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GFI Brasil divulga relatório com as principais conquistas de 2021

Documento apresenta as principais realizações da entidade para tornar o Brasil líder do mercado mundial de proteínas alternativas O The Good Food Institute Brasil divulga neste mês seu relatório anual, que apresenta as principais conquistas da instituição para transformar a cadeia de produção de alimentos, por meio da promoção do setor de proteínas alternativas. Entre as realizações do ano que passou, destaque para a adesão das gigantes JBS e BRF às pesquisas de carne cultivada, que contaram com o apoio do GFI. A entidade atuou conectando as empresas com startups, pesquisadores, profissionais do setor e na criação de planos de negócio que viabilizaram a entrada das marcas no setor. A previsão é de que os primeiros produtos das companhias sejam comercializados em 2024.  A organização também contribuiu, por meio de consultorias, para o lançamento de 30 produtos no mercado das proteínas alternativas no país. Pesquisa científica Em 2021, mais de R$ 2 milhões foram investidos no Programa Biomas, que financia pesquisas para viabilizar novos ingredientes e fontes de proteínas a partir de plantas nativas da Amazônia e do Cerrado. Ao todo, são 13 estudos em desenvolvimento envolvendo a castanha-do-Brasil, baru, cupuaçú, babaçu, pequi e macaúba. Além de novos insumos para a indústria brasileira, o Programa também impulsiona a economia local ao conectar a academia com as comunidades estrativistas e coperativas das duas regiões. Além disso, outros sete projetos de pesquisa brasileiros foram aprovados no Programa Internacional de Incentivo à Pesquisa do GFI. As propostas visam acelerar inovações para os mercados de proteínas vegetais e de carnes cultivadas a partir de células.  A organização participou ainda de 32 eventos de pesquisa científica e reuniu mais de 8 mil participantes em seus próprios eventos técnico-científicos. Incentivo à produção A fim de identificar os maiores desafios no desenvolvimento de produtos vegetais análogos aos produtos de origem animal em relação à qualidade, preço e características sensoriais exigidas pelos consumidores, o GFI Brasil fez uma pesquisa com profissionais da indústria de processamento de ingredientes e produtos vegetais. A pesquisa “Oportunidades e Desafios na Produção de Produtos Vegetais Análogos aos Produtos Animais” contou com a contribuição de 21 empresas, e identificou sete linhas de pesquisa prioritárias para o avanço do mercado de produtos vegetais no Brasil, as quais envolvem melhoria de processos, busca por novas fontes e matérias-primas, apelo clean-label, melhoria de características nutricionais, entre outras. A partir dessas informações foi possível identificar as áreas de oportunidade de melhoria para o setor produtivo de proteínas alternativas. A organização também realizou o mapeamento do setor de proteínas alternativas e identificou pelo menos 100 empresas atuando no mercado de proteínas vegetais e cultivadas e contabilizou ao menos 114 novos produtos. Políticas públicas O GFI Brasil tem atuado fortemente visando o desenho de um marco regulatório nacional para produtos proteicos alternativos no país. O objetivo é promover a construção de um mercado mais competitivo para produtos feitos de planta, obtidos por fermentação e cultivados a partir de células.  Para isso, atuou no Congresso Nacional, participação em eventos da Frente Parlamentar da Bioeconomia, além de estabelecer parceria efetiva com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e com a Anvisa.  Entre as principais contribuições está a produção de três estudos regulatórios sobre fermentação, carne cultivada e proteínas vegetais e a organização de workshops para profissionais do MAPA e da Anvisa. Para ter acesso ao relatório completo, acesse o link.

Programa de Incentivo à Pesquisa do GFI está aberto a cientistas do mundo todo

Este ano, o GFI vai financiar quase US $4 milhões em pesquisa de acesso aberto para apoiar projetos que visam solucionar os principais e mais urgentes desafios científicos e tecnológicos enfrentados pela indústria de proteínas alternativas. As propostas podem ser enviadas até dia 3 de junho. por Victoria Gadelha A chamada para financiamento de pesquisas (Pequest for Proposals – RFP) de 2022 irá subsidiar projetos de pesquisa através de dois mecanismos de financiamento. O primeiro é o Field Catalyst Grant, que fornece uma quantia e tempo maior de financiamento (até 24 meses e US$ 250.000) para projetos que atendem a um dos três tópicos prioritários do GFI direcionados para este ano: métodos de processamento biológico para criar ingredientes funcionais à base de plantas; albumina e transferrina não recombinantes e isentas de animais para carne cultivada; criação de componentes de sabor para frutos do mar alternativos. O segundo mecanismo é o Discovery Grant, que fornece um financiamento mais enxuto (até 12 meses e US $100.000), mas permite maior flexibilidade para os candidatos na seleção da área de pesquisa, que pode se concentrar em um dos conceitos identificados pela Iniciativa de Soluções Avançadas para Proteínas Alternativas (Advancing Solutions for Alternativa Proteins – ASAP). Baixe aqui o edital e envie sua proposta até o dia 3 de junho. Por mais que as proteínas alternativas venham se provando uma ferramenta potente para conter (e até reverter) o pior cenário da crise climática, o setor público ainda dedica muito pouco financiamento à pesquisa e desenvolvimento desse setor quando comparado ao setor de energia limpa, por exemplo. Por isso, desde 2018, o The Good Food Institute trabalha para preencher essa lacuna. Graças ao enorme apoio de doadores, o GFI já conseguiu financiar mais de US $13 milhões em suporte à pesquisa de acesso aberto em 17 países diferentes. No Brasil, já direcionamos recursos do Programa para 8 pesquisadores e pesquisadoras. No Brasil, já foram direcionados recursos do Programa para 8 pesquisadores e pesquisadoras. E para auxiliar os profissionais interessados em enviar suas candidaturas, o GFI vai promover no próximo dia 18 de maio, das 13h30 às 14h45, o workshop “Programa de Incentivo à Pesquisa do GFI: entenda os mecanismos de financiamento e o processo de aplicação!”. Para participar, basta se inscrever pelo link.

