Entrevista com Bruce Friedrich: “Construir um sistema alimentar melhor e mais sustentável é um dos desafios mais importantes da nossa época”

Originalmente publicado por Steff Bottinelli no Food Matters Live em 18 de setembro de 2023 Se você se interessa por inovação alimentar e sustentabilidade, Bruce Friedrich é um nome com o qual você deve estar familiarizado. Formado em direito pela Georgetown Law, pela Universidade Johns Hopkins e pela London School of Economics, em 2016 Friedrich fundou o The Good Food Institute (GFI), organização sem fins lucrativos da qual ele é presidente. Hoje, o GFI tem mais de 200 membros em tempo integral em afiliadas nos EUA, Europa, Índia, Israel, Brasil e Singapura. O trabalho do instituto é focado em políticas, ciência e envolvimento corporativo no setor das proteínas alternativas e visa fortalecer o fornecimento global de proteínas ao acelerar a produção de carne à base de plantas e cultivada, promover práticas agrícolas sustentáveis e melhorar a segurança alimentar e a saúde global. Além de supervisionar a estratégia global do GFI, Bruce Friedrich escreve regularmente artigos de opinião para veículos como The Wall Street Journal, USA Today, Los Angeles Times e Wired, é convidado frequente em mesas redondas, podcasts, programas de rádio e é um TED Fellow. A palestra TED de Bruce em 2019 foi vista duas milhões de vezes e traduzida para dezenas de idiomas. Conversei com Bruce para discutir o futuro das proteínas alternativas e o papel dos governos em ajudar a expandir o setor, a recente aprovação da venda de carne cultivada nos Estados Unidos e a posição de países como a Itália em relação à agricultura celular. Hoje, há mais informações do que nunca sobre os efeitos prejudiciais da produção de carne, peixe e laticínios no meio ambiente e mais empresas de alimentos, restaurantes e redes de fast food estão produzindo ou oferecendo alternativas à base de plantas. No entanto, apesar da maior disponibilidade de produtos veganos no mercado e o aumento de pessoas comprando regularmente, o consumo de carne animal continua aumentando globalmente. O que você acha que será necessário para as pessoas perceberem que precisam reduzir ou parar completamente de consumir produtos de origem animal? Por que ainda há essa desconexão, apesar de toda a informação disponível? A resposta é simples: as escolhas alimentares da maioria das pessoas são baseadas em dois fatores simples: sabor e preço. Muitos dos problemas que vimos recentemente no mercado de produtos à base de plantas são devido ao fato de que esses alimentos ainda não atendem a essas métricas – não proporcionam os sabores que os consumidores desejam e ainda são caros demais. Isso me leva à sua última pergunta: a carne à base de plantas ainda está em sua infância e, para que esses alimentos se tornem deliciosos e acessíveis ao maior número possível de pessoas, precisamos que os governos invistam na pesquisa e infraestrutura que o setor precisa – assim como fizeram com a energia renovável. É impossível exagerar a importância disso: a população mundial está prevista para atingir 10 bilhões até 2050, e essas pessoas estão consumindo cada vez mais carne. Será impossível alimentá-las usando um sistema tão ineficiente quanto a agricultura animal industrial, que consome nove calorias de ração para produzir uma caloria de carne de frango. Os alimentos à base de plantas são frequentemente acusados de serem ultraprocessados. No entanto, sabemos que muitos produtos de origem animal muitas vezes mal contêm os ingredientes que deveriam, mas têm uma grande quantidade de aditivos, enquanto muitos produtos à base de plantas são feitos com apenas alguns ingredientes. Como podemos mudar a percepção dos alimentos veganos? Acredito que precisamos de uma conversa mais bem informada sobre o que o termo “ultraprocessado” significa. Praticamente tudo o que comemos, desde molho de massas até pão, é processado. O processamento pode ser usado para tornar os alimentos mais seguros, adicionar vitaminas e minerais e preservá-los por mais tempo para evitar o desperdício. O número de ingredientes não determina, necessariamente, a saúde de um produto. A banha tem um ingrediente e um pão integral tem muitos, mas poucos argumentariam que a banha é mais saudável que o pão integral. Comparado à carne produzida convencionalmente, a carne à base de plantas tem menor teor de gordura saturada, menor densidade calórica, mais fibras e carboidratos complexos e nenhum colesterol. Em resumo, é mais saudável. Muitos gigantes do setor alimentício agora entraram no setor de alimentos à base de plantas, como Nestlé, Unilever… Alguns os acusam de lucrar, outros de normalizar a produção à base de plantas e torná-la mais democrática. Quais são seus pensamentos sobre isso? Essas grandes empresas de alimentos têm a infraestrutura para ampliar a produção e o conhecimento técnico para impulsionar a pesquisa e o desenvolvimento, então precisamos que elas entrem no jogo se quisermos melhorar a qualidade, reduzir os custos e fazer com que os alimentos à base de plantas se tornem uma opção padrão para todos. No entanto, a carne à base de plantas pode ser produzida por empresas de todos os tamanhos e formas, adaptadas às necessidades e gostos de diferentes culturas. Há espaço para todos neste setor, o que significa que as grandes empresas trabalham de mãos dadas com as startups. Para permitir um ecossistema diversificado de empresas onde os produtores independentes podem prosperar, precisamos que os governos financiem pesquisas de acesso aberto, para democratizar as possibilidades de carne à base de plantas – em vez de deixar a inovação para empresas privadas. Você frequentemente fala sobre a necessidade de subsídios governamentais para ajudar a expandir proteínas alternativas da mesma forma que os governos subsidiaram a energia renovável. No entanto, com algumas exceções, isso ainda não está acontecendo amplamente. O que você acha que será necessário para os governos entenderem a necessidade desse apoio financeiro e assumirem um papel ativo na produção de proteínas sustentáveis? Nosso relatório sobre o Estado da Política Global constatou que estamos começando a ver lentamente uma mudança nessa direção, com governos em todo o mundo percebendo a importância das proteínas alternativas na sustentabilidade. Na Europa, o governo holandês está liderando o caminho ao anunciar 60 milhões de euros para o
Histórico: Israel se torna o primeiro país no mundo a liberar venda de carne bovina cultivada!

