R & S BLUMOS lança primeira carne vegetal bovina à base de proteína de feijão carioca, custando menos de R$30,00 o kg

A novidade foca no food service e foi lançada no Dia Mundial das Pulses, durante feira do agronegócio, em Cascavel-PR Texto: Bruna Corsato Revisão: Vinícius Gallon Créditos de imagem: R & S BLUMOS Anos de crescimento da indústria plant-based no país levaram ao surgimento de uma demanda entre as empresas do setor: o desenvolvimento de matérias-primas nacionais para serem utilizadas na composição de produtos feitas de planta. Pesquisa realizada pelo The Good Food Institute Brasil mostrou que 84% das empresas de proteína vegetal brasileiras considera essa uma prioridade alta. A R & S BLUMOS, empresa que fornece ingredientes e tecnologias inovadoras para a indústria, mostra que é possível fazer uso da biodiversidade do país para atender às demandas da indústria. A Carnevale WUT, proteína vegetal feita a partir de matérias-primas 100% nacionais como a soja não-transgênica e concentrado de feijão carioca, foi desenvolvida utilizando extrusão úmida, tecnologia que possibilita produzir fibras de carne vegetal análogas às de animais. O produto será lançado custando menos de R$30,00 o kg para o food service, antecipando as previsões do setor de proteínas alternativas de vender carne vegetal mais barata do que a convencional em 2023. “O produto promete chegar ao consumidor a um preço bastante competitivo. Sem dúvida, esse lançamento está alinhado com o que temos observado sobre os anseios do consumidor a respeito desse novo mercado”, pondera Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo do GFI Brasil. As vantagens do Carnevale WUT vão além de preço acessível e ingredientes nacionais. Ao passar pelo processo de extrusão úmida, o produto já é cozido, o que significa mais praticidade no preparo sem perda de rendimento do prato final. “Pela primeira vez, estamos criando uma proteína 100% brasilera com com aptidão para análogos de carne bovina de panela.” conta Fernando Santana, da R & S BLUMOS. A ideia é de que encontre um grande mercado no food service e entre chefs de cozinha e depois, com algumas atualizações, que chegue aos açougues”, conta Fernando Santana, diretor de vendas da R & S BLUMOS. O lançamento aconteceu durante o Show Rural Coopavel, evento anual com foco em inovação tecnológica e sustentabilidade para o agronegócio, explicitando as oportunidades de colaboração entre produtores rurais nacionais e o mercado plant-based. “O agro brasileiro vai se beneficiar muito pois este produto tem um potencial gigante tanto de exportação quanto de consumo no mercado local.”, explica Fernando. Lançamentos como este sinalizam a consolidação do mercado de proteínas alternativas no Brasil, que segue crescendo de forma mais madura à medida que as empresas investem em novas tecnologias e conquistam ainda mais os consumidores. “O lançamento de hoje une diversos aspectos que o consumidor brasileiro vem demonstrando procurar em produtos vegetais. O seu formato pronto para ser utilizado em receitas do dia dia, utilizando ingredientes nacionas, aproveitando a nossa biodiversidade, ingredientes produzidos pelo nosso agronegócio e também a questão do custo, cada vez mais decisivo na decisão de compra do consumidor.”, conclui Raquel.
Proteínas alternativas são aliadas na garantia de um futuro mais sustentável

Na contramão das inovações alimentares, iniciativas tentam barrar o desenvolvimento do setor, mas este é um mercado do “e” e não do “ou”. Há espaço e demanda para toda a indústria. Texto: Alexandre Cabral Revisão: Vinícius Gallon Mais um ano se inicia. Deixamos para trás um ano complexo, onde a vida em geral foi novamente pautada pela pandemia, onde experimentamos o alívio da vacinação de grande parte da população e a incerteza sobre novas variantes do vírus e seus efeitos. Abrimos um ano onde temos a sensação de estarmos na segunda metade da luta contra a Covid-19 e a certeza de que algo de novo precisa ser feito na relação entre o homem e o planeta. Hora de ouvir os ecos das discussões sobre sistemas alimentares (UNFSS) e suas conexões com os desafios da sustentabilidade (COP26). Hora de olhar para os números crescentes da fome no mundo. Hora de convergir as forças em prol de um tema crucial que atravessa diversas dessas questões: a oferta de proteína obtida de forma sustentável para consumo humano, não importa a fonte. A indústria da proteína de origem animal intensificou o debate nessa direção, anunciando diversos programas em busca da neutralidade de suas emissões nas próximas décadas, dentre elas Danone, JBS e BRF. A indústria de proteínas alternativas pode colaborar muito neste debate. Está provado que é possível juntar alguns ingredientes usuais na indústria de alimentos com outros desenvolvidos especificamente para esse mercado e criar um alimento gostoso, sustentável e seguro, que pode ser preparado e consumido da mesma forma que o produto de origem animal, mas utilizando uma quantidade radicalmente menor de terra e água em seu processo produtivo. Essa é uma corrida tecnológica que está acontecendo em diversas partes do mundo e tanto as empresas quanto os cientistas brasileiros estão muito bem posicionados. Trata-se de um campo fértil para a inovação e o Brasil sempre se destacou em avançar tecnologias que já dominava antes. Somos uma potência em alimentos e temos tudo para sermos uma potência também em alimentos de alta tecnologia, como os produtos plant-based e as carnes cultivadas. Somos hoje o celeiro do mundo, imbatíveis e fundamentais no fornecimento de commodities agrícolas. Como disse um importante executivo do setor, podemos nos tornar rapidamente o supermercado do mundo, fornecendo produtos de alto valor agregado desenvolvidos e fabricados no Brasil. Reimaginarmos a forma como obtemos proteína para consumo humano é urgente e fundamental. As proteínas alternativas, como chamamos os produtos análogos aos de origem animal obtidos a partir de plantas, por processos de fermentação ou por cultivo de células, é uma das alternativas concretas para ajudarmos o Brasil na sua transição para uma agricultura de baixo carbono. Lado a lado com as proteínas sustentáveis de origem animal, podemos formar uma resposta consistente do nosso país e da nossa economia agrícola ao novo cenário de médio prazo, onde diferentes fontes de obtenção de proteína para consumo humano conviverão. Esse é um mercado “E”, e não um mercado “OU”: há espaço e demanda para atuação de todos. O papel do GFI é ser um catalisador dessa mudança, estimulando a produção de proteína sustentável para consumo humano através de análogos aos produtos de origem animal. Hora de rever o que foi feito ou deixou de ser feito e alinhar ideias e atitudes para o ano que se inicia. O mercado de produtos análogos aos produtos de origem animal vem crescendo muito. Nascido em 2019 a partir do movimento de algumas poucas empresas, veio tomando corpo em 2020 e se consolidou em 2021. Diversas empresas de diferentes