Para FDA, leite vegetal pode ser chamado de leite

A agência colocou em consulta pública um novo rascunho regulatório e aceitará comentários até 24 de abril de 2023 A Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, equivalente à ANVISA), publicou, no dia 22 de fevereiro de 2023, um rascunho regulatório no qual indica que bebidas vegetais (feitas a partir de soja, aveia e amêndoa, por exemplo) devam continuar usando o termo “leite” no rótulo. Indo direto ao ponto, a agência afirmou que esses produtos não enganam o consumidor americano, que sabe que está comprando uma bebida à base de plantas, e não derivada de animais, e recomenda que os fabricantes rotulem seus produtos claramente pela fonte vegetal do alimento (como “leite de soja”, “leite de aveia”, etc). De acordo com as diretrizes preliminares, a FDA também considera que, para ser chamado de “leite”, o produto deve atender a um critério de qualidade que inclui aspectos nutricionais (como quantidade de proteínas, vitaminas e fibras) e não a fonte de produção (animal ou vegetal). Esse foi um movimento contrário ao que alguns setores da indústria americana imaginavam e indica que a FDA está olhando para o futuro. Por anos, os legisladores dos estados produtores de leite tentaram aprovar projetos de lei que exigiriam que a FDA aplicasse um padrão federal que define “leite” apenas como o produto da “ordenha de uma ou mais vacas saudáveis”. E aqui no Brasil não é diferente: de acordo com o presidente do GFI Brasil, Gus Guadagnini, “com mais reconhecimento e apoio governamental, a indústria de alternativas à laticínios de origem animal pode continuar a crescer e se expandir, oferecendo aos consumidores mais opções saudáveis e sustentáveis no futuro. O Brasil pode ser líder dessa indústria globalmente e, assim, gerar muitos empregos e receita em impostos. Para isso, também precisamos de um arcabouço regulatório justo e que exista em prol dos interesses dos consumidores, não do protecionismo anticompetitivo da indústria”. O vice-presidente de políticas públicas do GFI Brasil, Alexandre Cabral, complementa: “o papel do governo é reduzir o risco associado à incerteza regulatória. Para isso, consideramos oportuno a Anvisa avaliar a emissão de um Informe Técnico de Rotulagem sobre o tema”. A FDA vai aceitar comentários e sugestões na consulta pública até o dia 23 de abril, quando começará a trabalhar na versão final da recomendação de rotulagem. O conteúdo deste e de outros documentos do FDA têm como objetivo fornecer clareza ao público e devem ser vistos como recomendações. Mas, por mais que não tenham cunho obrigatório, essas recomendações de rotulagem indicam que a avaliação da agência converge com diversas pesquisas que apontam que o consumidor compra produtos plant-based de forma consciente. As diretrizes desse documento não se aplicam a produtos lácteos que não sejam bebidas, como iogurte – a FDA está desenvolvendo um projeto de orientação para abordar a rotulagem e nomenclatura de outros produtos alternativos à base de plantas e comunicará atualizações quando disponíveis.
Será a indústria de carnes vegetais uma moda passageira?

Gustavo Guadagnini (*) Recentemente, a indústria de carnes vegetais foi questionada por uma parte da mídia, especialmente nos Estados Unidos, após um desempenho abaixo do esperado na empresa Beyond Meat e em outras iniciativas menores. Essas reportagens se utilizaram de exemplos específicos para projetar um cenário desastroso sobre toda a indústria, e questionaram: será que essa tecnologia é uma moda passageira? Na opinião dos especialistas desse setor, não. Para entendermos o contraponto, dois argumentos têm sido bastante utilizados. Em primeiro lugar, a teoria de mudança das proteínas alternativas prevê que os produtos vão conquistar uma grande parcela do mercado quando estiverem competindo em condição de igualdade nos aspectos de preço e sensorialidade (sabor, textura, aroma e suculência). No entanto, é evidente que esse ponto ainda não chegou, pois as tecnologias são muito novas e ainda têm muito o que se desenvolver. Curiosamente, o mesmo termo mencionado pela mídia estadunidense (“fad”, ou moda passageira) já foi utilizado antes para descrever diversas outras tecnologias, como o os videogames, o rádio, os automóveis e até a internet. Não é preciso desenvolver um argumento para mostrar que nenhuma dessas tecnologias acabou sendo uma moda passageira. Da mesma forma, a indústria de proteínas alternativas está ainda em seus primeiros passos. Precisa ganhar escala e receber investimento em pesquisa e desenvolvimento para então competir de forma mais ampla. Além disso, o segundo argumento está ligado à necessidade que fez com que essas indústrias surgissem. Aqui, não se trata apenas de mais uma oferta alimentar, mas sim de uma solução imprescindível para o futuro do planeta. Isso porque há um consenso científico de que, se não lidarmos com a contribuição da pecuária para a