Hoje, dia 17 de janeiro de 2024, Israel concedeu aprovação regulatória para a Aleph Farms comercializar seus produtos no país. Com isso, Israel se une a Estados Unidos e Singapura, os únicos países que já permitem a venda de carne cultivada em seus territórios. O diferencial é que, até o momento, todas as aprovações tinham sido relativas à carne de frango cultivada, tornando Israel o primeiro país no mundo a liberar a venda de carne bovina cultivada. Essa aprovação concede à Aleph Farms permissão para produzir e comercializar seus produtos no território israelense, sujeita às diretrizes específicas para rotulagem e publicidade fornecidas pelo Ministério da Saúde local e à conclusão da inspeção da instalação de produção piloto. Petit Steak O primeiro produto a ser lançado pela empresa sob a marca Aleph Cuts será o “Petit Steak”, um bife cultivado a partir de células de Angus premium. O produto híbrido de carne é composto por células não modificadas e não imortalizadas de uma vaca Angus preta premium, juntamente com uma matriz de proteína vegetal feita de soja e trigo. Além das células derivadas de um dos óvulos fertilizados da vaca, não há outros componentes de origem animal no processo de cultivo ou no produto final. O processo controlado e rastreável é realizado em um ambiente de produção asséptica, o que reduz significativamente os riscos de contaminação e exclui a necessidade da presença de antibióticos. Assim que os requisitos de rotulagem e inspeção da instalação forem concluídos, o produto será disponibilizado em restaurantes selecionados para, depois, ser distribuído para outros serviços de alimentação e varejo. Quanto ao custo, a empresa revelou que, no momento do lançamento, o Petit Steak terá preços semelhantes aos da carne bovina premium convencional. Participação do GFI no processo Nós do The Good Food Institute celebramos a aprovação porque tivemos uma grande participação para alcançar esse marco. Nós realizamos diversos workshops com a equipe da Aleph Farms e fomos os primeiros a apresentar a tecnologia de carne cultivada aos reguladores israelenses e ao Primeiro Ministro Netanyahu em 2020 e em 2023, ocasiões em que ele experimentou a carne cultivada da empresa. Além disso, a Aleph Farms foi fundada com base no projeto de doutorado do nosso ex-Cientista Sênior, Dr. Tom Ben Arye Cohen. Esta aprovação não apenas marca um momento crucial, mas também serve como uma garantia sólida para o setor de carne cultivada em meio a dúvidas e questionamentos prevalecentes. Confiamos que este marco enviará uma mensagem convincente aos players da indústria, incentivando-os a persistir em seus investimentos e avanços no campo. “A aprovação da carne cultivada da Aleph Farms em Israel representa um avanço monumental para o setor de proteínas alternativas globalmente. Este é um exemplo brilhante do que a inovação, aliada à ciência e à sustentabilidade, pode alcançar. No The Good Food Institute Brasil, vemos isso como um sinal promissor do que está por vir. O fato de que este produto específico já está programado para chegar ao Brasil, em parceria com a indústria local, é um testemunho do potencial que a carne cultivada tem para revolucionar o sistema alimentar, oferecendo alternativas sustentáveis e éticas sem comprometer o sabor ou a tradição. Este também é um momento crucial para Brasil, que também publicou seu o primeiro caminho regulatório para produtos do tipo e pode se posicionar como líder na adoção e na inovação de proteínas alternativas, trazendo benefícios tanto para a nossa economia como para o meio ambiente”, comenta o Presidente do The Good Food Institute Brasil, Gustavo Guadagnini. Israel Três das oito primeiras empresas de carne cultivada do mundo são Israelenses e 15% dos investimentos globais no campo são destinados a elas. Há muitos anos o país apoia e promove as proteínas alternativas, dada a batalha contínua da nação contra a insegurança alimentar: de acordo com dados governamentais, em 2021, 16% das famílias israelenses e 21% das crianças não tinham acesso adequado a alimentos seguros e nutritivos. Entre as famílias com crianças, 19% enfrentaram insegurança alimentar, enquanto 8,5% sofreram de insegurança alimentar severa. Como a carne cultivada não depende da agricultura de gado, de extensas áreas de terras agrícolas ou de grandes quantidades de água, os benefícios para a segurança alimentar são tão relevantes quanto para as mudanças climáticas, especialmente em um país com clima hostil e mais da metade do território composto por solos desérticos. A conquista da Aleph Farms em Israel é uma grande vitória, mas não para por aí. A empresa já solicitou autorização para venda em Singapura, Suíça, Reino Unido e nos Estados Unidos, além de avançar com solicitações em outros mercados.
COP28: Brasil e mais 133 países assinam declaração inédita se comprometendo a produzir alimentos de forma mais sustentável

A declaração é a primeira do tipo a colocar os sistemas alimentares no centro do debate climático Durante o evento “Transforming Food Systems in the Face of Climate Change” (Transformando os Sistemas Alimentares Face às Mudanças Climáticas, em tradução livre), que aconteceu hoje, dia 1/12, no segundo dia da COP28, em Dubai, foi lançada a declaração dos Emirados Árabes Unidos sobre Agricultura Sustentável, Sistemas Alimentares Resilientes e Ação Climática, assinada por 134 países, incluindo o Brasil. Segundo Gus Guadagnini, presidente do GFI Brasil que participou do painel, a declaração foi um passo importante para consolidar o tema dos sistemas alimentares como uma das prioridades globais no combate à emergência climática. “Estamos muito satisfeitos em ver que os governantes estão se comprometendo a apoiar mais esse tipo de solução. É nesse sentido que o GFI trabalha: trazer inovações escaláveis para que as pessoas possam manter seus hábitos e tradições alimentares, ao mesmo tempo em que consomem um alimento mais sustentável, que não demanda tantos recursos como água e terra para serem produzidos, nem agridem o meio ambiente com a emissão de gases poluentes.”, comemorou Guadagnini. Segundo Andy Jarvis, Diretor do Future of Food (Bezos Earth Found), é a primeira vez em uma COP que os sistemas alimentares têm esse nível de visibilidade. “Essa declaração endossa isso e, agora, nós precisamos que as nações não apenas assinem, mas que sejam corajosas e audaciosas nas suas ações daqui para frente.”, afirmou Jarvis. Em 2023, a Ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, elevou os compromissos das NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) brasileiras para uma redução de 48% de emissões até 2025 e de 53% até 2030. Os sete setores contemplados pelas NDCs nacionais incluem energia, mobilidade urbana, florestas, biocombustíveis, resíduos sólidos, iluminação pública e transportes, mas não mencionam diretamente a agricultura, ou os sistemas alimentares, por exemplo. “A declaração assinada hoje pelo Brasil na COP28 traz entusiasmo pela possibilidade de que os sistemas alimentares sejam uma pauta priorizada pelo governo brasileiro no caminho até a COP30, que acontece em 2025 em Belém, no Pará”, disse Guadagnini. No evento, Bill Gates anunciou uma parceria junto dos Emirados Árabes para investir USD 200 milhões de dólares em inovações para os sistemas alimentares e anunciou ainda mais investimentos através do AIM for Climate, iniciativa dos governos dos Estados Unidos e Emirados Árabes Unidos, para financiar soluções escaláveis para o setor. Também