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6 de Julho: Dia Mundial das Zoonoses 

Casos de zoonoses reabrem o debate sobre os impactos da produção de proteína animal para a saúde global: Gripe Aviária, doença da Vaca Louca e Peste Suína Africana têm potencial pandêmico, provocam prejuízo econômico e expõem fragilidade dos sistemas alimentares.   Em fevereiro deste ano, uma menina de 11 anos infelizmente faleceu no Camboja após contrair o vírus da gripe aviária (H5N1). Este e outros relatos da doença na região das Américas e no Sudeste Asiático levaram a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar, ainda no início do ano, que a situação da H5N1 é preocupante. A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) emitiu um alerta epidemiológico enfatizando a importância do controle da infecção em aves e recomendando que os países reforcem a vigilância da gripe sazonal e zoonótica em animais e humanos. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) iniciou uma campanha de conscientização sobre a disseminação do vírus e o estado de Mato Grosso reforçou medidas sanitárias, principalmente nas áreas que fazem fronteira com a Bolívia.  Gripe Aviária (H5N1) no Brasil  Zoonoses são doenças infecciosas transmitidas entre animais e pessoas. Em maio, o Brasil registrou oito casos de H5N1, sete no Espírito Santo e um no Rio de Janeiro. Mesmo com todos os casos envolvendo aves silvestres migratórias (sem diagnóstico da doença em humanos ou aves para consumo), no dia 22 de maio, o MAPA declarou emergência zoosanitária por 180 dias. Esse estado é declarado sempre que há risco de uma doença oriunda de um animal se propagar rapidamente e ajuda o governo a agilizar processos para combatê-la. A maior preocupação com essa medida era evitar que a gripe aviária chegasse nas granjas e nas criações de aves porque, como a doença se espalha rapidamente entre os animais, todos eles precisariam ser sacrificados, diminuindo a oferta de carne e ovos. Leia mais no G1 Até final de junho, o Brasil registrava 56 casos de H5N1 em aves silvestres e gaivotas. No entanto, no dia 2 de julho, o Espírito Santo, que já contava com 27 casos, registrou os primeiros casos em um pato e um ganso de criação doméstica. Seguindo o protocolo sanitário nacional, todos os animais da propriedade foram sacrificados. Aves de criação doméstica correm mais risco de contrair a doença porque circulam em ambiente externo, podendo ter contato com as aves silvestres que estavam infecctadas. Como na granja os animais ficam alojados o tempo inteiro, a chance desse contato é bem menor. De acordo com a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), as notificações em aves silvestres e de subsistência não comprometem o status do Brasil como “livre de H5N1” e nem trazem restrições ao comércio internacional de produtos avícolas brasileiros. Mesmo assim, o Japão suspendeu a compra de carne de frango do Espírito Santo, mercado que estava sendo conquistado pelos capixabas. A transmissão para humanos é rara: segundo a OMS, entre 2003 e 2023, 874 pessoas foram infecctadas com a H5N1. No entanto, a taxa de mortalidade é alta, por volta de 52%, principalmente por insuficiência respiratória. O que criou um alerta maior nos órgãos de saúde é que, nos últimos anos, a gripe aviária chegou a países que antes estavam protegidos (Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Equador, Honduras, Panamá, Peru, Venezuela, Brasil e Chile) e que animais mamíferos começaram a contrair H5N1. Neste ano, mais de 3 mil leões-marinhos morreram por suspeita da doença no Peru e quase 9 mil animais mamíferos marinhos morreram devido à gripe aviária no Chile. Como mamíferos possuem células muito mais parecidas com as nossas, a preocupação dos especialistas é que o vírus consiga se adaptar a ponto de ser transmitido de pessoa para pessoa. A transmissão para humanos se dá quando a pessoa tem contato direto com as secreções e fluídos de um animal infecctado, esteja ele vivo ou morto, porque as aves eliminam o vírus por meio das fezes e secreções respiratórias. Por isso, a doença também pode ser transmitida por água e objetos contaminados com essas secreções. Até agora, não há registros de transmissão entre humanos. Relembre outros casos de zoonoses No final de fevereiro, um caso da doença da vaca louca (Encefalopatia Espongiforme Bovina – EEB) foi identificado no Pará. A doença é gerada pelo príon, uma proteína infecciosa naturalmente presente no cérebro de mamíferos que pode se tornar patogênica ao assumir uma forma anormal. Como afeta progressivamente o sistema nervoso, o príon altera o comportamento e provoca irritabilidade no animal, por isso o apelido “vaca louca”.  A forma mais grave de EEB está nos casos de origem clássica, que acontecem quando um animal doente é abatido e sua carne é consumida por outros animais ou por humanos. Esses casos são altamente trasmissíveis, não têm cura e são letais, inclusive para humanos. O primeiro surto da vaca louca estourou no Reino Unido nos anos 90 e fez com que mais de 4.4 milhões de animais fossem abatidos. Aqui no Brasil é proibido o uso de restos de animais para fabricação de ração para bovinos e, em mais de 20 anos de monitoramento da doença, felizmente nunca foi identificado um caso de origem clássica da EEB no país. Mas, mesmo assim, o Ministério da Agricultura precisou suspender temporariamente a exportação de carne bovina para a China, o maior comprador do Brasil. Esse auto embargo aconteceu por causa do acordo bilateral firmado entre os dois países em 2015, no qual o protocolo sanitário determina que as exportações sejam interrompidas caso a doença, mesmo que da forma atípica (que não apresenta riscos de transmissão para o rebanho ou para os humanos), seja identificada no país. Em seguida, Irã, Jordânia e Tailândia também suspenderam suas importações brasileiras, enquanto a Rússia apresentou embargo apenas à carne do Pará.  As estimativas apontam que o Brasil deixou de faturar cerca de 17 milhões de dólares por dia com a suspensão chinesa. Dessa receita, 42% vem do estado de Mato Grosso, maior produtor de carne bovina do país. Em fevereiro de 2021 o Brasil também registrou casos da EEB atípica. Na época, a