Proteínas alternativas são tema de nova disciplina oferecida pela UNICAMP

A Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) agora oferece a disciplina “Proteínas Alternativas: Feito de Plantas, Fermentação e Carne Cultivada” dentro do programa de Pós Graduação da Faculdade de Engenharia de Alimentos. Por meio desta disciplina, com currículo inédito, os participantes terão um primeiro contato com os três pilares tecnológicos de produção de proteínas alternativas: proteínas vegetais, carne cultivada e fermentação. Além da base teórica introdutória sobre as tecnologias, será explorado também o cenário atual da indústria, com suas oportunidades e desafios. O objetivo é capacitar os alunos apresentando os fundamentos técnico-científicos das proteínas alternativas para que eles possam contribuir tanto para o desenvolvimento da ciência como para o crescimento da indústria. Ao todo, 29  alunos oriundos da indústria e da academia estão acompanhando as aulas. Saiba mais sobre o curso O programa faz um panorama geral das principais tecnologias utilizadas na produção de carnes, leites e laticínios alternativos: à base de plantas, obtidas por cultivo celular e fermentação. Além disso, explora as especificidades dos mercados nacional e internacional, assim como questões de sustentabilidade envolvendo o consumo mundial de proteínas e também os impactos ambientais dos diferentes tipos de produção de proteínas. Os temas são conduzidos por professores da própria UNICAMP, por professores convidados de outras universidades e instituições de pesquisa, além de profissionais da indústria, o que deixa o debate extremamente rico. Esta disciplina reúne os principais especialistas brasileiros no assunto, proporcionando aos alunos o que se tem de mais atual neste campo. Os especialistas do GFI Brasil participam do programa como palestrantes convidados e compartilham sua expertise sobre temas como o mercado nacional, cenário regulatório brasileiro, diferenças e potenciais de cada frente tecnológica no ambiente de proteínas alternativas. As aulas se encerram em julho, quando os alunos devem propor um produto inovador ou uma solução para o mercado de proteínas alternativas.

IPCC: Carne cultivada e à base de plantas podem desempenhar um papel fundamental na redução pela metade das emissões globais até 2030