participaram lideranças como Mariam Almheiri, Ministra do Meio Ambiente dos Emirados Árabes, Antoine de Saint-Affrique, CEO da Danone, Joko Widodo, Presidente da Indonésia, Giorgia Meloni, Primeira Ministra da Itália, Naomi Mata’afa, Primeira Ministra da Samoa, Anthony John Blinken, Secretário de Estado dos EUA, Dr. Ismahane Elouafi, Diretora Executiva do Consortuim of Internacional Agricultural Research Centers (CGIAR), Roberto S. Waack, Presidente do Instituto Arapyau, Dr. Qu Dongyum, Diretor Geral da FAO (ONU), e Razan Al Mubarak, da UN Climate Change High Level Champion. Durante as discussões, Antoine de Saint-Affrique reforçou a importância do setor privado em favor do desenvolvimento de soluções climáticas para os sistemas alimentares, destacando a necessidade de ganho de escala para novas tecnologias e de aumento de financiamento do setor. Além disso, Roberto S. Waack citou também a filantropia como agente catalisador da mudança e destacou a relevância da liberdade de ação. O Presidente da Indonésia abordou a necessidade de transferência de tecnologia de ponta para os países que mais precisam, enquanto a Primeira Ministra da Itália reforçou os compromissos italianos com o clima e mencionou que o país apoia iniciativas do tipo na África, mas reforçou que o continente não precisa apenas de caridade e, sim, de espaço para competir com igualdade no cenário global. A Primeira Ministra da Samoa mencionou a importância da integração digital no campo e o Secretário de Estado dos EUA endossou que a declaração será um marco histórico, lembrando os desastres ambientais deste ano, destacando que, por trás das estatísicas, estão pessoas reais sofrendo com a emergência climática. Confira a declaração traduzida na íntegra: Nós, Chefes de Estado e de Governo: Reconhecendo que os impactos climáticos adversos e sem precedentes ameaçam cada vez mais a resiliência da agricultura e dos sistemas alimentares, bem como a capacidade de muitos, especialmente os mais vulneráveis, de produzir e ter acesso a alimentos face ao aumento da fome, da subnutrição e das tensões economicas; Reconhecendo o profundo potencial da agricultura e dos sistemas alimentares para impulsionar respostas poderosas e inovadoras às mudanças climáticas e possibilitar a prosperidade partilhada para todos; Sublinhando a necessidade de concretizar progressivamente o direito à alimentação adequada no contexto da segurança alimentar nacional, bem como a necessidade de garantir o acesso a alimentos seguros, suficientes, acessíveis e nutritivos para todos; Observando que a agricultura e os sistemas alimentares são fundamentais para a vida e a subsistência de milhares de milhões de pessoas, incluindo pequenos agricultores, agricultores familiares, pescadores e outros produtores e trabalhadores do setor de alimentos; Observando o papel essencial da cooperação internacional e multilateral, incluindo a cooperação Sul-Sul e Triangular, as instituições financeiras e de financiamento, o comércio e as organizações não-governamentais na resposta às mudanças climáticas; Reafirmando os nossos respectivos compromissos, coletivos e individuais, com a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas e o Acordo de Paris, a Convenção das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica e o Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal, a Convenção das Nações Unidas para Combater a Desertificação, e o Trabalho Conjunto de Sharm El Sheikh sobre a implementação da ação climática na agricultura e na segurança alimentar; considerando tabém a Cúpula da ONU para os Sistemas Alimentares; Recordando também a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas e o Acordo de Paris, reconhecendo que são os principais fóruns internacionais e intergovernamentais para a negociação da resposta global às mudanças climáticas; Recordando as conclusões das recentes avaliações do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC), considerando o Relatório de Síntese dos diálogos técnicos acerca do Primeiro Balanço Global (GST); Salientamos que qualquer caminho para alcançar plenamente os objetivos a
COP28: Sistemas alimentares devem estar no centro do debate climático

GFI apresentará Coalização Global pelas proteínas alternativas O The Good Food Institute (GFI) vai participar da COP 28, Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) que acontece em Dubai, dos dias 30 de novembro a 12 de dezembro de 2023. O GFI estará presente para debater com lideranças do mundo todo estratégias para diminuir o impacto dos sistemas alimentares no agravamento da crise climática, apresentando as proteínas alternativas como solução viável para esse desafio. Ao todo, a organização estará presente em pelo menos 40 eventos, seja como palestrante, moderadora, co-organizadora ou ouvinte. Entre os especialistas do GFI que participarão da programação estão o presidente global do GFI, Bruce Friedrich, o presidente do GFI Brasil, Gustavo Guadagnini, além de representantes da organização na Ásia e nos Estados Unidos. O GFI pretende, ainda, apresentar durante as duas semanas de conferência a proposta de uma Coalizão Global pelas Proteínas Alternativas, a fim de unir esforços de governos, empresas, organizações, academia e outros setores da sociedade na criação de ações para fortalecer as proteínas alternativas como estratégia para mitigar os efeitos da crise ambiental na agricultura e reduzir os atuais impactos dos sistemas alimentares no clima. Proteínas alternativas devem ser incorporadas ao setor de alimentos como uma das soluções para a crise do clima. Entenda o por quê: Desde a COP21 em 2015, as COPs têm se debruçado sobre como implementar o Acordo de Paris, que possui três objetivos principais: manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C e reunir esforços para limitar o aumento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais; adaptar-se às mudanças climáticas e criar resiliência; e alinhar os fluxos financeiros com um caminho rumo a baixas emissões de gases de efeito estufa (GEE) e um desenvolvimento resiliente ao clima. A produção de alimentos é a principal responsável pela emissão de GEE (34%) e a produção de proteína animal, sozinha, gera metade desse valor. Embora a pecuária ocupe 77% das terras agrícolas do mundo, a carne animal fornece apenas 18% do suprimento alimentar da humanidade e 37% das proteínas na dieta humana. Por isso, as proteínas alternativas são uma opção mais sustentável. A sua adoção é capaz de oferecer de 14% a 20% da mitigação de emissões que o planeta precisa até 2050. Além disso, segundo relatório do Boston Consulting Group, se as proteínas à base de plantas (plant-based) e as carnes cultivadas representarem 11% de todo o consumo de proteínas até 2035, é possível reduzir 0,85 gigatoneladas de CO2 equivalente (CO2e) em todo o mundo até 2030, o que equivale à descarbonização de praticamente toda a aviação civil. Apesar da relevância, o papel do setor de alimentos na emergência climática só foi apresentado pela primeira vez na COP 27, que aconteceu ano passado, no Egito. A edição contou com o Food System Pavilion, trabalho articulado de uma coalizão de 9 organizações, entre elas o GFI, com o objetivo de levantar essa pauta no lugar mais importante de negociações internacionais sobre o clima. Boa parte dos eventos em Dubai serão transmitidos online. Para acompanhar, basta acessar a agenda oficial do evento ou o Instagram do GFI Brasil. Confira a nossa programação: Domingo, 3 de dezembro UNFCCC official