portes passaram a operar no mercado nacional e hoje tanto o consumidor brasileiro tem acesso a produtos saborosos e seguros em qualquer supermercado quanto ele já é exportado para mais de 25 países, incluindo Estados Unidos, Inglaterra, Austrália, Alemanha, Emirados Árabes, África do Sul, México, Colômbia e tantos outros. O principal desafio para as empresas em 2022 é caminhar na direção do aumento ao mesmo tempo da escala de produção e do número de ingredientes nacionais utilizados. Isso poderá permitir a produção a um custo cada vez mais baixo, para um público cada vez maior. E permitirá produtos de alcance global cheios de “brasilidade” na sua composição. É hora de consolidar a tendência de que o Brasil passe a utilizar em seus análogos de base vegetal seus próprios feijões e pulses como fonte principal de proteína e ingredientes naturais extraídos de forma sustentável da biodiversidade brasileira por meio da agregação de valor local. Assim como no mercado de proteína de origem animal para consumo humano, onde o Brasil é indiscutivelmente protagonista no cenário internacional, a tendência ao protagonismo também no mercado de proteínas alternativas parece ser apenas uma questão de tempo. O mapeamento das empresas mostra desde gigantes do mercado de proteína animal que anunciaram ou iniciaram seus negócios em proteínas de origem vegetal até empresas de médio porte que se posicionaram no setor, passando pelas inúmeras startups que já nasceram com foco neste mercado. Sem esquecer de como o Brasil vem se posicionando no promissor território das carnes obtidas por cultivo celular, com os anúncios da JBS e BRF e o surgimento das primeiras startups no segmento, Ambi e Sustineri. E quando a indústria se move, a pesquisa científica precisa ser chamada a caminhar junto, desenvolvendo a tecnologia necessária para as inovações a serem introduzidas no mercado. A ciência é fundamental para encontrar respostas aos desafios do mercado. O mapeamento das instituições de pesquisa envolvidas com o tema mostra também um engajamento em universidades e institutos de pesquisa de todo o país. Assistimos a um crescimento exponencial do número de empresas atuantes no setor de proteínas alternativas no Brasil e a uma mobilização acadêmica que pode sustentar um cenário muito favorável de crescimento. Mas nem tudo são flores nesta cena. E nem esperávamos que fossem. Fechamos 2021 e estamos abrindo 2022 com algumas ações contrárias ao desenvolvimento deste setor no Brasil. Descontentes com o nosso discurso, alguns movimentos e associações se posicionaram na mídia e judicialmente tentando
84% das empresas brasileiras gostaria de ter mais matérias-primas nacionais para produzir produtos vegetais

Texto: Bruna Corsato Revisão: Camila Lupetti, Cristiana Ambiel, Katherine de Matos e Vinícius Gallon Pensando em acelerar a inovação na indústria de proteínas alternativas, o GFI realizou a pesquisa “Oportunidades e Desafios na Produção de Produtos Feitos de Plantas Análogos aos Produtos Animais”. Através da contribuição de 21 empresas atuantes nas indústrias do mercado de produtos vegetais no Brasil atualmente, foram identificados os maiores desafios no desenvolvimento de produtos à base de plantas análogos aos produtos animais com a qualidade, preço e as características sensoriais buscadas pelos consumidores. A partir das informações compartilhadas, o GFI Brasil identificou sete linhas de pesquisa prioritárias para o avanço do mercado de produtos vegetais no Brasil, sendo as principais: O desenvolvimento de matérias-primas e ingredientes nacionais foi apontado como a maior prioridade entre as empresas, com 84% das respostas. A oferta de opções nacionais no mercado brasileiro ainda é limitada, com a soja sendo predominante. A dependência da importação eleva os custos de produção, impactando o preço final do produto na prateleira e o acesso de muitos brasileiros aos produtos análogos vegetais. Entretanto, a biodiversidade do Brasil possui uma grande variedade de matérias-primas com potencial para se tornar fonte de proteína para a indústria plant-based, como feijões, arroz, aveia, centeio, milho, amendoim e mais. A pesquisa científica é o elo que falta para transformar esse potencial em realidade. Pesquisas adicionais são necessárias para definir os processos de extração adequados para cada uma das proteínas, além de melhorias das funcionalidades proteicas e nutricionais, o que proporcionará um produto final de maior qualidade e menor custo. Matérias-primas e ingredientes com melhores funcionalidades tecnológicas vieram em segundo lugar, com 72% das empresas apontando essa como uma alta prioridade. O consumidor busca nos produtos vegetais cada vez mais a experiência sensorial do produto tradicional, ou seja, que o queijo derreta e gratine, que o sorvete seja cremoso, que o hambúrguer tenha suculência. É possível entregar essas características aprimorando as funcionalidades das proteínas, gorduras e carboidratos e também através da ação de certos aditivos. Para chegar na experiência sensorial desejada pelos consumidores, é fundamental ter estudos de desenvolvimento de ingredientes com funcionalidades para dar estrutura aos produtos, uma vez que os agentes de textura disponíveis atualmente possuem desempenho incompatível com as necessidades do mercado. Diversificar a oferta de ingredientes que mimetizam o sabor característico dos produtos animais em análogos de plantas veio em seguida, com 68% das respostas. Este dado reflete uma demanda vinda diretamente do mercado, que busca sabor, aroma e textura igual ou melhor do que do produto tradicional nos alimentos vegetais. As proteínas vegetais ainda apresentam forte sabor residual, o que torna mimetizar completamente o produto animal um grande desafio para a indústria. A construção do sabor dos produtos deve ser feita de forma que resulte em maior naturalidade no produto final. Portanto, o desenvolvimento de ingredientes que atendam a essas demandas representa grande oportunidade para as empresas do setor. Os produtos com apelo clean label têm sido cada vez mais valorizados e procurados pelos consumidores, como reflexo da alta preocupação com a saúde entre os brasileiros. Somos o quarto país no ranking de consumo de alimentos saudáveis, um setor que tem crescido 25% ao ano desde 2009, segundo a Euromonitor. Como reflexo dessa demanda de consumo, pesquisar novos processos e ingredientes para obter produto final com apelo clean label foi apontado por 64% das empresas como prioridade. Atualmente, os produtos vegetais ainda possuem formulações complexas e com muitos ingredientes com os quais o consumidor não é familiarizado, tornando, muitas vezes, os rótulos difíceis de serem compreendidos e criando barreiras para a compra. Por isso, é necessário simplificar as formulações para ir ao encontro dessa vontade do consumidor. Uma possibilidade de viabilizar esse esforço é realizar pesquisas que desenvolvam alternativas para substituir aditivos, aromas e corantes modificados