Gustavo Guadagnini (*)
Recentemente, a indústria de carnes vegetais foi questionada por uma parte da mídia, especialmente nos Estados Unidos, após um desempenho abaixo do esperado na empresa Beyond Meat e em outras iniciativas menores. Essas reportagens se utilizaram de exemplos específicos para projetar um cenário desastroso sobre toda a indústria, e questionaram: será que essa tecnologia é uma moda passageira?
Na opinião dos especialistas desse setor, não. Para entendermos o contraponto, dois argumentos têm sido bastante utilizados. Em primeiro lugar, a teoria de mudança das proteínas alternativas prevê que os produtos vão conquistar uma grande parcela do mercado quando estiverem competindo em condição de igualdade nos aspectos de preço e sensorialidade (sabor, textura, aroma e suculência). No entanto, é evidente que esse ponto ainda não chegou, pois as tecnologias são muito novas e ainda têm muito o que se desenvolver.
Curiosamente, o mesmo termo mencionado pela mídia estadunidense (“fad”, ou moda passageira) já foi utilizado antes para descrever diversas outras tecnologias, como o os videogames, o rádio, os automóveis e até a internet. Não é preciso desenvolver um argumento para mostrar que nenhuma dessas tecnologias acabou sendo uma moda passageira. Da mesma forma, a indústria de proteínas alternativas está ainda em seus primeiros passos. Precisa ganhar escala e receber investimento em pesquisa e desenvolvimento para então competir de forma mais ampla.
Além disso, o segundo argumento está ligado à necessidade que fez com que essas indústrias surgissem. Aqui, não se trata apenas de mais uma oferta alimentar, mas sim de uma solução imprescindível para o futuro do planeta. Isso porque há um consenso científico de que, se não lidarmos com a contribuição da pecuária para a crise climática, não alcançaremos nossos objetivos do Acordo de Paris, ou seja, não conseguiremos conter o aquecimento global e todas suas consequências. O Brasil, inclusive, é signatário do acordo e tem metas para reduzir sua emissão de gases, que é a quarta maior do mundo, exatamente pela imensa atividade pecuária do país.
Em janeiro de 2023, um estudo conduzido pela Universidade de Exeter, Systemiq e pelo Bezos Earth Fund mapeou três tecnologias que têm potencial para reduzir 70% das emissões de gases do efeito estufa. Uma delas, sem surpresas, é a indústria de proteínas alternativas. Esse estudo se soma a diversos outros que apontam essas novas tecnologias de alimentos como a única solução em larga escala para redução do metano emitido por animais.
Para termos uma ideia do que pode ser esse impacto, a consultoria Kearney prevê que em 2040 o mercado total de carnes valerá US$ 1,8 trilhão, sendo que apenas 40% dessa carne será produzida a partir do abate animal, e 60% do mercado será tomado por proteínas alternativas (carnes vegetais, obtidas pela fermentação ou cultivadas a partir de células). Se essa previsão se realizar, as novas tecnologias de alimentos terão eliminado mais de metade do impacto causado pela pecuária.
Essa previsão não é a única, mas independente do número específico, está claro que essa indústria terá um papel essencial para o futuro da cadeia de produção de alimentos ser mais sustentável. Ainda assim, o ditado já disse que “Roma não foi construída em um dia” – e nem será o futuro da alimentação. A construção dessa indústria ainda vai levar décadas e exigir muito investimento, assim como foi com o rádio, videogames, internet, automóveis e qualquer outra grande evolução tecnológica.
Apesar das dúvidas trazidas pela mídia no passado, as tais modas passageiras transformaram completamente a vida de todos nós. Assim será no futuro: a indústria de carnes vegetais está apenas começando e em breve será acompanhada de suas “irmãs”ainda mais novas, que trazem proteínas produzidas a partir de fermentação e do cultivo celular.
No final, o que todos queremos é a mesma coisa: uma cadeia de produção de alimentos que consiga eliminar a fome ao mesmo tempo em que preserva o planeta. R. Buckminster Fuller disse “Somos chamados a ser arquitetos do futuro, não suas vítimas”. Agora cabe escolher: você vive ao lado dos que constroem o futuro, ou dos que preferem acreditar que a tecnologia será uma moda passageira?