Side event – Unleashing the Power of Alternative Proteins for Climate Resilience and Food Security Horário: 15:00-16:30 UAE (9:00-9:30 BRT) Local: Room 9 Moderador: Gustavo Guadadnini, presidente do GFI Brasil Palestrantes: Vinod Kumar, diretor administrativo da String Bio; Alessandro Cruvinel, Diretor de Inovação do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil; Tasneem Karodia, Cofundador e COO da Newform Foods; Kafilat Oyebola, Cofundadora da VeggieVictory Link da transmissão do evento: https://www.youtube.com/watch?v=Q3kOrf_PTzw Terça, 5 de dezembro Shining a light on and scaling climate solutions Horário: 10:30-11:15 UAE (3:30-4:15 BRT) Local: Climate Action Innovation Zone Endereço: Madinat Jumeirah – King Salman Bin Abdulaziz Al Saud St – Al Sufouh 1 – Dubai – United Arab Emirates Palestrantes: Mariana Bernal, analista de políticas públicas do GFI Brasil; Joshua Amponsem, codiretor da Youth Climate Justice Fund; Tessa Ferry, Líder da Race to Zero; Johan Falk, CEO da Exponential Roadmap Initiative; Kaya Axelsson, diretora de políticas públicas da Oxford Net Zero; Ragy Ramadan, fundador e CEO da NoorNation Quarta, 6 de dezembro The Food Systems Transition and its Implications for the Environment, Consumption and Public Health (evento em Português) Horário: 9:00-10:15 UAE (2:00-3:15 BRT) Local: Brazil Pavilion, Blue Zone Evento co-organizado pelo GFI: A transição dos sistemas alimentares e suas implicações para o meio ambiente, consumo e saúde pública Moderador: Maurício Alcântara, Cofundador do Instituto Regenera Palestrantes: Juliana Tângari, Diretora do Instituto Comida do Amanhã; Puyr Tembé, Secretária de povos Indígenas do Estado do Pará; Raquel Santiago, Professora Associada da Universidade Federal de Goiás e Coordenadora do Hub Latino-americano de Saúde Planetária; Laura Lamonica, Gerente Executiva na Coalizão Brasil. Link da transmissão do evento: https://apexbrasil.com.br/content/apexcop/br/pt/home/agenda.html Domingo, 10 de dezembro Unlocking the agri-food system transformation: Aligning regenerative farming with sustainable food choices Horário: 11:15-12:00 UAE (4:15-5:00 BRT) Local: Food4Climate Pavilion Palestrante: Presidente do GFI Brasil, Gus Guadagnini; outros ainda a confirmar Domingo, 10 de dezembro Sustainable Snacking for Future Champions Horário: 15:05-15:55 UAE (8:05-8:55 BRT) Local: Children and Youth Pavilion Palestrantes: Mariana Bernal, Analista de Políticas Públicas do GFI Brasil; Sara Merhi, membro do conselho da ProVeg Youth; Perran Harvey, líder de política global da Upfield; Juliette Tronchon, especialista em políticas públicas da ProVeg International; Nanine Wyma, diretora da PAN International (não confirmada); Xananine Calvillo, membro da Stop Financing Factory Farming
Esforço do Sul Global para cumprir metas do Acordo de Paris é maior, mas ciência precisa ser desenvolvida localmente

Gustavo Guadagnini (*) As mudanças que afetam o clima estão acontecendo muito mais rápido do que o previsto e são sentidas em todo o planeta, mas não com a mesma intensidade. Os efeitos do aquecimento global atingem, sobretudo, as economias mais pobres, que possuem menos recursos para responder à crise climática. Por isso, um dos temas centrais nas negociações para mitigar os seus efeitos é o financiamento climático, mais precisamente o cumprimento do acordo firmado em 2015, durante a COP21, em que os países mais ricos prometeram destinar US$ 100 bilhões por ano para que os países em desenvolvimento criem medidas de enfrentamento e adaptação. Na prática, isso implica em reconhecer a capacidade que o Sul Global tem de criar inovações e soluções tecnológicas para cumprir com o Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC até 2030. Segundo o Programa de Desenvolvimento da ONU (PNUD), os países em desenvolvimento, inclusive os mais vulneráveis, são os que mais têm se esforçado na elaboração e aplicação das suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), que são metas de curto a médio prazo para reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE). A maioria tem apresentado metas de mitigação e adaptação cada vez mais ambiciosas, com soluções integradas que envolvem economia circular, gestão de recursos hídricos, implementação do mercado de carbono e envolvimento do setor privado. Os compromissos dos países africanos, por exemplo, são mais robustos do que a média global, com metas mais fortes em relação à resiliência climática, aumento nos esforços de transparência das ações e adoção de tendências emergentes, como os conceitos de “empregos verdes” e “transição justa”. Já as NDCs apresentadas pelos países da América Latina e do Caribe apresentam níveis mais elevados de envolvimento e inclusão de grupos marginalizados (como mulheres, jovens, povos indígenas e idosos) nas tomadas de decisões, tornando o processo das NDCs mais transparente e garantindo que seus resultados beneficiem os mais vulneráveis. Sul Global será mais afetado pela crise climática mesmo não sendo responsável pela maior parte das emissões de GEE Os países do Sul Global, frequentemente chamados de Maioria Global, somam cerca de 85% da população mundial e concentram apenas 39% do PIB do planeta. Ou seja, por mais que se esforcem, a maioria desses países expressam enormes necessidades de apoio financeiro externo e de transferência de tecnologia para conseguirem alcançar suas metas. De acordo com a agência de classificação de risco S&P Global, os efeitos da crise climática podem causar a perda de 4% da produção econômica global até 2050, mas os países emergentes deverão ter perdas no Produto Interno Bruto (PIB) 3,6 vezes maior em relação às nações mais ricas. Um cenário que demonstra a importância da justiça climática, uma vez que, embora não sejam os maiores responsáveis pelo agravamento da crise climática, acabam pagando um preço muito maior por seus efeitos. Qual é o papel do Sul Global no setor de proteínas alternativas? Apesar de todas as desvantagens, é enorme o potencial dos países do Sul Global ganharem espaço e protagonizar as mudanças mais relevantes e consistentes em direção a uma economia mais sustentável, especialmente as maiores economias como China, Índia, África do Sul e Brasil, atual líder do G20 e sede da COP30, em 2025. Essas regiões possuem capacidade produtiva, biodiversidade, massa crítica e todo o potencial para desenvolver essas tecnologias localmente. Importá-las significa que, além de já sofrerem com os efeitos de uma crise global, motivada sobretudo pelo padrão de consumo das grandes potências, essas nações ainda precisam comprar tecnologia, que é exatamente o que tem impossibilitado a aplicação de suas NDCs. Um exemplo disso é a indústria de proteínas alternativas. De acordo com uma pesquisa do The Good Food Institute com a indústria brasileira em 2020, 85% das empresas locais ainda usam a ervilha, que é um ingrediente desenvolvido em países do norte, como principal fonte de proteína para seus produtos plant-based. Essa proteína recebeu muitos investimentos em pesquisa e, por isso, suas funcionalidades são excelentes para a indústria. Assim, os países do Sul se tornam importadores, pagam mais caro na matéria prima e acabam oferecendo alimentos mais caros nas prateleiras para o consumidor. É por isso que o GFI financia pesquisas em feijões brasileiros e relacionadas à biodiversidade da Amazônia e do Cerrado, com o objetivo de criar ingredientes locais e sustentáveis que, além de serem mais baratos por serem produzidos aqui, vão gerar impacto social positivo para as comunidades produtoras. O debate sobre o Sul Global envolve protagonismo, e todos os fatores indicam que essa região é altamente relevante no contexto das proteínas alternativas, dado o potencial dessas soluções para superar os desafios enfrentados por essas zonas com necessidades únicas e diversas. É necessário abordar proteínas alternativas com uma compreensão sensível dos variados contextos locais, promoção da inclusão e fomento da colaboração para uma transformação positiva em direção à segurança alimentar e nutricional, no desenvolvimento econômico, na diversidade alimentar e na sustentabilidade. (*) Gustavo Guadagnini é presidente do The Good Institute Brasil