GFI na Bonn Climate Change Conference

Entre os dias 5 a 15 de junho, acontece na cidade de Bonn, na Alemanha, o Bonn Climate Change Conference (SB58). O evento foi projetado para preparar as tomadas de decisões relacionadas à contenção da crise climática, a serem adotadas na COP28 nos Emirados Árabes Unidos em dezembro. A conferência convocará a 58ª sessão dos órgãos subsidiários das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), incluindo discussões de importância crítica, como o Balanço do Objetivo Global de Adaptação. Esse documento subsidia uma análise profunda sobre como o mundo está em ação ao clima, identificando as lacunas e trabalhando de forma articulada para chegar a um acordo sobre os caminhos das soluções, até 2030 e além. O GFI é uma das organizações observadoras das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), podendo participar de eventos, acompanhar negociações e submeter contribuições técnicas aos grupos de trabalho que se juntam para analisar e definir resoluções da Conferência das Partes, a COP. Por isso, Mariana Bernal, Analista de Políticas Públicas do GFI Brasil, estará presente participando do evento paralelo Unlocking the Potential of Alternative Proteins and Plant Rich Diets, das 16h15 às 17h30 (CEST) | 11h15 às 12h30 (GMT-3), a fim de mostrar o papel que as proteínas alternativas podem desempenhar no debate climático. Você pode assistir ao evento através deste link. “Queremos mostrar que, por meio do desenvolvimento de ingredientes vegetais como o feijão e espécies vegetais nativas da Amazônia e do Cerrado, podemos contribuir para a preservação da biodiversidade desses biomas. Uma das formas de fazer isso é apoiar pequenos e médios produtores de alimentos a diversificarem suas produções por meio da bioinovação”.

Tem menos carne e mais proteínas alternativas no prato do brasileiro, afirma estudo

34% dos brasileiros que diminuíram o consumo de carne no último ano substituem o alimento por carnes vegetais.   Com o tema “Saúde para Todos” é celebrado hoje, 7 de abril, o Dia Mundial da Saúde. Dentre outros temas relevantes, a data convida a sociedade a refletir sobre as urgências de saúde provocadas pela crise climática, cujo principal agravante é a produção e o consumo de proteína animal. Para além de questões relacionadas à sustentabilidade, diminuir o consumo de alimentos de origem animal, especialmente a carne, também pode trazer outros benefícios, como a redução do consumo de gordura saturada, sódio e colesterol.   Para muitas pessoas, no entanto, deixar de comer carne significa abandonar hábitos e tradições alimentares. Por isso, além de vegetais, frutas e grãos, cada vez mais brasileiros têm substituído os produtos de origem animal pelas proteínas alternativas. Sabendo que para a maior parte das pessoas a redução no consumo de carne está relacionada a motivos de saúde, essa indústria tem buscado produzir alimentos análogos mais saudáveis para todos os momentos do dia.   Mudança no hábito do consumidor   Em 2022, 67% dos brasileiros reduziram seu consumo de carne (um aumento expressivo de 17 pontos percentuais em relação a 2020) e 36% o fizeram por alguma questão relacionada à saúde, como colesterol alto, sobrepeso, má digestão ou desejo de melhorar a saúde no geral. 34% dos consumidores que diminuíram a quantidade de carne no prato a substituíram somente ou principalmente por carnes vegetais, 9 pontos percentuais a mais do que em 2020. Entre os brasileiros que cortaram a carne por causa da saúde, 40% utilizam a carne vegetal como substituto principal ou exclusivo.  Esses e outros dados levantados pela Pesquisa de Consumidor do GFI Brasil de 2022 indicam que o brasileiro já sente os benefícios de uma alimentação com menos (ou sem) carne e que não possui intenção de voltar a consumi-la no mesmo nível de antes, uma vez que 46% dos consumidores que já reduziram a carne afirmam que pretendem manter esse nível de consumo mais baixo e 47% pretendem reduzir ainda mais no próximo ano. Entre os entrevistados que pretendem reduzir a carne nos 12 meses seguintes (independentemente de já terem reduzido ou não reduzido antes), a saúde foi o principal motivo para uma intenção de redução futura (50%), seguido pelo aumento do preço da carne (20%) e pela preocupação com os animais (16%). Por mais que a curiosidade seja o fator que impulsione 47% das primeiras compras de uma alternativa vegetal análoga, 33% dos consumidores decidem experimentar esses produtos porque estão em busca de uma opção mais saudável, o que demonstra que uma parcela da população brasileira já entende que essas alternativas proporcionam momentos de prazer, confraternização e tradição, mantendo os mesmos  hábitos, mas de forma mais saudável.   Opções mais saudáveis   Essa, no entanto, é uma noção muito recente e, para embasar ainda mais consumidores nas suas escolhas e os legisladores nas formulações de suas diretrizes, o GFI Brasil desenvolveu o artigo “Estudo Nutricional: análise comparativa entre produtos cárneos de origem animal e seus análogos plant-based”, comparando a composição nutricional e os aditivos utilizados nas formulações dos produtos de origem animal com os seus análogos feitos de plantas. Os resultados do estudo demonstraram que produtos cárneos de origem vegetal apresentam aspectos nutricionais superiores aos produtos tradicionais com relação a teores de gordura saturada, sódio e fibra.   A análise foi feita a partir de dados coletados nos rótulos de almôndegas, empanados, hambúrgueres, linguiça e quibes de origem animal e vegetal. Entre os resultados, apenas 33% dos produtos vegetais registraram alto teor de gordura saturada e sódio, enquanto 50% dos produtos tradicionais apresentaram alto teor desses componentes. Dos produtos cárneos plant-based, 76% puderam ser considerados fonte de fibra, contra apenas 4% dos produtos de carne animal. Além disso, a média de aditivos alimentares foi maior nos produtos cárneos tradicionais (chegando ao valor médio de 5 aditivos por produto analisado), do que nos produtos vegetais (média de 3 aditivos). Mesmo quando processadas da mesma forma que seus análogos de origem animal, as alternativas vegetais tendem a ser uma opção mais saudável porque, em muitos casos, é no processamento desses produtos que se suplementa nutrientes como cálcio, ômega 3, vitaminas D, B12 e outras. “Sempre que compramos esses produtos devemos analisar a qualidade das informações nutricionais presentes na rotulagem e não a quantidade de processos que o alimentou passou. Muitos alimentos considerados saudáveis, como pão integral, iogurte, queijo, atum e até alguns tipos de carne, também passam por processos fundamentais para garantir que características sensoriais e de segurança do alimento não sejam comprometidas”, explica Cristiana Ambiel, gerente de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil.     Ao buscar entender a percepção do brasileiro sobre alimentos ultraprocessados, a Pesquisa de Consumidor concluiu que quanto maior é o grau de informação sobre esses produtos, maior é a frequência de consumo de alternativas vegetais análogas. “Ou seja, quanto mais informado é o consumidor sobre alimentação e saúde, mais ele tende a escolher produtos de origem vegetal”, complementa Camila Lupetti, especialista de engajamento corporativo do GFI Brasil.     Em um estudo realizado pela Escola de Medicina de Stanford, cientistas compararam o consumo de carne vegetal e animal e concluíram que, ao consumir a opção feita de plantas, os indivíduos avaliados tiveram melhoras em vários fatores de risco de doenças cardiovasculares (como diminuição do colesterol, peso corporal, gordura saturada) e elevaram a ingestão de fibras sem mudar o nível de sódio e proteína na dieta.    “Vivemos em uma sociedade em que a garantia da segurança alimentar e dos alimentos está muito ligada aos processos industriais, que permitem a comercialização e o armazenamento dos produtos por períodos mais longos. Por isso, é muito importante que as empresas utilizem tecnologias que permitam desenvolver alimentos com valor nutricional elevado e rótulos fáceis de serem entendidos, de modo que as pessoas tenham condições de fazer as escolhas que mais se adequam às suas necessidades. Com a inclusão de proteínas alternativas a uma dieta

E se você passasse uma semana inteira sem comer carne? 