O GFI defende mais financiamento público para proteínas alternativas, uma vez que os principais cientistas do mundo reconhecem que as inovações do setor agrícola – especialmente carne à base de plantas e cultivada – mitigam as mudanças climáticas e oferecem co-benefícios nas áreas de biodiversidade e de saúde global O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) lançou seu Sexto Relatório de Avaliação, no qual aponta a carne à base de plantas e cultivada como uma solução transformadora que, junto das transições nos setores de energia e transporte, pode cortar pela metade as emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) até 2030. Comparado com as avaliações anteriores do IPCC, o Sexto Relatório de Avaliação é o que mais aprofunda nas proteínas alternativas e melhor destaca como elas podem reduzir significativamente as emissões em escala. Elaborado pelos principais cientistas do mundo, o relatório afirma que, mesmo se os combustíveis fósseis fossem eliminados da noite para o dia, as emissões do sistema alimentar por si só prejudicariam – a ponto de impedir – o cumprimento da meta do Acordo de Paris de manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5°C. Embora o relatório tenha constatado que “o maior potencial (para mitigar as mudanças climáticas) viria da transição para dietas baseadas em vegetais” (TS. 5.8), ele aponta que a crescente demanda por carne convencional deve gerar um aumento de 14% na sua produção até 2029 (TS. 5.8). Com a conclusão do IPCC de que a dieta humana, que é um hábito difícil de ser mudado, precisa migrar com urgência para fontes de alimentos mais sustentáveis (1.4.7), o The Good Food Institute defende que os governos invistam em carnes vegetais e cultivadas como alternativa à convencional. Formuladores de políticas podem tornar essa mudança de comportamento o mais fácil possível para os consumidores ao investirem em pesquisas que tornem essas opções tão deliciosas e acessíveis quanto a carne convencional, garantindo que a transição no sistema alimentar necessária para atender às metas climáticas globais aconteça. O relatório descobriu que tecnologias alimentares emergentes (como fermentação de precisão, carne cultivada e alimentos à base de plantas) podem “prometer reduções substanciais nas emissões diretas de gases de efeito estufa provenientes da produção de alimentos” (TS. 5.6.2). Citando um artigo de co autoria do cientista sênior do GFI Israel, Tom Ben-Arye, o relatório reconhece que, embora ainda esteja em seu princípio e ainda dependa de maiores investimentos, inovações a aprovações regulatórias, a carne cultivada oferece uma alternativa mais sustentável aos atuais sistemas de produção agropecuária e uso da terra (7.3.3). Além das reduções de emissões, o relatório destaca que as proteínas alternativas também “têm menor pegada de terra, água e nutrientes e tratam das preocupações com o bem-estar animal” (TS. 5.6.2). É possível identificar múltiplos co-benefícios associados a uma transição alimentar para carne à base de plantas e cultivada, que vão desde a diminuição do uso de pesticidas, antibióticos e de poluentes (que afetam a saúde e qualidade do solo, da água e do ar) até a redução do risco do surgimento de novas zoonoses (TS-91). “Os principais cientistas do mundo deixaram claro que a transformação do sistema alimentar é necessária para atender às metas climáticas globais e reconheceram a carne à base de plantas e cultivada como soluções de alto impacto para atender à crescente demanda global por carne. O investimento público continua sendo crítico e urgentemente necessário para levar as proteínas alternativas em escala ao mercado. Os governos de todo o mundo devem investir em carnes que sejam produzidas com muito menos terra e água, que gerem uma fração das emissões e que reduzam  substancialmente os riscos à saúde global em comparação com a carne convencional. Temos uma chance de mudar a forma como a carne é feita, e agora é a hora de fazer isso.”, afirma Bruce Friedrich, fundador e CEO do GFI. “O ganho de escala da produção de carne à base de plantas e cultivada é fundamental para que a indústria cumpra seu potencial de mitigação climática. O IPCC identificou que o novo aspecto do mercado de proteínas alternativas é a escala proposta, que só pode ser alcançada com uma injeção de investimento público e privado. Esse investimento possibilitará que a carne de origem vegetal e cultivada compita com os produtos animais convencionais em sabor e preço, desencadeando um ciclo virtuoso de demanda do consumidor e mais inovação”, completa Emma Ignaszewski, gerente de projetos de engajamento corporativo do GFI. Mais informações Proteínas alternativas podem desempenhar um papel crucial na redução das emissões do sistema alimentar: 77% das terras agrícolas de todo o planeta são usadas para a pecuária, que fornece apenas 18% das calorias da dieta humana. Diante da escassez hídrica e dos crescentes índices de desmatamento, alternativas à pecuária podem ajudar a alimentar mais pessoas enquanto dependem de muito menos terra e água. De acordo com um relatório apoiado pelo Ministério das Relações Exteriores do Reino Unido e pela Climate Works Foundation, a diversificação da fonte do suprimento global de proteínas pode resultar na redução de 10% nos preços médios das safras até 2050, ao mesmo tempo em que libera 640 milhões de hectares de terra, uma área maior que a floresta amazônica – criando mais espaços para práticas agrícolas sustentáveis. Uma transição em direção ao consumo de carne à base de plantas reduziria as emissões em 30% a 90%, enquanto a produção da carne cultivada poderia cortar o impacto climático da carne em até 92% e o uso de terra em até 95%.

GFI Brasil participa da 8ª edição do Fórum Brasileiro de Feijões, Pulses e Colheitas Especiais