Conheça e invista nos projetos apoiados pelo Programa Biomas

A primeira edição do Programa Biomas, que financiou pesquisas voltadas a transformar espécies nativas da Amazônia e do Cerrado em ingredientes para o mercado plant-based, foi finalizada! O programa foi coordenado pelo The Good Food Institute Brasil com aporte financeiro da Fundação Climate and Land Use Alliance (CLUA). Como o objetivo é que os resultados das pesquisas se transformem em oportunidades de negócios, o GFI Brasil realizou um Pitch Day para apresentar os resultados dos projetos a empresas e stakeholders interessados. Agora, disponibilizamos os vídeos e os portfólios que produzimos dos projetos, assim como seus resumos e o Pitch Day na íntegra. Se você ou sua instituição se interessou por alguma pesquisa e gostaria de apoiar e investir na continuidade do projeto, entre em contato com a nossa equipe pelo e-mail ciencia@gfi.org. Full Baru: novos ingredientes para o mercado plant-based / Dra. Mariana Egea – IFGoiano https://www.youtube.com/watch?v=lNvc5S-GTbc O Full Baru nasceu da ideia de aproveitar integralmente os subprodutos da cadeia de processamento de baru, com a finalidade de aumentar o valor agregado das matérias-primas e trazer possibilidades não-sazonais aos beneficiadores do fruto. A partir dos subprodutos do baru foram desenvolvidos um hidrolisado proteíco, um ingrediente fibroso modificado e um pigmento vermelho microbiano. A tecnologia desenvolvida para a produção do hidrolisado proteico requer baixa temperatura e controle de pH. O ingrediente final seco apresentou altos teores de proteína, alta absorção de água e óleo, além de formação de emulsão e espuma, demonstrando capacidade de aplicação em produtos análogos de carne mesmo em baixas concentrações. Este ingrediente pode substituir a proteína de ervilha, que é dependente de importação, e proteína de soja, que é um ingrediente alergênico. A fibra hidrolisada foi produzida a partir de uma matéria-prima que originalmente iria ser descartada. Ela demonstrou um importante perfil de fibra dietética, capacidade de formar e estabilizar emulsão e alta estabilidade térmica. Por fim, o pigmento microbiano vermelho que desenvolvemos pode ser um avanço na indústria de corantes, visto que o Vermelho 40 pode demonstrar toxicidade e o vermelho de carmim tem limitações na aplicação em virtude da sua baixa estabilidade térmica. Nós produzimos um pigmento por condições controladas e ajustadas, com um espectro de cores variável de amarelo a laranja (dependendo das condições de cultivo) que é estável a pH de 4 a 8 e a altas temperaturas e que possui potencial como ingrediente antioxidante. https://youtu.be/qw7zAnegXzU MacaúbaINfoods: a solução viável, sustentável e nacional para novos produtos plant-based / Dr. Acácio Antonio Ferreira Zielinsk – Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) https://www.youtube.com/watch?v=3Q3-lYcOyOI O projeto MacaúbaINfoods avaliou o potencial uso das tortas (resíduos da extração do óleo) resultantes do processamento da polpa e da amêndoa de macaúba no desenvolvimento de ingredientes e produtos plant-based. A macaúba apresenta interesse industrial pela sua alta produtividade de óleo e seu potencial uso como biodiesel, além de aplicações farmacêuticas. O cultivo dessa espécie vem sendo incentivado principalmente no estado de Minas Gerais, onde as palmeiras são plantadas em sistemas consorciados com lavouras, visando melhorar a renda de produtores e atuar no sequestro de carbono e na regeneração do solo. Com os resultados, foi proposto um processo visando o total aproveitamento dos subprodutos da macaúba por meio de extrações sequenciais e integradas usando fluidos à alta pressão, que podem ser consideradas sustentáveis e ambientalmente amigáveis devido ao menor tempo de processo e consumo de solventes. Por meio dessa abordagem, foram obtidos 4 ingredientes a partir da torta da polpa (ácidos graxos, corante natural com bioatividade, polissacarídeos e fibras) e 4 ingredientes a partir da torta da amêndoa (ácidos graxos, corante natural com bioatividade, proteína e fibras). Tais ingredientes apresentaram alto potencial de aplicação em produtos plant-based, especialmente em um análogo ao nugget. A principal vantagem do processo proposto está na etapa de recuperação da fração proteica a partir da torta da amêndoa da macaúba, que foi realizada à 60 °C utilizando água como solvente, à pressão de 10 MPa e em 15 minutos. Esse processo apresentou eficiência de recuperação proteica de 19% e concentração de proteína próximo à 90%. A literatura reporta eficiência de 12% em um processo que resulta em um ingrediente proteico a partir da amêndoa da macaúba com 94% de proteína em um tempo de processo muito maior (de 1 hora). Além disso, a solubilidade dessa fração proteica obtida, acima de 70%, é superior à proteína vegetal comercial da ervilha, que apresenta valores inferiores a 20%, e da soja, entre 15 e 60%. Essa fração apresentou capacidade de absorção de água similar à proteínas de cereais e capacidade elevada de absorção de óleo, superior à capacidade da proteínas comerciais como a de soja e ervilha. Estas características são interessantes para aplicação em produtos como hambúrgueres e nuggets. Com relação às características nutricionais, a proteína proveniente da amêndoa da macaúba atendeu quase que totalmente ao padrão de aminoácidos (AA) essenciais requeridos por grama de proteína, apresentando escores abaixo do exigido apenas para isoleucina e leucina. Portanto, o ingrediente proteico obtido pode suprir inteiramente os AAs sulfurosos (Met + Cys) e AA aromáticos (Phe + Tyr), que geralmente são aminoácidos limitantes em leguminosas como feijão, soja e ervilha; além de suprir o padrão de exigência de lisina (Lys), o aminoácido limitante na maioria das proteínas de cereais. https://www.youtube.com/watch?v=a5vIXzUtxME Ingrediente rico em fibras, obtido de amêndoa de babaçu / Nedio Jair Wurlitzer – Embrapa Agroindústria Tropical https://www.youtube.com/watch?v=-Stfe0unqhU&t=35s O projeto buscou avaliar como utilizar o resíduo de processamento de amêndoa de babaçu para desenvolver um ingrediente rico em fibras para ser usado em produtos plant-based. Foram determinadas as condições de processamento e também a composição química e estabilidade durante a estocagem, além da aplicação do ingrediente em formulações de produtos plant-based como análogos de hambúrguer e mortadela. O ingrediente apresentou em sua composição 42,7% de fibra alimentar e, quando aplicado em formulações de produtos, permite que sua rotulagem indique “alto conteúdo” de fibra alimentar, considerando os requisitos da Legislação de rotulagem nutricional. O ingrediente também demonstrou alta capacidade de retenção
Conheça a Coalizão Global pelas Proteínas Alternativas!