crise climática, não alcançaremos nossos objetivos do Acordo de Paris, ou seja, não conseguiremos conter o aquecimento global e todas suas consequências. O Brasil, inclusive, é signatário do acordo e tem metas para reduzir sua emissão de gases, que é a quarta maior do mundo, exatamente pela imensa atividade pecuária do país. Em janeiro de 2023, um estudo conduzido pela Universidade de Exeter, Systemiq e pelo Bezos Earth Fund mapeou três tecnologias que têm potencial para reduzir 70% das emissões de gases do efeito estufa. Uma delas, sem surpresas, é a indústria de proteínas alternativas. Esse estudo se soma a diversos outros que apontam essas novas tecnologias de alimentos como a única solução em larga escala para redução do metano emitido por animais. Para termos uma ideia do que pode ser esse impacto, a consultoria Kearney prevê que em 2040 o mercado total de carnes valerá US$ 1,8 trilhão, sendo que apenas 40% dessa carne será produzida a partir do abate animal, e 60% do mercado será tomado por proteínas alternativas (carnes vegetais, obtidas pela fermentação ou cultivadas a partir de células). Se essa previsão se realizar, as novas tecnologias de alimentos terão eliminado mais de metade do impacto causado pela pecuária. Essa previsão não é a única, mas independente do número específico, está claro que essa indústria terá um papel essencial para o futuro da cadeia de produção de alimentos ser mais sustentável. Ainda assim, o ditado já disse que “Roma não foi construída em um dia” – e nem será o futuro da alimentação. A construção dessa indústria ainda vai levar décadas e exigir muito investimento, assim como foi com o rádio, videogames, internet, automóveis e qualquer outra grande evolução tecnológica. Apesar das dúvidas trazidas pela mídia no passado, as tais modas passageiras transformaram completamente a vida de todos nós. Assim será no futuro: a indústria de carnes vegetais está apenas começando e em breve será acompanhada de suas “irmãs”ainda mais novas, que trazem proteínas produzidas a partir de fermentação e do cultivo celular. No final, o que todos queremos é a mesma coisa: uma cadeia de produção de alimentos que consiga eliminar a fome ao mesmo tempo em que preserva o planeta. R. Buckminster Fuller disse “Somos chamados a ser arquitetos do futuro, não suas vítimas”. Agora cabe escolher: você vive ao lado dos que constroem o futuro, ou dos que preferem acreditar que a tecnologia será uma moda passageira? (*) Gustavo Guadagnini – Administrador de empresas formado pela PUC-SP, seu objetivo é criar uma cadeia de produção de alimentos mais saudável, segura, justa e sustentável por meio de apoio às indústrias que visam criar alternativas ao uso de ingredientes com origem animal, seja em tecnologias de base vegetal ou de tecidos cultivados. É um dos mais ativos promotores do setor, sendo listado em 2020 pela revista GQ como um dos brasileiros na lista dos “25 nomes que podem salvar o mundo”.
10 de fevereiro: Dia Mundial dos Pulses!

Você sabe o que são os pulses? Pulses são as sementes secas comestíveis de leguminosas. Aqui no Brasil, os pulses mais consumidos são os feijões, a ervilha, a lentilha e o grão-de-bico. O Brasil é um dos maiores produtores e consumidores globais de feijão: 7 entre cada 10 brasileiros comem feijões todos os dias. Mas, apesar de existirem mais de 40 tipos desse pulse aqui no Brasil, o feijão preto, o fradinho, o caupi, o vermelho, o mungo e o carioca são os que dominam o mercado. O carioca, sozinho, ocupa 50% de toda a área de cultivo do país. Potencial dos pulses para a saúde global: Especialistas brasileiros e internacionais consideram que o aumento do consumo de pulses é um dos caminhos para acabar com a fome, gerar renda e garantir a segurança alimentar. Além de serem riquíssimos em proteínas, fibras, vitaminas e minerais, o cultivo dos pulses requer muito menos água e fertilizantes, diminui a emissão de CO2 na cadeia de produção e aumenta o microbioma do solo, além de ser de baixo custo e fácil armazenamento. …e para o setor das proteínas alternativas: Os pulses são usados como matéria-prima para muitos dos produtos plant-based, mas a proteína de ervilha tem assumido o protagonismo. Mas, como ela é importada, é um ingrediente caro para a indústria nacional. O Brasil tem uma capacidade agrícola de produção de grãos pujante que, se bem explorada, representa um potencial enorme de crescimento. Além da geração de empregos e renda, o baixo custo dos pulses poderá permitir que a indústria de alimentos desenvolva produtos mais acessíveis para o consumidor final. Como estamos envolvidos: O GFI Brasil, em cooperação com o Governo do Mato Grosso, está iniciando um trabalho para promover o uso do feijão brasileiro como matéria-prima para a indústria de produtos plant-based. Essa iniciativa busca não apenas fomentar a agricultura regional e sustentável, como também valorizar esse ingrediente tão popular e tradicional do nosso país.