Evento acontece entre os dias 11 e 14 de abril, em Cuiabá. GFI participa da mesa “Plant-based, estamos só começando” no dia 13, das 15h40 às 17h De 11 a 14 de abril, a cidade de Cuiabá (Mato Grosso) vai receber o maior evento do setor de Pulses do Brasil. A 8a edição do Fórum Brasileiro de Feijões, Pulses e Colheitas Especiais, promovida pelo IBRAFE (Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses), neste ano conta também com o 1º Encontro Latino-americano de Amendoim e Gergelim e, no formato híbrido, espera receber mil participantes presenciais de toda a América Latina e dez mil de todo o mundo online. Com o objetivo de fomentar o mercado e compartilhar informações entre todos os players da cadeia (de pesquisadores, agrônomos e produtores à empacotadores, compradores e exportadores), os quatro dias de palestras e debates vão apresentar as novidades e tratar das melhores propostas e soluções para o setor de Feijões, Pulses e Colheitas Especiais. Os principais debates trazidos para o evento de 2022 incluem a importância da gestão da energia na agricultura irrigada, a revolução dos insumos biológicos, os desafios da logística internacional, a agricultura regenerativa e as oportunidades do mercado plant-based. E, como uma organização que trabalha para tornar a cadeia de produção de alimentos mais sustentável, segura, justa e saudável através do desenvolvimento do setor de proteínas alternativas, o The Good Food Institute Brasil não poderia ficar de fora: no dia 13, das 15:40h às 17h, o GFI participa da mesa “Plant-based, estamos só começando”, junto do IBRAFE, MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e R&S BLUMOS. O que são pulses? Pulses são as sementes secas comestíveis de leguminosas. No Brasil, seus representantes mais consumidos são os feijões, a ervilha, a lentilha e o grão-de-bico. Pulse, do latim “Puls”, significa “sopa grossa”, que é a característica do caldo que esses grãos produzem quando cozidos. Segundo a Embrapa, o Brasil é um dos maiores produtores globais de feijão (Phaseolus vulgaris) e a maior parte dessa produção é destinada ao consumo interno, nos tornando também um dos maiores consumidores mundiais do grão. De acordo com o IBRAFE, sete entre cada dez brasileiros comem feijão todos os dias e, apesar de existirem mais de 40 tipos de feijões no nosso país, o preto, o fradinho, o caupi, o vermelho, o mungo e o carioca dominam o mercado. O carioca, sozinho, ocupa 50% de toda a área de cultivo destinada para feijões no Brasil. Os pulses são ricos em proteínas, fibras, vitaminas e aminoácidos e possuem uma produção que demanda menos água que outros grãos (como a soja), além de melhorarem a absorção de carbono e fixarem nitrogênio no solo. Em um mundo previsto para alcançar 10 bilhões de pessoas em 2050, onde uma transição no sistema alimentar é necessária para garantir a segurança alimentar e a saúde global da população do planeta, os pulses são matérias-primas promissoras para o segmento de proteínas alternativas – no Brasil e no mundo. De acordo com Alysson Soares, Especialista em Políticas Públicas do GFI Brasil, há um grande potencial no uso de feijão como principal ingrediente na composição dos alimentos plant-based, e a ideia é incentivar e organizar a cadeia produtiva para que esteja preparada para atender a essa potencial demanda. “Há anos o Brasil ostenta com orgulho o título de ‘celeiro do mundo’, dado seu vasto território repleto de terras férteis, diferentes zonas climáticas, abundância de recursos naturais e um consequente alto potencial agrícola. Porém, historicamente, tal título está diretamente atrelado à produção de commodities in natura, ou seja, sem valor agregado. Esse foi o caso do ciclo do Pau-Brasil, seguido pelo da cana-de-açúcar, café e, mais recentemente, soja e milho. Mas, desta vez, surge uma oportunidade para que o país de posicione na vanguarda internacional como principal fornecedor de insumos para uma das mais importantes mudanças no sistema alimentar na história da humanidade: o advento das proteínas alternativas” O especialista também afirma que, apesar das primeiras iniciativas para produção de alimentos plant-based análogos à proteína animal terem surgido nos Estados Unidos e no Canadá, onde o cultivo de ervilhas e grão-de-bico é abundante, o Brasil e outros países da América do Sul (como Argentina e Paraguai), têm potencial de transformar os feijões, que são suas pulses predominantes, em fonte primária de uma crescente indústria global de alternativas proteínas. “Eles podem, inclusive, substituir a ervilha, que demanda condições climáticas mais frias do que aquelas tipicamente encontradas no Hemisfério Sul. Além disso, os feijões podem ser processados localmente em compostos proteicos, agregando valor às cadeias produtivas regionais e levando tecnologia e conhecimento mercadológico para o campo, numa via de duas mãos”, completa Alysson.

Por que acreditamos que as proteínas alternativas devem compor as soluções para transformar o sistema de produção de alimentos e conter as mudanças climáticas?