Na COP 28, que acontece em Dubai entre novembro e dezembro de 2023, o The Good Food Institute quer ampliar a exposição do setor de proteínas alternativas como parte da solução para a crise climática. Para isso, criamos a Coalizão Global pelas Proteínas Alternativas, uma iniciativa voluntária comprometida em mitigar os efeitos da crise ambiental na agricultura e reduzir os atuais impactos dos sistemas alimentares no clima. Nós precisamos reduzir em 43% as emissões de gases de efeito estufa na atmosfera até 2030: essa meta é ambiciosa, mas possível, se transformarmos o setor responsável pela maior parte das emissões — o dos sistemas alimentares. Com as proteínas alternativas, podemos produzir alimentos de forma mais eficiente e destinar os recursos disponíveis para alimentar diretamente as pessoas. E, mais que um novo mercado, esse setor propõe um olhar crítico e um senso de urgência sobre a realidade: a agroindústria não deixará de produzir alimentos de origem animal e as pessoas não deixarão de consumi-los no tempo necessário. Ao contrário de dietas que eliminam carne, ovos, leite e seus derivados, as tecnologias envolvidas na produção de alimentos feitos de plantas, de carne cultivada e obtidos por fermentação não lutam contra o desejo e os hábitos culturais e alimentares das pessoas e, ao lado de iniciativas como agricultura regenerativa, agroflorestas e bioeconomia, são a melhor chance de sobrevivência da humanidade. Entenda aqui o que a nossa comida tem a ver com a crise do clima e porque as proteínas alternativas são parte da solução. Faça parte dessa missão Como um movimento não se faz sozinho, convidamos você a se juntar a nós na busca de soluções mais sustentáveis para alimentar 10 bilhões sem consumir o planeta. Apenas o trabalho coletivo e multissetorial é capaz de promover todas as mudanças necessárias e nossa coalizão existe para que o seu esforço e desejo de contribuir para um mundo melhor não sejam isolados, mas catalisem uma ação climática real com impacto global e sistêmico. Ao fazer parte da Coalizão Global pelas Proteínas Alternativas, que será lançada na COP 28, você e sua instituição se comprometem a um ou mais dos seguintes princípios da nossa carta de compromissos: 1 – Reconhecer o potencial das proteínas alternativas em mitigar os impactos da crise climática relacionados à redução das emissões dos gases de efeito estufa, à conservação da terra e dos recursos hídricos e à preservação da biodiversidade. 2 – Apoiar a pesquisa, o desenvolvimento e a comercialização de tecnologias e produtos à base de proteínas alternativas, garantindo que sejam atrativos, seguros, nutritivos e acessíveis a todos. 3 – Facilitar a colaboração entre os setores públicoe privado, instituições de pesquisa e sociedade civil para acelerar o crescimento e a adoção de proteínas alternativas, respeitando os sistemas e práticas agrícolas existentes. 4 – Incentivar políticas e investimentos que fomentem a inovação, impulsionem a demanda do mercado e criem um ambiente propício para o setor de proteínas alternativas. 5 – Participar de fóruns abertos de diálogo e de compartilhamento de conhecimento para enfrentar desafios, identificar oportunidades e promover as melhores práticas no setor de proteínas alternativas. 6 – Monitorar e relatar o progresso e o impacto de nossos compromissos com a coalizão, contribuindo para um processo transparente e responsável que impulsione mudanças positivas. 7 – Promover ativamente o setor de proteínas alternativas por meio de esforços de comunicação, advocacy e educação, para aumentar a conscientização sobre os benefícios, a compreensão e a aceitação do público. Acesse nosso site para participar da Coalizão Global pelas Proteínas Alternativas e siga nosso Instagram para acompanhar nossos conteúdos!