(*) Gustavo Guadagnini – Administrador de empresas formado pela PUC-SP, seu objetivo é criar uma cadeia de produção de alimentos mais saudável, segura, justa e sustentável por meio de apoio às indústrias que visam criar alternativas ao uso de ingredientes com origem animal, seja em tecnologias de base vegetal ou de tecidos cultivados. É um dos mais ativos promotores do setor, sendo listado em 2020 pela revista GQ como um dos brasileiros na lista dos “25 nomes que podem salvar o mundo”.
Nesse Dia Mundial das Mulheres na Ciência, o GFI Brasil quer parabenizar todas as cientistas, pesquisadoras, professoras, alunas e acadêmicas que trabalham todos os dias para transformar em realidade a nossa missão de criar um sistema alimentar mais justo, seguro e sustentável!
Programa de computação, cromossomos x e y, radioatividade, fissão nuclear, comunicação sem fio, dupla hélice do DNA, trajeto até a lua, matéria escura. O que essas descobertas têm em comum? Todas foram feitas por mulheres cientistas! Em um campo emergente como as proteínas alternativas, é preciso um conhecimento científico profundo pra identificar lacunas e articular soluções tecnológicas que vão não apenas melhorar a oferta de produtos, mas também impactar positivamente o clima, a saúde global, a segurança alimentar e o respeito aos animais. Aqui no Brasil, quem tem assumido esse desafio são, em grande número, as mulheres. E essa realidade se comprova no trabalho do GFI Brasil:
Nos programas de incentivo à pesquisa, 68% das pesquisas aprovadas são lideradas por mulheres. Além disso, nosso time de Ciência e Tecnologia é 100% formado por mulheres, todas pós doutoras, doutoras, mestres ou doutorandas!
“O time de Ciência e Tecnologia do GFI Brasil é formado por 8 incríveis mulheres que participam de grupos de discussão e eventos internacionais desbravando um caminho pioneiro para a ciência das proteínas alternativas no Brasil e no mundo. Tenho muito orgulho delas porque todas possuem maestria na condução dos nossos projetos”, Cristiana Ambiel, gerente de ciência e tecnologia e mestre em tecnologia de alimentos.
“As mulheres formam uma grande parcela da ciência no Brasil e, na área de alimentos, é ainda maior. Nos laboratórios onde trabalhei e nos cursos que fiz, as mulheres sempre foram maioria. Eu trabalho com algas para uso na alimentação humana e, em muitos momentos, me sentia insegura em relação ao meu tema. Mas, desde que entrei no GFI Brasil, tudo se encaixou e sinto que estou exercendo ao máximo minha profissão: hoje desenvolvo trabalhos e projetos que conectam meu trabalho com meu doutorado e ainda geram impacto um positivo no mundo”, Mariana Demarco, analista de Ciência e Tecnologia, mestre e doutoranda em Ciência de Alimentos.
“Hoje, as mulheres cientistas representam a maioria dos doutorandos no Brasil e elas têm atuado em diversas frentes: são professoras e pesquisadoras nas universidades e empresas, têm ganhado destaque divulgando e discutindo ciência nas redes sociais e telejornais, além de muitas outras ações. Apesar dos muitos obstáculos que existem na nossa trajetória enquanto mulheres cientistas, estar em um ambiente cheio de referências femininas, competentes, dedicadas e que são valorizadas é o que nos motiva. É um privilégio dividir o dia-a-dia, compartilhar os desafios e comemorar as conquistas com elas”, Amanda Leitolis, Especialista em Ciência e Tecnologia e Ph.D em Biologia Celular e Molecular.
Sem essas mulheres, o setor de proteínas alternativas no Brasil não teria tido tantos avanços nos últimos tempos. Agradecemos à todas as cientistas por estarem sempre inovando e criando soluções de alto impacto para o planeta!
Você sabe o que são os pulses?
Pulses são as sementes secas comestíveis de leguminosas. Aqui no Brasil, os pulses mais consumidos são os feijões, a ervilha, a lentilha e o grão-de-bico.
O Brasil é um dos maiores produtores e consumidores globais de feijão:
7 entre cada 10 brasileiros comem feijões todos os dias. Mas, apesar de existirem mais de 40 tipos desse pulse aqui no Brasil, o feijão preto, o fradinho, o caupi, o vermelho, o mungo e o carioca são os que dominam o mercado. O carioca, sozinho, ocupa 50% de toda a área de cultivo do país.