Aproveitando o Dia Mundial sem Carne o The Good Food Institute Brasil e a Sociedade Vegetariana Brasileira te convidam a fazer uma semana de refeições à base de vegetais e proteínas alternativas  Hoje, 20 de março, é celebrado o Dia Mundial Sem Carne. Criada em 1985, o objetivo da data é conscientizar as pessoas sobre os impactos causados pelo consumo do alimento e os benefícios que uma alimentação baseada em vegetais pode trazer para a saúde e para o meio ambiente. Cada vez mais pessoas têm repensado seus hábitos alimentares e aderido a diferentes tipos de dieta que excluem completamente ou diminuem o consumo de produtos de origem animal. Atualmente, 28% dos brasileiros se consideram flexitarianos. Em 2022, de acordo com pesquisa do GFI Brasil, 67% dos brasileiros diminuíram  seu consumo de carne (bovina, suína, aves e peixes), dos quais 52% por vontade própria, incluindo questões relacionadas à saúde, preocupação com os animais, o meio ambiente, influência de familiares ou motivos religiosos e espirituais. A boa notícia é que, desses, 47% pretendem diminuir ainda mais a ingestão no próximo ano. “Uma alimentação 100% à base de vegetais, que exclui todos os alimentos de origem animal, não somente é possível como também é comprovadamente uma das formas mais efetivas de você cuidar da sua saúde”, afirma a nutricionista e Diretora do Departamento de Saúde da SVB, Alessandra Luglio. Veja como fazer parte desse movimento! Aproveitando que em 2023 o Dia Mundial Sem Carne é celebrado em uma segunda-feira, você pode começar pela Segunda Sem Carne, uma campanha presente em mais de 40 países, apoiada por líderes internacionais, governos, personalidades e empresas. As organizações estendem o convite para que você participe também de uma Semana Mundial Sem Carne e sinta os benefícios de uma alimentação à base de plantas. A forma mais comum de substituição são os alimentos vegetais íntegros, como grãos, legumes, frutas e tubérculos. Com criatividade e planejamento, é totalmente possível criar receitas nutritivas e deliciosas para a semana toda. Se você não sabe por onde começar, esse cardápio vegano gratuito para 14 dias elaborado pela SVB vai te ajudar! “Todas as receitas foram elaboradas considerando o cálculo de aminoácidos essenciais, fundamentais para a formação de proteínas, assim como outros nutrientes necessários ao corpo, fazendo com que as receitas sugeridas sejam saudáveis e completas”, Tatiana Consoli, nutricionista do Departamento de Saúde da SVB. Para muitas pessoas, no entanto, abandonar hábitos e tradições alimentares é muito difícil, especialmente no Brasil, onde boa parte dos eventos sociais acontecem em torno de uma mesa recheada de carnes variadas e outros alimentos de origem animal. Para fazer essa transição algo mais simples e ao mesmo tempo prazeroso, existem as proteínas alternativas.  “Esses alimentos foram criados para te ajudar nessa missão sem que você precise abandonar a ideia de tomar o café com leite pela manhã, de comer o “peito de frango” no almoço, o iogurte no lanche e o omelete no jantar. Para todas essas ocasiões e produtos tradicionais, existem alternativas de origem vegetal com o mesmo gosto, aparência e aroma dos convencionais.”, explica Gustavo Guadagnini, presidente do GFI Brasil. Se você quer conhecer os produtos vegetais alternativos disponíveis hoje no mercado nacional, acesse os guias do GFI Brasil no Instagram: lá você vai encontrar diversas marcas e produtos para todas as refeições e momentos do seu dia. Desde 2019, mais de 140 produtos foram lançados por cerca de 130 empresas nacionais ou que operam no Brasil. “Nós queremos construir um mundo mais seguro e justo para as pessoas, meio ambiente e também para os animais. No entanto, precisamos entender que a forma atual como produzimos e distribuímos alimentos exige recursos cada vez mais finitos, além de não garantir a segurança alimentar nem de ofertar alimentos completamente seguros às pessoas.”, afirma Gus Guadagnini. “A importância da Semana Mundial Sem Carne é enorme. Nela, podemos dar um primeiro passo para refletir sobre como nossas escolhas podem promover a proteção do meio ambiente, melhorar a nossa saúde e transformar a forma como nos relacionamos com os animais!” Ricardo Laurino, presidente da SVB.

Carne animal ou vegetal? Qual é mais saudável?