por ingredientes conhecidos pelo brasileiro. Ampliar soluções para obter produto final com características nutricionais desejadas foi indicada como uma necessidade por 64% dos respondentes. Dentro do contexto brasileiro, a maioria dos consumidores de produtos feitos de plantas é composta por pessoas que reduzem o consumo de produtos animais, com esse grupo chegando a 49% da população em 2020, de acordo com pesquisa do GFI Brasil.. Por isso, é importante que o produto final atenda à demanda desse grupo e entregue as características de saudabilidade desejadas. Ou seja, produtos que mimetizam o tradicional com valor nutricional equiparado ou superior ao do produto de origem animal. Em um mercado cada vez mais competitivo, a qualidade nutricional pode ser um dos principais diferenciais competitivos. Por isso, é importante que a indústria se dedique a aprimorar características nutricionais como diminuir o teor de gordura e sódio, aumentar o teor de proteína e fibras, etc. Também com 64%, duas prioridades similares: aumentar a oferta de ingredientes que mimetizam a textura característica e que mimetizam a gordura dos produtos tradicionais. Esses itens reforçam a necessidade de matérias-primas e ingredientes que tenham desempenho compatível com as necessidades do mercado para mimetizar os produtos de origem animal. Replicar o sabor e textura da gordura animal ainda é particularmente desafiador para a indústria, assim como as propriedades nutricionais do ômega-3 encontrado em frutos do mar e peixes. Conforme a demanda por carne e frutos do mar vegetais cresce, novas fontes e métodos de produção serão necessários para garantir o perfil sensorial esperado pelo consumidor. Desenvolver produtos que vão ao encontro dessa combinação de fatores representa tanto uma grande oportunidade quanto um grande desafio para o futuro da indústria. A partir dessas informações, nossos especialistas identificaram as seguintes áreas de oportunidade para o setor de proteínas alternativas: Textura – proteínas com texturas diferenciadas e melhores funcionalidades, tecnologias adequadas para formação de fibra, retenção da gordura e umidade (suculência e sensação de preenchimento). Sabor – reduzir sabor residual de proteínas vegetais, maior naturalidade, aromatização natural. Experiência de consumo – derreter, gratinar (queijos), cor (mudar durante cozimento), textura, sabor e aparência. Custo – Paridade, similaridade. Nutrição – equivalência nutricional, redução de sal e gordura saturada. Clean label – estabilizantes (substitutos
Otimismo Racional sobre Carnes Cultivadas: perspectivas iniciais do começo de uma longa jornada

Texto de Elliot Swartz, lead scientist (GFI) com tradução de Bruna Scorsatto O início cético É o começo de 2016 e eu sou um candidato a Ph.D na UCLA investigando como transformar células-tronco de seres humanos em músculo esquelético e tecidos neuronais para estudar doenças neuromusculares como ALS. Foi aqui que eu li pela primeira vez sobre Memphis Meats (que agora é UPSIDE Foods), a primeira empresa a completar uma rodada de investimento para cultivar carne a partir de células tronco de animais. “Interessante”, pensei comigo mesmo, “mas isso não vai acontecer tão cedo. É muito caro.” Eu sabia do que eu estava falando. Eu gastava mais de $1.000 em meio para cultura de células e reagentes por mês, usando métodos parecidos com aqueles necessários para cultivar carne. Mas a semente estava plantada. E se fosse possível cultivar carne em escala a um custo que a fizesse um substituto viável à carne animal tradicional? Carne sem o animal. Quão difícil seria? À medida que eu acompanhava a nascente indústria de carne cultivada, eu comecei a prestar consultoria para uma startup que queria descobrir soluções para doenças neurodegenerativas que até então não tinham tratamento, como Alzheimer e Parkinson. Descobrir novas drogas é extremamente desafiador. Em muitos casos, nós não sabemos a causa raiz da doença, o que poderia ser um bom alvo terapêutico ou mesmo o melhor método de aplicação da nova droga no alvo hipotético. Normalmente existe uma caixa-preta biológica cheia de incertezas e desconhecidos no meio do caminho. Apesar disso, a sociedade despeja bilhões de dólares nessa e em muitas outras caixas todos os anos, na esperança de fazê-las menos opacas. Mas e a carne cultivada? Décadas de ciência anterior nos deram um entendimento de como transformar células-tronco em músculo, gordura e tecidos conectivos necessários para fazer carne. Claro, pode ser que existam formas mais eficientes de fazer isso, mas a caixa preta não revelou. Aparentemente, metade da batalha já estava ganha. Era apenas o caso de aumentar a escala e diminuir os custos, e esforços para ganhar essa outra metade da batalha já tinha começado. O timing era certo. Então eu mergulhei de cabeça. E não fui só eu. Uma indústria em crescimento Hoje, existem mais de 80 empresas no mundo todo buscando criar produtos de carne cultivada prontos para consumo e dezenas mais surgiram para fornecer linhas de células, meios de cultura, scaffolds, bioreatores e outros componentes necessários para dar suporte ao crescimento da indústria. O ritmo dessa transição está acelerando. Eu e meus colegas no GFI somos contatados quase diariamente por empreendedores em estágio inicial, estudantes universitários, investidores ou representantes da indústria de alimentos buscando entender melhor os desafios da indústria de carne cultivada e como eles podem se envolver na busca por soluções (confira algumas ideias no nosso Banco de Dados de Soluções) Em 2015, se você dissesse a biólogos trabalhando com células-tronco que consumidores estariam comendo carne cultivada aprovada pelo governo em 2021, eles dariam risada de você. Mas em seis anos, carne cultivada foi de ficção científica à realidade – dependendo para quem você pergunta (mais sobre isso depois). Construindo um roteiro No GFI, nós sonhamos com um mundo onde as proteínas alternativas de plantas, cultivo celular ou fermentação não são mais uma alternativa. E nós estamos desenhando um roteiro para chegar lá. Um dos melhores métodos para traçar esse roteiro é através de análises técnico econômicas (TEAs na sigla em inglês). Como dito anteriormente, TEAs são ferramentas fundamentais para exploração e priorização de áreas que justificam pesquisas adicionais, revelando os gargalos técnicos e econômicos dentro de uma determina indústria ou processo. Até o momento, três TEAs foram publicadas sobre a produção hipotética de carne cultivada em escala comercial (Vergeer, 2021; Humbird, 2021; e Risner, 2021) e sabemos de pelo menos mais duas próximas de serem publicadas. Nós encorajamos ativamente a realização de TEAs adicionais para trazer novas perspectivas que podem ser usadas para iluminar caminhos alternativos no mapa tecnológico ao longo do tempo. Embora adotem abordagens diferentes e dependam de diferentes suposições e fontes de dados de entrada, as três TEAs publicados são, na verdade, bastante semelhantes no