Potencial dos pulses para a saúde global:
Especialistas brasileiros e internacionais consideram que o aumento do consumo de pulses é um dos caminhos para acabar com a fome, gerar renda e garantir a segurança alimentar. Além de serem riquíssimos em proteínas, fibras, vitaminas e minerais, o cultivo dos pulses requer muito menos água e fertilizantes, diminui a emissão de CO2 na cadeia de produção e aumenta o microbioma do solo, além de ser de baixo custo e fácil armazenamento.
…e para o setor das proteínas alternativas:
Os pulses são usados como matéria-prima para muitos dos produtos plant-based, mas a proteína de ervilha tem assumido o protagonismo. Mas, como ela é importada, é um ingrediente caro para a indústria nacional. O Brasil tem uma capacidade agrícola de produção de grãos pujante que, se bem explorada, representa um potencial enorme de crescimento. Além da geração de empregos e renda, o baixo custo dos pulses poderá permitir que a indústria de alimentos desenvolva produtos mais acessíveis para o consumidor final.
Como estamos envolvidos:
O GFI Brasil, em cooperação com o Governo do Mato Grosso, está iniciando um trabalho para promover o uso do feijão brasileiro como matéria-prima para a indústria de produtos plant-based. Essa iniciativa busca não apenas fomentar a agricultura regional e sustentável, como também valorizar esse ingrediente tão popular e tradicional do nosso país.
O Alt Protein Project é um movimento global que reúne estudantes motivados e visionários que buscam criar um sistema alimentar mais sustentável, seguro e justo. O The Good Food Institute desenvolveu o projeto para que esses alunos liderem a promoção da educação, pesquisa e inovação em proteínas alternativas nas suas universidades.
Desde 2020, já formamos grupos de estudantes em 36 universidades ao redor do mundo para conduzirem a revolução da proteína alternativa. Chegou a hora de você se juntar a eles! Os grupos contam com pesquisadores, cientistas e alunos de disciplinas e estágios acadêmicos diferentes, e todos trabalham juntos para definir e lançar as iniciativas de alto impacto que vão garantir o sucesso das proteínas alternativas.
No Alt Protein Project você vai poder atuar em diversas frentes, como: se reunir com membros de outros laboratórios para conduzir novas propostas de pesquisas; desenvolver cursos e especializações a serem adicionadas ao currículo universitário; analisar lacunas de mercado para criar novos produtos e formulações e promover atividades que estimulem o debate sobre proteínas alternativas.
Quer fazer parte dessa comunidade? Se inscreva até o dia 31 de março e, caso tenha alguma dúvida, entre em contato com a nossa equipe de ciência e tecnologia pelo e-mail lorenap@gfi.org
Começamos 2023 e queremos contar com o seu trabalho para nos ajudar a criar um sistema alimentar cada vez mais seguro, justo e sustentável, por meio da promoção das proteínas alternativas. A pessoa Assistente Executiva vai trabalhar diretamente com o Presidente do GFI Brasil, fornecendo suporte administrativo, gerenciando agendas e e-mails e apoiando a execução de projetos especiais.
Encorajamos profissionais de todas as cores, orientações, idades, gêneros e origens a se inscreverem. Valorizamos um local de trabalho diverso e inclusivo, e garantimos a sua proteção contra qualquer tipo de discriminação ou assédio durante o processo de inscrição e depois que se juntar à equipe.
Se assim como nós você também acredita que um mundo melhor é possível, temos um lugar te esperando aqui no The Good Food Institute Brasil.
O The Good Food Institute Brasil tem a honra de anunciar a lista de aprovados na chamada do projeto de incentivo à pesquisa InovAmazônia: Ingredientes para o Mercado de Alimentos Vegetais. Com recursos e apoio do Fundo JBS pela Amazônia, serão investidos cerca de R$ 2,7 milhões para a realização das sete pesquisas aprovadas.