Artigo inédito do GFI Brasil comparou rótulos de 59 produtos cárneos e comprovou benefícios nutricionais em optar pelas versões vegetais de alimentos como almôndegas, quibes, empanados, hambúrgueres e linguiças. O mercado de proteínas vegetais e produtos plant-based cresceu significativamente no Brasil nos últimos 5 anos.  Esta expansão de produtos feitos de plantas que mimetizam as características sensoriais de produtos de origem animal viabiliza uma oferta mundial mais diversificada de alimentos, despertando o interesse dos consumidores, atraindo financiamento para pesquisa, e promovendo o mercado de proteínas alternativas.  Pesquisa conduzida pelo The Good Food Institute Brasil em maio de 2020 permitiu um conhecimento mais detalhado deste público. Metade dos entrevistados reduziram o consumo de carne de origem animal nos 12 meses anteriores à pesquisa.  Dentre estes, 25% incluíram a carne vegetal (análogas ou não às de origem animal) como único ou principal substituto da carne animal no dia-a-dia. Entretanto, ainda existem poucos estudos sobre as vantagens nutricionais destes produtos em relação aos seus análogos de origem animal, especialmente no que diz respeito a produtos ultraprocessados, gerando dúvida tanto entre consumidores quanto em reguladores. Neste sentido, o GFI Brasil desenvolveu o artigo “Estudo Nutricional: análise comparativa entre produtos cárneos de origem animal e seus análogos plant-based”, comparando a  composição nutricional e os aditivos utilizados nas formulações dos produtos de origem animal com os seus análogos feitos de planta.  Os resultados demonstram que produtos cárneos de origem vegetal apresentam aspectos nutricionais superiores aos produtos tradicionais com relação a teores de gordura saturada, sódio e fibra. Os resultados A análise foi conduzida a partir de dados coletados nos rótulos de almôndegas, empanados, hambúrgueres, linguiça e quibes de origem animal e vegetal, levando em consideração a atualização dos critérios da ANVISA para rotulagem de alimentos embalados. Entre as novas diretrizes que entram em vigor em outubro de 2022, será obrigatório informar no rótulo frontal quando o produto apresentar índices altos de sódio, açúcar e gordura saturada. Alguns dos resultados favoráveis encontrados foram: A questão dos alimentos ultraprocessados (AUP) O conceito de produtos ultraprocessados normalmente traz dúvidas e gera debate entre os consumidores sobre os reais impactos nutricionais, sociais e ambientais atribuídos aos  produtos categorizados como tal.  Segundo a Classificação NOVA, o termo ultraprocessado é associado a alimentos que passam por processamento industrial, como extrusão, e apresentam altos teores de sódio, gordura saturada, calorias e aditivos alimentares. Entretanto, a produção de alimentos por processos industriais não implica necessariamente em produtos nocivos à saúde. No caso dos alimentos plant-based, muito pelo contrário. O estudo realizado pelo GFI Brasil evidencia que estes produtos entregam características nutricionais não apenas adequadas mas, em alguma delas, superiores aos produtos tradicionais, como maior teor de fibra, e menores teores de sódio e gordura saturada. Com relação ao teor de proteína, as amostras de produtos plant-based estão de acordo com os critérios da ANVISA, mas há oportunidade de melhorar a porcentagem, a fim de alcançar equivalência em relação aos produtos de origem animal.  As proteínas são componentes vitais na dieta humana devido aos seus efeitos na saúde e no bem-estar e têm atraído constante atenção devido à crescente conscientização do consumidor em relação aos aspectos de saudabilidade e sustentabilidade. Impulsionadas pelas demandas atuais de consumo, a indústria de alimentos têm empregado técnicas tradicionais e modernas, altamente tecnológicas, para disponibilizar no mercado uma nova gama de produtos análogos aos de origem animal, obtidos exclusivamente a partir de fontes vegetais. Com o fortalecimento do setor, novos produtos vêm sendo lançados e, com isso, torna-se essencial a atualização do banco de dados dos estudos existentes. Além disso,  é necessário aprofundar o entendimento quanto à coerência ou não da associação de produtos cárneos vegetais com o termo ultraprocessado. Por esses motivos, e visando ampliar a compreensão dos aspectos nutricionais dos produtos cárneos feitos de plantas, o GFI pretende continuar desenvolvendo novos estudos que também avaliem o perfil de aminoácidos e ácidos graxos dos produtos dessa categoria. É dessa forma, com base em fatos e dados, que será possível avançar no desenvolvimento de produtos cada vez mais nutritivos e elucidar os principais questionamentos relacionados à saudabilidade desses produtos. O objetivo dessa publicação é que também sirva de instrumento para gerar debate no campo científico sobre o tema, fornecendo mais um subsídio para reguladores, pesquisadores, profissionais de alimentos e o público em geral tirarem suas conclusões. Leia o artigo completo aqui.

