COP 29: reflexões e o caminho para Belém

Como era esperado pela maior parte dos países e organizações, a COP 29, embora muito bem organizada, não trouxe avanços significativos para a agenda climática. Apesar disso, o evento reforçou a importância de continuar o trabalho conjunto e destacou que a atenção global agora está voltada para a COP 30, que acontece em 2025, em Belém. Mais do que uma pausa, esse intervalo representa uma oportunidade: temos um ano para trabalhar intensamente, fortalecer alianças e garantir que as soluções necessárias, como as proteínas alternativas, ganhem o destaque que merecem. Ainda que os resultados da COP 29 tenham ficado aquém das expectativas, o fortalecimento da comunidade global focada em alimentos e clima é um avanço que não pode ser ignorado. Hoje, estamos mais alinhados e preparados para avançar com essa conversa, tanto na COP quanto em outros espaços estratégicos. Essa força coletiva será essencial para garantir que, em Belém, o foco esteja na urgência de transformar os sistemas alimentares e de redirecionar recursos para as soluções com maior impacto positivo possível. Avanços e desafios da COP 29 O principal resultado desta edição foi o acordo para destinar US$300 bilhões anuais para o financiamento climático até 2030. Embora distante do US$1,3 trilhão inicialmente demandado pelos países do Sul Global, o valor representa uma direção importante. O texto final, no entanto, menciona alimentos apenas uma vez, destacando que as medidas de mitigação e adaptação a serem implementadas não devem colocar em risco a produção de alimentos, mas falha em oferecer detalhes sobre como o financiamento será direcionado a sistemas alimentares sustentáveis. Além disso, produtores rurais e pequenos agricultores, considerados grupos vulneráveis, não foram citados no documento final, o que foi criticado pela sociedade civil. No próximo ano, o debate será centrado na chamada “Road from Baku to Belém”, com o desafio de transformar os US$300 bilhões anuais em um total de US$1,3 trilhões. Esse escalonamento exigirá a diversificação das fontes de financiamento, mobilizando não apenas recursos públicos, mas também investimentos privados, parcerias internacionais e mecanismos inovadores. Essa abordagem integrada será essencial para garantir que as soluções climáticas sejam robustas e efetivas. O GFI Brasil está comprometido em apresentar projetos que demonstrem o impacto positivo de sistemas alimentares alternativos, especialmente nas economias do Sul Global. Aproveitaremos as lições aprendidas nas COPs anteriores para propor soluções práticas e ampliar as oportunidades de financiamento climático. Outro destaque desta edição foi a Declaração sobre Metano, que gerou controvérsia ao focar exclusivamente nas emissões provenientes de resíduos orgânicos, responsáveis por cerca de 18% das emissões globais de metano, enquanto ignorou completamente a pecuária, que contribui com aproximadamente 40%. Mais de 30 países se comprometeram a incluir metas de redução de metano derivados dos resíduos orgânicos nas suas futuras NDCs, mas essa abordagem reflete uma resistência em enfrentar diretamente o impacto ambiental da produção de produtos de origem animal – e reforça a necessidade de organizações como o GFI intensificarem o debate sobre soluções escaláveis na indústria de alimentos. Além disso, o Trabalho Conjunto de Sharm el-Sheikh sobre Agricultura (SSJWA) lançou um portal online para compartilhamento de projetos relacionados à agricultura e segurança alimentar, com potencial de atrair investimentos e facilitar a ampliação de iniciativas climáticas na agricultura. Essa ferramenta, em desenvolvimento desde a COP 27, busca integrar uma abordagem mais ampla e inclusiva para os sistemas alimentares, que abrangem múltiplos setores da economia e todos os elos da cadeia de produção e consumo de alimentos. O GFI Brasil continuará trabalhando ao lado de negociadores e parceiros para apresentar projetos bem-sucedidos e buscar recursos que ampliem o impacto de iniciativas alinhadas a essa agenda. Esse trabalho é essencial para garantir que os sistemas alimentares sejam priorizados em futuras discussões climáticas, especialmente na “Road from Baku to Belém” que se desenrolará até a COP 30 no Brasil. Por fim, foi lançada a Iniciativa Climática Baku Harmoniya para Agricultores, que busca harmonizar programas existentes e integrar agricultores, especialmente mulheres e comunidades rurais, às ações climáticas voltadas para alimentos. Apesar da proposta ser muito promissora para construir soluções climáticas inclusivas e sustentáveis, sua operacionalização ainda precisa ser detalhada, e nós acompanharemos de perto seus desdobramentos. Oportunidades na NDC Brasileira Durante a COP 29, Brasil, Reino Unido e Emirados Árabes Unidos apresentaram atualizações de suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). No caso do Brasil, a revisão da NDC está associada ao Plano Clima e seus planos setoriais,com previsão de finalização até março de 2025. Há uma expectativa crescente de que as versões finais sejam mais inclusivas e ambiciosas. O GFI Brasil enxerga essa revisão como uma oportunidade crucial para integrar políticas que incentivem a produção sustentável de alimentos, especialmente as proteínas para consumo humano, como parte de uma estratégia alimentar mais alinhada com os desafios climáticos. Incorporar metas específicas para sistemas alimentares será essencial para posicionar o Brasil como líder em soluções sustentáveis, contribuindo significativamente para a mitigação das emissões globais. Um caminho positivo para Belém O maior legado da COP 29 não está nos textos finais ou nos compromissos firmados, mas no fortalecimento de uma comunidade global de comida e clima mais unida e determinada a enfrentar os desafios climáticos. Esse alinhamento será fundamental para garantir que, na COP 30, os sistemas alimentares estejam no centro das discussões. Ao longo das COPs 27, 28 e 29, o GFI Brasil colaborou com diversos parceiros para consolidar a agenda de sistemas alimentares no centro das negociações climáticas. O próximo desafio é transformar essa conexão em ações climáticas concretas, apresentando projetos robustos que demonstrem o impacto positivo de novas formas de se produzir proteínas como uma solução viável, escalável e estratégica no combate às mudanças climáticas. A COP 30 será uma oportunidade única para avançar essa agenda. Com planejamento estratégico, mobilização de recursos e parcerias fortalecidas, estamos confiantes de que Belém terá o potencial para gerar mudanças estruturais na agenda climática global Belém nos espera e, com ela, a chance de transformar o potencial das proteínas alternativas em soluções concretas e duradouras para um futuro mais sustentável.