Alt Protein Project: junte-se ao movimento global de alunos que está transformando a maneira como produzimos alimentos

Inscrições estão abertas até dia 31 de março O Alt Protein Project é um movimento global que reúne estudantes motivados e visionários que buscam criar um sistema alimentar mais sustentável, seguro e justo. O The Good Food Institute desenvolveu o projeto para que esses alunos liderem a promoção da educação, pesquisa e inovação em proteínas alternativas nas suas universidades. Desde 2020, já formamos grupos de estudantes em 36 universidades ao redor do mundo para conduzirem a revolução da proteína alternativa. Chegou a hora de você se juntar a eles! Os grupos contam com pesquisadores, cientistas e alunos de disciplinas e estágios acadêmicos diferentes, e todos trabalham juntos para definir e lançar as iniciativas de alto impacto que vão garantir o sucesso das proteínas alternativas. No Alt Protein Project você vai poder atuar em diversas frentes, como: se reunir com membros de outros laboratórios para conduzir novas propostas de pesquisas; desenvolver cursos e especializações a serem adicionadas ao currículo universitário; analisar lacunas de mercado para criar novos produtos e formulações e promover atividades que estimulem o debate sobre proteínas alternativas. Quer fazer parte dessa comunidade? Se inscreva até o dia 31 de março e, caso tenha alguma dúvida, entre em contato com a nossa equipe de ciência e tecnologia pelo e-mail lorenap@gfi.org
67% dos brasileiros reduziram o consumo de carne no último ano

Motivações levam em conta questões relacionadas a saúde e preço e 47% pretendem reduzir ainda mais no próximo ano. Brasileiros que já se consideram flexitarianos somam 28%. A pesquisa “O Consumidor Brasileiro e o Mercado Plant-Based 2022”, realizada pelo The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil), mostra que 67% dos brasileiros diminuíram o seu consumo de carne (bovina, suína, aves e peixes) nos últimos 12 meses, um aumento expressivo de 17 pontos percentuais em relação a 2020. Desse total, 47% pretendem reduzir ainda mais seu consumo no próximo ano. A pesquisa de 2022 reforça muitos dos resultados encontrados na pesquisa anterior, publicada em 2020: a percepção de que os brasileiros estão mais preocupados com a saúde e que buscam incorporar opções mais saudáveis no seu dia a dia; a predominância de uma alimentação focada na redução, e não na eliminação completa dos produtos de origem animal; e a utilização, cada vez mais frequente, de proteínas alternativas vegetais em substituição aos produtos de origem animal. Preço e saúde O aumento do preço da carne foi o que motivou 45% dos brasileiros que reduziram seu consumo, mas, para outros 36%, essa redução foi motivada por questões relacionadas à saúde, como melhorar a digestão, reduzir o colesterol ou perder peso. Quando somadas à preocupação com os animais, o meio ambiente, influência de familiares, motivos religiosos e espirituais, vemos que essas questões motivaram mais da metade (52%) dos brasileiros a reduzirem o consumo de carne nos últimos 12 meses por escolha própria. Os dados mostram que o propósito de diminuir a ingestão de carne não é algo estático ou um hábito ao qual o consumidor se propõe a seguir apenas temporariamente. Pelo contrário: os consumidores que já passaram por uma redução no consumo de carne, independente do motivo inicial, tendem a querer manter esse nível mais baixo ou reduzir ainda mais. Mesmo entre os brasileiros que passaram a comer menos carne por causa da alta do preço, 33% afirmam que querem diminuir ainda mais a ingestão no próximo ano, o que indica que, boa parte dos consumidores, não têm interesse em voltar a consumir carne no mesmo ritmo de antes. Flexitarianismo e alternativas vegetais O flexitarianismo é o estilo de alimentação que busca reduzir, sem excluir por completo, o consumo de produtos de origem animal. Esse grupo de consumidores vem crescendo ano a ano no Brasil e, hoje, 28% dos brasileiros já se definem como flexitarianos. Desses, 60% afirmam querer reduzir ainda mais o consumo de carne nos próximos 12 meses. Isso indica que já existe uma parcela importante de consumidores que enxerga essa redução como uma parte definidora do seu comportamento alimentar atual e que esse grupo – mais do que os veganos e vegetarianos, que representam apenas 4% dos consumidores – é o principal público-alvo da indústria de proteínas alternativas vegetais. “Esses dados revelam o potencial do mercado em atender não apenas os 28% que já se declaram como flexitarianos, mas também os 67% de brasileiros que reduziram o seu consumo de carne no último ano”, comenta Raquel Casselli, diretora de engajamento corporativo do GFI Brasil. Consumo de Proteínas Alternativas Vegetais (plant-based) As alternativas vegetais estão se tornando mais frequentes na mesa do brasileiro: hoje, praticamente dois em cada três consumidores (65%) consomem alguma alternativa vegetal (legumes, grãos, frutas) em substituição aos produtos de origem animal pelo menos uma vez por semana, enquanto em 2020 esse percentual era de 59%. Entre os consumidores que reduziram o consumo de carne animal nos últimos 12 meses, 34% substituíram somente ou principalmente por carnes vegetais, em 2020 este percentual era de 25%. Entre os que diminuíram o consumo de carne procurando melhorar a saúde, 57% utilizam com frequência a carne vegetal como substituto. Se levarmos em conta que a primeira alternativa análoga surgiu no Brasil em 2019 e considerarmos todos os desafios