar a incorporar a microproteína, carne feita a partir de fermentação, em sua linha vegetal por meio de uma parceria com a Better Meat Co. Já no ano passado a Nature´s Fynd conseguiu aprovação do FDA para comercializar sua proteína fermentada Fy, e a previsão é de que chegue às gôndolas ainda esse ano. Esse é só o começo, prepare-se para ouvir falar muito de fermentação no mercado plant-based em 2022. 2- Mix de tecnologias para criar produtos híbridos Quando falamos em proteínas alternativas, estamos nos referindo a uma categoria que inclui diversos processos de produção resultando em produtos à base de plantas, de fermentação e de cultivo de células. A tendência é que esse ano vejamos produtos feitos através da combinação dessas tecnologias chegarem ao mercado, que são conhecidos como produtos híbridos: Por exemplo, o Impossible Burguer é feito à base de plantas mas leva em sua composição do heme (molécula de proteínas rica em ferro) derivado de fermentação, o que confere gosto similar a carne. Muitas empresas de leite e queijo vegetais estão usando técnicas tradicionais de fermentação em nozes e outros ingredientes à base de plantas para obter o sabor lácteo autêntico e cremoso do queijo convencional. Podemos esperar produtos híbridos de carne cultivada e proteínas vegetais, tanto para reduzir custos quanto para atrair consumidores que procuram recursos nutricionais como fibras. Esperamos ver ainda o lançamento de carnes vegetais aprimoradas com gordura cultivada, melhorando as propriedades sensoriais. Além disso, deve se tornar mais comum o uso de machine learning e inteligência artificial no desenvolvimento do perfil de sabor e textura de produtos vegetais para se aproximar mais da experiência sensorial da carne tão desejada pelo consumidor. Empresas como a NotCo, Culture Biosciences e Climax Foods já estão atuando nessa direção. 3- Produtos vegetais se tornarão cada vez mais segmentados e fiéis aos produtos animais 3.1 Frutos do mar: o investimento neste setor bateu recorde em 2021, chegando a $116 milhões de dólares. Já são mais de 87 empresas no setor produzindo frutos do mar a partir de plantas, fermentação ou cultivo de células. A expectativa é de que esses produtos cheguem a lojas e restaurantes já em 2022. No Brasil: A Fazenda Futuro lançou no ano passado o primeiro atum à base de plantas do mercado brasileiro. Disponível tanto no Brasil quanto na Europa, o produto vem pronto para consumo e é feito com soja, ervilha, grão-de-bico, azeite de oliva, rabanete e óleo de microalgas para garantir 183 gramas de ômega-3 (por 100g). A linha Incrível Seara conta com iscas de peixe. Cada porção tem 12 gramas de proteína vegetal, além de ser fonte de ferro e vitamina B12, e não conter gordura trans. A The New dispõe de análogos vegetais de salmão e bacalhau em sua linha de produtos. A startup Sustinere Piscis, fundada pelo biólogo Marcelo Szpilman, atua para criar a primeira carne de peixe cultivada. 3.2 Cortes inteiros de carne: 2022 deve ser o ano em que vamos ver cortes inteiros de carnes vegetais se tornar realidade, contemplando uma variedade maior de preparos na cozinha. Já está no mercado o filet mignon vegetal da Juicy Marbles e a Umiami está desenvolvendo uma nova tecnologia para produzir cortes inteiros em escala. No Brasil: Incrível Seara já conta com uma linha de cortes inteiros que incluem bife, tiras de carne, cubos e filé de frango. A Sadia Veg & Tal tem uma linha de frango vegetal nas opções em cubos ou em tiras. A linha de produtos da Verdali inclui frango em tiras, costelinha, mignon e steak. Fazenda Futuro tem uma opção de frango em cubos. The New tem filé de frango e salmão. 3.3 Ovos: esta é uma das categorias plant-based que cresce mais rapidamente, com espaço para produtos como ovo cozido, clara de ovos e uma mistura para que sirva para o preparo de diversos pratos. Vemos grande potencial no uso da fermentação para produzir ingredientes de ovo que melhorem
R & S BLUMOS lança primeira carne vegetal bovina à base de proteína de feijão carioca, custando menos de R$30,00 o kg