Semana do Clima de Nova York: impacto dos sistemas alimentares ganha destaque no evento preparatório para a COP

Com foco nas dietas “plant-rich”, a edição de 2024 reforça a urgência de integrar a alimentação nas estratégias climáticas globais A Semana do Clima de Nova York, realizada anualmente em setembro, paralelamente à Assembleia Geral da ONU, reúne líderes de governos, empresas, acadêmicos, ONGs e representantes da sociedade civil para discutir soluções climáticas. A edição de 2024, que aconteceu entre os dias 22 e 29 de setembro, trouxe pela primeira vez um dia inteiramente dedicado às discussões sobre dietas com menos produtos de origem animal, chamado de “Food Day”. Realizado no segundo dia da conferência, o evento reuniu mais de mil participantes para debater a relação entre sistemas alimentares e mudanças climáticas, com painéis conduzidos por representantes de organizações como a Sociedade Vegetariana Brasileira, PAN e Humane Society. A abordagem central do Food Day foi o conceito “plant-rich diet”, que pode ser traduzido como “dieta rica em vegetais”, sugerindo que alimentos de origem vegetal sejam priorizados na composição da dieta. Essa perspectiva busca promover escolhas alimentares sustentáveis de forma inclusiva e abrangente, evitando rótulos restritivos e contemplando uma maior diversidade de dietas. A Semana do Clima se consolidou como um evento preparatório para a COP e funciona como uma plataforma para revisar metas de sustentabilidade e alinhar esforços, preparando o terreno para os compromissos formais que serão discutidos na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Muitos dos temas debatidos nesta semana, como descarbonização, financiamento climático e sistemas alimentares, são os mesmos que guiarão as negociações na COP, o que torna esse encontro uma oportunidade valiosa para avaliar o progresso global e definir o tom para as futuras ações climáticas. O GFI esteve ativamente presente na Semana do Clima, com representantes de todo o mundo participando de painéis e co-organizando eventos para reforçar as proteínas alternativas como a solução climática viável que elas já se provaram ser. Recentemente, o estudo “Recipe for a Livable Planet”, publicado pelo Banco Mundial, posicionou esses alimentos como uma das estratégias mais promissoras para mitigar as mudanças climáticas: ao analisar 26 intervenções no setor agroalimentar, a publicação concluiu que as proteínas alternativas ocupam a segunda posição em termos de potencial de redução de emissões, ficando atrás apenas do reflorestamento, com a capacidade de reduzir até 6,1 bilhões de toneladas de CO2 anualmente – o que equivale a retirar aproximadamente 1,3 bilhão de carros de circulação globalmente durante o mesmo período. No entanto, apesar dos sistemas alimentares contribuírem com 33% das emissões globais, eles ainda recebem apenas 3% do investimento climático, valor 22 vezes menor do que o recebido pelos setores de energia e transportes, por exemplo. Por isso, um dos focos da Semana do Clima foi a inclusão dos sistemas alimentares em estratégias climáticas globais, como as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Elas são os compromissos que cada país estabelece de forma autônoma para atingir as metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, conforme estipulado no Acordo de Paris. Esses compromissos refletem as metas e estratégias de cada nação para combater as mudanças climáticas e são revisados periodicamente. Na COP 28, um avanço importante foi a inclusão dos sistemas alimentares e da agricultura no Global Stocktake, um relatório revisado a cada cinco anos que avalia o progresso global em relação aos objetivos do Acordo de Paris. Pela primeira vez, foram mencionadas a necessidade de aumentar a produção sustentável de alimentos e fortalecer a resiliência dos sistemas alimentares. Embora essas menções ainda sejam tímidas, elas abriram caminho para que o tema seja trabalhado de forma mais robusta em futuras COPs e em outros instrumentos internacionais. O time de políticas públicas do GFI Brasil já vem trabalhando para integrar os sistemas alimentares nas NDCs nacionais, promovendo um alinhamento entre o setor agroalimentar e as metas climáticas do país. E, com a COP 30 marcada para acontecer em 2025 em Belém (PA), a expectativa é que o Brasil possa assumir um papel de liderança nesta pauta, incluindo os sistemas alimentares nas NDCs e formando coalizões entre governos, empresas e organizações da sociedade civil para acelerar uma transição alimentar sustentável. O Food Day também foi palco do lançamento do Tilt Collective, uma iniciativa global que trabalha com pesquisa, financiamento de projetos e comunicação estratégica para enfrentar os impactos da agricultura intensiva e acelerar a transição para dietas que priorizem alimentos de origem vegetal. No painel, Zenia Stampe, deputada dinamarquesa líder da comissão de agricultura do parlamento, apresentou a nova legislação em aprovação no país que introduz impostos sobre a produção de carne. Segundo ela, um terço das emissões da Dinamarca vem da agricultura – em consonância com os números globais – e a associação de fazendeiros apoiou o programa governamental de aumentar o foco em produções vegetais em vez da pecuária. Stampe explicou que os produtores rurais recebem financiamento público para produzir mais vegetais e que, nesse processo, eles vêm deixando de sofrer com diversos problemas recorrentes ligados à criação de animais. Gus Guadagnini, presidente do GFI Brasil, esteve presente no debate e ressaltou que essa é uma lição importante para o nosso país: “a modernização das práticas agrícolas pode trazer benefícios diretos para o produtor rural, desde que haja um investimento comprometido com a questão social e uma transição justa para a produção vegetal. Para transformar os sistemas alimentares, é fundamental capacitar e fornecer os recursos necessários aos fazendeiros, permitindo que eles sejam protagonistas dessa mudança. Isso se torna ainda mais crucial no Brasil, onde o rebanho bovino atingiu um recorde histórico, com mais de 238 milhões de cabeças de gado em 2023, mostrando que precisamos urgentemente equilibrar nossas práticas de produção com a crescente demanda global por alimentos mais sustentáveis.” O presidente do GFI Brasil reforça, ainda, que o caminho para um futuro sustentável passa, inevitavelmente, pela transformação de como produzimos e consumimos nossos alimentos: “a pauta dos sistemas alimentares começou a ser debatida apenas em 2022, na COP do Egito. Desde lá, ela vem ganhando mais foco, comprometimento dos países, engajamento da comunidade internacional, fontes de financiamento para o setor e até dias