alto nível de suas descobertas. Coletivamente, elas sugerem que os custos de produção de carne cultivada são altos devido ao custo atual dos meios de cultura de células, o custo atual de biorreatores (stirred-tank) em grande escala que foram usados nos exercícios de modelagem e os custos previstos de infraestrutura adicional necessária para produzir quantidades significativas de carne cultivada. Essas TEAs sugerem que, com base em nosso conhecimento atual, reduzir os custos do meio de cultura e do biorreator, além de melhorar a produtividade do processo são essenciais para obter faixas de custo competitivo com algumas carnes convencionais. A indústria de carne cultivada provavelmente também exigirá abordagens inovadoras tanto do lado comercial quanto do lado tecnológico, incluindo opções de financiamento flexíveis e desenvolvimento de nova tecnologia para se aventurar em faixas de custo verdadeiramente competitivas com a maioria das carnes convencionais (para considerações adicionais, incluindo a importância de produtos híbridos na realização desse objetivo, veja essa thread no Twitter). Para fazer uma analogia, considere o mapa para carnes cultivadas como o mapa da Terra Média no Senhor dos Anéis. A empreitada da carne cultivada é representada por Sam e Frodo deixando o Condado para viajar para Mordor (ou, neste caso, criar carne cultivada que compete em preço, sabor e conveniência). A indústria da carne cultivada acaba de deixar o Condado. O mapa rudimentar da Terra Média que eles estão seguindo, informado pelos TEAs atuais, mostra as maiores montanhas (meios de cultura de células e custos de biorreator), florestas (instalações de qualidade alimentar, incerteza na tecnologia de aumento de escala) e rios (regulamentos, processo de produtividade aumentado) ao longo do caminho, mas não revela os melhores caminhos ou tecnologias para nos guiar sobre, através ou em torno deles. Os detalhes completos da jornada pela Terra Média do início ao fim ainda são obscuros. O mapa revela uma jornada intimidante – e para os pessimistas,
The Good Food Institute Brasil alavanca o desenvolvimento do mercado de proteína cultivada e apoia investimento JBS no setor

Com o objetivo de alavancar o desenvolvimento do mercado de proteína cultivada, o The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil) assessorou a JBS na sua entrada neste segmento. O GFI Brasil ofereceu apoio estratégico, tecnológico, regulatório e conexões com cientistas e startups para a companhia, que irá destinar US$ 100 milhões nesta nova frente, consolidando um trabalho de análise mercadológica iniciado há três anos. “Esse é um dos maiores fatos que já ocorreram nesse setor. O investimento é de longe o maior já feito nessa área por uma empresa tradicional de carnes, e um dos maiores mesmo dentre as startups, que já captam recursos há anos. Com esse movimento, a JBS mostra que está disposta a investir pesado para chegar na liderança da produção de carne cultivada e imediatamente muda o cenário competitivo global. Cada vez mais temos uma certeza: o futuro da produção de alimentos com base tecnológica terá, com certeza, protagonismo brasileiro”, afirma Raquel Casselli, gerente de engajamento corporativo do GFI Brasil Com esse recurso, a JBS, líder global em proteínas e segunda maior empresa de alimentos do mundo, firmou acordo para aquisição do controle da empresa espanhola BioTech Foods, prevendo o investimento na construção de uma nova unidade fabril na Espanha para dar escala à produção. Além da aquisição, a JBS também anuncia a implantação do primeiro Centro de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) em Biotecnologia e Proteína Cultivada do Brasil. Fundada em 2017, a BioTech Foods é uma das líderes no desenvolvimento de biotecnologia para a produção de proteína cultivada, contando com o apoio do governo espanhol e da União Europeia. A empresa opera uma planta-piloto na cidade de San Sebastián e tem a expectativa de alcançar a produção comercial em meados de 2024, com a construção dessa nova unidade fabril. O investimento na nova instalação é estimado em US$ 41 milhões. Pelos termos da transação, a JBS se torna a acionista majoritária da BioTech Foods. A operação possibilita que as duas empresas unam forças para acelerar o desenvolvimento do mercado de proteína cultivada. A companhia brasileira passa a ter acesso à tecnologia e à produção de proteínas da BioTech Foods, que, por sua vez, terá à disposição a capacidade de processamento industrial, a estrutura de marketing, know-how para o desenvolvimento de produtos e os canais de venda da JBS para colocar o novo produto no mercado. “Esta aquisição reforça nossa estratégia de inovação, desde como desenvolvemos novos produtos até como comercializamos, para atender à crescente demanda global por alimentos. Unindo o conhecimento tecnológico com nossa capacidade de produção, seremos capazes de acelerar o desenvolvimento do mercado de proteína cultivada”, afirma Gilberto Tomazoni, CEO Global da JBS. A aquisição da BioTech Foods ainda está sujeita à confirmação da autoridade de investimento estrangeiro na Espanha, entre outras condições usuais a esse tipo de operação. Quando estiver em fase comercial, a proteína cultivada chegará inicialmente aos consumidores na forma de alimentos preparados, como hambúrgueres, embutidos, almôndegas, entre outros. A tecnologia tem potencial não apenas para a produção de proteína bovina, mas também para a de frangos, suínos e pescados. O movimento na Europa é complementado pelo Centro de Pesquisa em Proteína Cultivada no Brasil. Previsto para ser inaugurado em 2022, o centro incluirá na segunda etapa uma planta que irá ocupar uma área de 10 mil metros quadrados. Liderado pelos doutores Luismar Marques Porto e Fernanda Vieira Berti, a iniciativa contará com cerca de 25 pesquisadores e vai trabalhar no desenvolvimento de tecnologias de ponta para a indústria de alimentos. Com o investimento no Centro de P&D, a JBS pretende desenvolver novas técnicas que acelerem os ganhos de escala e reduzam os custos de produção da proteína cultivada, antecipando sua comercialização no mercado. “Estamos ampliando nossa plataforma global para atender às novas tendências de consumo e ao crescimento da população global. A aquisição da BioTech Foods e o novo centro de pesquisa colocam a JBS numa posição única para avançar no setor de proteína cultivada”, complementa Tomazoni. “Nós, do GFI, ficamos muito felizes em termos sido chamados para colaborar no projeto de proteína cultivada da JBS. Nosso objetivo é sempre facilitar a entrada de novos agentes para que o mundo das proteínas alternativas se desenvolva mais rápido. Tivemos o privilégio de ver a empresa potencializar esses recursos para buscar a liderança da área, gerando uma das estratégias mais arrojadas da história do setor. Foi uma honra ver esse projeto nascer e aprender com o time de executivos da JBS durante o processo de planejamento”, afirma Gustavo Guadagnini, presidente do GFI Brasil.