por The Good Food Institute Brasil O ano de 2030 é considerado crucial para a trajetória do nosso planeta. As metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são tão ambiciosas quanto necessárias para a manutenção da vida na terra. Faltando menos de 8 anos para a sua chegada, não há dúvidas de que medidas urgentes devem ser tomadas em escala global para conter as mudanças climáticas antes que sejam irreversíveis. Outro desafio que bate a nossa porta e que não pode mais esperar é o de  acabar com a fome global que já atinge pelo menos 811 milhões de pessoas no mundo. Entre as medidas necessárias para enfrentar essas questão está a de transformar o atual sistema alimentar, incorporando práticas mais sustentáveis e eficientes de produção de alimentos.  Nesta quinta-feira (7), um estudo (Proteínas e Política: mitos e fatos sobre carne, peixe, proteínas alternativas e sustentabilidade) produzido pelo Painel Internacional de Especialistas em Sistemas Alimentares Sustentáveis (IPES-Food) foi divulgado trazendo importantes reflexões para este debate. O documento reconhece que o atual modelo de produção agropecuário precisa ser revisto e que é preciso promover discussões mais equilibradas sobre quais medidas devem ser adotadas para promover as mudanças necessárias em prol de um sistema alimentar mais sustentável. Contudo, o estudo também questiona a adoção das proteínas alternativas como parte da solução. Dentre outros pontos, segundo o IPES-Food, há uma ênfase excessiva na necessidade de consumo de proteínas e na redução dos gases de efeito estufa (GEE). Embora seja verdade que não há deficiência protéica na dieta da população global, a produção de carne deve aumentar 14% e o consumo per capta deve chegar a 35,4 kg até 2030, impulsionada pela crescente demanda global por carne. Não se trata de uma deficiência nutricional, mas de uma tendência de consumo guiada pelos hábitos e tradições alimentares, que colocam a carne no centro das refeições. Então a grande questão é, como faremos essa entrega para o consumidor de maneira a não impactar negativamente as mudanças climáticas? “Assim como o IPES-Food, também acreditamos que a agroecologia e a agricultura regenerativa devem compor as estratégias para transformar o sistema alimentar. Da mesma forma, temos certeza de que a cultura alimentar é parte fundamental dessa equação. Nesse sentido, as proteínas alternativas têm um papel importante. Nenhuma dessas atividades, sozinha, será capaz de alimentar toda a população nem frear as mudanças climáticas na rapidez que se espera. Também não conseguiremos garantir a soberania e a cultura alimentar se não encontrarmos novas formas de se produzir a comida que as pessoas já consomem e vão continuar a consumir”, comenta o presidente do The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil), Gustavo Guadagnini. A adoção das proteínas alternativas na dieta também não serve exclusivamente aos propósitos da grande indústria, como alega a pesquisa. Esse é um debate em que não podemos excluir nenhum elo da cadeia de produção de alimentos. Do produtor rural à grande indústria, todos têm um papel a cumprir. Acreditamos que é fundamental plantar a ideia da diversificação das fontes de proteína, da mesma forma, defendemos a diversificação das indústrias de carne, leite e ovos, que podem diminuir sua pegada ambiental (uso de terra, água e emissões) ao incorporar em seus portfólios análogos vegetais e cultivados dos produtos de origem animal que já produzem. É impossível garantir comida para toda a população sem esses elos que garantem escala e acesso. Além disso, a Organização Internacional do Trabalho, em parceria com o Banco de Desenvolvimento Interamericano, afirma que a adoção de alimentos vegetais cultivados com métodos agrícolas sustentáveis pode gerar 19 milhões de novas oportunidades de emprego. O problema de concentração não é exclusivo do setor de proteínas alternativas. Ao contrário: é uma característica da indústria de alimentos mundial, que acaba impactando também o mundo das proteínas alternativas. “Atualmente, a indústria de alimentos já é concentrada em grandes empresas – mudar a origem do ingrediente de origem animal para vegetal não vai automaticamente mudar a lógica de todo o sistema produtivo que já existe. Porém, existe um ponto que está sendo ignorado pela discussão do IPES: a monocultura é um sistema que atende diretamente a produção de animais. Hoje produzimos grãos para alimentar animais que geram comida para humanos numa proporção muito ineficiente”, aponta a diretora de engajamento corporativo do GFI Brasil, Raquel Casselli. Para se ter uma ideia, o gado leiteiro precisa de cerca de 12kg de ração ou grãos para produzir 1kg de produtos lácteos. Com relação ao gado de corte, são necessários em torno de 6kg de ração ou grãos para produzir 1kg de peso vivo. Vale dizer que 64% do peso vivo do animal corresponde a ossos, sangue e subprodutos (comestíveis ou não). Ou seja, apenas 36% do peso vivo do gado de corte é carne. Para cada 9 calorias (aproximadamente) produzidas para alimentar o frango, apenas 1 é convertida para consumo humano. É importante mencionar que os valores de taxa de conversão alimentar podem variar dependendo da raça do animal, tipo de alimentação e do sistema produtivo utilizado. “Um sistema produtivo que não dependa tanto de animais libera para o uso humano as imensas áreas em que hoje são plantadas soja e milho para ração. Então, por mais que a indústria que vende a carne vegetal seja concentrada, o uso de proteínas alternativas muda a cadeia de produção como um todo e libera terras para plantio de comida vegetal de qualidade para todas as pessoas. Se queremos ver mais arroz, feijão, cenoura, tomate na refeição brasileira, é preciso mudar a equação de uso de terras da produção animal para a produção vegetal”, completa Gustavo Guadagnini. O Programa Biomas, financiado pelo GFI Brasil, estuda como espécies da nossa biodiversidade, podem se tornar ingredientes de produtos feitos de plantas, como as carnes vegetais. A iniciativa tem o potencial de criar novas cadeias de suprimentos, fortalecer comunidades locais e trazer mais diversidade para a mesa dos brasileiros. Além disso, pesquisas também apoiadas pela instituição com organizações como a Unicamp e a Embrapa buscam encontrar novas fontes de proteínas capazes

Licuri, o ouro do sertão, também pode ser a nova aposta do mercado de proteínas alternativas

O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) realizou o I Simpósio da Cadeia Produtiva do Licuri para aproximar empresas, universidades e comunidades locais do bioma Caatinga e apresentar aos participantes novas moléculas bioativas com potencial econômico para a indústria cosmética e farmacêutica. Além disso, os painéis e discussões mostraram os avanços científicos por trás dessas descobertas e também as oportunidades de negócio geradas a partir dos novos usos do licuri. O evento foi viabilizado em parceria com  o Núcleo de Bioprospeção da Caatinga e a  Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (COOPES) e aconteceu em Capim Grosso, cidade do interior da Bahia onde será instalada uma usina de processamento da Coopes com o apoio do projeto Cadeia Produtiva do Licuri. O licuri e seus usos O Licuri é o fruto de uma palmeira nativa da Caatinga, a Syagrus coronata, que já há algum tempo, compõe a economia e a sobrevivência de famílias do sertão da Bahia. Geralmente são as mulheres que coletam o coquinho para serem vendidos em feiras ou consumidos de diversas formas. Da amêndoa, são feitos leite, cocada, farofa, licor e também podem ser consumidas in natura. Estudos comprovaram que o óleo de sua amêndoa possui ação antibacteriana, antifúngica, antiparasitária e anti-inflamatória, sendo utilizado pelas comunidades locais como cicatrizante, para controle da pressão alta e para diabetes. O objetivo agora é continuar a pesquisar o potencial nutricional do resíduo do seu processamento, que pode ser utilizado para produzir farinhas e concentrados proteicos. “Estamos estudando o potencial do licuri para gerar farinhas e ingredientes para a produção de proteínas alternativas”, explicou Bruno Nunes,  coordenador-Geral de Ciência para Bioeconomia do MCTI, também à frente do Programa Cadeias Produtivas da Bioeconomia MCTI. Potencial para o setor de proteínas alternativas  O GFI Brasil tambpem esteve presente e contribuiu com o painel “Experiências Empresariais”. Gus Guadagnini, diretor executivo do GFI Brasil, falou sobre o potencial dos biomas brasileiros dentro do setor de proteínas alternativas, sendo peça importante na criação da cadeia de produção de alimentos do futuro. Neste contexto, o licuri pode ter grande relevância. “A torta desengordurada que se forma após a extração do óleo do licuri possui um teor interessante de proteínas de ótima qualidade que pode se transformar em ingredientes importantes para o mercado de proteínas alternativas”, explica Luciana Fontinelle, especialista de ciência e tecnologia do GFI Brasil. Iniciativas que apoiam a exploração sustentável da biodiversidade brasileira são de extrema importância em diversos sentidos, uma vez que contribuem para a preservação ambiental, gera fontes de renda para comunidades locais, fortalece a economia nacional e ainda promovem o avanço científico. “Nós do GFI acreditamos que a biodiversidade brasileira pode oferecer diversos ingredientes para o mercado nacional e internacional de proteínas alternativas. O bioma Caatinga, com certeza, é uma parte importante desta construção, contribuindo com a riqueza das suas espécies nativas, principalmente o Licuri, o ouro do sertão”, conclui Luciana. O Simpósio está disponível na íntegra online e você pode assisti-lo clicando aqui.