Brasil corre para tentar reduzir emissão de gases do efeito estufa e diminuir o impacto das mudanças climáticas no país

Relatório do Banco Mundial elege proteínas alternativas com potencial revolucionário na mitigação das mudanças, atrás apenas do reflorestamento. Um documento elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), em conjunto com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e setores industriais, deverá ser apresentado até novembro de 2024 ao Ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima, responsável pelo Plano Nacional de Mudança do Clima. O objetivo é criar diretrizes que servirão para a implementação, com manutenção da competitividade, da produção industrial com redução proporcional de emissão de gases do efeito estufa (GEE). Pelo Acordo de Paris, a meta brasileira é reduzir em 37%, até 2025, as emissões de GEE em relação aos níveis de 2005. Em 2030, a redução terá de ficar 43% abaixo dos níveis de 2005. Para tanto, o País se comprometeu a aumentar a participação de bioenergia sustentável na matriz energética para cerca de 18% até 2030 e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas. Até agora, o Brasil tem enfrentado desafios significativos em relação ao desmatamento e às políticas ambientais, o que tem impactado negativamente suas metas de redução de emissões. No entanto, o país também possui um grande potencial para fontes de energia renovável, como hidrelétricas, eólicas e solares, que podem contribuir significativamente para a redução das emissões. Além disso, como uma tendência crescente entre os consumidores brasileiros de buscar opções alimentares mais saudáveis e sustentáveis, startups e grandes empresas alimentícias brasileiras estão investindo em pesquisa e desenvolvimento de produtos à base de plantas e carne cultivada. Segundo relatório do Banco Mundial divulgado no ano passado, o setor representa um potencial revolucionário na mitigação das mudanças climáticas. Ao analisar 26 intervenções promissoras no setor agroalimentar, o estudo “Recipe for a livable Planet (Receita para um planeta habitável)” conclui que estes alimentos ocupam a segunda posição em termos de potencial de redução de emissões, ficando atrás apenas do reflorestamento. A produção de alimentos, especialmente de origem animal, é responsável por cerca de um terço das emissões globais de gases de efeito estufa. De acordo com o Banco Mundial, as proteínas alternativas podem reduzir as emissões em até 6,1 bilhões de toneladas de CO2 por ano. “Mover-se das dietas atuais para uma dieta que exclui produtos animais poderia reduzir as emissões de GEE em 49%”, afirma o relatório. Além disso, também diminuiria o uso da terra em 76%, o que beneficiaria diretamente as estratégias de reflorestamento e redução do desmatamento . Investimento climático deve focar recursos nos sistemas alimentares Para acelerar esse processo de desenvolvimento e adoção de tecnologias inovadoras, diz o presidente do The Good Food Institute Brasil, Gus Guadagnini, são necessários investimentos governamentais. “Os sistemas alimentares recebem apenas 3% do investimento climático, enquanto contribuem com 33% das emissões de gases. Esse valor é 22 vezes menor do que o recebido pelos setores de energia e transportes, por exemplo. Com o apoio adequado, as proteínas alternativas podem se tornar uma ferramenta poderosa na luta contra as mudanças climáticas e na construção de um futuro mais sustentável”, comenta o presidente do GFI. De acordo com o relatório “Global Innovation Needs Assessment: Food System Methane, para que o desenvolvimento do setor de proteínas alternativas ocorra e gere benefícios ambientais e para a saúde global, são necessários $10,1 bilhões em investimentos anuais, com $4,4 bilhões para pesquisa e desenvolvimento e $5,7 bilhões para incentivos ao setor privado. A “Innovation Commission: Climate Change, Food Security, Agriculture”, da Universidade de Chicago, liderada pelo Nobel de economia Michael Kremer, concluiu que asproteínas alternativas podem: 1) contribuir para a segurança alimentar ao reduzir os preços dos alimentos; 2) diminuir as emissões climáticas diretas; 3) Aliviar a desnutrição; e 4) fornecer uma maneira mais adaptável ao clima de produzir proteínas. Para o grupo de trabalho que está elaborando o relatório do MDIC com a CNI, o olhar diferenciado para o setor de proteínas alternativas, com investimentos significativos em ciência e tecnologia, faz-se mais do que necessário, afirma Guadagnini, é urgente.
GFI Brasil defende financiamento para proteínas alternativas na Conferência sobre Mudanças Climáticas em Bonn, na Alemanha

Entre os dias 3 e 13 de Junho, o The Good Food Institute participou da Conferência sobre Mudanças Climáticas em Bonn (SB 60), evento que pauta os principais assuntos que serão foco da COP 29, que acontece no final do ano em Baku, no Azerbaijão. Com foco nas questões científicas e técnicas das negociações climáticas e na implementação de acordos sobre o clima, a SB 60 possibilita que os observadores da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Clima (UNFCCC) – como o The Good Food Institute – participem ativamente das discussões e interajam pessoalmente com delegados de todo o mundo. “Assim como no ano passado, participamos da Conferência de Bonn para debater os impactos dos sistemas alimentares no clima, demarcar a importância das proteínas alternativas como estratégia de mitigação e adaptação climática, e defender mais financiamento para que o Sul Global desenvolva as suas próprias ações no tema”, explicou Mariana Bernal, analista de Políticas Públicas do GFI Brasil. Para isso, o GFI promoveu um evento paralelo em parceria com a Aliança para a Biodiversidade Internacional e CIAT, Proveg International, Coller Foundation (JCF), Humane Society International (HSI) e Changing Markets Foundation (CMF), a fim de apresentar os desafios e as oportunidades na transformação dos sistemas alimentares globais, a partir da diversificação das fontes de proteínas. O tema foi conduzido por especialistas da Humane Society International Brazil (HSI), Changing Markets Foundation (CMF), Boston Consulting Group (BCG) e YOUNGO. “Pudemos acompanhar as negociações da