A novidade foca no food service e foi lançada no Dia Mundial das Pulses, durante feira do agronegócio, em Cascavel-PR Texto: Bruna Corsato Revisão: Vinícius Gallon Créditos de imagem: R & S BLUMOS Anos de crescimento da indústria plant-based no país levaram ao surgimento de uma demanda entre as empresas do setor: o desenvolvimento de matérias-primas nacionais para serem utilizadas na composição de produtos feitas de planta. Pesquisa realizada pelo The Good Food Institute Brasil mostrou que 84% das empresas de proteína vegetal brasileiras considera essa uma prioridade alta. A R & S BLUMOS, empresa que fornece ingredientes e tecnologias inovadoras para a indústria, mostra que é possível fazer uso da biodiversidade do país para atender às demandas da indústria. A Carnevale WUT, proteína vegetal feita a partir de matérias-primas 100% nacionais como a soja não-transgênica e concentrado de feijão carioca, foi desenvolvida utilizando extrusão úmida, tecnologia que possibilita produzir fibras de carne vegetal análogas às de animais. O produto será lançado custando menos de R$30,00 o kg para o food service, antecipando as previsões do setor de proteínas alternativas de vender carne vegetal mais barata do que a convencional em 2023. “O produto promete chegar ao consumidor a um preço bastante competitivo. Sem dúvida, esse lançamento está alinhado com o que temos observado sobre os anseios do consumidor a respeito desse novo mercado”, pondera Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo do GFI Brasil. As vantagens do Carnevale WUT vão além de preço acessível e ingredientes nacionais. Ao passar pelo processo de extrusão úmida, o produto já é cozido, o que significa mais praticidade no preparo sem perda de rendimento do prato final. “Pela primeira vez, estamos criando uma proteína 100% brasilera com com aptidão para análogos de carne bovina de panela.” conta Fernando Santana, da R & S BLUMOS. A ideia é de que encontre um grande mercado no food service e entre chefs de cozinha e depois, com algumas atualizações, que chegue aos açougues”, conta Fernando Santana, diretor de vendas da R & S BLUMOS. O lançamento aconteceu durante o Show Rural Coopavel, evento anual com foco em inovação tecnológica e sustentabilidade para o agronegócio, explicitando as oportunidades de colaboração entre produtores rurais nacionais e o mercado plant-based. “O agro brasileiro vai se beneficiar muito pois este produto tem um potencial gigante tanto de exportação quanto de consumo no mercado local.”, explica Fernando. Lançamentos como este sinalizam a consolidação do mercado de proteínas alternativas no Brasil, que segue crescendo de forma mais madura à medida que as empresas investem em novas tecnologias e conquistam ainda mais os consumidores. “O lançamento de hoje une diversos aspectos que o consumidor brasileiro vem demonstrando procurar em produtos vegetais. O seu formato pronto para ser utilizado em receitas do dia dia, utilizando ingredientes nacionas, aproveitando a nossa biodiversidade, ingredientes produzidos pelo nosso agronegócio e também a questão do custo, cada vez mais decisivo na decisão de compra do consumidor.”, conclui Raquel.
Proteínas alternativas são aliadas na garantia de um futuro mais sustentável

Na contramão das inovações alimentares, iniciativas tentam barrar o desenvolvimento do setor, mas este é um mercado do “e” e não do “ou”. Há espaço e demanda para toda a indústria. Texto: Alexandre Cabral Revisão: Vinícius Gallon Mais um ano se inicia. Deixamos para trás um ano complexo, onde a vida em geral foi novamente pautada pela pandemia, onde experimentamos o alívio da vacinação de grande parte da população e a incerteza sobre novas variantes do vírus e seus efeitos. Abrimos um ano onde temos a sensação de estarmos na segunda metade da luta contra a Covid-19 e a certeza de que algo de novo precisa ser feito na relação entre o homem e o planeta. Hora de ouvir os ecos das discussões sobre sistemas alimentares (UNFSS) e suas conexões com os desafios da sustentabilidade (COP26). Hora de olhar para os números crescentes da fome no mundo. Hora de convergir as forças em prol de um tema crucial que atravessa diversas dessas questões: a oferta de proteína obtida de forma sustentável para consumo humano, não importa a fonte. A indústria da proteína de origem animal intensificou o debate nessa direção, anunciando diversos programas em busca da neutralidade de suas emissões nas próximas décadas, dentre elas Danone, JBS e BRF. A indústria de proteínas alternativas pode colaborar muito neste debate. Está provado que é possível juntar alguns ingredientes usuais na indústria de alimentos com outros desenvolvidos especificamente para esse mercado e criar um alimento gostoso, sustentável e seguro, que pode ser preparado e consumido da mesma forma que o produto de origem animal, mas utilizando uma quantidade radicalmente menor de terra e água em seu processo produtivo. Essa é uma corrida tecnológica que está acontecendo em diversas partes do mundo e tanto as empresas quanto os cientistas brasileiros estão muito bem posicionados. Trata-se de um campo fértil para a inovação e o Brasil sempre se destacou em avançar tecnologias que já dominava