Parte planta, parte carne: como os alimentos híbridos suprem duas demandas com um único produto

Texto: Victoria Gadelha Revisão: Vinícius Gallon Novos estilos de vida mais conscientes e preocupados com a saúde e o meio ambiente têm estimulado o surgimento de novos gêneros alimentares, como o flexitarianismo, em que o consumidor diminui o consumo de produtos de origem animal sem interrompê-lo completamente. Enquanto as alternativas à base de plantas já possuem um lugar consolidado na dieta dos veganos e vegetarianos, os alimentos híbridos (blended, em inglês) vieram para atingir um público que se importa com saúde e sustentabilidade mas não quer abrir mão da experiência sensoral e da nutrição associadas à carne animal. Incorporar vegetais em pratos tradicionalmente feitos somente de carne, tornando-os híbridos, é uma forma de mudar a dieta dos consumidores sem a necessidade de grandes mudanças no estilo de vida. Em vez de “plant-based”, é “plant forward”: esse termo guarda-chuva inclui qualquer dieta ou padrão alimentar de quem se compromete a comer mais vegetais e menos carne, mas não busca eliminar todos os produtos de origem animal nem se rotular de forma mais estrita. Os motivos, de acordo com o relatório “The Power of Meat”, lançado em 2020 pela The Food Industry Associaton (FMI), incluem o fato desses produtos facilitarem uma maior ingestão de vegetais e proporcionarem uma maneira mais saudável de comer carne. Além de serem melhores para a saúde do consumidor (por conterem menos gorduras saturadas, colesterol e sódio, mais fibras e vitaminas) os produtos híbridos também são melhores para o meio ambiente, uma vez que a pecuária é uma das atividades que mais poluem, desmatam e emitem gases de efeito estufa na atmosfera. Segundo o World Resources Institute (WRI), os norte-americanos comem 10 bilhões de hambúrgueres todos os anos. De acordo com o instituto, se um terço da carne em cada hambúrguer fosse substituída por cogumelos, seria economizada uma quantidade de água equivalente ao uso anual de água doméstica de 2,6 milhões de americanos. Em relação à poluição atmosférica, seria o equivalente a tirar 2,3 milhões de carros – e suas emissões de CO2 – das ruas por ano. Se tratando de terras, o WRI relata que o “blend” nos hambúrgueres reduziria o uso global de áreas agrícolas em mais de 36.260 km2, uma área que equivale a 4,395 campos de futebol. Fora o impacto ambiental, a estratégia de incrementar vegetais em alimentos de origem animal também pode reduzir os custos de produção e comercialização de vários produtos. No caso da carne cultivada, por exemplo, misturar uma porcentagem de vegetais nas células animais é essencial para baratear sua produção que, apesar de já ser uma realidade, enfrenta desafios relacionados à redução de custos, aumento de escala e regulamentação legal. O único lugar no mundo em que a carne cultivada já está aprovada para venda é em Cingapura. No final de 2020, a marca Eat Just lançou sob o nome de GOOD Meat o primeiro frango cultivado híbrido, usando 70% de frango cultivado e 30% de base vegetal. Enquanto a demanda por carne cresce, ao mesmo tempo em que a demanda por alternativas vegetais também, as empresas que produzem alimentos híbridos se posicionam bem entre as duas categorias. Nos últimos dois anos, gigantes do mercado embarcaram na tendência e adicionaram linhas híbridas aos seus catálogos de produtos. A Tyson, maior processadora de carne dos EUA, lançou pela marca Aidells Whole Blends salsichas e almôndegas de carne com misturas vegetais, como frango com espinafre e queijo feta ou frango com abacaxi desidratado. Já a Applegate criou um hambúrguer híbrido feito de carne de vaca com couve-flor, espinafre, lentilha e abóbora, e outro feito de peru com batata-doce, feijão branco, couve e cebola. Por utilizarem menos carne animal, eles conseguiram utilizar um produto “grass fed”, ou seja, de animais que foram alimentados naturalmente no pasto, sem o uso de rações com grãos e remédios. Cada hambúrguer da marca (106g) entrega por volta de 1⁄3 de xícara de vegetais. A Lisanatti Foods foi além e lançou um queijo híbrido: a mozzarella vegetal, à base de amêndoas, é misturada com caseína (proteína derivada do leite), permitindo que o queijo vegetal imite bem a textura do queijo animal. Dessa forma, o produto é apto para vegetarianos, flexitarianos e para o consumidor comum, mas não para quem é vegano ou tem alergia à proteína do leite de vaca (APLV). A Misfit Foods, que até 2019 era uma empresa que produzia sucos prensados a frio a partir de frutas imperfeitas (que seriam jogadas fora), decidiu entrar no ramo das carnes híbridas. Motivada pela urgência ambiental aliada à crescente demanda do mercado, a marca criou produtos misturados (como hambúrguer bovino com beterraba ou salsicha de frango com cenoura e curry) que vêm numa proporção de 50 a 60% carne e 40 a 50% vegetais, oferecendo ao consumidor um bom “empurrão” para longe da carne, mesmo enquanto ele come carne. A Perdue, que está entre as principais empresas de grãos e de processamento de frango, peru e porco nos EUA, lançou também em 2019 a Chicken Plus, uma linha voltada para o público infantojuvenil que oferece nuggets híbridos, feitos de frango com couve-flor, grão de bico e proteínas vegetais. Essas formulações, feitas com ingredientes naturais, permitem que no mínimo 1⁄3 da carne animal seja substituída pela proteína à base de plantas, aumentando tanto o rendimento quanto o valor nutricional do produto (adicionando mais fibras e minerais, mantendo o nível de proteína e reduzindo calorias, gorduras e colesterol). Por mais que a presença de produtos híbridos seja relativamente nova nos supermercados, o conceito não é novidade entre chefs e cozinheiros. A James Beard Foundation é uma organização sem fins lucrativos que defende um padrão de qualidade baseado no talento e na sustentabilidade, apoiando pessoas que formam a cultura alimentar da América através de seus Programas de Impacto. E um dos programas de maior sucesso é o Blended Burger Project: desde 2015, a fundação, em parceria com o Mushroom Council, desafia chefs de todos os Estados Unidos a criarem hambúrgueres que sejam mais saudáveis e sustentáveis, substituindo 25% da carne