agricultura e nos informar sobre as propostas de governos e sociedade civil para que nos mantenhamos dentro da meta do 1.5ºC. Nos eventos que participamos, apresentamos caminhos para a criação de políticas e estratégias de desenvolvimento sustentável, inclusivo e que reduzam o impacto da produção de alimentos sobre o clima”, resume Mariana Bernal. Outras áreas de progresso em Bonn incluem: Nova Meta Quantificada Coletiva sobre Financiamento Climático: Simplificação do conteúdo para a Nova Meta Quantificada Coletiva sobre Financiamento Climático. Opções claras e a estrutura substantiva de um projeto de decisão devem ser finalizadas antes da COP29. Também foi realizado um diálogo de especialistas técnicos para garantir que a Nova Meta seja ambiciosa, bem estruturada, relatada de forma transparente e melhore a qualidade do financiamento climático para os países em desenvolvimento. Indicadores de Adaptação: Partes tomaram medidas para indicadores de adaptação que sejam prospectivos, eficazes e cientificamente sólidos. Mercado Internacional de Carbono: Progresso foi feito em direção a um mercado de carbono internacional com melhor funcionamento, mas ainda há trabalho a ser feito. Transparência e Planos de Ação Climática: Partes trabalharam juntas pela transparência e se apoiaram mutuamente no planejamento de planos de ação climática mais fortes. Progresso na Construção de Resiliência e Adaptação: As Partes concordaram com medidas para o Objetivo Global de Adaptação, que cria metas temáticas que destacam as prioridades globais voltadas para o futuro. Foram feitos progressos nos indicadores para cada uma dessas metas temáticas, que serão inclusivos, transparentes e cientificamente sólidos. A UNFCCC pede que os países desenvolvam Planos de Adaptação Nacional (NAPs) até o final de 2025 e implementem-nos até 2030. Progresso Feito nos Mercados Internacionais de Carbono sob o Artigo 6: Foram feitos avanços importantes em aspectos técnicos do Artigo 6, incluindo autorização de créditos de carbono, escopo de atividade, registro internacional de mercado de carbono e muito mais. Um workshop adicional será realizado para aprofundar o trabalho técnico sobre o Artigo 6 antes de novembro. Aumentando a Transparência: A nova presidência da COP solicitou que as Partes enviem seus Relatórios Bienais de Transparência (BTRs) antes da COP29 em Baku. Novos kits de ferramentas de relatório do Marco de Transparência Aprimorado serão entregues em breve. Serão realizados treinamentos sobre as novas ferramentas de relatório antes da COP29. Aumentando a Ambição nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs): As Partes devem entregar sua próxima rodada de NDCs no início do próximo ano, alinhadas com o limite de 1,5 °C e cobrindo todos os setores e gases de efeito estufa. Foi lançado o NDC 3.0 Navigator para ajudar as Partes a desenvolver novas NDCs com foco na implementação. Outros Assuntos e Eventos: GFI Brasil na SB60 em Bonn: Promovendo a diversificação de proteínas e o financiamento climático O GFI foi representado por dois especialistas em políticas durante o evento em Bonn. Na primeira semana, Sam Lawrence, Vice-Presidente de Políticas Públicas do GFI Ásia, trouxe uma visão global para as discussões. Já na segunda semana, Mariana Bernal, Analista de Políticas Públicas do GFI Brasil, assumiu a liderança, focando em questões cruciais para o Sul Global. A participação em Bonn foi marcada por um evento paralelo oficial e uma coletiva de imprensa que destacaram a importância da diversificação de proteínas e do financiamento climático para um futuro alimentar sustentável.
GFI Brasil no IBITI Vegan Festival 2024

A 2ª edição do IBITI Vegan Festival aconteceu entre os dias 23 e 26 de maio, no Ibiti Projeto. Evento promovido pela Naveia, que teve 4 dias de duração, juntou gastronomia, arte, musica e contou com a presença de pessoas envolvidas com o setor de proteínas alternativas, dentre eles, chefs de cozinha, representantes do setor privado, nutricionistas, organizações, jornalistas, influencers e a Gerente de Desenvolvimento do GFI Brasil, Ana Carolina Rossetini, que foram convidados para conhecer o projeto, refletir sobre como podemos manter nossos hábitos ao mesmo tempo que respeitamos a natureza e o meio ambiente. Com uma programação carinhosa e cuidadosamente planejada para aguçar nossos paladares e sentimentos, contou a realização de meditação, de trilha do circuito das águas, visitando as cachoeiras da região, com refeições feitas por chefs como Gigi Vilela, Thiago Medeiros, Pri Herreira, Dani Rosa, Mari Marola e Leo Kazuya que prepararam cardápios que traduziam a cultura local ao mesmo tempo que imprimiam sua originalidade, saudabilidade e sustentabilidade, com refeições 100% veganas produzidas com muito leite Naveia e ingredientes produzidos pela comunidade, plantadas e colhidas nas áreas reflorestadas. Verdadeiros banquetes, cheios de cores, aromas, sabores, muito amor e respeito às tradições, natureza e meio ambiente. A Ana Carol, do GFI Brasil, participou de um bate-papo com a temática “5 mitos sobre alimentação e seu impacto ambiental”, dividindo a condução da discussão com a nutricionista Ale Luglio, momento em que pôde contribuir apresentando a percepção do GFI. As discussões realizadas durante o evento incluiram as novidades do setor e cases brasileiros do mercado plant-based. Nesse sentido, o maior ganho para o segmento das proteínas alternativas foi a possibilidade de refletir coletivamente sobre as questões relacionadas aos avanços do setor e os principais desafios de levar a discussão alimentar para os grandes foruns mundiais. Por esta oportunidade, o GFI Brasil agradece imensamente a Naveia, ao IBITI projeto, e a Comununiversidade pela oportunidade de poder contribuir neste fórum de discussões. Sobre o IBITI Projeto: Com 42 anos de existência, localizado no Parque Estadual do Ibitipoca, em Minas Gerais, numa região marcada pela produção de leite, encontra-se os esforços de reflorestar e refaunar terras degradadas pelo pasto, em quase sua totalidade, que foram abandonadas por conta das dificuldades em manter o transporte do leite e pela falta de perspectiva da economia de subsistência. Hoje o projeto tem mais de 6 mil hectares, repletos de morros cobertos por espécies de Mata Atlântica, com áreas pontuais de produção agrícola e algumas construções, que viabilizaram o turismo regenerativo e com a realização de ações de retomada da atividade econômicas.