antes. Somos uma potência em alimentos e temos tudo para sermos uma potência também em alimentos de alta tecnologia, como os produtos plant-based e as carnes cultivadas. Somos hoje o celeiro do mundo, imbatíveis e fundamentais no fornecimento de commodities agrícolas. Como disse um importante executivo do setor, podemos nos tornar rapidamente o supermercado do mundo, fornecendo produtos de alto valor agregado desenvolvidos e fabricados no Brasil. Reimaginarmos a forma como obtemos proteína para consumo humano é urgente e fundamental. As proteínas alternativas, como chamamos os produtos análogos aos de origem animal obtidos a partir de plantas, por processos de fermentação ou por cultivo de células, é uma das alternativas concretas para ajudarmos o Brasil na sua transição para uma agricultura de baixo carbono. Lado a lado com as proteínas sustentáveis de origem animal, podemos formar uma resposta consistente do nosso país e da nossa economia agrícola ao novo cenário de médio prazo, onde diferentes fontes de obtenção de proteína para consumo humano conviverão. Esse é um mercado “E”, e não um mercado “OU”: há espaço e demanda para atuação de todos. O papel do GFI é ser um catalisador dessa mudança, estimulando a produção de proteína sustentável para consumo humano através de análogos aos produtos de origem animal. Hora de rever o que foi feito ou deixou de ser feito e alinhar ideias e atitudes para o ano que se inicia. O mercado de produtos análogos aos produtos de origem animal vem crescendo muito. Nascido em 2019 a partir do movimento de algumas poucas empresas, veio tomando corpo em 2020 e se consolidou em 2021. Diversas empresas de diferentes portes passaram a operar no mercado nacional e hoje tanto o consumidor brasileiro tem acesso a produtos saborosos e seguros em qualquer supermercado quanto ele já é exportado para mais de 25 países, incluindo Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Alemanha, Emirados Árabes, África do Sul, México, Colômbia e tantos outros. O principal desafio para as empresas em 2022 é caminhar na direção do aumento ao mesmo tempo da escala de produção e do número de ingredientes nacionais utilizados. Isso poderá permitir a produção a um custo cada vez mais baixo, para um público cada vez maior. E permitirá produtos de alcance global cheios de “brasilidade” na sua composição. É hora de consolidar a tendência de que o Brasil passe a utilizar em seus análogos de base vegetal seus próprios feijões e pulses como fonte principal de proteína e ingredientes naturais extraídos de forma sustentável da biodiversidade brasileira por meio da agregação de valor local. Assim como no mercado de proteína de origem animal para consumo humano, onde o Brasil é indiscutivelmente protagonista no cenário internacional, a tendência ao protagonismo também no mercado de proteínas alternativas parece ser apenas uma questão de tempo. O mapeamento das empresas mostra desde gigantes do mercado de proteína animal que anunciaram ou iniciaram seus negócios em proteínas de origem vegetal até empresas de médio porte que se posicionaram no setor, passando pelas inúmeras startups que já nasceram com foco neste mercado. Sem esquecer de como o Brasil vem se posicionando no promissor território das carnes obtidas por cultivo celular, com os anúncios da JBS e BRF e o surgimento das primeiras startups no segmento, Ambi e Sustineri. E quando a indústria se move, a pesquisa científica precisa ser chamada a caminhar junto, desenvolvendo a tecnologia necessária para as inovações a serem introduzidas no mercado. A ciência é fundamental para encontrar respostas aos desafios do mercado. O mapeamento das instituições de pesquisa envolvidas com o tema mostra também um engajamento em universidades e institutos de pesquisa de todo o país. Assistimos a um crescimento exponencial do número de empresas atuantes no setor de proteínas alternativas no Brasil e a uma mobilização acadêmica que pode sustentar um cenário muito favorável de crescimento. Mas nem tudo são flores nesta cena. E nem esperávamos que fossem. Fechamos 2021 e estamos abrindo 2022 com algumas ações contrárias ao desenvolvimento deste setor no Brasil. Descontentes com o nosso discurso, alguns movimentos e associações se posicionaram na mídia e judicialmente tentando
Com apoio do GFI, Brasil acelera inovação e prepara tecnologia para produzir carne cultivada