7 de junho: Dia Mundial da Segurança de Alimentos

A alimentação segura é essencial para promover a saúde humana e erradicar a fome. GFI quer garantir a segurança de produtos à base de plantas. O Dia Mundial da Segurança dos Alimentos foi criado pela ONU em 2018 e é celebrado todo 7 de junho. O principal objetivo da data é chamar a atenção para a importância de todos os seres humanos terem acesso a alimentos seguros, além de fortalecer esforços para prevenir, detectar e gerenciar perigos  de origem alimentar. O acesso a quantidades suficientes de alimentos seguros e nutritivos é fundamental para sustentar a vida e promover a boa saúde. Apesar de ser um direito, o acesso à alimentação adequada ainda não é a realidade de muitas pessoas no planeta. Por isso, o tema da campanha de 2022 é “Alimentação Segura, Melhor Saúde”.  Segurança alimentar e segurança dos alimentos são dois conceitos que vêm ganhando destaque no debate público, especialmente no contexto da pandemia da COVID-19. Os termos são parecidos e estão correlacionados, mas têm significados diferentes: segurança alimentar é a garantia que todas as pessoas tenham acesso aos alimentos, com fornecimento estável, abastecimento assegurado e distribuição equitativa. Já a segurança de alimentos trata de garantir que os alimentos consumidos pelas pessoas sejam seguros e livres de contaminação, ou seja, não causem nenhum efeito adverso à saúde dos consumidores, quando consumidos de acordo com o seu uso pretendido. Não existe segurança alimentar sem segurança dos alimentos e, como cita o novo guia da FAO/OMS para o Dia Mundial da Segurança dos Alimentos, “se não for seguro, não é alimento”. Segundo a FAO, quase uma em cada três pessoas no mundo, ou 2,37 bilhões de pessoas, não teve acesso à alimentação adequada em 2020 – um aumento de quase 320 milhões de pessoas em relação ao ano de 2019. O trabalho do GFI pela segurança dos alimentos Os setores de alimentos feitos de planta (plant-based) e carne cultivada estão presentes em muitos dos drivers e tendências analisados pelo estudo da FAO “Pensando no futuro da segurança de alimentos – um relatório prospectivo”. Além dessas alternativas mais “populares”, a produção de algas marinhas e macroalgas e a produção de micoproteínas (derivadas de fungos filamentosos) também são citados pelo relatório como segmentos em expansão. A indústria de alimentos à base de plantas pode não só ajudar na transição para um  sistema alimentar global mais sustentável, saudável, ético e justo, mas também pode ajudar a evitar que crises relativas à segurança dos alimentos continuem surgindo. Isso porque produtos de origem animal (como ovos, peixes, frutos do mar, carne crua, leite e derivados), quando mal manuseados, se tornam fontes de transmissão de DTAS, e a adoção de uma dieta baseada em plantas poderia minimizar essas contaminações.  Além disso, o consumo de proteínas alternativas vai continuar crescendo e, como indica relatório do GFI (que prevê os requisitos globais de volumes de produção relativos à colheita, ingredientes, infraestrutura e investimentos para o setor em 2030), a indústria vai precisar se preparar e se adaptar para suprir a demanda.  Pensando nisso, o The Good Food Institute Brasil está trabalhando diretamente em duas iniciativas para contribuir com a segurança de alimentos das proteínas alternativas. A primeira iniciativa trata-se de um estudo de segurança de alimentos aplicado para carne cultivada. Este estudo, iniciado recentemente, está sendo realizado na UNICAMP por uma equipe multidisciplinar de pesquisadores e sob a coordenação do professor Dr. Anderson S. Sant’Ana. O objetivo final do estudo é estabelecer um plano de segurança de alimentos que aborde os aspectos de qualidade e segurança da produção de carne cultivada usando como  base as  recomendações do Codex Alimentarius. Além desta iniciativa, em maio o GFI lançou umaa chamada para o desenvolvimento de um outro estudo sobre segurança de alimentos, porém voltado para produtos plant-based. Por isso,convidamos pesquisadores, empresas e instituições interessadas a enviarem suas propostas até o dia 9 de junho. Estes dois trabalhos, , que terão duração de 4 e 5 meses, vão contribuir para geração de subsídios técnicos e científicos para orientar as futuras ações de legisladores, pesquisadores, professores, produtores e empresários do segmento.  Em comparação aos produtos de carne convencional, as alternativas à base de plantas geralmente são compostas por uma diversidade maior de ingredientes – as proteínas vegetais, por exemplo, variam entre leguminosas, pulses, sementes, cereais e tubérculos, e as gorduras costumam vir de um combinação entre óleos (como de canola, coco, soja e girassol), manteiga de cacau, etc. A diversidade de ingredientes nos produtos plant-based é uma vantagem, porque possibilita o ajuste da composição para alcançar as necessidades tecnológicas, funcionais e sensoriais desejadas, mas também pode gerar um ponto de atenção, porque aumenta o número de fontes de onde perigos podem surgir. Além disso, apesar da indústria de alternativas à base de plantas ter nascido fortemente associada à de produtos animais, as considerações de segurança entre elas são bem diferentes. O desafio de hoje é identificar todos os potenciais riscos para superá-los e quanto mais informações científicas, melhor. Por isso, o GFI vem trabalhando em parceria com o governo, municiando as equipes técnicas do Mapa e da Anvisa com dados essenciais para o processo regulatório dos produtos plant-based no Brasil. O que mais precisamos saber sobre Segurança de Aimentos? Incidentes locais, efeitos globais Além de essencial para a saúde humana, a produção de alimentos seguros também reduz o desperdício, preserva recursos, beneficia a economia, cria mercados nacionais prósperos, exportações estáveis e reduz a pressão sobre os sistemas de saúde. A segurança dos alimentos é afetada pela saúde dos animais, das plantas e do ambiente em que eles são produzidos; por isso, o problema deve ser tratado de forma holística, onde o planeta é visto como um sistema único e complexo. Hoje, qualquer incidente na cadeia de suprimento de alimentos pode desencadear efeitos negativos não só regionais, mas globais. De acordo com a ONU, embora o vírus da COVID-19 não seja transmitido por alimentos, a pandemia colocou em destaque muitas questões relacionadas a eles, como higiene, resistência antimicrobiana, doenças zoonóticas, mudanças climáticas e

IPCC: Carne cultivada e à base de plantas podem desempenhar um papel fundamental na redução pela metade das emissões globais até 2030

O GFI defende mais financiamento público para proteínas alternativas, uma vez que os principais cientistas do mundo reconhecem que as inovações do setor agrícola – especialmente carne à base de plantas e cultivada – mitigam as mudanças climáticas e oferecem co-benefícios nas áreas de biodiversidade e de saúde global O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) lançou seu Sexto Relatório de Avaliação, no qual aponta a carne à base de plantas e cultivada como uma solução transformadora que, junto das transições nos setores de energia e transporte, pode cortar pela metade as emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) até 2030. Comparado com as avaliações anteriores do IPCC, o Sexto Relatório de Avaliação é o que mais aprofunda nas proteínas alternativas e melhor destaca como elas podem reduzir significativamente as emissões em escala. Elaborado pelos principais cientistas do mundo, o relatório afirma que, mesmo se os combustíveis fósseis fossem eliminados da noite para o dia, as emissões do sistema alimentar por si só prejudicariam – a ponto de impedir – o cumprimento da meta do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5°C. Embora o relatório tenha constatado que “o maior potencial (para mitigar as mudanças climáticas) viria da transição para dietas baseadas em vegetais” (TS. 5.8), ele aponta que a crescente demanda por carne convencional deve gerar um aumento de 14% na sua produção até 2029 (TS. 5.8). Com a conclusão do IPCC de que a dieta humana, que é um hábito difícil de ser mudado, precisa migrar com urgência para fontes de alimentos mais sustentáveis (1.4.7), o The Good Food Institute defende que os governos invistam em carnes vegetais e cultivadas como alternativa à convencional. Formuladores de políticas podem tornar essa mudança de comportamento o mais fácil possível para os consumidores ao investirem em pesquisas que tornem essas opções tão deliciosas e acessíveis quanto a carne convencional, garantindo que a transição no sistema alimentar necessária para atender às metas climáticas globais aconteça. O relatório descobriu que tecnologias alimentares emergentes (como fermentação de precisão, carne cultivada e alimentos à base de plantas) podem “prometer reduções substanciais nas emissões diretas de gases de efeito estufa provenientes da produção de alimentos” (TS. 5.6.2). Citando um artigo de co autoria do cientista sênior do GFI Israel, Tom Ben-Arye, o relatório reconhece que, embora ainda esteja em seu princípio e ainda dependa de maiores investimentos, inovações a aprovações regulatórias, a carne cultivada oferece uma alternativa mais sustentável aos atuais sistemas de produção agropecuária e uso da terra (7.3.3). Além das reduções de emissões, o relatório destaca que as proteínas alternativas também “têm menor pegada de terra, água e nutrientes e tratam das preocupações com o bem-estar animal” (TS. 5.6.2). É possível identificar múltiplos co-benefícios associados a uma transição alimentar para carne à base de plantas e cultivada, que vão desde a diminuição do uso de pesticidas, antibióticos e de poluentes (que afetam a saúde e qualidade do solo, da água e do ar) até a redução do risco do surgimento de novas zoonoses (TS-91). “Os principais cientistas do mundo deixaram claro que a transformação do sistema alimentar é necessária para atender às metas climáticas globais e reconheceram a carne à base de plantas e cultivada como soluções de alto impacto para atender à crescente demanda global por carne. O investimento público continua sendo crítico e urgentemente necessário para levar as proteínas alternativas em escala ao mercado. Os governos de todo o mundo devem investir em carnes que sejam produzidas com muito menos terra e água, que gerem uma fração das emissões e que reduzam  substancialmente os riscos à saúde global em comparação com a carne convencional. Temos uma chance de mudar a forma como a carne é feita, e agora é a hora de fazer isso.”, afirma Bruce Friedrich, fundador e CEO do GFI. “O ganho de escala da produção de carne à base de plantas e cultivada é fundamental para que a indústria cumpra seu potencial de mitigação climática. O IPCC identificou que o novo aspecto do mercado de proteínas alternativas é a escala proposta, que só pode ser alcançada com uma injeção de investimento público e privado. Esse investimento possibilitará que a carne de origem vegetal e cultivada compita com os produtos animais convencionais em sabor e preço, desencadeando um ciclo virtuoso de demanda do consumidor e mais inovação”, completa Emma Ignaszewski, gerente de projetos de engajamento corporativo do GFI. Mais informações Proteínas alternativas podem desempenhar um papel crucial na redução das emissões do sistema alimentar: 77% das terras agrícolas de todo o planeta são usadas para a pecuária, que fornece apenas 18% das calorias da dieta humana. Diante da escassez hídrica e dos crescentes índices de desmatamento, alternativas à pecuária podem ajudar a alimentar mais pessoas enquanto dependem de muito menos terra e água. De acordo com um relatório apoiado pelo Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido e pela Climate Works Foundation, a diversificação da fonte do suprimento global de proteínas pode resultar na redução de 10% nos preços médios das safras até 2050, ao mesmo tempo em que libera 640 milhões de hectares de terra, uma área maior que a floresta amazônica – criando mais espaços para práticas agrícolas sustentáveis. Uma transição em direção ao consumo de carne à base de plantas reduziria as emissões em 30% a 90%, enquanto a produção da carne cultivada poderia cortar o impacto climático da carne em até 92% e o uso de terra em até 95%.