MAPA vai regular mercado de alimentos feitos de planta e quer que o país seja referência global para o segmento

Afirmação foi feita durante painel sobre inovações na Expomeat, III Feira Internacional da Indústria de Processamento de Proteína Animal e Vegetal, em São Paulo. por Vinícius Gallon O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) deu mais um importante passo em direção à consolidação do setor de proteínas alternativas brasileiro. Glauco Bertoldo, diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal (Dipov) da Secretaria de Defesa Agropecuária do Mapa, anunciou que o órgão vai regular o mercado de produtos feitos de plantas. O objetivo é garantir as condições necessárias para a concorrência justa entre os alimentos de origem vegetal e seus análogos animais. A notícia chega pouco tempo depois da divulgação dos resultados da Tomada Pública de Subsídios, que recebeu entre os meses de junho e setembro do ano passado, contribuições da sociedade sobre diversos aspectos relacionados à regulação desse mercado. No total, foram recebidas 332 respostas, indicando, entre outros pontos, que consumidores e entidades do setor de alimentos enxergam benefícios na medida. “Temos plena convicção da coexistência das duas fontes (vegetal e animal). Ambas vão crescer e há espaço para ordenar esse mercado enquanto ele está crescendo”, disse.  Para Alexandre Cabral, diretor de políticas públicas do The Good Food Institute Brasil, um marco regulatório adequado pode representar uma enorme vantagem para o surgimento de novos empreendimentos nacionais e atrair investimentos estrangeiros. “Um grande volume de investimento vem sendo destinado a empresas deste mercado no exterior e também no Brasil. O cenário é promissor e o momento é oportuno para políticas públicas pró-investimento. O Brasil pode sair na frente como um dos primeiros países a regular esses mercados, desenhando instrumentos que integrem suas políticas agrícola, científica, tecnológica e industrial.”, comenta.  O GFI Brasil, em parceria com o Ital, desenvolveu um estudo regulatório com orientações sobre como o mercado de produtos feitos de planta pode ser normalizado. O documento ainda é confidencial, mas será lançado ao público ainda no primeiro semestre de 2022.