Texto: Vinícius Gallon Revisão: Gustavo Guadagnini Em dezembro de 2020, um restaurante localizado próximo ao rio Singapura criou um marco na forma com que o mundo deve passar a consumir carne nas próximas décadas. Isso porque, pela primeira vez, uma empresa conseguiu autorização para comercializar a carne cultivada, uma forma de produção do alimento que parte da reprodução celular e evita o abate animal. Em pouco tempo, a técnica aprimorada desde 2013 ganhou força e agora conta com produtos capazes de mimetizar a carne de frango, boi, camarão e até o leite materno. Somente no ano passado, de acordo com levantamento do The Good Food Institute (GFI), o setor recebeu US$ 360 milhões em investimentos, seis vezes mais que em 2019. Com o mercado aquecido em pelo menos dez países, a possibilidade de se produzir uma carne de cultivo celular movimentou startups e grandes empresas – são ao menos 70 mapeadas pelo GFI. Elas dão o tom das diversas demonstrações do produto que tomaram restaurantes ao redor do mundo. O Brasil segue na esteira deste processo e desponta iniciativas que preparam um terreno inevitável para tornar a carne cultivada um produto básico de consumo. Uma previsão da consultoria alemã AT Kearney, por exemplo, aponta que 35% da carne consumida no mundo deverá ser produzida a partir da reprodução celular em 2040. Uma pesquisa do GFI mostrou que, em 2020, metade dos brasileiros diminuiu o consumo de carne, especialmente por motivos relacionados à saúde e a restrições médicas. Neste ano, com a alta dos preços dos alimentos no país e a crise global provocada pela pandemia de Covid-19, o consumo ficou abaixo do recorde registrado em 2019 (7,93 milhões de toneladas), caindo para 7,73 milhões de toneladas, segundo informações do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). No entanto, é fato que o consumo de proteína animal tem crescido, sobretudo na África e na Ásia. De acordo com a USDA, em 2021, o consumo mundial de carne bovina deve chegar a 60,04 milhões de toneladas, representando um crescimento de 1,6% em relação a 2020 (59,06 milhões de toneladas). Para se ter uma ideia, desse total, 10,08 milhões de toneladas serão consumidos pelos chineses, representando uma alta de 6,3% em relação a 2020 (9,48 milhões de toneladas), atrás apenas dos Estados Unidos, país que mais consome carne bovina no mundo (12,52 milhões de toneladas em 2021). Para seguir alimentando a população, que deve chegar a quase 10 bilhões de pessoas em 2050, a ONU estima que será necessário aumentar a produção de alimentos em 70%. Neste caminho, produtos como a carne cultivada se tornam uma necessidade para garantia da segurança alimentar, em especial porque reduz o impacto da produção de alimentos no meio ambiente. A pauta é urgente: o último Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas mostrou que os impactos da ação humana no meio ambiente podem ser irreversíveis. Na contramão deste processo, estudo encomendado pelo GFI e GAIA mostra que a carne cultivada pode derrubar a pegada de carbono em até 80%. Pesquisas anteriores também revelam um menor uso de água azul (redução de 51% a 78%) e menor poluição ao ar (redução de 29% a 93%) na comparação com a carne convencional. Contudo, apesar da urgência climática, o que realmente deve garantir que a carne cultivada chegue aos restaurantes e supermercados e ganhe o público brasileiro e global, é a experiência sensorial idêntica ou ainda melhor que a promovida pela carne animal, além do preço competitivo ou inferior à carne tradicional. De acordo com a especialista de ciência e tecnologia do GFI Brasil, Dra. Amanda Leitolis, o GFI trabalha para entender essas e outras demandas dos consumidores e da indústria, contornando os desafios que esta tecnologia apresenta. “Na área de carne cultivada, mas não somente nela, nosso papel também é o de contribuir para estruturar e articular o ecossistema de inovação”, afirma. “Conectando os atores dessa cadeia, com habitats de inovação, investidores e parceiros”. Entenda a tecnologia Um artigo publicado em 2019 pela doutora em filosofia da biologia Cor van der Weele indicou que, do ponto de vista comportamental, quanto mais a carne cultivada for conhecida e normalizada, mais estranho será consumir a carne convencional. Isso significa que uma carne produzida a partir do cultivo celular pode parecer distante da nossa realidade, mas o processo é mais comum do que se imagina. De modo geral, a indústria de alimentos já está acostumada a usar biorreatores na cadeia produtiva, por exemplo, como na produção de iogurtes, queijos e cervejas. O processo de produção da carne cultivada é simples. Primeiro, se retira uma célula do animal vivo por biópsia ou a partir de uma célula embrionária. Ela é, então, alimentada com nutrientes e fatores de crescimento em uma placa de cultivo fora do animal, de modo que se multiplica em meio a um substrato até formar um