A seleção levou em conta exigências apresentadas no edital, como a obrigatoriedade de que as propostas fossem apresentadas por pesquisadores e pesquisadoras residentes na amazônia brasileira ou de outras regiões do país, desde que estabelecessem parcerias com pesquisadores e universidades do bioma foco da chamada. Além desse aspecto, também foram exigidos que as pesquisas envolvessem comunidades, cooperativas, associações, ou agroindústrias localizadas no Bioma Amazônia.
“Ao final do projeto, esperamos identificar fungos comestiveis para produção de ingredientes, proteínas texturizadas para produção de carnes vegetais análogas a partir de espécies como o tucumã, cacau e cupuaçu, além de novas fontes de proteínas, fibras, pigmentos naturais, óleos e gorduras e ingredientes que melhorem o sabor, a textura e o aroma de carnes vegetais análogas, mantendo um apelo clean label, cada vez mais desejado pelos consumidores.”, conta a especialista de ciência e tecnologia e coordenadora do projeto, Luciana Fontinelle.
A aprovação definitiva dos projetos depende da assinatura do Acordo de Parceria entre o GFI Brasil e as instituições responsáveis. Desta forma, a lista pode sofrer alterações. As pesquisas contratadas devem iniciar entre os meses de julho e agosto de 2023.
O The Good Food Institute Brasil defende o direito de manifestação, locomoção e expressão do pensamento, previsto no artigo 5º da Constituição Brasileira de 1988 e repudia os atos de violência e vandalismo contra as instituições republicanas ocorridos neste domingo (8), em Brasília. A participação popular pacífica é garantida pelo Estado Democrático de Direito e é fundamental para a construção de um país cada vez mais equitativo e igualitário, que represente os anseios do seu povo.
Como instituição sem fins lucrativos que atua para promover um sistema alimentar mais seguro, justo e sustentável para toda a população brasileira, o GFI Brasil seguirá fortalecendo seu trabalho em articulação com governos, entidades da sociedade civil, indústria e ciência, reiterando seu compromisso com a democracia brasileira e com o desenvolvimento do país.
A pesquisa “O Consumidor Brasileiro e o Mercado Plant-Based 2022”, realizada pelo The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil), mostra que 67% dos brasileiros diminuíram o seu consumo de carne (bovina, suína, aves e peixes) nos últimos 12 meses, um aumento expressivo de 17 pontos percentuais em relação a 2020. Desse total, 47% pretendem reduzir ainda mais seu consumo no próximo ano.
A pesquisa de 2022 reforça muitos dos resultados encontrados na pesquisa anterior, publicada em 2020: a percepção de que os brasileiros estão mais preocupados com a saúde e que buscam incorporar opções mais saudáveis no seu dia a dia; a predominância de uma alimentação focada na redução, e não na eliminação completa dos produtos de origem animal; e a utilização, cada vez mais frequente, de proteínas alternativas vegetais em substituição aos produtos de origem animal.
O aumento do preço da carne foi o que motivou 45% dos brasileiros que reduziram seu consumo, mas, para outros 36%, essa redução foi motivada por questões relacionadas à saúde, como melhorar a digestão, reduzir o colesterol ou perder peso. Quando somadas à preocupação com os animais, o meio ambiente, influência de familiares, motivos religiosos e espirituais, vemos que essas questões motivaram mais da metade (52%) dos brasileiros a reduzirem o consumo de carne nos últimos 12 meses por escolha própria.
Os dados mostram que o propósito de diminuir a ingestão de carne não é algo estático ou um hábito ao qual o consumidor se propõe a seguir apenas temporariamente. Pelo contrário: os consumidores que já passaram por uma redução no consumo de carne, independente do motivo inicial, tendem a querer manter esse nível mais baixo ou reduzir ainda mais. Mesmo entre os brasileiros que passaram a comer menos carne por causa da alta do preço, 33% afirmam que querem diminuir ainda mais a ingestão no próximo ano, o que indica que, boa parte dos consumidores, não têm interesse em voltar a consumir carne no mesmo ritmo de antes.
O flexitarianismo é o estilo de alimentação que busca reduzir, sem excluir por completo, o consumo de produtos de origem animal. Esse grupo de consumidores vem crescendo ano a ano no Brasil e, hoje, 28% dos brasileiros já se definem como flexitarianos. Desses, 60% afirmam querer reduzir ainda mais o consumo de carne nos próximos 12 meses.