Faça parte do Projeto Proteínas Alternativas

Estudantes são parte fundamental na construção do ecossistema de proteínas alternativas. Explicamos aqui como você pode começar um grupo de estudos em sua universidade e contribuir para a transição global em direção ao futuro da alimentação. por Bruna Corsato Conheça o projeto O Projeto Proteínas Alternativas é um movimento estudantil global dedicado a tornar universidades em catalisadoras da educação, pesquisa e inovação em proteínas alternativas. Os estudantes são a força motriz neste projeto que está ganhando força em universidades no mundo todo. Com o enorme crescimento do setor na última década, uma onda cada vez maior de estudantes passou a se interessar pela área de proteínas alternativas. Entretando, nem todos se dão conta do enorme potencial transformador que vem junto com essa escolha: influenciar a trajetória do nosso sistema de alimentos a partir  de ações dentro das universidades. Estudantes têm nas mãos o poder de definir as prioridades das instituições de ensino; de realizar pesquisas que melhoram as qualidades sensoriais e funcionais de novos produtos proteicos; e de criar programas educacionais para estabelecer uma linha de profissionais capacitados para uma indústria em crescimento.  No GFI, acreditamos que as universidades consistem em um elemento fundamental capaz de promover um ecossistema de proteínas alternativas. Por esse motivo, criamos o Projeto Proteína Alternativa, para que estudantes visionários possam liderar instituições de ensino a transformar como produzimos alimentos, criando assim um sistema mais sustentável, seguro e justo. Empoderando estudantes através de conexões O Projeto Proteínas Alternativas visa ser um ponto de articulação para iniciativas acadêmicas fundamentais para a construção do movimento de transição para proteínas alternativas. Nosso objetivo é criar pontes e conectar engenheiros de tecido a cientistas de alimentos, estudantes de administração a inovadores técnicos, pesquisadores à próxima geração de talentos em pesquisa de ponta. Como funcionam os grupos Nossa visão é criar comunidades interdisciplinares que fomentam a exploração de novas aplicações do conhecimento e expertise em proteínas alternativas. Em cada instituição anfitriã, os líderes estudantis trabalham com especialistas do GFI para criar iniciativas que terão o maior impacto no crescimento do ecossistema de proteínas alternativas de sua própria universidade. Alguns grupos optaram por criar materiais de estudo e defender o desenvolvimento de currículos sobre proteínas alternativas, outros por reunir-se com os principais pesquisadores e cientistas para viabilizar pesquisas em tecnologias relevantes para o setor,   alguns grupos criaram startups de proteínas alternativas, e muito mais.  [leia mais sobre os cinco principais objetivos do projeto] Está interessado? Junte-se ao projeto! Como estudante, você tem um grande poder para impulsionar mudanças dentro de sua universidade. A criação de um capítulo do Projeto Proteínas Alternativas em sua instituição de ensino permite que você construa uma rede interdisciplinar de colegas com visões semelhantes, articulando o grupo em direção às atividades com maior impacto para o avanço de proteínas alternativas. Estamos procurando líderes estudantis em universidades de pesquisa que tenham as bases para um ecossistema de proteínas alternativas duradouro: Onde os alunos acreditam que podem envigorar a comunidade acadêmica em torno da ciência, engenharia e comercialização de proteínas alternativas. Localizadas em regiões com estruturas de agritech e biotecnologia já estabelecidas. Com programas fortes em qualquer uma das muitas ciências que permitem a inovação de proteínas alternativas – engenharia de tecidos, ciência da fermentação, biologia vegetal, entre outras. Novos grupos de alunos devem ter pelo menos dois co-organizadores, onde: Ambos: Demonstram um compromisso com a missão do GFI de construir uma cadeia de proteínas sustentável, segura e justa Estão dispostos a dedicar de 5 a 10 horas por semana durante um ano para administrar um grupo de alunos engajados Pelo menos um indivíduo: Tem experiência em organização de grupos ou comunidades Está engajado dentro de uma disciplina científica chave para proteínas alternativas Tem grande familiaridade com o campo de proteínas alternativas Não vai se formar antes de agosto de 2023 Sente-se à vontade para facilitar discussões em grupo ou receber treinamento para fazê-lo Essa descrição se encaixa no seu perfil? Então se aprofunde em nossos recursos de suporte para orientações sobre as responsabilidades e oportunidades associadas à administração de um grupo de estudantes. Vamos adorar ouvir de você! Quero participar! Características de um time de cofundadores forte Grupos com pelo menos dois fundadores quase sempre são mais bem-sucedidos do que aqueles com apenas um. Comparado a um fundador solo, você e seu(s) parceiro(s) terão mais tempo livre para se reunir com administradores, manter redes acadêmicas maiores para recrutar membros, ter mais energia para sediar reuniões e eventos e trazer perspectivas diversas  para as discussões em grupo. Além disso, à medida que o ano acadêmico se desenvolve, os cofundadores podem apoiar uns aos outros em períodos difíceis de exames. Consideramos isso tão importante que tornamos a cofundação um pré-requisito para se inscrever no Projeto Proteínas Alternativas. As responsabilidades dos cofundadores podem incluir: Resolução criativa de problemas com recursos limitados Gerir e inspirar os colegas Lidar com burocracias, especialmente registro de trabalho oficial para a organização Responsabilidade financeira, de administração de recibos a solicitação de financiamento Planejamento logístico, como reservar salas, e delegar tarefas para reuniões e outros eventos Publicidade e recrutamento, incluindo conseguir estande em feiras acadêmicas e a criação de cartazes ou outros materiais de recrutamento Facilitação de discussões com estudantes e pesquisadores sobre os desafios e oportunidades em torno de proteínas alternativas Recomendamos analisar as responsabilidades envolvidas na gestão de um grupo de estudantes e escolher um cofundador que tenha habilidades complementares as suas. O suporte do GFI O GFI conecta cientistas, empreendedores e outros inovadores em proteínas alternativas do todo o mundo. Além de acesso a essa rede de contatos, o GFI trabalha em colaboração próxima com os membros do projeto para fornecer orientação estratégica, mentoria e suporte ad hoc. Membros também têm acesso a um canal do Slack onde a equipe do GFI responde a perguntas e estimula discussões inovadoras. E, claro, os líderes estudantis no espaço de trabalho apoiam uns aos outros e celebram os sucessos conquistados! Uma vez por mês, o GFI organiza uma reunião online com os líderes estudantis que serve