COP 28: Avanços históricos e muito trabalho pela frente

A COP 28, que aconteceu em Dubai dos dias 30 de novembro a 12 de dezembro, encerrou com avanços históricos em relação ao reconhecimento do setor de alimentos como foco estratégico das ações de mitigação e adaptação climática, mas ainda com muito trabalho pela frente. Quais foram os principais avanços? A pauta dos sistemas alimentares, que começou a ser debatida apenas no ano passado na COP do Egito, ganhou mais foco, intensidade, comprometimento dos países, engajamento da comunidade internacional, fontes de financiamento para o setor e até um dia inteiro dedicado à alimentação e à agricultura. Essa velocidade não é comum para o mundo das organizações multilaterais, no qual as mudanças acontecem muito lentamente. Apesar de ainda não ser suficiente para suprir a urgência que temos de acelerar a transição para sistemas alimentares mais sustentáveis para conseguirmos alcançar as metas do Acordo de Paris, é uma evolução significativa. O lançamento de três documentos focados em alimentos também representou uma vitória para o setor: Outra vitória foi a inclusão dos sistemas alimentares e da agricultura no Global Stocktake, documento revisado a cada 5 anos que analisa tecnicamente e politicamente como evoluímos em relação às metas do Acordo de Paris e quais devem ser os novos compromissos. Os países utilizam o documento para elaborar as suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que são as metas que cada nação autodetermina para cumprir os compromissos do Acordo. As menções incluem a necessidade de aumentar a produção de alimentos sustentáveis e de estimular sistemas alimentares resilientes, por exemplo. Apesar de tímida, essa conquista já abre as portas necessárias para que o assunto seja trabalhado em outros dispositivos oficiais no futuro, como as NDCs, e para que a pauta receba ainda mais foco nas próximas edições da COP. O que ainda precisamos alcançar? Enquanto celebramos os progressos alcançados, reconhecemos que há ainda um vasto campo de oportunidades a ser explorado nos sistemas alimentares. A necessidade de expandir a discussão em torno de inovações, como as tecnologias disruptivas na produção de proteínas alternativas, é latente. Além disso, é crucial examinar mais profundamente os impactos ambientais e sociais da produção de alimentos de origem animal. Esses temas são elementos-chave de um espectro mais amplo que abrange mudanças nas dietas, práticas rurais sustentáveis como agroecologia, dentre outros. Detalhar e enriquecer o debate sobre todos os aspectos dos sistemas alimentares é fundamental para fomentar transformações significativas, rumo a um futuro mais sustentável e resiliente. “A rápida evolução no debate sobre sistemas alimentares em organizações multilaterais é notável e incomum. Esse ano, tivemos um dia inteiro dedicado a esse tema, a formalização de um compromisso de líderes globais e a publicação de relatórios. Além disso, a inclusão desses sistemas no Global Stocktake é um marco importante e conquistado com muita dificuldade, embora pareça modesto para quem observa de fora. Apesar desses avanços, ainda é necessário acelerar nossos esforços, dada a urgência em aprimorar a sustentabilidade dos sistemas alimentares e de mitigar os impactos causados neles pela crise climática.” Gustavo Guadagnini, Presidente do GFI Brasil. Próximos passos Até a COP 29 no Azerbaijão em 2024, o GFI se empenhará em fortalecer a Coalizão Global pelas Proteínas Alternativas (CGPA). Nossa meta inicial é engajar mais parceiros para criar um apelo amplo e persuasivo, tanto no âmbito popular quanto institucional, para promover o setor de proteínas alternativas como uma solução climática viável. Estaremos focados em iniciativas específicas, como grupos de trabalho temáticos e parcerias estratégicas, para assegurar que esta pauta receba a atenção necessária na próxima conferência. Ao mesmo tempo, os olhos da comunidade global já pairam sobre a COP 30, que ocorrerá no Brasil. As expectativas são altas devido ao papel central do país no cenário climático global, um fruto de sua política externa atual, à importância simbólica da Amazônia e ao processo de revisão do acordo de Paris. Nesse último aspecto, o evento marcará a conclusão do processo de revisão das NDCs (as metas de cada país em relação à crise climática), tornando a COP 30 um marco crucial nas negociações climáticas. Esta conferência oferece uma plataforma inigualável para trazer questões críticas, como a sustentabilidade dos sistemas alimentares e a agropecuária, para o centro do debate. Isso aumenta a importância de a CGPA já estar estruturada e atuante. Encorajamos a todos a se unirem a nós nessa jornada rumo a um futuro mais sustentável e a participarem ativamente nas discussões que moldarão nossos sistemas alimentares – e nosso planeta – para as gerações futuras.
COP28: Brasil e mais 133 países assinam declaração inédita se comprometendo a produzir alimentos de forma mais sustentável

A declaração é a primeira do tipo a colocar os sistemas alimentares no centro do debate climático Durante o evento “Transforming Food Systems in the Face of Climate Change” (Transformando os Sistemas Alimentares Face às Mudanças Climáticas, em tradução livre), que aconteceu hoje, dia 1/12, no segundo dia da COP28, em Dubai, foi lançada a declaração dos Emirados Árabes Unidos sobre Agricultura Sustentável, Sistemas Alimentares Resilientes e Ação Climática, assinada por 134 países, incluindo o Brasil. Segundo Gus Guadagnini, presidente do GFI Brasil que participou do painel, a declaração foi um passo importante para consolidar o tema dos sistemas alimentares como uma das prioridades globais no combate à emergência climática. “Estamos muito satisfeitos em ver que os governantes estão se comprometendo a apoiar mais esse tipo de solução. É nesse sentido que o GFI trabalha: trazer inovações escaláveis para que as pessoas possam manter seus hábitos e tradições alimentares, ao mesmo tempo em que consomem um alimento mais sustentável, que não demanda tantos recursos como água e terra para serem produzidos, nem agridem o meio ambiente com a emissão de gases poluentes.”, comemorou Guadagnini. Segundo Andy Jarvis, Diretor do Future of Food (Bezos Earth Found), é a primeira vez em uma COP que os sistemas alimentares têm esse nível de visibilidade. “Essa declaração endossa isso e, agora, nós precisamos que as nações não apenas assinem, mas que sejam corajosas e audaciosas nas suas ações daqui para frente.”, afirmou Jarvis. Em 2023, a Ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, elevou os compromissos das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) brasileiras para uma redução de 48% de emissões até 2025 e de 53% até 2030. Os sete setores contemplados pelas NDCs