tecido completo. “O crescimento destas células em em um ambiente controlado é o que chamamos de cultivo celular”, explica Leitolis. “Primeiro se coleta e expande essas células e se coloca isso em uma estrutura para fazer a engenharia de tecidos, que é construir o tecido de novo”. Esta estrutura usada como suporte para as células é chamada de scaffold. Tudo é feito em biorreatores, que funcionam como um vaso onde a célula poderá se multiplicar. A tecnologia é conhecida, já que importa conhecimento da biomedicina, com os procedimentos podendo ser feitos em laboratórios de engenharia tecidual. Retirada das células A biópsia é feita por agulha ou incisão, com prós e contras nos dois métodos. A biópsia por agulha gera pouco ou nenhum desconforto para o animal, mas retira pouca quantidade de células, exigindo várias amostragens. Já a incisão retira uma amostra maior de tecido, exigindo apenas uma amostragem, mas é mais agressiva para o animal, exigindo maior uso de analgésicos e sedativos para garantir o seu bem estar. Em ambos os casos, a célula pode dar origem a uma linhagem, ou seja, pode ser usada na produção de vários
Parte planta, parte carne: como os alimentos híbridos suprem duas demandas com um único produto

Texto: Victoria Gadelha Revisão: Vinícius Gallon Novos estilos de vida mais conscientes e preocupados com a saúde e o meio ambiente têm estimulado o surgimento de novos gêneros alimentares, como o flexitarianismo, em que o consumidor diminui o consumo de produtos de origem animal sem interrompê-lo completamente. Enquanto as alternativas à base de plantas já possuem um lugar consolidado na dieta dos veganos e vegetarianos, os alimentos híbridos (blended, em inglês) vieram para atingir um público que se importa com saúde e sustentabilidade mas não quer abrir mão da experiência sensoral e da nutrição associadas à carne animal. Incorporar vegetais em pratos tradicionalmente feitos somente de carne, tornando-os híbridos, é uma forma de mudar a dieta dos consumidores sem a necessidade de grandes mudanças no estilo de vida. Em vez de “plant-based”, é “plant forward”: esse termo guarda-chuva inclui qualquer dieta ou padrão alimentar de quem se compromete a comer mais vegetais e menos carne, mas não busca eliminar todos os produtos de origem animal nem se rotular de forma mais estrita. Os motivos, de acordo com o relatório “The Power of Meat”, lançado em 2020 pela The Food Industry Associaton (FMI), incluem o fato desses produtos facilitarem uma maior ingestão de vegetais e proporcionarem uma maneira mais saudável de comer carne. Além de serem melhores para a saúde do consumidor (por conterem menos gorduras saturadas, colesterol e sódio, mais fibras e vitaminas) os produtos híbridos também são melhores para o meio ambiente, uma vez que a pecuária é uma das atividades que mais poluem, desmatam e emitem gases de efeito estufa na atmosfera. Segundo o World Resources Institute (WRI), os norte-americanos comem 10 bilhões de hambúrgueres todos os anos. De acordo com o instituto, se um terço da carne em cada hambúrguer fosse substituída por cogumelos, seria economizada uma quantidade de água equivalente ao uso anual de água doméstica de 2,6 milhões de americanos. Em relação à poluição atmosférica, seria o equivalente a tirar 2,3 milhões de carros – e suas emissões de CO2 – das ruas por ano. Se tratando de terras, o WRI relata que o “blend” nos hambúrgueres reduziria o uso global de áreas agrícolas em mais de 36.260 km2, uma área que equivale a 4,395 campos de futebol. Fora o impacto ambiental, a estratégia de incrementar vegetais em alimentos de origem animal também pode reduzir os custos de produção e comercialização de vários produtos. No caso da carne cultivada, por exemplo, misturar uma porcentagem de vegetais nas células animais é essencial para baratear sua produção que, apesar de já ser uma realidade, enfrenta desafios relacionados à redução de custos, aumento de escala e regulamentação legal. O único lugar no mundo em que a carne cultivada já está aprovada para venda é em Cingapura. No final de 2020, a marca Eat Just lançou sob o nome de GOOD Meat o primeiro frango cultivado híbrido, usando 70% de frango cultivado e 30% de base vegetal. Enquanto a demanda por carne cresce, ao mesmo tempo em que a demanda por alternativas vegetais também, as empresas que produzem alimentos híbridos se posicionam bem entre as duas categorias. Nos últimos dois anos, gigantes do mercado embarcaram na tendência e adicionaram linhas híbridas aos seus catálogos de produtos. A Tyson, maior processadora de carne dos EUA, lançou pela marca Aidells Whole Blends salsichas e almôndegas