Isso indica que já existe uma parcela importante de consumidores que enxerga essa redução como uma parte definidora do seu comportamento alimentar atual e que esse grupo – mais do que os veganos e vegetarianos, que representam apenas 4% dos consumidores – é o principal público-alvo da indústria de proteínas alternativas vegetais.
As alternativas vegetais estão se tornando mais frequentes na mesa do brasileiro: hoje, praticamente dois em cada três consumidores (65%) consomem alguma alternativa vegetal (legumes, grãos, frutas) em substituição aos produtos de origem animal pelo menos uma vez por semana, enquanto em 2020 esse percentual era de 59%. Entre os consumidores que reduziram o consumo de carne animal nos últimos 12 meses, 34% substituíram somente ou principalmente por carnes vegetais, em 2020 este percentual era de 25%. Entre os que diminuíram o consumo de carne procurando melhorar a saúde, 57% utilizam com frequência a carne vegetal como substituto.
Se levarmos em conta que a primeira alternativa análoga surgiu no Brasil em 2019 e considerarmos todos os desafios do setor, a penetração desses produtos na rotina dos brasileiros se tornou muito expressiva. Porém, a pesquisa mostrou que há desafios de distribuição na categoria. O levantamento constatou que 61% dos consumidores procuraram alguma alternativa vegetal análoga nos últimos seis meses, no entanto, 53% não encontraram algum item que procuraram e apenas 8% encontraram todos os produtos análogos que buscavam, tanto em lojas físicas de mercado quanto em sites ou aplicativos de delivery, indicando que existe uma demanda reprimida por proteínas alternativas vegetais no país, tanto no varejo, quanto no food service.
Para 1 em cada 4 entrevistados nada impede de consumir alternativas vegetais. Entre os que apontam alguma barreira, o preço alto é o maior empecilho para a compra de proteínas vegetais (39%), seguido pela dificuldade de encontrá-las (30%) e pelo sabor (21%). Se forem agrupadas motivações como sabor, textura ou o cheiro que não agradam ou outras questões relacionadas a aspectos nutricionais, 32% dos consumidores apontam alguma característica do produto como o principal motivo para não consumir alternativas vegetais.
A pesquisa também buscou entender o grau de informação e o tipo de percepção que o consumidor brasileiro tem sobre alimentos ultraprocessados. A pesquisa apontou que, quanto maior o grau de informação sobre ultraprocessados, maior tende a ser a percepção de que esses produtos, em geral, fazem mal para a saúde. No entanto, 39% – uma parcela significativa de consumidores – crê que isso depende do processo de fabricação e dos ingredientes utilizados.
Entre boa parte dos consumidores brasileiros não existe uma associação direta entre alternativas vegetais análogas e alimentos ultraprocessados e praticamente metade considera que o processo de fabricação e os ingredientes são os fatores que definem se uma alternativa vegetal é um ultraprocessado ou não. Além disso, 52% dos entrevistados afirmam que, quando um alimento é ultraprocessado, sua decisão de compra é embasada analisando a tabela nutricional e/ou os ingredientes do produto. A pesquisa constata ainda, que, 1 em cada 3 consumidores não se preocupa em nenhum grau com o fato do alimento ser ultraprocessado ou não na hora de comprá-lo.
No geral, a pesquisa indica que o consumidor parece estar tentando equilibrar fatores para fazer uma compra mais saudável e que muitas vezes ele não tem informações suficientes para analisar tudo sozinho.
Realizada pelo The Good Food Institute Brasil em parceria com a Toluna, empresa global de pesquisa e insights do consumidor, a pesquisa entrevistou 2.500 pessoas, entre homens e mulheres, de 18 anos ou mais, das classes ABC e de todas as regiões do país, por meio de um questionário online aplicado de 27 de maio e 1º de junho de 2022. A partir dos resultados do questionário, a equipe de especialistas do GFI Brasil produziu análises complementares que ajudam a compreender e a contextualizar os dados. Com financiamento das empresas ADM, GPA, Ingredion, Kerry, NotCo, N.OVO, Plant Plus Foods, R & S BLUMOS, Incrível!, Unilever e Vida Veg, o objetivo da publicação é responder as principais questões relativas ao comportamento do consumidor e aos desafios do mercado de proteínas alternativas.