do setor, a penetração desses produtos na rotina dos brasileiros se tornou muito expressiva. Porém, a pesquisa mostrou que há desafios de distribuição na categoria. O levantamento constatou que 61% dos consumidores procuraram alguma alternativa vegetal análoga nos últimos seis meses, no entanto, 53% não encontraram algum item que procuraram e apenas 8% encontraram todos os produtos análogos que buscavam, tanto em lojas físicas de mercado quanto em sites ou aplicativos de delivery, indicando que existe uma demanda reprimida por proteínas alternativas vegetais no país, tanto no varejo, quanto no food service. Para 1 em cada 4 entrevistados nada impede de consumir alternativas vegetais. Entre os que apontam alguma barreira, o preço alto é o maior empecilho para a compra de proteínas vegetais (39%), seguido pela dificuldade de encontrá-las (30%) e pelo sabor (21%). Se forem agrupadas motivações como sabor, textura ou o cheiro que não agradam ou outras questões relacionadas a aspectos nutricionais, 32% dos consumidores apontam alguma característica do produto como o principal motivo para não consumir alternativas vegetais. “Por isso, alguns desafios precisam ser superados para que esses produtos alcancem uma parcela ainda maior de consumidores. Quanto mais positiva, prazerosa e prática for a experiência da pessoa que já decidiu reduzir o consumo de carne – tendo alternativas vegetais saborosas, saudáveis e fáceis de encontrar nos locais de compra que frequenta –, maiores as chances de o mercado consumidor se tornar ainda mais amplo e adepto aos alimentos feitos de planta análogos”, afirma Raquel. Proteínas alternativas, novas tecnologias e ultraprocessados A pesquisa também buscou entender o grau de informação e o tipo de percepção que o consumidor brasileiro tem sobre alimentos ultraprocessados. A pesquisa apontou que, quanto maior o grau de informação sobre ultraprocessados, maior tende a ser a percepção de que esses produtos, em geral, fazem mal para a saúde. No entanto, 39% – uma parcela significativa de consumidores – crê que isso depende do processo de fabricação e dos ingredientes utilizados. Entre boa parte dos consumidores brasileiros não existe uma associação direta entre alternativas vegetais análogas e alimentos ultraprocessados e praticamente metade considera que o processo de fabricação e os ingredientes são os fatores que definem se
Um grande avanço para carne cultivada

Pela primeira vez, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA deu luz verde a um produto de carne cultivada como parte do processo de revisão antes da comercialização do produto. Confira análise do GFI e saiba o que isso significa na prática! Em novembro, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA divulgou que concluiu sua primeira consulta de pré-comercialização para um produto de carne cultivada. A empresa avaliada é a UPSIDE Foods, cujo produto é um frango cultivado produzido através da tecnologia do cultivo celular. A UPSIDE Foods é uma empresa de tecnologia de alimentos com sede em Berkeley, na Califórnia, fundada em 2015 com o objetivo de produzir carne cultivada de forma sustentável. Após um processo longo que começou em outubro de 2021 e contou com quatro etapas de avaliação, a empresa concluiu com sucesso a rigorosa revisão de segurança pré-comercialização da FDA, demonstrando que o produto é tão seguro quanto o frango convencional. Mas o que isso significa na prática? Os americanos já poderão comprar esse produto no mercado? Na verdade, o processo até a liberação para comercialização do produto ainda tem mais alguns passos. Nos Estados Unidos, o United States Department of Agriculture (USDA) e a FDA estabeleceram um acordo formal para realizar, de forma conjunta, a regulamentação de carnes cultivadas. Ou seja, os produtos alimentícios produzidos a partir de células de espécies regulamentadas pelo USDA, Federal Meat Inspection Act (FMIA) ou pelo Poultry Products Inspection Act (PPIA), serão regulamentados pela FDA durante a coleta, seleção e cultivo de células e pelo USDA/FSIS durante o processamento e rotulagem subsequentes. Portanto, além de atender aos requisitos do FDA, que inclui o registro da instalação para a parte da cultura celular, a empresa precisará de uma concessão de inspeção do Serviço de Inspeção e Segurança Alimentar do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA-FSIS) para o estabelecimento de fabricação. Além disso, o próprio alimento requer uma marca de inspeção do USDA-FSIS antes de entrar no mercado dos EUA. Embora o processo de revisão seja específico para o frango cultivado da UPSIDE Foods, este é um marco histórico importante que abrirá caminho para que os consumidores possam acessar esses produtos em restaurantes e no varejo nos EUA. Além disso, a análise rigorosa desse agência e a obtenção da aprovação sem questionamentos, corrobora as informações que vem sendo levantadas em estudos relacionados à segurança dos produtos de carne cultivada. Separamos alguns pontos que merecem destaque: Esse anúncio histórico feito pela FDA inicia ressaltando que o mundo está passando por uma revolução alimentar e que a agência está empenhada em apoiar a inovação no fornecimento de alimentos. O GFI tem defendido que a carne cultivada tenha um caminho claro para o mercado sob um processo regulatório justo e transparente. Por isso celebramos essa notícia! O que o FDA avaliou? Como já comentamos, nos EUA existem dois ógãos que atuam de forma conjunta na regulamentação de carnes cultivadas (FDA e USDA). Ao FDA