de carne com misturas vegetais, como frango com espinafre e queijo feta ou frango com abacaxi desidratado. Já a Applegate criou um hambúrguer híbrido feito de carne de vaca com couve-flor, espinafre, lentilha e abóbora, e outro feito de peru com batata-doce, feijão branco, couve e cebola. Por utilizarem menos carne animal, eles conseguiram utilizar um produto “grass fed”, ou seja, de animais que foram alimentados naturalmente no pasto, sem o uso de rações com grãos e remédios. Cada hambúrguer da marca (106g) entrega por volta de 1⁄3 de xícara de vegetais. A Lisanatti Foods foi além e lançou um queijo híbrido: a mozzarella vegetal, à base de amêndoas, é misturada com caseína (proteína derivada do leite), permitindo que o queijo vegetal imite bem a textura do queijo animal. Dessa forma, o produto é apto para vegetarianos, flexitarianos e para o consumidor comum, mas não para quem é vegano ou tem alergia à proteína do leite de vaca (APLV). A Misfit Foods, que até 2019 era uma empresa que produzia sucos prensados a frio a partir de frutas imperfeitas (que seriam jogadas fora), decidiu entrar no ramo das carnes híbridas. Motivada pela urgência ambiental aliada à crescente demanda do mercado, a marca criou produtos misturados (como hambúrguer bovino com beterraba ou salsicha de frango com cenoura e curry) que vêm numa proporção de 50 a 60% carne e 40 a 50% vegetais, oferecendo ao consumidor um bom “empurrão” para longe da carne, mesmo enquanto ele come carne. A Perdue, que está entre as principais empresas de grãos e de processamento de frango, peru e porco nos EUA, lançou também em 2019 a Chicken Plus, uma linha voltada para o público infantojuvenil que oferece nuggets híbridos, feitos de frango com couve-flor, grão de bico e proteínas vegetais. Essas formulações, feitas com ingredientes naturais, permitem que no mínimo 1⁄3 da carne animal seja substituída pela proteína à base de plantas, aumentando tanto o rendimento quanto o valor nutricional do produto (adicionando mais fibras e minerais, mantendo o nível de proteína e reduzindo calorias, gorduras e colesterol). Por mais que a presença de produtos híbridos seja relativamente nova nos supermercados, o conceito não é novidade entre chefs e cozinheiros. A James Beard Foundation é uma organização sem fins lucrativos que defende um padrão de qualidade baseado no talento e na sustentabilidade, apoiando pessoas que formam a cultura alimentar da América através de seus Programas de Impacto. E um dos programas de maior sucesso é o Blended Burger Project: desde 2015, a fundação, em parceria com o Mushroom Council, desafia chefs de todos os Estados Unidos a criarem hambúrgueres que sejam mais saudáveis e sustentáveis, substituindo 25% da carne
Plano de Estratégia Alimentar do Reino Unido propõe que os britânicos comam menos carne

O Reino Unido acaba de lançar a segunda parte de sua Estratégia Alimentar Nacional, um relatório de 176 páginas desenvolvido para embasar a criação de um sistema alimentar que seja melhor para as pessoas e para o planeta. Entre as principais recomendações está a redução do consumo de carne em 30% na próxima década. De acordo com o relatório, apesar de 85% das terras agrícolas do Reino Unido serem utilizadas para a criação de animais, a produção de carnes, ovo, leite e derivados fornece apenas 32% das calorias consumidas pela população. Por outro lado, os 15% restantes que são usados para o cultivo de plantas para consumo humano fornecem 68% das calorias consumidas pelos britânicos. Além da eficiência na conversão de calorias, o relatório também aponta para o impacto que a produção e o consumo de carne têm sobre a saúde humana e planetária. O Plano afirma que o gado, por exemplo, emite 25 vezes mais gases de efeito estufa que a produção de tofu. Diz ainda que, à medida que o consumo de carne cresce, aumentam também as operações agrícolas intensivas ligadas ao uso excessivo de antibióticos e contaminação da água. Segundo o relatório, o número de fazendas pecuárias intensivas aumentou 25% no Reino Unido em 2021. Como uma das soluções propostas, o Plano recomenda o consumo de proteínas alternativas que mimetizam a experiência sensorial dos produtos de origem animal quanto ao sabor, textura, aroma e aparência. Estima-se que a substituição por opções vegetais e obtidas por fermentação poderia gerar uma diminuição de 20% no consumo de carne na próxima década. Não por acaso, o relatório defende que o Governo invista 50 milhões de libras no mercado de proteínas sustentáveis. De acordo com a gerente de políticas públicas do The Good Food Institute na Europa, Ellie Walden, não há como o Reino Unido cumprir