Em novembro, a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA divulgou que concluiu sua primeira consulta de pré-comercialização para um produto de carne cultivada. A empresa avaliada é a UPSIDE Foods, cujo produto é um frango cultivado produzido através da tecnologia do cultivo celular. A UPSIDE Foods é uma empresa de tecnologia de alimentos com sede em Berkeley, na Califórnia, fundada em 2015 com o objetivo de produzir carne cultivada de forma sustentável.
Após um processo longo que começou em outubro de 2021 e contou com quatro etapas de avaliação, a empresa concluiu com sucesso a rigorosa revisão de segurança pré-comercialização da FDA, demonstrando que o produto é tão seguro quanto o frango convencional.
Mas o que isso significa na prática? Os americanos já poderão comprar esse produto no mercado?
Na verdade, o processo até a liberação para comercialização do produto ainda tem mais alguns passos. Nos Estados Unidos, o United States Department of Agriculture (USDA) e a FDA estabeleceram um acordo formal para realizar, de forma conjunta, a regulamentação de carnes cultivadas. Ou seja, os produtos alimentícios produzidos a partir de células de espécies regulamentadas pelo USDA, Federal Meat Inspection Act (FMIA) ou pelo Poultry Products Inspection Act (PPIA), serão regulamentados pela FDA durante a coleta, seleção e cultivo de células e pelo USDA/FSIS durante o processamento e rotulagem subsequentes.
Portanto, além de atender aos requisitos do FDA, que inclui o registro da instalação para a parte da cultura celular, a empresa precisará de uma concessão de inspeção do Serviço de Inspeção e Segurança Alimentar do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA-FSIS) para o estabelecimento de fabricação. Além disso, o próprio alimento requer uma marca de inspeção do USDA-FSIS antes de entrar no mercado dos EUA.
Embora o processo de revisão seja específico para o frango cultivado da UPSIDE Foods, este é um marco histórico importante que abrirá caminho para que os consumidores possam acessar esses produtos em restaurantes e no varejo nos EUA. Além disso, a análise rigorosa desse agência e a obtenção da aprovação sem questionamentos, corrobora as informações que vem sendo levantadas em estudos relacionados à segurança dos produtos de carne cultivada.
Separamos alguns pontos que merecem destaque:
Esse anúncio histórico feito pela FDA inicia ressaltando que o mundo está passando por uma revolução alimentar e que a agência está empenhada em apoiar a inovação no fornecimento de alimentos. O GFI tem defendido que a carne cultivada tenha um caminho claro para o mercado sob um processo regulatório justo e transparente. Por isso celebramos essa notícia!
O que o FDA avaliou?
Como já comentamos, nos EUA existem dois ógãos que atuam de forma conjunta na regulamentação de carnes cultivadas (FDA e USDA). Ao FDA compete a análise a parte inicial do processo de produção, desde a etapa onde as células são isoladas do animal doador, passando pela etapa de preparação de bancos ou “estoques” dessas células, e também a análise de todas as substâncias utilizadas durante o processo de cultivo para obtenção da grande quantidade de células desejadas (etapas proliferação e diferenciação).
A FDA avalia também o produto final desse cultivo: a biomassa de células obtida no final da etapa de cultivo celular. Essa etapa é chamada de etapa de coleta, que é nada mais que a drenagem e retirada das células dos reatores ao fim do cultivo. A agência avaliou todos os potenciais de riscos no processo de produção durante todas essas etapas citadas para garantia da segurança do produto gerado, incluindo: a avaliação de perigos da empresa em cada etapa de produção, como a empresa planeja aplicar o controle de segurança alimentar medidas com base na sua avaliação, como a empresa monitora o crescimento e a qualidade das culturas de células durante a produção.
Para mais informações, consulte: What the FDA Evaluated During the First Completed Pre-Market Consultation
O que é carne cultivada e como é produzida?
Carne cultivada é a carne animal produzida a partir do cultivo das células animais. O cultivo das células é realizado reproduzindo o processo biológico que ocorre dentro dos animais e a carne cultivada resultante é composta pelos mesmos tipos celulares que fazem parte do tecido muscular animal, por isso pode reproduzir o perfil sensorial e nutricional da carne bovina, frango, frutos do mar ou de outros produtos de carne produzidos convencionalmente. A partir de uma única célula, multiplicações sucessivas em biorreatores e posterior diferenciação e maturação é possível produzir carne em escala industrial. Para saber mais sobre essa tecnologia consulte os nossos recursos.