compete a análise a parte inicial do processo de produção, desde a etapa onde as células são isoladas do animal doador, passando pela etapa de preparação de bancos ou “estoques” dessas células, e também a análise de todas as substâncias utilizadas durante o processo de cultivo para obtenção da grande quantidade de células desejadas (etapas proliferação e diferenciação). A FDA avalia também o produto final desse cultivo: a biomassa de células obtida no final da etapa de cultivo celular. Essa etapa é chamada de etapa de coleta, que é nada mais que a drenagem e retirada das células dos reatores ao fim do cultivo. A agência avaliou todos os potenciais de riscos no processo de produção durante todas essas etapas citadas para garantia da segurança do produto gerado, incluindo: a avaliação de perigos da empresa em cada etapa de produção, como a empresa planeja aplicar o controle de segurança alimentar medidas com base na sua avaliação, como a empresa monitora o crescimento e a qualidade das culturas de células durante a produção. Para mais informações, consulte: What the FDA Evaluated During the First Completed Pre-Market Consultation O que é carne cultivada e como é produzida? Carne cultivada é a carne animal produzida a partir do cultivo das células animais. O cultivo das células é realizado reproduzindo o processo biológico que ocorre dentro dos animais e a carne cultivada resultante é composta pelos mesmos tipos celulares que fazem parte do tecido muscular animal, por isso pode reproduzir o perfil sensorial e nutricional da carne bovina, frango, frutos do mar ou de outros produtos de carne produzidos convencionalmente. A partir de uma única célula, multiplicações sucessivas em biorreatores e posterior diferenciação e maturação é possível produzir carne em escala industrial. Para saber mais sobre essa tecnologia consulte os nossos recursos. Material de apoio/Fontes:
GFI Brasil na COP27: confira a programação do Pavilhão dos Sistemas Alimentares

Começa hoje (6/11), no Egito, a COP27, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC). O The Good Food Institute estará presente como uma das 15 organizações responsáveis pelo primeiro espaço dedicado a discutir o papel do sistema de produção de alimentos no enfrentamento da crise climática, o Food System Pavilion. O GFI Brasil vai liderar dois dias temáticos, repletos de sessões informativas, plenárias e apresentações de estudos de caso. O primeiro, no dia 6 de novembro, será voltado para discussões em torno da construção de sistemas alimentares climaticamente resilientes e apresentação das mais diversas soluções, considerando a multiplicidade de atores envolvidos nos sistemas alimentares globais. No dia 16 de novembro, o foco será nas estratégias para proteger e restaurar a natureza por meio de soluções trazidas especialmente pela biodiversidade e com envolvimento ativo de comunidades locais. Neste dia, o GFI vai apresentar o trabalho que tem desenvolvido na Amazônia e no Cerrado, promovendo pesquisas para o desenvolvimento de ingredientes da a partir de espécies nativas destes biomas. O GFI também é parceiro em outras datas temáticas no Pavilhão, como o dia da Adaptação Climática e o dia da Água. Confira abaixo nossa participação no evento: Designing food systems resilience in a warming world for global securityHow both global and regional solutions can lessen risks, increase supply chain stability, and improve livelihoods6 de novembro, das 11h30 às 13h30 GMT | Participação do Presidente do GFI Brasil, Gus Guadagnini Zero-conversion foodFeeding a growing world in ways that enable recovery of biodiverse lands and waters16 das 14h15 às 15h45 | Participação do Presidente do GFI Brasil, Gus Guadagnini. Food system careers of the futureInsights and aspirations from youth leaders16 de novembro, das 18h10 às 19h | mediação: Analista de Políticas Públicas do GFI Brasil, Mariana Bernal. Acompanhe as nossas redes pra saber os principais destaques do evento.
Carne animal ou vegetal? Qual é mais saudável?

Artigo inédito do GFI Brasil comparou rótulos de 59 produtos cárneos e comprovou benefícios nutricionais em optar pelas versões vegetais de alimentos como almôndegas, quibes, empanados, hambúrgueres e linguiças. O mercado de proteínas vegetais e produtos plant-based cresceu significativamente no Brasil nos últimos 5 anos. Esta expansão de produtos feitos de plantas que mimetizam as características sensoriais de produtos de origem animal viabiliza uma oferta mundial mais diversificada de alimentos, despertando o interesse dos consumidores, atraindo financiamento para pesquisa, e promovendo o mercado de proteínas alternativas. Pesquisa conduzida pelo The Good Food Institute Brasil em maio de 2020 permitiu um conhecimento mais detalhado deste público. Metade dos entrevistados reduziram o consumo de carne de origem animal nos 12 meses anteriores à pesquisa. Dentre estes, 25% incluíram a carne vegetal (análogas ou não às de origem animal) como único ou principal substituto da carne animal no dia-a-dia. Entretanto, ainda existem poucos estudos sobre as vantagens nutricionais destes produtos em relação aos seus análogos de origem animal, especialmente no que diz respeito a produtos ultraprocessados, gerando dúvida tanto entre consumidores quanto em reguladores. Neste sentido, o GFI Brasil desenvolveu o artigo “Estudo Nutricional: análise comparativa entre produtos cárneos de origem animal e seus análogos plant-based”, comparando a composição nutricional e os aditivos utilizados nas formulações dos