Maior responsável pelas emissões de gases de efeito estufa, sistema alimentar deve ser foco na contenção da crise climática

Os próximos 6 anos definirão se a humanidade será capaz de cumprir a meta do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global em 1,5ºC. Gustavo Guadagnini, Presidente do GFI Brasil. Setembro de 2023 foi um mês marcado por eventos climáticos extremos: em apenas 12 dias, dez países foram assolados por tufões, inundações, tempestades, ondas de calor e ciclones. No hemisfério norte, recordes de temperatura foram registrados entre os meses de junho a agosto. O Brasil teve o inverno mais quente dos últimos 61 anos, com ciclones extratropicais no Rio Grande do Sul e 150 botos mortos no Amazônas, depois que o Lago de Tefé e o Baixo Solimões alcançaram os 40ºC. De acordo com o Observatório europeu Copérnicus, 2023 deve ser o ano mais quente da história. Catástrofes climáticas sempre ocorreram, mas, à medida que o nosso mundo aquece, esses eventos extremos – que antes contavam com anos, às vezes décadas de intervalo – estão se tornando cada vez mais frequentes e intensos. A maioria dos países não possui estrutura para lidar com esses desastres e isso resulta em centenas de milhares de mortes, pessoas desabrigadas e refugiados climáticos pelo mundo. Os governos precisam se preparar para melhorar a capacidade de resposta frente a essas situações, mas é igualmente urgente que ações sejam tomadas não somente para se adaptar, mas também para mitigar os efeitos da crise climática. É por esse motivo que tratados e acordos internacionais sobre o clima passaram a existir: sem metas e compromissos a serem estabelecidos e cumpridos por todos os países, nenhuma ação isolada será suficiente para um impacto climático positivo. O Acordo de Paris foi assinado em 2015 com o objetivo principal de não permitir que o planeta aqueça além de 2Cº até o final do século 21 e representou uma grande mudança nas negociações sobre o clima, ao criar uma abordagem universal para alcançar objetivos coletivos com um mecanismo de monitoramento do progresso global. Cada país signatário auto definiu metas de curto a médio prazo para reduzir a emissão de gases de efeito estufa (GEE), chamadas de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC), que devem ser atualizadas – para metas mais ambiciosas – a cada cinco anos a partir de 2020. Coletivamente, as NDCs demonstram o quão perto ou longe o mundo está de atingir os objetivos climáticos. A primeira geração das NDC, que fez parte da adoção inicial do Acordo de Paris em 2015, refletiu uma redução agregada da meta de temperatura média global para 3,7ºC. Já a segunda geração, atualizada em 2020 para metas mais ambiciosas, reduziu esse valor para 2,7ºC, ainda insuficiente. Brasil A NDC brasileira de 2015 estabeleceu que o Brasil deveria reduzir suas emissões em 37% até 2025 e 43% até 2030 em relação às emissões de 2005. Em 2021, essas metas foram ampliadas para 50% de redução até 2030 e, recentemente, a ministra Marina Silva elevou os compromissos brasileiros de redução de emissão para 48% até 2025 e para 53% até 2030. Os sete setores contemplados pela NDC nacional incluem energia, mobilidade urbana, florestas, biocombustíveis, resíduos sólidos, iluminação pública e transportes. Como é possível ver, os sistemas alimentares, mais especificamente a agropecuária, não aparecem como foco estratégico e o mesmo vale para muitos outros países. É um erro estratégico não colocar os sistemas alimentares no centro do debate climático O atual sistema alimentar é responsável por 34% de todas as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e é preciso encontrar maneiras mais eficientes de produzir alimentos, principalmente as proteínas. Isso porque a produção de proteína animal, sozinha, gera mais da metade do total de emissões do sistema alimentar. Além disso, a pecuária ocupa 77% das terras agrícolas do mundo. Mesmo assim, a carne animal fornece apenas 18% do suprimento alimentar da humanidade e 37% das proteínas na dieta humana – o resto vem de alimentos vegetais. O setor agropecuário é, ainda, responsável por mais de 90% do consumo global de água, e 41% disso se destina à irrigação e crescimento de grãos para ração e pasto para bois, porcos e galinhas. O Sexto Relatório de Avaliação do IPCC, elaborado pelos principais especialistas e cientistas do mundo e lançado em 2021, afirma que, mesmo se os combustíveis fósseis fossem eliminados da noite para o dia, as emissões do sistema alimentar por si só impediriam o cumprimento da meta do Acordo de Paris. Por isso, diversificar a atividade agropecuária é uma solução de impacto excepcionalmente elevado para a crise climática global. Na prática, isso implica em liberar terras e recursos como a água para atividades altamente benéficas para o planeta e que também podem ser lucrativas para o agronegócio. Estamos falando de bioeconomia, agroflorestas e agricultura regenerativa, por exemplo. Um sistema de produção baseado nestas práticas é capaz de, em um mesmo espaço, alimentos diversos, insumos industriais, energia e reflorestamento. alimento, fibra, madeira e até mesmo energia, aumentando assim a produtividade. O impacto ambiental também é considerável. Segundo o EOS DATA ANALYTICS, este sistema pode reduzir de 20 a 30% as emissões de gases de efeito estufa e sequestrar em torno de 8 toneladas de CO2 por hectare a cada ano. As proteínas alternativas também são uma das maiores apostas na mitigação da crise climática. Segundo relatório do Boston Consulting Group, se as proteínas à base de vegetais, cultivadas e obtidas por fermentação representarem 11% de todo o consumo de proteínas até 2035, podemos reduzir 0,85 gigatoneladas de CO2 equivalente (CO2e) em todo o mundo até 2030, o que equivale à descarbonização de 95% da indústria da aviação. Além disso, qualquer mudança significativa na dieta global para mais proteínas alternativas produzirá um efeito de arrefecimento imediato no planeta, uma vez que a criação de animais é responsável por até 50% das emissões de metano, que tem um potencial de aquecimento muito maior do que o CO2 e uma vida atmosférica muito mais curta. Consequentemente, a redução dos níveis de metano na atmosfera não apenas evitaria um maior aquecimento, mas também traria um efeito de resfriamento à Terra. Apesar
Alt Protein Project: 24 novos grupos passam a integrar o projeto, 2 deles brasileiros