suas metas climáticas sem impor mudanças drásticas na dieta da população. “Até agora, a responsabilidade de cortar ou diminuir o consumo de carne tem recaído sobre os indivíduos. Por isso, é estimulante ver a Estratégia Alimentar Nacional focada em fazer das proteínas alternativas à escolha padrão. Os produtos análogos vegetais ou obtidos por fermentação garantem um produto com sabor e aparência similar com um custo ambiental muito menor, criando milhares de empregos verdes (que diminuem o impacto ambiental) e permitindo que as pessoas continuem comendo os alimentos que gostam”. No mesmo caminho dos britânicos, estão os espanhóis. Ainda neste mês, o ministro do Meio Ambiente da Espanha, Alberto Garzón, também defendeu a redução do consumo de carne pelos cidadãos. Ele divulgou um vídeo pedindo aos espanhóis que reduzam a taxa de consumo semanal de 1kg para 200g a 500g de carne, a quantidade semanal recomendada pela Agência Espanhola de Segurança Alimentar e Nutrição. Para o diretor de políticas públicas do The Good Food Institute Brasil, Alexandre Cabral, o exemplo europeu se aplica a muitas outras regiões do planeta e todos os grandes mercados produtores e consumidores de carne precisam avaliar com cautela esta problemática alimentar. “No Brasil, o ambiente industrial já se encontra bastante evoluído, com as principais indústrias de alimentos oferecendo proteínas alternativas em seu portfólio. No ambiente regulatório, o Governo vem se movendo de forma sinérgica em diferentes frentes. Do ponto de vista macro, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) desenvolve uma Política Nacional sobre sistemas alimentares contemporâneos, na qual as proteínas alternativas têm um lugar de destaque. Do ponto de vista mais operacional, ligado às estruturas de registro e inspeção, tanto o MAPA quanto a Anvisa estão mobilizados no debate da configuração desta estrutura regulatória”. Prova disso é a Tomada Pública de Subsídios como forma de embasar os reguladores com as impressões da sociedade e do mercado sobre os elementos necessários para o marco regulatório. Na área de carne cultivada, os agentes reguladores recebem um conjunto de informações de caráter científico, ao mesmo tempo em que estão dialogando com seus colegas do exterior numa troca de experiências visando definir o perfil do marco regulatório brasileiro para o setor. “O GFI Brasil está colaborando ativamente em todas estas frentes, conectando os atores nacionais e internacionais para um ambiente de negócios competitivo e favorável à inovação”, afirma Cabral.
GFI Brasil financia pesquisas para o desenvolvimento de ingredientes a partir de espécies vegetais da Amazônia e Cerrado

O The Good Food Institute Brasil lança o Projeto Biomas que vai financiar pesquisas exploratórias com potencial para transformar produtos vegetais nativos dos biomas da Amazônia e Cerrado em ingredientes alimentícios demandados pela indústria de proteínas alternativas. Com aporte de até R$135 mil por projeto, os estudos deverão se concentrar na investigação de quatro espécies amazônicas (babaçu, guaraná, cupuaçu e castanha-do-Brasil) e três do Cerrado (baru, macaúba e pequi). Os pesquisadores interessados devem enviar suas candidaturas até o dia 15 de julho de 2021, às 22h de Brasília. Os projetos deverão ter prazo de execução de, no máximo, 12 (doze) meses e desenvolvidos no Brasil. Para se inscrever, basta ler o edital e seguir as instruções. Por meio do programa que conta com aporte de recursos da Fundação CLUA – Climate Land and Use Alliance, o GFI espera criar ferramentas de acesso livre e métodos para o desenvolvimento de alimentos que sejam saborosos e acessíveis. “No Brasil, temos o privilégio de contar com uma vasta biodiversidade, com potencial para transformar espécies nativas de manejos sustentáveis em ingredientes para o mercado de produtos plant-based. As pesquisas deverão estabelecer caminhos para valorização, ampliação das informações tecnológicas das espécies nativas e a ampliação do uso desse enorme potencial natural como ingredientes em produtos vegetais, potencializando o desenvolvimento econômico regional”, explica a Dra. Katherine de Matos, diretora de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil. A seleção dos sete produtos nativos ocorreu após levantamento feito pelo próprio GFI Brasil que levou em consideração o potencial técnico e econômico de cada espécie. Para chegar aos resultados econômicos, a instituição utilizou o número de comunidades produtoras, volume de produção e maturidade da cadeia produtiva. Para a análise de potencial técnico, foram utilizados critérios como a composição