2020 teve investimento recorde de US$ 3,1 bilhões em proteínas alternativas, mas Brasil ainda tem espaço para crescer

Novos dados divulgados pelo The Good Food Institute (GFI) revelam que, mundialmente, 2020 foi um período recorde de investimentos em empresas que produzem alternativas sustentáveis aos alimentos de origem animal, incluindo empresas de carne, ovo, leite e derivados à base de vegetais; carne cultivada; e fermentação de proteínas alternativas. Esse aumento de investimentos demonstra que o mercado aposta no crescimento do setor de proteínas alternativas, mesmo com os desafios impostos pela pandemia, como diminuição da renda familiar e a falência de restaurantes, por exemplo. Por outro lado, o aumento sinaliza um interesse crescente por investimentos em sustentabilidade e inovação tecnológica. O GFI analisou a atividade de investimento nessas indústrias utilizando a plataforma PitchBook Data e mostrou que as empresas globais de proteínas alternativas receberam US $3,1 bilhões em investimentos divulgados em 2020. Esse valor é mais de três vezes maior do que o USD $1 bilhão levantado em 2019 e quatro vezes e meia maior do que os USD $694 milhões levantados em 2018. As empresas de proteínas alternativas levantaram quase US$ 6 bilhões em capital investido na última década (2010-2020), sendo mais da metade apenas em 2020: As empresas de carne, ovos e laticínios vegetais receberam USD $ 2,1 bilhões em investimentos em 2020 – a maior parte do capital levantado em um único ano na história do setor e mais de três vezes os USD $667 milhões arrecadados em 2019. Empresas de carne, ovo e laticínios vegetais levantaram USD $ 4,4 bilhões em investimentos na última década (2010-2020). Quase a metade, ou USD $ 2,1 bilhões, foi arrecadada somente em 2020. As empresas de carne cultivada receberam mais de US$ 360 milhões em investimentos em 2020, o que é seis vezes o valor arrecadado em 2019 e 72% do valor arrecadado na história do setor (2016–2020). As empresas de fermentação de proteínas alternativas receberam US$ 590 milhões em investimentos em 2020, que é mais do que o dobro do valor arrecadado em 2019. As empresas de fermentação levantaram mais de US$ 1 bilhão em investimentos desde o primeiro investimento monitorado pelo GFI em 2013, 57% dos quais foram levantados somente em 2020. A confiança dos investidores nas empresas de proteínas alternativas é impulsionada por vários fatores de mercado, mas as questões sociais, ambientais e econômicas expostas em 2020 iluminaram ainda mais os riscos associados às práticas de negócios tradicionais. Com mais investidores reconhecendo que risco climático é risco de investimento, as proteínas alternativas oferecem uma solução escalável que deixa o mundo mais próximo de um sistema alimentar mais seguro e neutro em carbono. Realidade Brasileira As únicas empresas brasileiras com dados disponíveis no PitchBook são Fazenda Futuro e The New Butchers. Portanto, não há como considerar apenas este estudo para avaliar a realidade de investimentos no país. Apesar disso, de acordo com Raquel Casselli, gerente de Engajamento Corporativo do GFI Brasil, “o cenário também é promissor por aqui, apesar das incertezas de mercado decorrentes da pandemia. Tivemos bons investimentos no setor, embora a maioria das transações não tenham se tornado públicas e, portanto, não estão representadas fielmente nos números globais.”, afirma. Bruno Franco, sócio da investidora Enfini Ventures, concorda. Para ele, o Brasil tem potencial para se tornar um forte produtor e exportador de proteínas alternativas. “Nós já somos o maior exportador de proteína animal do planeta, com amplo conhecimento em processos produtivos. Temos um bom capital intelectual nacional, dentro de universidades e empresas, focado em desenvolver pesquisas na área que abrange desde desenvolvimento agrícola e de ingredientes até produtos finais ao consumidor. No setor plant-based isso é mais visível e dinâmico.”, argumenta Com relação ao segmento de carnes cultivadas, Bruno acredita que o país vai centrar esforços no desenvolvimento de parcerias com empresas que sejam casos de sucesso no exterior, a fim de trazer a tecnologia para o Brasil para ser usada no desenvolvimento de produtos locais. “Já vemos grandes players do mercado fazerem parcerias com desenvolvedores de tecnologia e produtos. As empresas estão, de certa forma, alavancando a estrutura já existente e todo o know-how da cadeia logística para trazerem soluções tecnológicas inovadoras.”. Desafios para atrair investimentos De acordo com Bruno Franco, o maior desafio para startups brasileiras no setor é ter uma estrutura de pesquisa e desenvolvimento que forneça suporte para o desenvolvimento de projetos. “Os laboratórios e ambientes de pesquisa são poucos em número e pouco acessíveis. No Brasil, os negócios que têm dado mais certo são os que partem de empreendedores com uma base de recursos próprios e/ou rede de relacionamento que suportam um início mais robusto da tese. Apesar dessas iniciativas serem muito bem-vindas, a proliferação de startups no setor dependerá de apoio institucional e empresarial mais enraizado.”, afirma. Além disso, as startups e foodtechs precisam convencer os investidores de que possuem bons projetos, planos de negócios claros, e que estão preparadas para receber recursos. “Os investidores que entram nesse mercado buscam empreendedores com histórias de sucesso, times preparados e alinhados no sucesso do negócio e teses claras. Os tomadores de decisão a cargo de investimentos hoje (sejam family offices, empresas ou fundos) possuem critérios de análise muito elevados e gostariam que um número maior de startups tivesse condição de atender a tais critérios.”, conclui.