Material de apoio/Fontes:
Concentramos nosso tempo e recursos onde são mais necessários. É por isso que temos a honra de ser reconhecidos como uma das instituições filantrópicas mais bem avaliadas pelos organismos avaliadores independentes Animal Charity Evaluators e Giving Green
No GFI, guiamos nosso trabalho por valores criados para garantir que permaneçamos comprometidos com nossa missão com integridade, e um desses valores é fazer sempre o melhor possível. Usamos nosso tempo e recursos em programas de alto impacto que contribuem diretamente para o desenvolvimento de uma nova cadeia alimentar mais segura, justa e sustentável.
Os maiores desafios do nosso tempo são também as nossas maiores oportunidades. Ao desenvolver proteínas alternativas vegetais, cultivadas e obtidas por fermentação, podemos criar um sistema alimentar que alimente nossa crescente população de forma sustentável, atenda às metas climáticas, evite a resistência a antibióticos e que respeite os animais.
Sabemos que o nosso trabalho beneficia todo o planeta e somos gratos por sermos reconhecidos como uma instituição filantrópica altamente eficaz pela Animal Charity Evaluators (ACE) e pela Giving Green.
ACE e Giving Green
Tanto a ACE quanto a Giving Green realizam pesquisas e avaliações rigorosas para recomendar organizações sem fins lucrativos altamente eficazes cujo trabalho melhora a vida dos animais e ajuda a combater a crise climática, respectivamente.
A avaliação da ACE se concentra em vários pilares, incluindo a eficácia dos programas, custo-efetividade, espaço para financiamento e cultura. A avaliação deles destacou que os programas do GFI resultam no aumento da disponibilidade de produtos sem origem animal. Eles avaliaram a eficácia e o custo-benefício de nossos programas como muito altos e observaram a capacidade do GFI receber mais financiamento.
A Giving Green recomendou o GFI com base em nossas realizações, pontos fortes organizacionais, abordagem estratégica e custo-benefício. Eles destacaram nosso sucesso em garantir financiamento público para proteínas alternativas e nosso papel na criação de um ecossistema de suporte para proteínas alternativas. Por fim, a Giving Green concluiu que somos uma das principais organizações sem fins lucrativos no combate às mudanças climáticas e uma das com maiores oportunidades de doação.
Essas duas novas recomendações se juntam à recomendação do Founders Pledge, uma iniciativa que realiza análises rigorosas para encontrar oportunidades de doação de impacto excepcional para seus membros em várias causas. A Founders Pledge recomenda o GFI como uma das organizações de defesa animal com melhor custo-benefício do mundo.
Alimentado por uma comunidade de doadores
Nosso trabalho global para promover o ecossistema de proteínas alternativas é possível graças às milhares de pessoas e instituições filantrópicas que nos apoiam todos os anos! Estimulados por essa generosidade, temos metas ambiciosas para garantir financiamento considerável para o desenvolvimento do setor de proteínas alternativas, caminhos regulatórios claros, e um ecossistema científico robusto.
Com o Dia de Doar chegando no dia 29 de novembro, convidamos você a se juntar à nossa comunidade global de doadores ou renovar seu apoio. Nesse dia, o Brasil todo vai se mobilizar para fazer doações e milhares de organizações estarão preparadas para recebê-las.
Nossos apoiadores se juntam a nós por vários motivos – contribuir na mitigação da crise climática, alimentar de forma segura e sustentável uma população global crescente, promover o bem-estar animal e proteger a saúde pública – qual é o seu?
Doe diretamente para o GFI Brasil
Caso prefira, você pode aproveitar a oportunidade do Dia de Doar para fazer uma doação diretamente para o GFI Brasil. Basta acessar nossa sessão “Seja um Doador“, escolher o valor, a forma de pagamento e a frequência de sua contribuição e confirmar.
Para saber mais detalhes, entre em contato com a nossa Gerente de Desenvolvimento, Ana Carolina Rossettine anar@gfi.org.
Juntos podemos fazer o melhor possível!