química dos produtos, o potencial tecnológico e aspectos nutricionais. “A potencialidade da flora nativa brasileira não está refletida nos supermercados, nas feiras e muito menos na cozinha do brasileiro. Como resultado, a sociedade deixa de aproveitar os benefícios decorrentes dessa riqueza. No caso das espécies de uso alimentício, por exemplo, a sociedade acaba não se beneficiando dos elevados valores nutricionais presentes nas espécies nativas. A natureza é rica, entretanto, essa riqueza precisa e deve ser usada com sabedoria. Essa pode ser a grande saída da humanidade para o futuro”, defende Cristiana Ambiel, gerente de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil. Entre as possibilidades de temas de pesquisa apontadas pelo edital do Projeto Biomas, destacam-se a utilização de resíduos ou subprodutos industriais ou agroindustriais, desenvolvimento e otimização de processos para obtenção de ingredientes por meio de métodos ecológicos, viáveis e simples de serem aplicados na agroindústria e associações extrativistas locais, desenvolvimento de ingredientes para aplicação em produtos feitos de plantas que melhorem as características sensoriais de aparência, cor, sabor e textura, promovam incremento nos aspectos nutricionais e reduzam o custo no produto final, além do desenvolvimento de produtos com apelo clean label, dentre outros. Para contribuir na compreensão do edital, o GFI vai promover, no dia 23 de junho, das 14h às 15h30, o workshop “Entendendo o Programa de Financiamento à Pesquisa Exploratória com foco nos Biomas Amazônia e Cerrado”. Inscreva-se no link. O GFI Brasil incentiva o investimento em pesquisa e desenvolvimento da biodiversidade para encontrar inovações tecnológicas que supram as demandas da indústria de forma sustentável. Desta forma, a instituição promove a conservação da floresta em pé, proporciona o desenvolvimento de novas cadeias produtivas e a melhoria da qualidade de vida das comunidades locais. Conheça um pouco mais sobre os ingredientes selecionados pelo GFI e suas propriedades: CASTANHA-DO-BRASIL Com significativa produção nacional de cerca de 32.900 toneladas no ano de 2019 segundo o IBGE, a castanha-do-brasil in natura constitui uma favorável fonte proteica (15,60%) e lipídica (61,00%). O seu óleo possui uma boa qualidade nutricional (85% de ácidos graxos insaturados) e apresenta índices de acidez e peróxidos que atendem a legislação brasileira para óleos vegetais comestíveis. BABAÇU A produção nacional de Babaçu atingiu cerca de 48.700 toneladas no ano de 2019 segundo o IBGE, envolvendo cerca de 37 comunidades produtoras segundo a Conexsus. A amêndoa do babaçu possui 7,25 % de proteína e 66% de lipídeos. O seu óleo apresenta características funcionais interessantes por ser constituído de 83% de ácidos graxos saturados. Este produto, destinado à alimentação humana como suplemento alimentar, e, na medicina popular no tratamento de inflamações, já é produzido e comercializado por algumas comunidades. CUPUAÇU Com uma produção de cerca de 787 toneladas no ano de 2017, segundo o IBGE, a polpa do cupuaçu é destinada à produção de diversos alimentos (polpa congelada, sorvete, geleias, etc). Dessa produção, gera-se como resíduo as sementes. A semente do cupuaçu possui 9,4% de proteína e 64,9% de lipídeos. Do óleo extraído dessa semente forma-se uma torta com altos teores de proteína (15,2%), fibras (47,6%) e lipídeos (21,0%). A torta de cupuaçu se mostra como uma alternativa para a elaboração de isolados proteicos devido a sua riqueza de aminoácidos essenciais, tornando-se uma fonte de proteína alternativa. GUARANÁ O Guaraná é normalmente comercializado na forma de xarope (para a produção de refrigerantes e bebidas energéticas) e em pó (para a produção de cápsulas ou vendidos em sachês e frascos). Tanto o xarope quanto o pó são produzidos a partir das sementes torradas do guaraná que possuem cerca de 15% de proteína e 40% de fibras. Deste processo gera-se como subprodutos a casca e a polpa do guaraná. A casca possui cerca de 10% de proteína e 70% de fibra e a polpa possui cerca de 17% de proteína. Faz-se necessário o aprofundamento de estudos a cerca do aproveitamento destes subprodutos pela indústria alimentícia. MACAÚBA Segundo dados do IBGE, a produção nacional de Macaúba atingiu cerca de 1.178 toneladas no ano de 2018. A polpa e amêndoa de macaúba podem ser industrialmente exploradas não só como fonte de óleos vegetais, mas também como fonte de proteínas e carboidratos. Estas propriedades são desejáveis para a formulação de diferentes tipos de alimentos, com destaque para a indústria de panificação e massas e a indústria