China anuncia inclusão de carnes cultivadas em planejamento para os próximos 5 anos

Novas medidas visam aumentar práticas de sustentabilidade e segurança alimentar no país incentivando “alimentos do futuro” Texto: Bruna Corsato Revisão: Alexandre Cabral e Vinícius Gallon Créditos da imagem: Aleph Farms O Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China anunciou o plano agrícola do país para os próximos cinco anos. O documento inclui carnes cultivadas, chamadas pelos chineses de “alimento do futuro”, como parte do planejamento para lidar com as questões de sustentabilidade e segurança alimentar no país. A decisão inédita solidifica a expansão e aceitação pelas quais o setor de carne cultivada passa no mundo todo. A decisão inédita do país asiático de produzir carne cultivada em escala até 2027 também sinaliza iniciativas do governo chinês para mitigar os efeitos da crise climática.  A China é o país responsável pelo maior índice de emissão de gases de efeito estufa no mundo todo, sendo boa parte proveniente da pecuária. Segundo pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas em 2014, 14,5% das emissões de gases de efeito estufa mundiais são provenientes da pecuária e, destes, 29% vêm da China. “Ao incluir tecnologias alimentares revolucionárias, como a carne cultivada, os líderes chineses estão dizendo publicamente o que outros ao redor do mundo esperavam há muito tempo: que a China pretende se empenhar na construção do futuro dos alimentos”, disse Mirte Gosker, diretora executiva do The Good Food Institute Ásia Pacífico. O investimento em produção de carne cultivada permite que a China diminua as emissões geradas pela pecuária tradicional e importação de carne, que aumentaram signficamente após surtos de peste suína africana no país em 2019 e 2020 – trazendo também questões de segurança alimentar para o centro do debate nacional chinês. A carne cultivada diminui significativamente o risco da transmissão de doenças como essas, pois é produzida fora do animal, em ambiente controlado. O setor de carne cultivada vem mostrando desenvolvimento promissor nos últimos anos, mas ainda são necessários grandes investimentos em pesquisa para que a tecnologia consiga ganhar escala comercial, além de regulações e legislações favoráveis por parte dos governos nacionais locais. A iniciativa da China certamente é um passo nessa direção e deve dar início a uma fase de aceleração em pesquisa científica no mercado. “Esta é uma das ações políticas mais importantes na história das proteínas alternativas.”, conclui Josh Tetrick, CEO da empresa de ovos vegetais Just Inc. Brasil também está na corrida para liderar o mercado de carne cultivada No Brasil, já são vistos movimentos similares acelerando o desenvolvimento dessa indústria por aqui. Com apoio técnico do The Good Food Institute Brasil, A JBS entrou para o setor de carne cultivada investindo USD $100 milhões, um recorde para o setor. O valor foi direcionado ao início da construção do Centro de Pesquisa em Proteína Cultivada no Brasil, que deve ser inaugurado ainda este ano, e à aquisição da espanhola BioTech Foods, uma das líderes no desenvolvimento de biotecnologia para a produção de proteína cultivada. O apoio técnico do GFI Brasil também possibilitou outra parceria envolvendo uma gigante de carne tradicional, a BRF. Cooperação firmada com a israelense Aleph Farms, fará uso do know-how da foodtech para adaptar produtos de carne cultivada para o gosto do brasileiro. Em um segundo momento, uma unidade fabril será construída em território nacional para atender o mercado interno. Outro avanço significativo para o setor foi realizado pelo Banco de Células do Rio de Janeiro (BCRJ), que anunciou ter cultivado tecidos de quatro espécies de carne de pescado. A previsão é de que a foodtech tenha um protótipo de seus produtos para teste já em 2022. Já são vistas também iniciativas de capacitação profissional para atuação na área. A Universidade Federal do Paraná (UFPR) tem oferecido regularmente cursos relevantes para o setor, como “Carne Cultivada e Empreendedorismo” e “Introdução à Zootecnia Celular“, ambos realizados em parceria com o GFI Brasil.  Além disso, o GFI organizou um workshop para os reguladores do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (DIPOA/MAPA) e da Gerência Geral de Alimentos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (GGALI/Anvisa). O evento abordou técnicas de cultivo celular para a obtenção de produtos cárneos, bem como questões a serem consideradas no processo de regulação para garantir a segurança alimentar do processo e do produto final. No Brasil, a Secretaria Geral de Alimentos da Agência Nacional de Saúde (ANVISA) e o DIPOA/MAPA, serão responsáveis ​​por analisar os pedidos de aprovação de produtos cárneos cultivados. “A ANVISA está empenhada em compreender os desafios de segurança alimentar e rotulagem impostos pela carne cultivada e está em processo de desenvolvimento de uma estrutura regulatória que abranja produtos cárneos cultivados. O GFI Brasil propôs em 2021 um protocolo único para carne cultivada dentro da estrutura de novos alimentos existente no Brasil. Esperamos que o Brasil realize uma análise de impacto regulatório em 2022”, afirmou Alexandre Cabral, diretor de políticas públicas do GFI Brasil..  De acordo com a ANVISA, o Brasil planeja adotar um modelo semelhante ao dos Estados Unidos e da União Europeia. As empresas primeiro enviarão uma solicitação incluindo informações sobre seu produto ao regulador no início do processo de pesquisa e desenvolvimento. Então, o regulador analisará a segurança do produto, provavelmente sob a atual estrutura regulatória de novos alimentos.