A cada ano, temos a honra de ter mais e mais grupos de estudantes aderindo ao movimento das proteínas alternativas em novos países, incluindo Suiça, Turquia, Portugal, Brasil, Malásia e Japão. Essa comunidade diversificada de estudantes de graduação e pós-graduação, que estudam desde biologia sintética e engenharia mecânica até filosofia e ciência da computação, garante uma riqueza em troca de ideias, perspectivas culturais e conhecimentos. Os grupos brasileiros que passam a integrar o Alt Protein Project são da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os objetivos incluem garantir que o assunto das proteínas alternativas seja abordado e disseminado em disciplinas de graduação e pós, proporcionar cursos, treinamentos e eventos sobre o tema para os alunos, conectar pesquisadores, gerar pesquisas colaborativas com soluções multidisciplinares e incentivar parcerias entre laboratórios, universidades e iniciativa privada, entre muitos outros. Nascido em 2020, o Alt Protein Project começou como uma comunidade conectada por cinco universidades. Hoje, já somos uma comunidade de 53 grupos ativos, com mais de 450 membros. Se você é aluno universitário e gostaria de se juntar ao nosso movimento, entre em contato conosco através do e-mail ciencia@gfi.org para dúvidas e apoio! Saiba mais sobre o projeto! “A possibilidade de representar a comunidade APP em uma das melhores universidades do Brasil se apresentou como uma grande oportunidade e responsabilidade para nós. A vontade de contribuir com a construção de novos sistemas alimentares nos conectou e depois de um mês conhecendo melhor sobre o projeto, conhecendo fundadores de outros APPs ao redor do mundo, somos o Unicamp Alt Protein Project. Tem sido uma experiência cheia de novos aprendizados, muitos desafios e esperamos que, em breve, muita gente da nossa universidade se encontre para falar, experimentar e pesquisar sobre proteínas alternativas.” @unicampaltprotein Nossa intenção é criar uma comunidade de estudantes dispostos a espalhar a palavra das proteínas alternativas. Estamos com expectativas bem legais de fazer eventos de realizar alguns eventos para recrutar novos alunos interessados em fazer projetos de pesquisa, professores interessados em criar novas linhas de pesquisa em seus laboratórios, para quem sabe, podermos criar uma comunidade grande de pesquisadores, uma rede colaborativa que vai fazer da UFMG um polo nacional e internacional de produção de proteínas alternativas. Nós decidimos participar dessa oportunidade do GFI porque nós já tínhamos no nosso laboratório um projeto de pesquisa fomentado pelo GFI desde 2021 que foi responsável por criar o primeiro frango cultivado do Brasil. Então dentro desses arranjos vemos a UFMG crescendo cada vez mais como polo de inovação e desenvolvimento, o instituto de Ciências Biológicas da UFMG como referência nacional e internacional, um dos maiores institutos da América Latina em Ciências Biológicas com pesquisadores de ponta, várias linhas de pesquisa que poderiam ser muito bem aplicadas a todas as áreas de proteínas alternativas, como fermentação, bioprocesso, bioimpressão, desenvolvimento de linhagem celular. Então sabíamos que a UFMG seria excelente candidato e nós, com uma equipe muito boa, com 8 alunos no total, conseguimos esse projeto do GFI e agora estamos representando a UFMG no mundo como polo de desenvolvimento de proteínas alternativas.” @ufmgaltprotein
Muito Além da Soja e da ervilha: o potencial do feijão para a indústria de proteínas alternativas vegetais e para o Brasil

A soja e a ervilha são as fontes proteicas mais utilizadas na produção de alimentos plant-based, mas o feijão tem um potencial enorme de assumir maior protagonismo nesse setor. O Brasil é um dos maiores produtores globais de feijão e a maior parte dessa produção é destinada ao consumo interno, o que torna o país um dos maiores consumidores mundiais do grão. Existem mais de 40 tipos dessa leguminosa aqui no Brasil, mas o feijão preto, o fradinho, o caupi, o vermelho, o mungo e o carioca são os que dominam o mercado. O feijão carioca, sozinho, ocupa 50% de toda a área de cultivo do país. Em 2021, o The Good Food Institute Brasil (GFI Brasil) fez um levantamento com as 11 principais marcas do setor de proteínas alternativas do país e descobriu que apenas 9% dos produtos cárneos feitos de plantas levavam feijão, grão de bico ou trigo como fonte de proteína. Por mais que hoje esse número já tenha aumentado um pouco, a ampla maioria dos produtos cárneos vegetais ainda leva como fonte de proteína a ervilha ou a soja, normalmente combinadas. Assim como o feijão, a soja é um produto brasileiro – mas a ervilha, que é importada, acaba sendo um ingrediente caro para a indústria nacional. O Brasil tem uma capacidade agrícola de produção de pulses pujante que, se bem explorada, representa um potencial enorme de crescimento: o baixo custo do feijão, por exemplo, pode permitir que a indústria de alimentos desenvolva insumos nacionais mais baratos e, por consequência, produtos ainda mais acessíveis para o consumidor final. Em vez de importar concentrado ou isolado proteico de ervilha do hemisfério norte, seria possível inverter essa lógica e começar a exportar concentrado e isolado proteico de feijão brasileiro para o resto do mundo. O mesmo vale para a geração de empregos e renda: durante a produção do feijão são geradas as “bandinhas”, que são os feijões quebrados que não são vendidos para o consumidor final e que são basicamente descartados, no máximo usados para alimentação animal. É possível pensar em uma etapa de industrialização sustentável para esse processo, no qual as bandinhas sejam aproveitadas e transformadas em concentrado proteico – um produto de valor agregado – incrementando e diversificando a fonte de renda dos produtores de feijão. Além disso, o feijão, que não é uma commodity (grão produzido produzido em larga escala e negociado nas bolsas de valores agrícolas internacionais), melhora a absorção de carbono, fixa nitrogênio no solo, demanda muito menos água e fertilizantes do que outros grãos na sua produção, tem baixo custo e é de fácil armazenamento. Ele também é riquíssimo em proteínas, fibras, aminoácidos, vitaminas e minerais. Todos esses aspectos tornam o feijão um ingrediente promissor para o setor de proteínas alternativas e para o planeta, que precisará passar por uma transição no sistema alimentar para garantir a saúde e a segurança alimentar da população global, prevista para alcançar 10 bilhões de pessoas em 2050. O produtor rural hoje em dia deixa de plantar feijão para plantar soja, milho ou cana-de-açúcar, que são commodities e têm preço fixado nas Bolsas internacionais. Utilizar o feijão é fomentar uma agricultura mais sustentável, gerando renda para as comunidades rurais através de um produto de valor agregado com alto potencial econômico e nutrindo o solo por meio de uma cultura que não poderia representar melhor o Brasil. Se realizarmos o processamento desses grãos nas cooperativas e associações de produtores, estamos falando de bioeconomia em sua essência, com potencial de abastecimento para todo o mundo. Como estamos envolvidos: A pesquisadora da Embrapa, Dra. Caroline Mellinger, conduziu uma pesquisa financiada pelo Programa Global de Incentivo à Pesquisa (Research Grant Program) do GFI, a fim de encontrar alternativas para o uso do feijão carioca pela indústria de proteínas alternativas. A pesquisa possuia dois objetivos: o de otimizar a produção de um concentrado protéico e de um isolado de feijão adequado para utilização em produtos vegetais de carne, frango e frutos do mar, e o de determinar a característica físico-química, tecnológica e nutricional dos ingredientes. Ambos objetivos foram alcançados e, com a pesquisa finalizada, o ingrediente com alta concentração de proteínas a partir do feijão está pronto para ser utilizado. Além disso, o GFI vem trabalhando junto a associações de produtores rurais no Mato Grosso e à Secretaria de Desenvolvimento Econômico do estado na elaboração de um acordo de cooperação técnica que terá por objetivo testar a viabilidade, tanto tecnológica quanto econômica, do processamento de feijão dentro das cooperativas rurais. “É uma relação ganha-ganha: o produtor passa a ter uma forma alternativa para comercialização de sua produção, com valor agregado e garantia de compra pela indústria, que por sua vez economiza ao deixar de importar parte de seu insumo do exterior. Somando a isso o potencial de melhoria nos indicadores sociais dessas regiões produtivas, o saldo da equação é extremamente positivo. Alysson Soares, especialista em Políticas Públicas do GFI Brasil