produtos de origem animal com os seus análogos feitos de planta. Os resultados demonstram que produtos cárneos de origem vegetal apresentam aspectos nutricionais superiores aos produtos tradicionais com relação a teores de gordura saturada, sódio e fibra. Os resultados A análise foi conduzida a partir de dados coletados nos rótulos de almôndegas, empanados, hambúrgueres, linguiça e quibes de origem animal e vegetal, levando em consideração a atualização dos critérios da ANVISA para rotulagem de alimentos embalados. Entre as novas diretrizes que entram em vigor em outubro de 2022, será obrigatório informar no rótulo frontal quando o produto apresentar índices altos de sódio, açúcar e gordura saturada. Alguns dos resultados favoráveis encontrados foram: A questão dos alimentos ultraprocessados (AUP) O conceito de produtos ultraprocessados normalmente traz dúvidas e gera debate entre os consumidores sobre os reais impactos nutricionais, sociais e ambientais atribuídos aos produtos categorizados como tal. Segundo a Classificação NOVA, o termo ultraprocessado é associado a alimentos que passam por processamento industrial, como extrusão, e apresentam altos teores de sódio, gordura saturada, calorias e aditivos alimentares. Entretanto, a produção de alimentos por processos industriais não implica necessariamente em produtos nocivos à saúde. No caso dos alimentos plant-based, muito pelo contrário. O estudo realizado pelo GFI Brasil evidencia que estes produtos entregam características nutricionais não apenas adequadas mas, em alguma delas, superiores aos produtos tradicionais, como maior teor de fibra, e menores teores de sódio e gordura saturada. Com relação ao teor de proteína, as amostras de produtos plant-based estão de acordo com os critérios da ANVISA, mas há oportunidade de melhorar a porcentagem, a fim de alcançar equivalência em relação aos produtos de origem animal. As proteínas são componentes vitais na dieta humana devido aos seus efeitos na saúde e no bem-estar e têm atraído constante atenção devido à crescente conscientização do consumidor em relação aos aspectos de saudabilidade e sustentabilidade. Impulsionadas pelas demandas atuais de consumo, a indústria de alimentos têm empregado técnicas tradicionais e modernas, altamente tecnológicas, para disponibilizar no mercado uma nova gama de produtos análogos aos de origem animal, obtidos exclusivamente a partir de fontes vegetais. Com o fortalecimento do setor, novos produtos vêm sendo lançados e, com isso, torna-se essencial a atualização do banco de dados dos estudos existentes. Além disso, é necessário aprofundar o entendimento quanto à coerência ou não da associação de produtos cárneos vegetais com o termo ultraprocessado. Por esses motivos, e visando ampliar a compreensão dos aspectos nutricionais dos produtos cárneos feitos de plantas, o GFI pretende continuar desenvolvendo novos estudos que também avaliem o perfil de aminoácidos e ácidos graxos dos produtos dessa categoria. É dessa forma, com base em fatos e dados, que será possível avançar no desenvolvimento de produtos cada vez mais nutritivos e elucidar os principais questionamentos relacionados à saudabilidade desses produtos. O objetivo dessa publicação é que também sirva de instrumento para gerar debate no campo científico sobre o tema, fornecendo mais um subsídio para reguladores, pesquisadores, profissionais de alimentos e o público em geral tirarem suas conclusões. Leia o artigo completo aqui.
Proteínas alternativas são mesmo mais sustentáveis?

GFI e FAIRR lançam modelos de relatórios para que empresas de proteínas alternativas possam medir e revelar seus impactos ambientais, sociais e de governança. Da carne à base de plantas ao leite de macadâmia, produtores de alimentos, varejistas e fabricantes podem, graças ao lançamento de dois novos modelos de relatório, passar a relatar com precisão o impacto de sustentabilidade de seus negócios de proteínas alternativas. Projetados pela rede de investidores da Iniciativa FAIRR, apoiada por US$ 68 trilhões, e pelo The Good Food Institute (GFI), uma organização internacional sem fins lucrativos que atua para transformar o sistema de produção de alimentos, investindo em proteínas alternativas vegetais, cultivadas e obtidas por fermentação, os modelos são apoiados por investidores e líderes da indústria. A FAIRR e o GFI desenvolveram os dois novos modelos de relatório com contribuições de diversos investidores, empresas e ONGs, incluindo Unilever, Eat Just Inc., Newton Investment Management, PIMCO, Blue Horizon e WWF-UK, bem como de especialistas em ESG e Avaliação de Ciclo de Vida (ACV). Após o lançamento, os autores dos modelos vão trabalhar com marcas de proteínas alternativas que desejam usá-los para relatar fatores ambientais, sociais e de governança (ESG da sigla em inglês), como emissões de carbono, uso do solo, da água e impactos nutricionais. Proteínas alternativas, incluindo carne, frutos do mar, ovos e laticínios à base de plantas, obtidas por fermentadas e cultivadas devem proporcionar um caminho para descarbonizar a produção de alimentos, ao mesmo tempo em que atendem a demanda global por alimento. Nos últimos anos, o investimento em proteínas alternativas aumentou 91% em uma taxa média de crescimento de 5 anos até 2021 (de acordo com a análise feita pelo GFI a partir dos dados da PitchBook Data), e estima-se que as vendas aumentem em até US$ 1,1 trilhão até 2040 e ocupem até 60% do mercado total de carnes. Pesquisas mostram que muitos produtos à base de