Proteínas alternativas são aliadas na garantia de um futuro mais sustentável

Na contramão das inovações alimentares, iniciativas tentam barrar o desenvolvimento do setor, mas este é um mercado do “e” e não do “ou”. Há espaço e demanda para toda a indústria. Texto: Alexandre Cabral Revisão: Vinícius Gallon Mais um ano se inicia. Deixamos para trás um ano complexo, onde a vida em geral foi novamente pautada pela pandemia, onde experimentamos o alívio da vacinação de grande parte da população e a incerteza sobre novas variantes do vírus e seus efeitos. Abrimos um ano onde temos a sensação de estarmos na segunda metade da luta contra a Covid-19 e a certeza de que algo de novo precisa ser feito na relação entre o homem e o planeta. Hora de ouvir os ecos das discussões sobre sistemas alimentares (UNFSS) e suas conexões com os desafios da sustentabilidade (COP26). Hora de olhar para os números crescentes da fome no mundo. Hora de convergir as forças em prol de um tema crucial que atravessa diversas dessas questões: a oferta de proteína obtida de forma sustentável para consumo humano, não importa a fonte. A indústria da proteína de origem animal intensificou o debate nessa direção, anunciando diversos programas em busca da neutralidade de suas emissões nas próximas décadas, dentre elas Danone, JBS e BRF. A indústria de proteínas alternativas pode colaborar muito neste debate. Está provado que é possível juntar alguns ingredientes usuais na indústria de alimentos com outros desenvolvidos especificamente para esse mercado e criar um alimento gostoso, sustentável e seguro, que pode ser preparado e consumido da mesma forma que o produto de origem animal,  mas utilizando uma quantidade radicalmente menor de terra e água em seu processo produtivo.  Essa é uma corrida tecnológica que está acontecendo em diversas partes do mundo e tanto as empresas quanto os cientistas brasileiros estão muito bem posicionados. Trata-se de um campo fértil para a inovação e o Brasil sempre se destacou em avançar tecnologias que já dominava antes. Somos uma potência em alimentos e temos tudo para sermos uma potência também em alimentos de alta tecnologia, como os produtos plant-based e as carnes cultivadas. Somos hoje o celeiro do mundo, imbatíveis e fundamentais no fornecimento de commodities agrícolas. Como disse um importante executivo do setor, podemos nos tornar rapidamente o supermercado do mundo, fornecendo produtos de alto valor agregado desenvolvidos e fabricados no Brasil.  Reimaginarmos a forma como obtemos proteína para consumo humano é urgente e fundamental. As proteínas alternativas, como chamamos os produtos análogos aos de origem animal obtidos a partir de plantas, por processos de fermentação ou por cultivo de células, é uma das alternativas concretas para ajudarmos o Brasil na sua transição para uma agricultura de baixo carbono. Lado a lado com as proteínas sustentáveis de origem animal, podemos formar uma resposta consistente do nosso país e da nossa economia agrícola ao novo cenário de médio prazo, onde diferentes fontes de obtenção de proteína para consumo humano conviverão. Esse é um mercado “E”, e não um mercado “OU”: há espaço e demanda para atuação de todos. O papel do GFI é ser um catalisador dessa mudança, estimulando a produção de proteína sustentável para consumo humano através de análogos aos produtos de origem animal. Hora de rever o que foi feito ou deixou de ser feito e alinhar ideias e atitudes para o ano que se inicia. O mercado de produtos análogos aos produtos de origem animal vem crescendo muito. Nascido em 2019 a partir do movimento de algumas poucas empresas, veio tomando corpo em 2020 e se consolidou em 2021. Diversas empresas de diferentes portes passaram a operar no mercado nacional e hoje tanto o consumidor brasileiro tem acesso a produtos saborosos e seguros em qualquer supermercado quanto ele já é exportado para mais de 25 países, incluindo Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Alemanha, Emirados Árabes, África do Sul, México, Colômbia e tantos outros. O principal desafio para as empresas em 2022 é caminhar na direção do aumento ao mesmo tempo da escala de produção e do número de ingredientes nacionais utilizados. Isso poderá permitir a produção a um custo cada vez mais baixo, para um público cada vez maior. E permitirá produtos de alcance global cheios de “brasilidade” na sua composição. É hora de consolidar a tendência de que o Brasil passe a utilizar em seus análogos de base vegetal seus próprios feijões e pulses como fonte principal de proteína e ingredientes naturais extraídos de forma sustentável da biodiversidade brasileira por meio da agregação de valor local. Assim como no mercado de proteína de origem animal para consumo humano, onde o Brasil é indiscutivelmente protagonista no cenário internacional, a tendência ao protagonismo também no mercado de proteínas alternativas parece ser apenas uma questão de tempo. O mapeamento das empresas mostra desde gigantes do mercado de proteína animal que anunciaram ou iniciaram seus negócios em proteínas de origem vegetal até empresas de médio porte que se posicionaram no setor, passando pelas inúmeras startups que já nasceram com foco neste mercado. Sem esquecer de como o Brasil vem se posicionando no promissor território das carnes obtidas por cultivo celular, com os anúncios da JBS e BRF e o surgimento das primeiras startups no segmento, Ambi e Sustineri. E quando a indústria se move, a pesquisa científica precisa ser chamada a caminhar junto, desenvolvendo a tecnologia necessária para as inovações a serem introduzidas no mercado. A ciência é fundamental para encontrar respostas aos desafios do mercado. O mapeamento das instituições de pesquisa envolvidas com o tema mostra também um engajamento em universidades e institutos de pesquisa de todo o país. Assistimos a um crescimento exponencial do número de empresas atuantes no setor de proteínas alternativas no Brasil e a uma mobilização acadêmica que pode sustentar um cenário muito favorável de crescimento. Mas nem tudo são flores nesta cena. E nem esperávamos que fossem. Fechamos 2021 e estamos abrindo 2022 com algumas ações contrárias ao desenvolvimento deste setor no Brasil. Descontentes com o nosso discurso, alguns movimentos e associações se posicionaram na mídia e judicialmente tentando