Olhando para o futuro no Dia Internacional do Trabalhador

Neste 1º de maio de 2021, muitos países celebram o Dia Internacional do Trabalhador. A data, que nasceu há mais de 130 anos para reivindicar melhores condições de trabalho, continua relevante nos dias de hoje, e nos convida a refletir, também, sobre as profissões que ganharão destaque ou que serão cada vez mais necessárias em um mundo pós-pandemia. Nesse contexto, o setor de proteínas alternativas ganha destaque, especialmente por propor soluções para uma cadeia de produção de alimentos mais saudável, segura, sustentável e com capacidade para alimentar as cerca de 10 bilhões de pessoas que o mundo terá até 2050. Pensar sobre isso é fundamental, pois, segundo a ONU, alimentar essa população da forma como fazemos hoje, demandaria aumentar a produção de comida em 70%, o que certamente exigirá ainda mais recursos de um planeta já em colapso. Investimentos e Geração de Empregos Os benefícios de se investir cada vez mais no setor de proteínas alternativas são vários, a começar pelo desenvolvimento econômico. Dados divulgados pelo The Good Food Institute (GFI) revelam que, mundialmente, 2020 foi um período recorde de investimentos em empresas que produzem alternativas sustentáveis para alimentos convencionais de origem animal, incluindo empresas globais de carne, ovo e laticínios à base de vegetais; empresas de carne cultivada; e empresas de fermentação de proteínas alternativas. Esse aumento de investimentos demonstra que o mercado aposta no crescimento do setor de proteínas alternativas, mesmo num cenário em que a pandemia dificultou o ritmo de crescimento que vinha acontecendo. A pandemia diminuiu a renda das famílias e também faliu muitos restaurantes, o que impacta diretamente a indústria de alimentos. Por outro lado, o aumento sinaliza um interesse crescente por investimentos em sustentabilidade e inovação tecnológica. O GFI analisou a atividade de investimento nessas indústrias utilizando a plataforma PitchBook Data e mostrou que as empresas globais de proteínas alternativas receberam US $3,1 bilhões em investimentos divulgados em 2020. Esse valor é mais de três vezes maior do que o USD $1 bilhão levantado em 2019 e quatro vezes e meia maior do que os USD $694 milhões levantados em 2018. De acordo com uma pesquisa da Organização Internacional do Trabalho em parceria com o Banco de Desenvolvimento Interamericano, o setor de proteínas alternativas pode gerar até 19 milhões de novos empregos na América Latina na próxima década. Embora o estuo faça a ressalva de que nessa transição cerca de 3 milhões de pessoas deverão perder os seus empregos, o saldo ainda será muito positivo. Por se tratar de um segmento em crescimento, cria oportunidades para a formação de novos profissionais, produção de novas matérias-primas no campo, unidades de negócios em indústrias já estabelecidas, startups, foodtechs e grupos acadêmicos de pesquisa e desenvolvimento focados em proteínas alternativas. O mercado está pronto para incorporar essas inovações. Em 2018 o The Good Food Institute Brasil realizou uma pesquisa e descobriu que 29% das pessoas já haviam diminuído o consumo de carnes, 70% delas por motivos de saúde ou restrições alimentares – o que faz bastante sentido, uma vez que, segundo pesquisa da Food Frontier, proteínas vegetais têm, em média, quantidade de proteína maior ou comparável, menos gordura e consideravelmente menos gordura saturada, são boas fontes de fibras, são livres de colesterol e possum quantidade de sódio menor ou comparável. Já em 2020, o número cresceu para 50% da população. Os flexitarianos, como são chamados, optam por diminuir o consumo de produtos de origem animal, mas sem abandoná-lo completamente. A expectativa é que esse número continue a crescer mas, para isso, além de apelos para a saúde, estes novos produtos precisam entregar uma experiência igual ou melhor à proporcionada pelos produtos tradicionais. Novas profissões e campos de pesquisa Com esse desafio em mãos, a indústria e a academia vão precisar se aproximar ainda mais e trabalhar em sintonia na criação de soluções tecnológicas que garantam a experiência sensorial que o consumidor deseja, garantindo, ainda, produtos saudáveis, seguros e sustentáveis. Serão necessários profissionais altamente capacitados em produzir alimentos a partir do cultivo celular, fermentação e de vegetais. Para o pesquisador da Embrapa Dr. Luciano Paulino da Silva, “as equipes atuantes na área de fabricação digital de alimentos à base de proteínas alternativas deverão ser multidisciplinares e formadas por pessoas que tenham a inovação por princípio fundamental e pensem fora da caixa.” Ele considera a impressão 3D de proteínas alternativas uma tecnologia emergente promissora, que oferece uma série de benefícios como a mimetização de características sensoriais de alimentos e um maior controle sobre as características nutricionais. Alguns profissionais envolvidos neste processo são: Designers 3D – dedicados a aperfeiçoar a printabilidade das características desejadas nos alimentos; Engenheiros de alimentos e de produção – para escolher ingredientes e equipamentos a serem utilizados no processo; Biotecnologistas – para obter células e fibras na fabricação digital de fontes de proteínas alternativas; Nanotecnologistas e cientistas de materiais – para finalização do produto. A professora associada da Universidade Federal do Paraná, Dra. Carla Molento, destaca a área de Zootecnia Celular, com especialistas em genética celular, nutrição celular, ambiência celular e também profissionais empreendedores para produção dos insumos, como por exemplo agronomia voltada à nutrição celular, ingredientes para meios de cultura, engenheiros especializados em biorreatores, onde são produzidas as carnes cultivadas a partir de células animais, e fermentadoras de precisão. Para ela, também é evidente a necessidade de profissionais voltados à tecnologia de produtos de origem animal, como veterinários e zootecnistas, para empregarem sua expertise na geração de novos produtos e prestarem serviços de inspeção e controle de qualidade. “Novas formas de trabalho surgirão”, conclui. A Dra. Caroline Mellinger, pesquisadora da Embrapa, concorda: “Automação e criatividade são questões importantes. Mas as profissões que já existem vão continuar sendo importantes na reinvenção de toda a cadeia alimentar.”. Para o professor Dr. Luismar Porto, fundador da Tubanharon Engenharia de Processos, as áreas estratégicas no futuro serão Engenharia Tecidual, Biologia Sintética e Engenharia Metabólica. Ele explica que os avanços e a integração dessas áreas serão fundamentais para reduzir o preço final da carne cultivada, por exemplo. Ele ainda
BRF cria três opções de frango vegetal feitos com tecnologia CARNEVALE da R & S BLUMOS