plantas têm de um quinto a um décimo do impacto ambiental que seus equivalentes feitos de proteína animal. No entanto, até hoje, não existiam padrões abrangentes para empresas que fabricam e vendem proteínas alternativas poderem avaliar e divulgar os dados robustos de ESG que investidores, empresas e consumidores precisam para tomar decisões informadas. O Modelo de Relatório ESG de Proteínas Alternativas para Empresas Especializadas (“Modelo Especializado”) e o Modelo de Relatório ESG de Proteínas Alternativas para Empresas Diversificadas (“Modelo Diversificado”) oferecem aos investidores, governos e consumidores um caminho para receber informações precisas de cada negócio de proteínas alternativas. Raquel Casselli, Diretora de Engajamento Corporativo do The Good Food Institute Estados Unidos, afirma que a ferramenta permitirá que empresas de proteínas alternativas mostrem as muitas vantagens em ESG que seus modelos de negócios atuais possuem. “Se comparadas à proteína animal convencional, proteínas alternativas emitem quantidades significativamente menores de gases de efeito estufa e apresentam consideráveis vantagens nutricionais e de segurança alimentar. À medida que essa indústria continua a fazer parceria com o setor privado para construir negócios responsáveis e sustentáveis para o futuro, esses modelos vão permitir que as empresas reivindiquem seu papel natural de liderança em ESG.”. Jeremy Coller, presidente e fundador da FAIRR e diretor de investimentos da Coller Capital, disse que a FAIRR a parceria com o GFI na elaboração dos dois modelos de relatório são um marco para a indústria de proteínas alternativas. “Não é possível gerenciar o que não se pode medir. Esses novos modelos fornecem aos investidores e às empresas uma linguagem comum e um conjunto de padrões para medir e divulgar como eles estão gerenciando seus impactos ESG e abordando as metas climáticas. Esperamos que os membros da FAIRR, representando US $68 trilhões de ativos sob gestão (AUM), recebam os modelos como mais uma ferramenta nos seus processos de investimentos. Também esperamos que tanto grandes produtores de proteínas quanto pequenas empresas especializadas em proteínas alternativas adotem os novos modelos, o que vai beneficiar o mercado como um todo”. O novo Modelo Especializado é projetado para fabricantes e fornecedores de ingredientes cujo foco principal são proteínas alternativas, como carne, laticínios, proteína de soro de leite ou gelatina. Ele engloba os riscos e oportunidades mais relevantes em todo o espectro E, S e G, por exemplo, em fornecimento, certificação, envolvimento do consumidor, saúde do solo, resíduos plásticos, consumo de água e nutrição. Em resposta ao lançamento do Modelo Especializado, Lisa Wetstone, Diretora Sênior de Marketing, Inovação e Estratégia de Crescimento da empresa de ingredientes especializada em cogumelos, MycoTechnology, Inc, comenta que o modelo vai permitir que as empresas meçam e comuniquem seus impactos positivos de maneiras que façam sentido e tenham importância – para a estratégia interna, para o processo de tomada de decisão e também para os consumidores. “De pequenas startups a startups em estágio de crescimento (como a MycoTechology) a players estabelecidos do setor, há muitas maneiras de coletar e interpretar dados ESG. Isso é especialmente verdade dadas as nuances de nossa indústria. Nos falta uma linguagem comum! Por isso, estabelecer as bases para padronizar essas informações pode ser um guia para todos nós e pode elevar a indústria como um todo.” Já o novo Modelo Diversificado foi projetado para empresas de alimentos, varejistas, fabricantes e produtores de proteína animal e com portfólios de produtos que incluem tanto proteínas convencionais quanto alternativas. Esse modelo orienta a geração de relatórios sobre os dados ESG relativos à porção de proteínas alternativas das empresas (como lobby/advocacy, gestão da água, circularidade e acessibilidade), para que eles complementem os outros dados que provavelmente já são reportados por meio de outros modelos. Ao possibilitar que os tomadores de decisão façam comparações entre seus negócios de proteínas animais e alternativas, o Modelo Diversificado apoia e incentiva as empresas enquanto elas fazem a transição de suas práticas para atender uma série de metas relacionadas ao clima, biodiversidade e governança. Beatriz Hlavnicka, Head de Marketing para América do Sul da PlantPlus Foods, joint venture entre Marfrig e ADM disse, em relação ao lançamento do Modelo Diversificado que “o modelo abrangente permite comparar e abordar as oportunidades e
Mercado de carne cultivada avança na América Latina

Conheça as iniciativas brasileiras para produção de carne cultivada, envolvendo grandes empresas, universidades e institutos A indústria de carne cultivada passa por um momento de franca expansão, com o número de players no setor se tornando cada vez maior. Atualmente, são cerca de 70 empresas e startups no mundo todo, e é esperado que essa tendência de crescimento se mantenha, segundo levantamento feito pelo Good Food Institute. Em 2021, este mercado de carne cultivada recebeu investimentos de USD1,4 bilhão. Um passo significativo no avanço do mercado de carne cultivada na América Latina acaba de ser dado pela Granja Tres Arroyos. A empresa argentina, líder na produção de alimentos no país, acaba de anunciar sua entrada no segmento por meio de uma parceria técnica com o Instituto de Pesquisa Biotecnológica da Universidade Nacional de San Martin. Os esforços de