Começa hoje (6/11), no Egito, a COP27, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC). O The Good Food Institute estará presente como uma das 15 organizações responsáveis pelo primeiro espaço dedicado a discutir o papel do sistema de produção de alimentos no enfrentamento da crise climática, o Food System Pavilion.
O GFI Brasil vai liderar dois dias temáticos, repletos de sessões informativas, plenárias e apresentações de estudos de caso. O primeiro, no dia 6 de novembro, será voltado para discussões em torno da construção de sistemas alimentares climaticamente resilientes e apresentação das mais diversas soluções, considerando a multiplicidade de atores envolvidos nos sistemas alimentares globais.
No dia 16 de novembro, o foco será nas estratégias para proteger e restaurar a natureza por meio de soluções trazidas especialmente pela biodiversidade e com envolvimento ativo de comunidades locais. Neste dia, o GFI vai apresentar o trabalho que tem desenvolvido na Amazônia e no Cerrado, promovendo pesquisas para o desenvolvimento de ingredientes da a partir de espécies nativas destes biomas. O GFI também é parceiro em outras datas temáticas no Pavilhão, como o dia da Adaptação Climática e o dia da Água.
Confira abaixo nossa participação no evento:
Designing food systems resilience in a warming world for global security
How both global and regional solutions can lessen risks, increase supply chain stability, and improve livelihoods
6 de novembro, das 11h30 às 13h30 GMT | Participação do Presidente do GFI Brasil, Gus Guadagnini
Zero-conversion food
Feeding a growing world in ways that enable recovery of biodiverse lands and waters
16 das 14h15 às 15h45 | Participação do Presidente do GFI Brasil, Gus Guadagnini.
Food system careers of the future
Insights and aspirations from youth leaders
16 de novembro, das 18h10 às 19h | mediação: Analista de Políticas Públicas do GFI Brasil, Mariana Bernal.
Acompanhe as nossas redes pra saber os principais destaques do evento.
O The Good Food Institute Brasil acaba de lançar seu mais novo projeto do Programa Biomas de incentivo à pesquisa, o InovAmazônia: Ingredientes para o Mercado de Alimentos Vegetais. Com recursos do Fundo JBS pela Amazônia, o objetivo é desenvolver soluções e ingredientes alimentícios para a indústria de proteínas alternativas vegetais, a partir de espécies nativas do bioma amazônico. Ao todo, serão investidos cerca de R$ 2,7 milhões para a realização das pesquisas.
Conheça o edital e inscreva a sua proposta de pesquisa!
Pesquisa exploratória: identificação de fontes potenciais de novos ingredientes a partir de fungos oriundos do bioma Amazônia ainda pouco investigados no âmbito de proteínas alternativas.
Pesquisa aplicada: soluções e avanços na produção e aplicação de ingredientes em produtos cárneos vegetais análogos. Busca-se otimizar métodos sustentáveis de obtenção de ingredientes, elaborar protótipos a partir da aplicação destes ingredientes e gerar tecnologias com potencial de aplicação na indústria. As espécies nativas para a modalidade pesquisa aplicada são: Açaí, Babaçu, Cacau, Castanha do Brasil, Cupuaçu, Guaraná e Tucumã.
As propostas serão avaliadas considerando critérios de alinhamento científico, impacto esperado do projeto, contribuição para a comunidade científica, contribuição para comunidades produtoras locais, planejamento do projeto e relevância comercial. É obrigatório, ainda:
Lançamento da chamada – 03/11/2022
Início do prazo de submissão das propostas de pesquisas – 03/11/2022
Workshop de apresentação da chamada – 16/11/2022
Encerramento do prazo de submissão das propostas de pesquisas – 12/12/2022
Resultado das propostas selecionadas – 23/01/2023
Divulgação do resultado final das propostas com contrato assinado – 01/08/2023
Previsão de início dos projetos – Julho/Agosto de 2023
As propostas devem ser submetidas por meio da plataforma de inscrição do GFI Good Grants. Dúvidas poderão ser enviadas para o e-mail ciencia@gfi.org
Assista ao Workshop de apresentação do InovAmazônia
Tire suas dúvidas no documento de Perguntas e Respostas
Inscreva a sua proposta de pesquisa
Seu projeto pode contribuir para um sistema alimentar mais seguro, justo e sustentável hoje e no futuro.