Transição no sistema alimentar é necessária para garantir a vida na Terra

Texto: Victória Gadelha Revisão: Vinícius Gallon A meta estabelecida pelo Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura terrestre a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais demanda uma redução drástica das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Nos últimos anos, muitos avanços tornaram os setores de transportes, indústrias e energia mais limpos. No entanto, por mais fundamentais que sejam todos esses esforços, eles ainda são insuficientes para limitarmos o aquecimento do planeta. Isso porque o sistema alimentar global é também um dos principais emissores de GEE mas, diferente dos outros setores, seus impactos foram historicamente mal compreendidos e, só agora, começaram a ser expostos com clareza – e com a seriedade que a situação demanda. Estudos mostram que, mesmo se todas as emissões de combustíveis fósseis fossem imediatamente zeradas, as emissões do sistema alimentar global por si só tornariam impossível limitar o aquecimento a 1,5°C e ameaçariam, inclusive, um aumento acima de 2°C.  Por isso, para cumprir os objetivos do Acordo de Paris e garantir um futuro seguro, é urgente mudar a forma como nós produzimos alimentos e, principalmente, a forma como nós consumimos proteínas. O sistema alimentar é responsável por 34% das emissões de gases de efeito estufa na atmosfera. A produção de proteína animal, sozinha, gera metade desse valor, que é maior do que as emissões totais (de todos os setores combinados) dos EUA. Essas emissões vêm de várias fontes, principalmente do desmatamento (para abrir pastagens e plantar os grãos que viram ração dos animais de abate), da produção e do uso de fertilizantes e agroquímicos, da fermentação entérica e do esterco dos ruminantes (que, juntos, são responsáveis por 30% das emissões de metano) e da queima de combustíveis fósseis na cadeia de produção e abastecimento de alimentos. A pecuária (pastagem e produção de grãos para ração) ocupa mais de 70% de todas as terras agrícolas do mundo e 30% da superfície terrestre. Mesmo assim, fornece apenas 17% do suprimento alimentar da humanidade. Com a população mundial prevista para alcançar 10 bilhões de pessoas em 2050, é esperado que o consumo de carne aumente a ponto de dobrar nos países de renda média. E dobrar a produção desse setor, sem mudar seus métodos, significa dobrar todos os impactos que ele gera – em um mundo com recursos naturais já esgotados.  É por isso que as proteínas alternativas se apresentam como uma solução potente e escalável para uma transição eficaz no sistema alimentar. Novo estudo do The Good Food Institute com o Climate Advisers indica que uma mudança no consumo de proteínas é capaz de fornecer de 14 a 20% da mitigação de emissões que o mundo precisa até 2050 para não ultrapassar o aquecimento de 1,5°C. Além disso, é capaz de acelerar outras soluções naturais ao, por exemplo, liberar milhões de hectares de terras que podem ser destinada para estratégias de conservação, gestão com foco no clima, segurança alimentar, proteção da biodiversidade, etc. As proteínas alternativas podem ser divididas em dois tipos principais: feitas de plantas (plant-based), que são produtos feitos de vegetais que imitam o sabor, formato e textura das carnes (bovina, suína, de frango, peixe, frutos do mar…), laticínios e derivados; e carne cultivada, fabricada diretamente a partir de células animais, resultando num produto igual ao convencional. A alta eficiência de ambas no uso da terra em relação à carne bovina é, sem dúvidas, uma das suas maiores vantagens, já que precisam de até 99% e 95% menos solo para serem produzidas, respectivamente.  Ao invés de usar terras para cultivar os grãos que alimentam os animais que, por sua vez, são abatidos para nos alimentar – e ocupar mais terras para criar todos esses animais – as colheitas podem ser usadas diretamente para produzir carne à base de plantas. Dessa forma, deixamos de “terceirizar” a ingestão de proteínas através do animal e podemos tirar esse intermediário da equação. Com isso, todo o metano e o óxido nitroso gerados pela digestão e decomposição do estrume dos ruminantes deixa de ser emitido e, como dito anteriormente, as vastas terras poupadas podem ser destinadas para práticas regenerativas e de preservação.  Tanto a carne vegetal quanto a cultivada concentram seu gasto de energia em instalações que podem ter uma pegada de carbono mínima se alimentadas com energia renovável, emitindo pouco ou nenhum GEE. Assim como painéis solares e carros elétricos, as proteínas alternativas precisam ser amplamente consumidas para passarem a assumir um papel de protagonismo na redução global de gases de efeito estufa. Apesar desse momento ainda não ter chegado, as inovações do setor seguem em ritmo impressionante e indicam que, logo, as proteínas alternativas poderão competir em sabor e preço com todo tipo de carne animal.  Os produtos substitutos para carne bovina, suína e de frango já se popularizaram e estão sempre presentes em mercados e hamburguerias como uma opção para vegetarianos e veganos, mas os avanços em relação a alternativas para peixes e frutos do mar também surpreendem e, em termos de impactos ambientais, têm uma relevância importantíssima – que muitas vezes é menosprezada. Além da pesca predatória agredir os ecossistemas marinhos ao retirar do mar trilhões de animais todos os anos, muitos peixes selvagens (como atum, bacalhau e salmão) já são pescados acima da capacidade máxima e passam a integrar a lista de espécies em extinção. O desenvolvimento de peixes e frutos do mar alternativos pode aliviar a pressão sobre a pesca industrial e os sistemas de aquicultura, que não vão conseguir suprir a lacuna entre oferta e demanda que deve se formar nos próximos anos. Ao mesmo tempo, as proteínas alternativas reduzem em até 91% a poluição dos oceanos (Causada pelo escoamento agrícola) e também poupam todos os outros recursos aquáticos, uma vez que precisam de até 99% menos água para serem produzidas do que a carne animal). Os ganhos ambientais proporcionados por essa transição no sistema alimentar são inegáveis, mas ela também oferece benefícios cruciais à saúde global: relatório da FAO (braço da ONU para alimentação e agricultura) de 2013 já indicava