nacionais incluem energia, mobilidade urbana, florestas, biocombustíveis, resíduos sólidos, iluminação pública e transportes, mas não mencionam diretamente a agricultura, ou os sistemas alimentares, por exemplo. “A declaração assinada hoje pelo Brasil na COP28 traz entusiasmo pela possibilidade de que os sistemas alimentares sejam uma pauta priorizada pelo governo brasileiro no caminho até a COP30, que acontece em 2025 em Belém, no Pará”, disse Guadagnini. No evento, Bill Gates anunciou uma parceria junto dos Emirados Árabes para investir USD 200 milhões de dólares em inovações para os sistemas alimentares e anunciou ainda mais investimentos através do AIM for Climate, iniciativa dos governos dos Estados Unidos e Emirados Árabes Unidos, para financiar soluções escaláveis para o setor. Também participaram lideranças como Mariam Almheiri, Ministra do Meio Ambiente dos Emirados Árabes, Antoine de Saint-Affrique, CEO da Danone, Joko Widodo, Presidente da Indonésia, Giorgia Meloni, Primeira Ministra da Itália, Naomi Mata’afa, Primeira Ministra da Samoa, Anthony John Blinken, Secretário de Estado dos EUA, Dr. Ismahane Elouafi, Diretora Executiva do Consortuim of Internacional Agricultural Research Centers (CGIAR), Roberto S. Waack, Presidente do Instituto Arapyau, Dr. Qu Dongyum, Diretor Geral da FAO (ONU), e Razan Al Mubarak, da UN Climate Change High Level Champion. Durante as discussões, Antoine de Saint-Affrique reforçou a importância do setor privado em favor do desenvolvimento de soluções climáticas para os sistemas alimentares, destacando a necessidade de ganho de escala para novas tecnologias e de aumento de financiamento do setor. Além disso, Roberto S. Waack citou também a filantropia como agente catalisador da mudança e destacou a relevância da liberdade de ação. O Presidente da Indonésia abordou a necessidade de transferência de tecnologia de ponta para os países que mais precisam, enquanto a Primeira Ministra da Itália reforçou os compromissos italianos com o clima e mencionou que o país apoia iniciativas do tipo na África, mas reforçou que o continente não precisa apenas de caridade e, sim, de espaço para competir com igualdade no cenário global. A Primeira Ministra da Samoa mencionou a importância da integração digital no campo e o Secretário de Estado dos EUA endossou que a declaração será um marco histórico, lembrando os desastres ambientais deste ano, destacando que, por trás das estatísicas, estão pessoas reais sofrendo com a emergência climática. Confira a declaração traduzida na íntegra: Nós, Chefes de Estado e de Governo: Reconhecendo que os impactos climáticos adversos e sem precedentes ameaçam cada vez mais a resiliência da agricultura e dos sistemas alimentares, bem como a capacidade de muitos, especialmente os mais vulneráveis, de produzir e ter acesso a alimentos face ao aumento da fome, da subnutrição e das tensões economicas; Reconhecendo o profundo potencial da agricultura e dos sistemas alimentares para impulsionar respostas poderosas e inovadoras às mudanças climáticas e possibilitar a prosperidade partilhada para todos; Sublinhando a necessidade de concretizar progressivamente o direito à alimentação adequada no contexto da segurança alimentar nacional, bem como a necessidade de garantir o acesso a alimentos seguros, suficientes, acessíveis e nutritivos para todos; Observando que a agricultura e os sistemas alimentares são fundamentais para a vida e a subsistência de milhares de milhões de pessoas, incluindo pequenos agricultores, agricultores familiares, pescadores e outros produtores e trabalhadores do setor de alimentos; Observando o papel essencial da cooperação internacional e multilateral, incluindo a cooperação Sul-Sul e Triangular, as instituições financeiras e de financiamento, o comércio e as organizações não-governamentais na resposta às mudanças climáticas; Reafirmando os nossos respectivos compromissos, coletivos e individuais, com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e o Acordo de Paris, a Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica e o Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal, a Convenção das Nações Unidas para Combater a Desertificação, e o Trabalho Conjunto de Sharm El Sheikh sobre a implementação da ação climática na agricultura e na segurança alimentar; considerando tabém a Cúpula da ONU para os Sistemas Alimentares; Recordando também a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas e o Acordo de Paris, reconhecendo que são os principais fóruns internacionais e intergovernamentais para a negociação da resposta global às mudanças climáticas; Recordando as conclusões das recentes avaliações do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC), considerando o Relatório de Síntese dos diálogos técnicos acerca do Primeiro Balanço Global (GST); Salientamos que qualquer caminho para alcançar plenamente os objetivos a
COP28: Sistemas alimentares devem estar no centro do debate climático

GFI apresentará Coalização Global pelas proteínas alternativas O The Good Food Institute (GFI) vai participar da COP 28, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) que acontece em Dubai, dos dias 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023. O GFI estará presente para debater com lideranças do mundo todo estratégias para diminuir o impacto dos sistemas alimentares no agravamento da crise climática, apresentando as proteínas alternativas como solução viável para esse desafio. Ao todo, a organização estará presente em pelo menos 40 eventos, seja como palestrante, moderadora, co-organizadora ou ouvinte. Entre os especialistas do GFI que participarão da programação estão o presidente global do GFI, Bruce Friedrich, o presidente do GFI Brasil, Gustavo Guadagnini, além de representantes da organização na Ásia e nos Estados Unidos. O GFI pretende, ainda, apresentar durante as duas semanas de conferência a proposta de uma Coalizão Global pelas Proteínas Alternativas, a fim de unir esforços de governos, empresas, organizações, academia e outros setores da sociedade na criação de ações para fortalecer as proteínas alternativas como estratégia para mitigar os efeitos da crise ambiental na agricultura e reduzir os atuais impactos dos sistemas alimentares no clima. Proteínas alternativas devem ser incorporadas ao setor de alimentos como uma das soluções para a crise do clima. Entenda o por quê: Desde a COP21 em 2015, as COPs têm se debruçado sobre como implementar o Acordo de Paris, que possui três objetivos principais: manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C e reunir esforços para limitar o aumento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais; adaptar-se às mudanças climáticas e criar resiliência; e alinhar os fluxos financeiros com um caminho rumo a