P&D começaram há um ano e o objetivo é ter uma planta piloto nos próximos dois anos. Para o setor de carne cultivada chegar à escala comercial a preços acessíveis para o consumidor, são necessários investimentos altos em pesquisa e estrutura robusta de produção. É este know-how que a Granja Tres Arroyos e seus 50 anos de experiência no setor de carnes está trazendo para esse mercado. Essa não é a primeira iniciativa no âmbito de cultivo de proteínas no país. A Argentina já foi palco da primeira degustação de carne cultivada na América do Sul, em julho de 2021. O feito foi fruto das pesquisas da startup B.I.F.E., da divisão de bioengenharia do Laboratório Craveri e aconteceu de forma privada. A degustação serviu como prova de conceito inicial, ainda sem perspectiva para atingir o estágio de produção para o mercado. A aposta da Argentina no cultivo de proteínas confirma a tendência de queda no consumo de carne no país, que chegou ao menor patamar em 100 anos. O potencial deste movimento é de impactar a cadeia em escala global, uma vez que a Argentina é o maior consumidor de carne per capta entre países emergentes, de acordo com dados do CiCarne. “Com a união de esforços da iniciativa privada com os agentes governamentais, sobretudo com institutos de pesquisa e agências reguladoras, é possível motivar o fluxo de capital e estimular o desenvolvimento de pesquisadores e profissionais dedicados a essa área tão estratégica para a América Latina”, diz a Raquel Casseli, gerente de Engajamento Corporativo do GFI Brasil. Na sua opinião, a América Latina poderá liderar nos próximos anos o protagonismo do setor de carne cultivada no mundo. “Grandes players, principalmente no Brasil, importaram tecnologia e construíram grandes laboratórios para que no futuro seja possível produzir a carne cultivada em escala. É uma corrida de 100m rasos. É uma maratona científica”, afirma a especialista. Saiba mais sobre as iniciativas no Brasil: O Brasil possui as condições favoráveis para se tornar líder desta indústria e já existem grandes empresas brasileiras implementando iniciativas para tornar a carne cultivada uma realidade no prato do consumidor. A JBS investirá R$ 325 milhões nos próximos quatro anos para o desenvolvimento de carne cultivada através do seu Biotech Innovation Center. Inclusive, o seu centro de inovação em alimentos no Brasil está com vagas abertas para cientistas de diversas áreas relacionadas à inovação em alimentos por meio do programa Especialistas em Biotecnologia Avançada, que tem foco na produção de carne cultivada. No campo das startups as últimas novidades também não poderiam ser mais animadoras. A Ambi Real Foods, que nasceu com a promessa de se tornar a primeira empresa brasileira a produzir carne cultivada com tecnologia totalmente nacional, acaba de produzir seu primeiro protótipo de hambúrguer bovino, com tecnologia totalmente nacional. Já a Sustinieri Pisces, startup que também deseja ser pioneira na produção de peixes cultivados no Brasil, finalizou a etapa de desenvolvimento de bancos de células de cinco espécies de peixes: Garoupa, Cherne, Robalo, Linguado e Tainha. “Estamos produzindo os Work Banks e daremos início ao processo de uso dos biorreatores para produzir um protótipo (empanado de peixe) até o primeiro trimestre de 2023.”, conta Marcelo Szpilman, diretor executivo da Sustinieri Pisces. Além disso, acaba de entrar para o mercado a primeira empresa de cultivo celular focada em desenvolver gordura de porco cultivada, a Cellva. De acordo com informações da empresa, “a tecnologia Cellva proverá gordura animal substancialmente mais saudável e completamente segura contra as contaminações que a gordura suína tradicional pode oferecer, com exato sabor, textura e aroma”. O produto poderá ser incorporado em produtos de origem animal, cultivados ou feitos de plantas. Também estão nos planos o desenvolvimento de outros alimentos a partir do cultivo de células. No campo acadêmico, a carne cultivada também tem atraído a atenção de cada vez mais pesquisadores e gerado os primeiros resultados. Projeto coordenado pela Profa. Dra. Aline Bruna da Silva do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET MG) em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais, acaba de produzir o primeiro protótipo de carne de frango estruturado cultivado. A pesquisa que deu origem ao protótipo (Hybrid scaffolds for cultivated chicken) foi financiada pelo Good Food Institute, por meio do Programa de Incentivo à Pesquisa. Utilizando tecnologia de impressão 3D, o SENAI CIMATEC está desenvolvendo carne cultivada e os testes feitos até o momento buscam criar formulações para alcançar textura, aparência e sabor da carne convencional. Em parceria com o GFI Brasil, a UFPR, por meio do Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, já formou 107 alunos na disciplina de introdução à zootecnia celular, dedicada aos estudos de carne cultivada. O próximo passo será desenvolver o produto em laboratório. A Escola Senai Dr. Celso Charuri passou a oferecer um curso de Técnicas de cultivo com linhagens de células de mamífero, com o objetivo de desenvolver competências relacionadas ao cultivo de linhagens celulares. Na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), a disciplina “Proteínas Alternativas: Feito de Plantas, Fermentação e Carne Cultivada” agora é oferecida dentro do programa de Pós-graduação da Faculdade de Engenharia de Alimentos. O objetivo é capacitar os alunos apresentando os fundamentos técnico-científicos das proteínas