Alimentação à base de vegetais pode reverter a trajetória das mudanças climáticas

por Victoria Gadelha para o GFI Brasil No final de 2020, uma pesquisa publicada na revista Science mostrou que, mesmo se todas as emissões de combustíveis fósseis fossem imediatamente zeradas, seria impossível cumprir a meta estabelecida pelo Acordo de Paris (de limitar o aumento da temperatura terrestre a 1,5°C ou até 2°C acima dos níveis pré-industriais) por conta das emissões geradas pelo sistema alimentar global sozinho. Um artigo publicado na Nature Food indicou que se as 54 nações mais ricas do planeta (17% da população mundial) adotassem a dieta EAT-Lancet, que é baseada majoritariamente em vegetais, elas poderiam reduzir suas emissões de CO2 em dois terços ou 61%. Em fevereiro de 2022, um novo estudo publicado pela PLOS Climate mostra que, se a produção global de carne e laticínios for gradualmente reduzida até zerar durante os próximos 15 anos, será o mesmo que “cancelar” as emissões de gases de efeito estufa (GEE) geradas por todos os outros setores econômicos por 30 a 50 anos. Ou seja: uma transição progressiva para um sistema alimentar global baseado em vegetais tem a capacidade de, em pouco mais de uma década, zerar a quantidade de GEE que todas as indústrias, transportes e o setor energético, combinados, levariam até mais de meio século para emitir na atmosfera. O sistema alimentar vigente é responsável por 34% de todas as emissões de GEE e a produção de proteína animal, sozinha, gera mais da metade (ou 15%) desse valor. Essas emissões vêm de várias fontes, mas principalmente da fermentação entérica (processo digestivo que ocorre em animais ruminantes) e do esterco dos ruminantes (que, juntos, também são responsáveis por 32% das emissões de metano no mundo), da queima de combustíveis fósseis na cadeia de produção e abastecimento dos alimentos, e do desmatamento intensivo e extensivo (para abrir pastagens e para plantar os grãos que viram ração para os animais de abate). Mais de 70% de todas as terras agrícolas do mundo são focadas na produção de alimentos para animais e 30% da superfície terrestre são ocupadas pela pecuária. Isso significa que um terço de toda a terra existente no planeta é usada para abrigar e/ou alimentar animais que, dentro de muito pouco tempo – e em escala industrial – são abatidos e chegam até nós como hambúrguer, bife, filé, coxa, linguiça e inúmeros outros tipos de formatos e cortes. Segundo o estudo, para sustentar um sistema alimentar baseado em vegetais, seria necessário usar apenas 7% das terras do nosso planeta. Quando se trata da contribuição da pecuária para o aquecimento global, a maioria das análises tende a olhar diretamente para as emissões do setor e deixam de lado a questão do uso da terra, que é extremamente relevante. Isso porque, ao interromper a prática da pecuária e restaurar ou “renaturalizar” (rewild, em inglês) essas terras, todo o carbono que seria emitido passa a ser capturado e armazenado. O estudo publicado no início deste mês na PLOS Climate é uma colaboração entre o professor de biologia molecular e celular da Universidade da Califórnia, Michael Eisen, e o professor de bioquímica da Universidade de Stanford e CEO da Impossible Foods Inc, Patrick Brown. Importante mencionar que a Impossible Foods é uma das grandes fabricantes de produtos vegetais substitutos de carne dos Estados Unidos, avaliada em US$4 bilhões em 2020. Os autores expõem esse conflito de interesse no início do artigo, mas garantem que a ciência é sólida. Mas a diminuição gradual na produção de carnes e laticínios é viável? Para Brown, as mudanças necessárias devem ser orientadas pelo mercado, que segundo ele, é a instituição de ação mais rápida na Terra. “Esse movimento será impulsionado pela escolha do consumidor do lado da demanda. Se existem produtos que fazem um trabalho melhor em entregar o que eles desejam, nada pode impedir isso”. Comprovando o que Brown diz, de acordo com o relatório da Research and Markets, o mercado global de carne e laticínios à base de plantas pode alcançar US$68,7 bilhões até 2025, com um crescimento anual (CAGR) de 17,42%. O mercado de proteína animal também deve crescer, mas numa taxa menor do que 4% ao ano. AT Kearney, empresa líder em consultoria de gestão, projeta que as carnes à base de plantas representarão 10% do mercado de carnes já em 2025. Os desafios já começam a aparecer. Um novo relatório do The Good Food Institute aponta que o setor de alternativas vegetais pode ter problemas para suprir a demanda projetada para 2030. A pesquisa identificou entraves sobre a disponibilidade de volume para o fornecimento global de ingredientes essenciais para a indústria (como óleos, gorduras e proteínas). O estudo concluiu ainda a necessidade de investimento em infraestrutura, modernização das instalações de processamento existentes e colaboração entre os stakeholders do setor para que esse mercado prospere. O CEO da Impossible Foods admite no estudo que uma transição completa para um sistema alimentar à base de plantas enfrentará, sim, vários obstáculos e desafios porque carne, laticínios e ovos são um componente importante da dieta humana e a criação de gado é parte integrante das economias rurais em todo o planeta. Quase 2 bilhões de pessoas, a maioria no Sul Global, criam seus próprios animais para alimentação e renda – embora comam muito menos carne do que os consumidores de nações ricas. Essas pequenas fazendas produzem cerca de 80% dos alimentos consumidos na Ásia e na África Suubsaariana, mas estas regiões apresentam os menores índices de consumo per capita por ano de carne do globo (Ásia: 26.6kg e África (toda): 13kg). Por esses motivos, Brown e Eisel apontam o Ocidente como o principal responsável pelas altas emissões do setor de alimentos e, assim como o estudo da Nature Food, concluem que o foco da transição alimentar deve estar nesses países que, representando 68% do PIB global, é onde a mudança causaria o maior impacto positivo para o clima. Contudo, é importante dividir a responsabilidade dessa transição alimentar globalmente. Essa é uma mudança que, para ser efetiva, precisa acontecer do lado de quem produz e