baixas emissões de gases de efeito estufa (GEE) e um desenvolvimento resiliente ao clima. A produção de alimentos é a principal responsável pela emissão de GEE (34%) e a produção de proteína animal, sozinha, gera metade desse valor. Embora a pecuária ocupe 77% das terras agrícolas do mundo, a carne animal fornece apenas 18% do suprimento alimentar da humanidade e 37% das proteínas na dieta humana. Por isso, as proteínas alternativas são uma opção mais sustentável. A sua adoção é capaz de oferecer de 14% a 20% da mitigação de emissões que o planeta precisa até 2050. Além disso, segundo relatório do Boston Consulting Group, se as proteínas à base de plantas (plant-based) e as carnes cultivadas representarem 11% de todo o consumo de proteínas até 2035, é possível reduzir 0,85 gigatoneladas de CO2 equivalente (CO2e) em todo o mundo até 2030, o que equivale à descarbonização de praticamente toda a aviação civil. Apesar da relevância, o papel do setor de alimentos na emergência climática só foi apresentado pela primeira vez na COP 27, que aconteceu ano passado, no Egito. A edição contou com o Food System Pavilion, trabalho articulado de uma coalizão de 9 organizações, entre elas o GFI, com o objetivo de levantar essa pauta no lugar mais importante de negociações internacionais sobre o clima. Boa parte dos eventos em Dubai serão transmitidos online. Para acompanhar, basta acessar a agenda oficial do evento ou o Instagram do GFI Brasil. Confira a nossa programação: Domingo, 3 de dezembro UNFCCC official Side event – Unleashing the Power of Alternative Proteins for Climate Resilience and Food Security Horário: 15:00-16:30 UAE (9:00-9:30 BRT) Local: Room 9 Moderador: Gustavo Guadadnini, presidente do GFI Brasil Palestrantes: Vinod Kumar, diretor administrativo da String Bio; Alessandro Cruvinel, Diretor de Inovação do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil; Tasneem Karodia, Cofundador e COO da Newform Foods; Kafilat Oyebola, Cofundadora da VeggieVictory Link da transmissão do evento: https://www.youtube.com/watch?v=Q3kOrf_PTzw Terça, 5 de dezembro Shining a light on and scaling climate solutions Horário: 10:30-11:15 UAE (3:30-4:15 BRT) Local: Climate Action Innovation Zone Endereço: Madinat Jumeirah – King Salman Bin Abdulaziz Al Saud St – Al Sufouh 1 – Dubai – United Arab Emirates Palestrantes: Mariana Bernal, analista de políticas públicas do GFI Brasil; Joshua Amponsem, codiretor da Youth Climate Justice Fund; Tessa Ferry, Líder da Race to Zero; Johan Falk, CEO da Exponential Roadmap Initiative; Kaya Axelsson, diretora de políticas públicas da Oxford Net Zero; Ragy Ramadan, fundador e CEO da NoorNation Quarta, 6 de dezembro The Food Systems Transition and its Implications for the Environment, Consumption and Public Health (evento em Português) Horário: 9:00-10:15 UAE (2:00-3:15 BRT) Local: Brazil Pavilion, Blue Zone Evento co-organizado pelo GFI: A transição dos sistemas alimentares e suas implicações para o meio ambiente, consumo e saúde pública Moderador: Maurício Alcântara, Cofundador do Instituto Regenera Palestrantes: Juliana Tângari, Diretora do Instituto Comida do Amanhã; Puyr Tembé, Secretária de povos Indígenas do Estado do Pará; Raquel Santiago, Professora Associada da Universidade Federal de Goiás e Coordenadora do Hub Latino-americano de Saúde Planetária; Laura Lamonica, Gerente Executiva na Coalizão Brasil. Link da transmissão do evento: https://apexbrasil.com.br/content/apexcop/br/pt/home/agenda.html Domingo, 10 de dezembro Unlocking the agri-food system transformation: Aligning regenerative farming with sustainable food choices Horário: 11:15-12:00 UAE (4:15-5:00 BRT) Local: Food4Climate Pavilion Palestrante: Presidente do GFI Brasil, Gus Guadagnini; outros ainda a confirmar Domingo, 10 de dezembro Sustainable Snacking for Future Champions Horário: 15:05-15:55 UAE (8:05-8:55 BRT) Local: Children and Youth Pavilion Palestrantes: Mariana Bernal, Analista de Políticas Públicas do GFI Brasil; Sara Merhi, membro do conselho da ProVeg Youth; Perran Harvey, líder de política global da Upfield; Juliette Tronchon, especialista em políticas públicas da ProVeg International; Nanine Wyma, diretora da PAN International (não confirmada); Xananine Calvillo, membro da Stop Financing Factory Farming
Esforço do Sul Global para cumprir metas do Acordo de Paris é maior, mas ciência precisa ser desenvolvida localmente

Gustavo Guadagnini (*) As mudanças que afetam o clima estão acontecendo muito mais rápido do que o previsto e são sentidas em todo o planeta, mas não com a mesma intensidade. Os efeitos do aquecimento global atingem, sobretudo, as economias mais pobres, que possuem menos recursos para responder à crise climática. Por isso, um dos temas centrais nas negociações para mitigar os seus efeitos é o financiamento climático, mais precisamente o cumprimento do acordo firmado em 2015, durante a COP21, em que os países mais ricos prometeram destinar US$ 100 bilhões por ano para que os países em desenvolvimento criem medidas de enfrentamento e adaptação. Na prática, isso implica em reconhecer a capacidade que o Sul Global tem de criar inovações e soluções tecnológicas para cumprir com o Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC até 2030. Segundo o Programa de Desenvolvimento da ONU (PNUD), os países em desenvolvimento, inclusive os mais vulneráveis, são os que mais têm se esforçado na elaboração e aplicação das suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), que são metas de curto a médio prazo para reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE). A maioria tem apresentado metas de mitigação e adaptação cada vez mais ambiciosas, com soluções integradas que envolvem economia circular, gestão de recursos hídricos, implementação do mercado de carbono e envolvimento do setor privado. Os compromissos dos países africanos, por exemplo, são mais robustos do que a média global, com metas mais fortes em relação à resiliência climática, aumento nos esforços de transparência das ações e adoção de tendências emergentes, como os conceitos de “empregos verdes” e “transição justa”. Já as NDCs apresentadas pelos países da América Latina e do Caribe apresentam níveis mais elevados de envolvimento e inclusão de grupos marginalizados (como mulheres, jovens, povos indígenas e idosos) nas tomadas de decisões, tornando o processo das NDCs mais transparente e garantindo que seus resultados beneficiem os mais vulneráveis. Sul Global será mais afetado pela crise climática mesmo não sendo responsável pela maior parte das emissões de GEE Os países do Sul Global, frequentemente chamados de Maioria Global, somam cerca de 85% da população mundial e concentram apenas 39% do PIB do planeta. Ou seja, por mais que se esforcem, a maioria desses países expressam