Uma pesquisa liderada pelo The Good Food Institute em parceria com o IBOPE e 11 empresas do setor de alimentos, revelou que 50% dos brasileiros diminuiu seu consumo de carne em 2020. Os flexitarianos, como são chamadas as pessoas que reduzem o consumo de produtos de origem animal sem interrompê-lo por completo, estão em busca de uma vida mais saudável, mas sem abrir mão do paladar. Esta mudança nos costumes alimentares fez com que a indústria de proteínas alternativas crescesse vertiginosamente no último ano. Em franca expansão e de olho neste progresso, a multinacional brasileira BRF acaba de lançar três opções de frango através da sua linha Sadia Veg&Tal: desfiado, em tiras e em cubos. O mais formidável: os produtos são feitos com proteínas de soja, ervilha e o original feijão carioca que, pela primeira vez, foi utilizado com êxito como um ingrediente na produção de carne vegetal no Brasil. O produto é resultado de uma parceria técnica entre a multinacional BRF e o hub de ingredientes e processos, R & S BLUMOS que, assessoradas pelo GFI Brasil, utilizaram a inovadora técnica de extrusão úmida CARNEVALE. O método consiste na adição de calor e pressão sobre uma combinação de proteínas vegetais que produz fibras proteicas longas conferindo a percepção e aparência da proteína animal. Além da semelhança em textura, sabor e cor, os lançamentos ainda garantem o mesmo valor proteico do peito de frango tradicional. Para isso, a BRF investiu na tecnologia, desenvolveu uma formulação própria e adquiriu dez novas máquinas. “O GFI vem destacando há algum tempo a importância de novos maquinários, como a extrusão úmida. Ficamos extremamente animados quando os parceiros da R & S BLUMOS compraram essa ideia e decidiram investir na tecnologia. Agora, é possível consumir produtos feitos com ingredientes brasileiros processados por essa tecnologia de ponta e isso representa um grande avanço para a nossa indústria”, conta Gustavo Guadagnini, diretor executivo do GFI Brasil. As empresas criadoras do produto elegeram a proteína de feijão carioca no segmento das leguminosas para protagonizar o novo frango vegetal por ser um ingrediente presente nos pratos e lares dos brasileiros. O grão nacional ainda apresenta excelentes benefícios nutricionais e é de fácil assimilação do consumidor. “O feijão sempre foi considerado um produto acabado, sem produtos derivados. No entanto, com o crescimento da indústria plant-based, constatamos que o ingrediente pode gerar diversos produtos, especialmente o feijão carioca, que é a variedade mais produzida no Brasil”, afirma Marcelo Eduardo Lüders, presidente do IBRAFE – Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses. Além disso, a indústria nacional e o produtor rural também são beneficiados, por meio do incentivo a uma maior diversidade agrícola. “O Brasil pode ter importante papel no fornecimento de ingredientes proteicos ao mundo que vai além da soja. Acredito que as leguminosas salvarão o mundo”, explica Fernando Santana, diretor de estratégia e desenvolvimento da R & S BLUMOS. “O GFI acredita que o crescimento do setor de proteínas alternativas vai, necessariamente, passar pelo desenvolvimento de novos ingredientes brasileiros. O mercado busca matérias-primas abundantes, com custo competitivo, menor pegada ambiental e com impacto socioeconômico em nosso país. Todos só têm a ganhar, pois além de entregarmos um alimento de extrema qualidade para os consumidores, agora os produtores rurais brasileiros têm mais uma oportunidade de lucrar com o setor de proteínas vegetais! É renda para o produtor brasileiro, emprego sendo gerado e impostos colaborando com nossa economia local”, comemora Gustavo Guadagnini. O lançamento do primeiro produto brasileiro plant-based feito com a proteína de feijão proporciona mais qualidade, diversidade e acessibilidade de fontes alternativas de proteína ao consumidor final brasileiro. O momento atual do mercado nacional é estratégico pois há grande consciência por parte do consumidor em relação às vantagens da carne vegetal e espaço para aprimorar os produtos existentes. “Esta é uma grande oportunidade: o mercado de carnes vegetais está em franca expansão e teremos um convívio das proteínas animal, vegetal e cultivada. A nosso ver, a proteína é um produto relevante na produção de riqueza nacional. E seguirá sendo, com suas novas origens vegetais e cultivada. Estamos vivendo a maior revolução alimentar de nossa era”, afirma Sérgio Pinto, diretor de inovação da BRF. Pesquisas similares contam com o apoio do The Good Food Institute A pesquisadora da EMBRAPA, Dra. Caroline Mellinger Silva, desenvolve uma pesquisa, financiada pelo Programa de Incentivo à Pesquisa do The Good Food Institute, que visa a produção de ingredientes com alta concentração de proteínas (concentrados e isolados proteicos) a partir do feijão carioca a fim de utilizá-los na formulação de produtos “tipo cárneos” que se pareçam com produtos de origem animal, como hambúrgueres, almôndegas e outros produtos de conveniência. De acordo com a Dra. Caroline, o tema é relevante, pois o Brasil só produz proteínas de soja e o mercado tem buscado outras fontes proteicas, a partir de outros vegetais. “A proteína de ervilha tem sido cada vez mais usada para esse tipo de produto, mas como é importada, torna-se um ingrediente caro para a indústria nacional. O Brasil é um dos maiores produtores de feijão do mundo e tem a possibilidade de ter essa cadeia desenvolvida nos próximos anos, passando de consumidor a produtor de proteínas alternativas vegetais a partir do grão. Isso gera emprego e renda para o país, além de prover ingredientes de menor custo para a indústria de alimentos, que poderá desenvolver produtos mais acessíveis ao consumidor final”, explica a pesquisadora.
GFI Brasil celebra parceria entre BRF e Aleph Farms para produzir carne cultivada no Brasil

O The Good Food Institute Brasil celebrou esta semana a parceria firmada entre a multinacional BRF e a foodtech israelense Aleph Farms para o desenvolvimento da carne cultivada brasileira. A colaboração entre as empresas, que conta com o apoio e expertise do GFI Brasil, visa produzir em larga escala, preço acessível e competitividade a carne feita através de células animais para complementar o mercado de proteínas animais. A BRF, que é a segunda maior produtora de aves do mundo, quer oferecer o produto nos supermercados em 2024. “Esse é um dia importante, não só para o mercado de carnes e de proteínas alternativas, mas também para o agronegócio e o Brasil de maneira mais ampla. É mais um passo que nós damos em direção a uma produção cada vez mais sustentável de carne. A parceria anunciada pela BRF e Aleph Farms para produção e comercialização de carne cultivada no país só reforça o potencial desse setor, que vem crescendo muito nos últimos anos.”, analisa a gerente de engajamento corporativo do GFI Brasil, Raquel Casselli. Inicialmente, as empresas deverão adaptar a tecnologia de carne cultivada desenvolvida pela Aleph Farms ao gosto dos consumidores brasileiros. Assim que for encontrada uma produção viável, as empresas passarão para a próxima etapa que é construir uma unidade no Brasil. Um dos principais desafios do projeto será criar um produto acessível ao consumidor. O CEO da Aleph, Didier Toubia, disse em entrevista à Bloomberg que espera que a carne cultivada encontre paridade de custo com a carne tradicional mais rapidamente do que a primeira geração de carne feita à base de plantas. Uma produção comercial a custo competitivo incluiria biorreatores capazes de produzir carne equivalente a 40.000 cabeças de gado em menos de 2 semanas. Isso também permitiria à BRF aumentar a produção rapidamente, caso a demanda cresça depressa. A parceria com a Aleph Farms faz parte de um plano de expansão mais amplo da BRF que visa melhorar os ganhos da empresa por meio da fabricação de produtos de maior valor agregado. A meta do grupo é mais do que dobrar suas vendas atuais de R$39 bilhões para R$100 bilhões em dez anos. Como os rivais globais JBS e Tysson Foods, a BRF montou suas próprias marcas de carnes vegetais, enquanto a entrada no mercado de carne cultivada significa um aumento da aposta da empresa em um mercado alternativo promissor. “ A AT Kurney tem uma projeção de que a carne cultivada deve ocupar 35% do mercado global de carnes até 2040, algo em torno de US $630 bilhões, e o Brasil está olhando para essa oportunidade a fim de se tornar líder desse setor. É um dia para celebrar.”, conclui Raquel.