enormes necessidades de apoio financeiro externo e de transferência de tecnologia para conseguirem alcançar suas metas. De acordo com a agência de classificação de risco S&P Global, os efeitos da crise climática podem causar a perda de 4% da produção econômica global até 2050, mas os países emergentes deverão ter perdas no Produto Interno Bruto (PIB) 3,6 vezes maior em relação às nações mais ricas. Um cenário que demonstra a importância da justiça climática, uma vez que, embora não sejam os maiores responsáveis pelo agravamento da crise climática, acabam pagando um preço muito maior por seus efeitos. Qual é o papel do Sul Global no setor de proteínas alternativas? Apesar de todas as desvantagens, é enorme o potencial dos países do Sul Global ganharem espaço e protagonizar as mudanças mais relevantes e consistentes em direção a uma economia mais sustentável, especialmente as maiores economias como China, Índia, África do Sul e Brasil, atual líder do G20 e sede da COP30, em 2025. Essas regiões possuem capacidade produtiva, biodiversidade, massa crítica e todo o potencial para desenvolver essas tecnologias localmente. Importá-las significa que, além de já sofrerem com os efeitos de uma crise global, motivada sobretudo pelo padrão de consumo das grandes potências, essas nações ainda precisam comprar tecnologia, que é exatamente o que tem impossibilitado a aplicação de suas NDCs. Um exemplo disso é a indústria de proteínas alternativas. De acordo com uma pesquisa do The Good Food Institute com a indústria brasileira em 2020, 85% das empresas locais ainda usam a ervilha, que é um ingrediente desenvolvido em países do norte, como principal fonte de proteína para seus produtos plant-based. Essa proteína recebeu muitos investimentos em pesquisa e, por isso, suas funcionalidades são excelentes para a indústria. Assim, os países do Sul se tornam importadores, pagam mais caro na matéria prima e acabam oferecendo alimentos mais caros nas prateleiras para o consumidor. É por isso que o GFI financia pesquisas em feijões brasileiros e relacionadas à biodiversidade da Amazônia e do Cerrado, com o objetivo de criar ingredientes locais e sustentáveis que, além de serem mais baratos por serem produzidos aqui, vão gerar impacto social positivo para as comunidades produtoras. O debate sobre o Sul Global envolve protagonismo, e todos os fatores indicam que essa região é altamente relevante no contexto das proteínas alternativas, dado o potencial dessas soluções para superar os desafios enfrentados por essas zonas com necessidades únicas e diversas. É necessário abordar proteínas alternativas com uma compreensão sensível dos variados contextos locais, promoção da inclusão e fomento da colaboração para uma transformação positiva em direção à segurança alimentar e nutricional, no desenvolvimento econômico, na diversidade alimentar e na sustentabilidade. (*) Gustavo Guadagnini é presidente do The Good Institute Brasil
Conheça a Coalizão Global pelas Proteínas Alternativas!

Na COP 28, que acontece em Dubai entre novembro e dezembro de 2023, o The Good Food Institute quer ampliar a exposição do setor de proteínas alternativas como parte da solução para a crise climática. Para isso, criamos a Coalizão Global pelas Proteínas Alternativas, uma iniciativa voluntária comprometida em mitigar os efeitos da crise ambiental na agricultura e reduzir os atuais impactos dos sistemas alimentares no clima. Nós precisamos reduzir em 43% as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera até 2030: essa meta é ambiciosa, mas possível, se transformarmos o setor responsável pela maior parte das emissões — o dos sistemas alimentares. Com as proteínas alternativas, podemos produzir alimentos de forma mais eficiente e destinar os recursos disponíveis para alimentar diretamente as pessoas. E, mais que um novo mercado, esse setor propõe um olhar crítico e um senso de urgência sobre a realidade: a agroindústria não deixará de produzir alimentos de origem animal e as pessoas não deixarão de consumi-los no tempo necessário. Ao contrário de dietas que eliminam carne, ovos, leite e seus derivados, as tecnologias envolvidas na produção de alimentos feitos de plantas, de carne cultivada e obtidos por fermentação não lutam contra o desejo e os hábitos culturais e alimentares das pessoas e, ao lado de iniciativas como agricultura regenerativa, agroflorestas e bioeconomia, são a melhor chance de sobrevivência da humanidade. Entenda aqui o que a nossa comida tem a ver com a crise do clima e porque as proteínas alternativas são parte da solução. Faça parte dessa missão Como um movimento não se faz sozinho, convidamos você a se juntar a nós na busca de soluções mais sustentáveis para alimentar 10 bilhões sem consumir o planeta. Apenas o trabalho coletivo e multissetorial é capaz de promover todas as mudanças necessárias e nossa coalizão existe para que o seu esforço e desejo de contribuir para um mundo melhor não sejam isolados, mas catalisem uma ação climática real com impacto global e sistêmico. Ao fazer parte da Coalizão Global pelas Proteínas Alternativas, que será lançada na COP 28, você e sua instituição se comprometem a um ou mais dos seguintes princípios da nossa carta de compromissos: 1 – Reconhecer o potencial das proteínas alternativas em mitigar os impactos da crise climática relacionados à redução das emissões dos gases de efeito estufa, à conservação da terra e dos recursos hídricos e à preservação da biodiversidade. 2 – Apoiar a pesquisa, o desenvolvimento e a comercialização de tecnologias e produtos à base de proteínas alternativas, garantindo que sejam atrativos, seguros, nutritivos e acessíveis a todos. 3 – Facilitar a colaboração entre os setores públicoe privado, instituições de pesquisa e sociedade civil para acelerar o crescimento e a adoção de proteínas alternativas, respeitando os sistemas e práticas agrícolas existentes. 4 – Incentivar políticas e investimentos que fomentem a inovação, impulsionem a demanda do mercado e criem um ambiente propício para o setor de proteínas alternativas. 5 – Participar de fóruns abertos de diálogo e de compartilhamento de conhecimento para enfrentar desafios, identificar oportunidades e promover as melhores práticas no setor de proteínas alternativas. 6 – Monitorar e relatar o progresso e o impacto de nossos compromissos com a coalizão, contribuindo para um processo transparente e responsável que impulsione mudanças positivas. 7 – Promover ativamente o setor de proteínas alternativas por meio de esforços de comunicação, advocacy e educação, para aumentar a conscientização sobre os benefícios, a compreensão e a aceitação do público. Acesse nosso site para participar da Coalizão Global pelas Proteínas Alternativas e siga nosso Instagram para acompanhar nossos conteúdos!